Tiago Madeira Postado 17 de junho 2014 Partilhar Postado 17 de junho 2014 Fernando Pessoa: "O amor é uma companhia.Já não sei andar só pelos caminhos,Porque já não posso andar só.Um pensamento visível faz-me andar mais depressaE ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar."— Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) 2 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 30 de junho 2014 Partilhar Postado 30 de junho 2014 Já comprei A Culpa é das Estrelas. *.* Só faltam para aí 20 páginas d'O Cavaleiro de Westeros para depois começar este. 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Mr. Carter Postado 30 de junho 2014 Partilhar Postado 30 de junho 2014 Já comprei A Culpa é das Estrelas. *.* Só faltam para aí 20 páginas d'O Cavaleiro de Westeros para depois começar este. Eu já li o ACEDE, gostei, mas não é nada por aí além como dizem. Já li bem melhor. É o típico livro comercial... Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 30 de junho 2014 Partilhar Postado 30 de junho 2014 Eu já li o ACEDE, gostei, mas não é nada por aí além como dizem. Já li bem melhor. É o típico livro comercial... Eu gosto muito deste estilo de história, é uma espécie de Nicholas Sparks para os adolescentes. 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Carolina Tavares Postado 30 de junho 2014 Partilhar Postado 30 de junho 2014 Os livros do Nicholas Sparks fazem-me lembrar aquelas novelas super aborrecidas... Às vezes, parece que só muda o nome das personagens. Acho-o péssimo. Literatura de qualidade = Ken Follett. É simplesmente muito bom 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 30 de junho 2014 Partilhar Postado 30 de junho 2014 Os livros do Nicholas Sparks fazem-me lembrar aquelas novelas super aborrecidas... Às vezes, parece que só muda o nome das personagens. Acho-o péssimo. Literatura de qualidade = Ken Follett. É simplesmente muito bom Eu gosto, mas é daquele tipo de livro que enrola até ao fim e no fim explode (e dá vontade de ler os últimos capítulos todos de um só vez). xD Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Carolina Tavares Postado 30 de junho 2014 Partilhar Postado 30 de junho 2014 Eu gosto, mas é daquele tipo de livro que enrola até ao fim e no fim explode (e dá vontade de ler os últimos capítulos todos de um só vez). xD A nível literário, nem acho que ele escreva mal. Há, de facto, bem pior pelo mercado. Agora aquele casa/descasa ao longo do livro irrita-me profundamente. Comparando com outro autor que sei que gostas, o George Martin é perito em fazer exatamente o contrário. É certo que há capítulos menos bons, mas o encadeamento da história é bom e faz com que queiras ler sempre o próximo capítulo (ou até acabar aquele em que estás porque tens um feeling que vai chegar um capítulo fantástico a seguir). 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Tiago Madeira Postado 1 de julho 2014 Partilhar Postado 1 de julho 2014 O poema que a namorada do André lhe dedicou: lindo Stop all the clocks, cut off the telephone, Prevent the dog from barking with a juicy bone, Silence the pianos and with muffled drum Bring out the coffin, let the mourners come. Let aeroplanes circle moaning overhead Scribbling on the sky the message He Is Dead, Put crepe bows round the white necks of the public doves, Let the traffic policemen wear black cotton gloves. He was my North, my South, my East and West, My working week and my Sunday rest, My noon, my midnight, my talk, my song; I thought that love would last for ever: I was wrong. The stars are not wanted now: put out every one; Pack up the moon and dismantle the sun; Pour away the ocean and sweep up the wood. For nothing now can ever come to any good. W.H.Auden 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Joana Pereira Postado 2 de julho 2014 Partilhar Postado 2 de julho 2014 (editado) Todas as Cartas de Amor são Ridículas Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor É que são Ridículas. A verdade é que hoje as minhas memórias Dessas cartas de amor é que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in "Poemas" Editado 2 de julho 2014 por Joana Pereira 3 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 2 de julho 2014 Partilhar Postado 2 de julho 2014 E como hoje é um dia importante para a nação, aqui fica um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen. Esta Gente Esta gente cujo rosto Às vezes luminoso E outras vezes tosco Ora me lembra escravos Ora me lembra reis Faz renascer meu gosto De luta e de combate Contra o abutre e a cobra O porco e o milhafre Pois a gente que tem O rosto desenhado Por paciência e fome É a gente em quem Um país ocupado Escreve o seu nome E em frente desta gente Ignorada e pisada Como a pedra do chão E mais do que a pedra Humilhada e calcada Meu canto se renova E recomeço a busca De um país liberto De uma vida limpa E de um tempo justo Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia" 3 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Tiago Madeira Postado 3 de julho 2014 Partilhar Postado 3 de julho 2014 3 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Tiago Madeira Postado 3 de julho 2014 Partilhar Postado 3 de julho 2014 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Joana Pereira Postado 3 de julho 2014 Partilhar Postado 3 de julho 2014 Um livro de miúdos cheio de mensagens lindas que não fazia nada mal a qualquer adulto ler 2 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
