Jump to content

Sociedade


João_O

Posts Recomendados

há 4 horas, AndreRob disse:

eu moro a 50km e apesar de ganhar um pouco acima do salário minimo é-me totalmente impossivel arrendar uma casa mais perto do trabalho em lisboa. Como vivo na casa que era dos meus pais não pago renda... de outra forma não saberia como ter dinheiro para tudo sobretudo vivendo sozinho. O sistema de compra e arrendamento hoje em dia é feito para casais, não há sequer em conta que uma pessoa solteira não tem como pagar estes valores ridiculos atuais. Isto vai rebentar por algum lado e aquilo que temos visto no porto com imigrantes a viver em tendas não demorará a ser a nossa realidade sobretudo quem entra agora no mercado de trabalho.

Há muitos moradores de rua por Portugal? Já que a renda é baixa e as moradias são caras.

 

há 2 horas, JDaman disse:

Eu tenho dois empregos. Num deles, quando tenho um volume maior de projectos, consigo ganhar o que ganho no outro em uma semana, às vezes até em meros dias. E mesmo assim, ando a penar. Óbvio que não é sempre este bem-bom todos os meses, porque há sempre alturas do ano com menos trabalho, mas mesmo com rendimentos a crescer nos últimos dois anos dou por mim quase a cair numa depressão porque estou num ciclo em que não sinto verdadeiramente independente. Viver com os pais retira-nos alguma responsabilidade financeira, mas por outro lado é horrível para a nossa saúde mental.

Quanto a alguns brasileiros que vêm para cá, muitos vão no encanto de ir para a Europa e de acharem que chegam e tudo está disponível à mão de semear e escolhem Portugal pelo factor língua e clima. O problema é que Portugal não é o país onde isso vai acontecer e acabo por conhecer casos de famílias brasileiras a viver em condições miseráveis e a trabalharem em empregos muito mal pagos e com pouca segurança e estabilidade. E depois temos sempre o factor xenofobia, que me custa a entender, sinceramente. Sigo a página do Brasileiras Não Se Calam e alguns dos relatos que leio por lá são da coisa mais absurda possível. Custa-me a entender como é que ainda há portugueses com aquele tipo de ideias de caca na cabeça (e que depois dão uma imagem horrível dos portugueses e do país).

Deve ser ruim, está por exemplo perto dos 40 e na casa dos pais e uma cultura que tende forçar você sair de casa, já que no Brasil não há essa cultura, então as vezes se mora o marido, a esposa, os filhos e a sogra. Ou os filhos com os pais. Quando vejo os canais portugueses, os comerciais de supermercados não ofertam nada abaixo de 1 euro. Não que seja muito diferente do Brasil, mas sair daqui que querendo ou não é seu país e você tem uma família para se aventurar em um outro país e caro, não vale a pena.

 

há 4 horas, Luisão disse:

Viver em Lisboa ou nos muitos concelhos ao redor (alguns deles já a mais de 40km da capital) é completamente incomportável para uma pessoa sozinha que ganhe por volta dos 800€.

Só me apetece chorar quando pesquiso casas para comprar ou arrendar :triste_teresa:

Eu tive um padrasto que era de Lisboa. Tinha uma casa boa de família na região central da cidade, veio ao Brasil, vendeu tudo por um pouco e quase nada e no final terminou sem dinheiro. Imagina quando ele não venderia por hoje essa casa. 

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

On 24/02/2023 at 16:02, JDaman disse:

Custa-me a entender como é que ainda há portugueses com aquele tipo de ideias de caca na cabeça (e que depois dão uma imagem horrível dos portugueses e do país).

E esses são só os que admitem o que pensam, mas acredita que há muitos mais que pensam o mesmo mas não o exteriorizam.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Dona da Toblerone deslocaliza produção na Suíça: lei obriga a retirar da embalagem icónico logótipo do monte Matterhorn
https://expresso.pt/internacional/2023-03-06-Dona-da-Toblerone-deslocaliza-producao-na-Suica-lei-obriga-a-retirar-da-embalagem-iconico-logotipo-do-monte-Matterhorn-45ecf8b1

Por ser um símbolo nacional, a Toblerone vai ser obrigada a retirar a montanha uma vez que os chocolates são feitos noutro sítio :manas: kkkkkkkk putz

O pior é que provavelmente quem fica a perder é o país, deixa de ter esta marca a publicitar o país :olhos:

  • Haha 5
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

On 23/02/2023 at 21:50, Fadokimi disse:

Passou um Globo Repórter sobre Portugal e o pessoal fala que se vivesse só do que ganhava em Portugal, não teria como sobreviver. Não entendo, um monte de brasileiro querendo sair por ser caro e não ter emprego e outros querendo ir para cair na mesma burrada. 