TaniaM Postado 4 de julho 2014 Partilhar Postado 4 de julho 2014 Um livro de miúdos cheio de mensagens lindas que não fazia nada mal a qualquer adulto ler Concordo contigo! 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 5 de julho 2014 Partilhar Postado 5 de julho 2014 A Bloomsbury, editora britânica de “Harry Potter”, divulgou no ano passado que a saga criada por J.K. Rowling seria republicada no Reino Unido numa versão totalmente ilustrada. Acontece que a editora começou já a publicar as capas dessas novas versões dos livros. São lindas!!!! 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Bloody Postado 5 de julho 2014 Partilhar Postado 5 de julho 2014 A Bloomsbury, editora britânica de “Harry Potter”, divulgou no ano passado que a saga criada por J.K. Rowling seria republicada no Reino Unido numa versão totalmente ilustrada. Acontece que a editora começou já a publicar as capas dessas novas versões dos livros. São lindas!!!! São bonitas, de facto, mas não gosto daquela cruz no O. Preferia muito mais o anterior logotipo. Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 5 de julho 2014 Partilhar Postado 5 de julho 2014 São bonitas, de facto, mas não gosto daquela cruz no O. Preferia muito mais o anterior logotipo. É a cicatriz do Harry. Mas estava tão fascinado com a imagem que nem reparei no tipo de letra do titulo. De fato o outro era melhor sim. Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Diogo_M Postado 8 de julho 2014 Partilhar Postado 8 de julho 2014 OMG OMG :wub: Harry Potter está de volta 7 anos depois http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=4015119#.U7wUCKUmW-c.facebook 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Carla K. Postado 8 de julho 2014 Partilhar Postado 8 de julho 2014 Excelente obra. Não é apenas um livro para crianças, é um livro para todas as idades, para ler-se várias vezes ao longo da vida, nas diferentes fases de crescimento. Temos sempre uma interpretação diferente do livro. 2 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Joana Pereira Postado 8 de julho 2014 Partilhar Postado 8 de julho 2014 Excelente obra. Não é apenas um livro para crianças, é um livro para todas as idades, para ler-se várias vezes ao longo da vida, nas diferentes fases de crescimento. Temos sempre uma interpretação diferente do livro. Mesmo! Quando o li a primeira vez entendi-o de uma forma e agora da última vez que o reli parecia quase um livro de "auto ajuda", ao jeito do famoso livro "O Segredo" .. Com mensagens lindíssimas e conselhos que qualquer adulto deveria adotar Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Jão Postado 10 de julho 2014 Partilhar Postado 10 de julho 2014 Comecei esta semana e já lis quase metade d'A Culpa é das Estrelas. A história é viciante e não consigo parar de rir com a Hazel Grace. Tudo o que ela diz (mesmo coisas insignificantes) tem piada. Até faz uma piada sobre o baloiço da casa e a palavra "pedófilo" que é de rir e chorar por mais. 2 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Forbidden Postado 17 de julho 2014 Partilhar Postado 17 de julho 2014 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Vasco Postado 24 de julho 2014 Partilhar Postado 24 de julho 2014 7 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Tiago Madeira Postado 29 de julho 2014 Partilhar Postado 29 de julho 2014 "Entreguei-te o coração, E que tratos tu lhe deste! É talvez por estar estragado Que ainda não mo devolveste..." — Fernando Pessoa 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
D23 Postado 29 de julho 2014 Partilhar Postado 29 de julho 2014 Álvaro de Campos>>>>>>>>>>>resto Ode Triunfal À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical — Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força — Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro. Porque o presente é todo o passado e todo o futuro E há Platão e Virgíllo dentro das máquinas e das luzes eléctricas Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinqüenta, Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os perfumes de óleos e calores e carvões Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! Fraternidade com todas as dinâmicas! Promíscua fúria de ser parte-agente Do rodar férreo e cosmopolita Dos comboios estrênuos. Da faina transportadora-de-cargas dos navios. Do giro lúbrico e lento dos guindastes, Do tumulto disciplinado das fábricas, E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão! Horas européias, produtoras, entaladas Entre maquinismos e afazeres úteis! Grandes cidades paradas nos cafés, Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas Onde se cristalizam e se precipitam Os rumores e os gestos do Útil E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo! Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares! Novos entusiasmos de estatura do Momento! Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostados às docas, Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos! Atividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific! Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis, Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots, E Piccadillies e Avenues de l'Opéra que entram Pela minh'alma dentro! Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule! Tudo o que passa, tudo o que pára às montras! Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos; Membros evidentes de clubes aristocráticos; Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete De algibeira a algibeira! Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa! Presença demasiadamente acentuada das cocotes Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?) Das burguesinhas, mãe e filha geralmente Que andam na rua com um fim qualquer; A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos; E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra E afinal tem alma lá dentro! (Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!) A maravilhosa beleza das corrupções políticas, Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos, Agressões políticas nas ruas, E de vez em quando o cometa dum regicídio Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana! Notícias desmentidas dos jornais, Artigos políticos insinceramente sinceros, Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes — Duas colunas deles passando para a segunda página! O cheiro fresco a tinta de tipografia! Os cartazes postos há pouco, molhados! Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca! Como eu vos amo a todos, a todos, a todos, Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!) E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós! Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura! Química agrícola, e o comércio quase uma ciência! Ó mostruários dos caixeiros-viajantes, Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria, Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios! Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos! Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! Olá grandes armazéns com várias seções! Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem! Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem! Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos! Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos! Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente, Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ó coisas todas modernas, Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima Do sistema imediato do Universo! Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks, ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes — Na minha mente turbulenta e encandescida Possuo-vos como a uma mulher bela, Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama, Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima. Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios! Eh-lá-hô recomposições ministeriais! Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos, Orçamentos falsificados! (Um orçamento é tão natural como uma árvore E um parlamento tão belo como uma borboleta.) Eh-lá o interesse por tudo na vida, Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras Até à noite ponte misteriosa entre os astros E o mar antigo e solene, lavando as costas E sendo misericordiosamente o mesmo Que era quando Platão era realmente Platão Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro, E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele. Eu podia morrer triturado por um motor Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída. Atirem-me para dentro das fornalhas! Metam-me debaixo dos comboios! Espanquem-me a bordo de navios! Masoquismo através de maquinismos! Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby, Morder entre dentes o teu cap de duas cores! (Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta! Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!) Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais! Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas, E ser levado da rua cheio de sangue Sem ninguém saber quem eu sou! Ó tramways, funiculares, metropolitanos, Roçai-vos por mim até o espasmo! Hilla! hilla! hilla-hô! Dai-me gargalhadas em plena cara, Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas, Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas, Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria! Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto! Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro, As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam, Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto E os gestos que faz quando ninguém pode ver! Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva, Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos Em crispações absurdas em pleno meio das turbas Nas ruas cheias de encontrões! Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma, Que emprega palavrões como palavras usuais, Cujos filhos roubam às portas das mercearias E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! — Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escadas. A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão. Maravilhosa gente humana que vive como os cães, Que está abaixo de todos os sistemas morais, Para quem nenhuma religião foi feita, Nenhuma arte criada, Nenhuma política destinada para eles! Como eu vos amo a todos, porque sois assim, Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus, Inatingíveis por todos os progressos, Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida! (Na nora do quintal da minha casa O burro anda à roda, anda à roda, E o mistério do mundo é do tamanho disto. Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. A luz do sol abafa o silêncio das esferas E havemos todos de morrer, ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, Pinheirais onde a minha infância era outra coisa Do que eu sou hoje... ) Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! Outra vez a obsessão movimentada dos ônibus. E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios De todas as partes do mundo, De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas. Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores! Eh-lá grandes desastres de comboios! Eh-lá desabamentos de galerias de minas! Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos! Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá, Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões, Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim, A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa, E outro Sol no novo Horizonte! Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo, Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje? Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro, O Momento estridentemente ruidoso e mecânico, O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais. Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar, Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, Engenhos, brocas, máquinas rotativas! Eia! eia! eia! Eia electricidade, nervos doentes da Matéria! Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! Eia todo o passado dentro do presente! Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! Eia! eia! eia! Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. Engatam-me em todos os comboios. Içam-me em todos os cais. Giro dentro das hélices de todos os navios. Eia! eia-hô! eia! Eia! sou o calor mecânico e a electricidade! Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa! Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia! Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! Hé-la! He-hô! Ho-o-o-o-o! Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! Ah não ser eu toda a gente e toda a parte! Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
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