Muita gente acredita nas histórias que os youtubers contam sobre Portugal. Outros se mudam para Portugal para conseguir a cidadania e se mandar para outro país que pague melhores salários. Outro grande problema é ser um mercado limitado e não permitir ordenados maiores. Então, para determinadas profissões como a Medicina, não há vantagem em mudar-se, já que os ordenados no Brasil são bem mais altos que a média na região (um médico brasileiro recebe pelo menos 5 vezes mais que um profissional peruano). Pelo que entendi, Portugal é um ótimo país para aposentados de outros países europeus e nômades digitais, mas que torna-se cada vez mais difícil para o próprio português.

Uma sugestão válida para os portugueses que estão com pouca grana: estudem muito e tentem concursos públicos no Brasil. Os empregos do Estado costumam a pagar bem acima da média. O cargo de auditor da Receita Federal do Brasil paga, inicialmente, 21 mil reais ao mês (cerca de 3,9 mil euros ao mês) e a única exigência é ter uma graduação validada por uma universidade federal brasileira. Lembrando que a nacionalidade portuguesa é a única que permite concorrer a concursos públicos brasileiros.

On 24/02/2023 at 13:02, JDaman disse:

Quanto a alguns brasileiros que vêm para cá, muitos vão no encanto de ir para a Europa e de acharem que chegam e tudo está disponível à mão de semear e escolhem Portugal pelo factor língua e clima. O problema é que Portugal não é o país onde isso vai acontecer e acabo por conhecer casos de famílias brasileiras a viver em condições miseráveis e a trabalharem em empregos muito mal pagos e com pouca segurança e estabilidade. E depois temos sempre o factor xenofobia, que me custa a entender, sinceramente. Sigo a página do Brasileiras Não Se Calam e alguns dos relatos que leio por lá são da coisa mais absurda possível. Custa-me a entender como é que ainda há portugueses com aquele tipo de ideias de caca na cabeça (e que depois dão uma imagem horrível dos portugueses e do país).

Há algum tempo atrás, eu pensei seriamente em deixar este fórum após sofrer ataques pessoais por partes de portugueses em outros fóruns e redes sociais. Eu li coisas horríveis destinadas à minha pessoa, aos meus conterrâneos e ao meu país que me deixaram com a pior imagem possível de Portugal. Inclusive, quase entrei na Justiça contra uma advogada portuguesa que vive em Salvador, cheguei a consultar o meu advogado e só desisti para evitar maiores dissabores em minha vida pessoal, que já está cheia de problemas. O que me dissuadiu da ideia foi o ótimo relacionamento que eu tenho com vocês neste fórum.

Eu reconheço que o Brasil tem sérios problemas sociais, políticos, econômicos e até culturais. Também reconheço que existem vários brasileiros de índole questionável, mas não dá pra aceitar o comportamento horrível por parte de vários portugueses com os brasileiros. Não somos pessoas famintas, desonestas, promíscuas sexualmente que vivem quase todos em favelas. 

Vale salientar que muitos brasileiros são levados a acreditar que Portugal é um "Brasil melhorado na Europa" e, da mesma forma, muitos portugueses tendem a acreditar que o Brasil é o país que mais se parece à Portugal no Mundo e ficam revoltados quem os contesta. Eu posso afirmar, com toda a certeza, que a maioria dos brasileiros sabia muito pouco sobre Portugal atual até imigrar. O que sabemos de vocês vem dos livros de História, que adota um tom crítico acerca da colonização brasileira, e dos esteriótipos portugueses (o Seu Manoel da padaria e Dona Maria que vestem preto, são extremamente literais e ouvem fado). Como eu disse em outro tópico: 

Nos oito shows que deram em São Paulo e no Rio, os Delfins sentiram que o público tinha dificuldade para entender o que o grupo cantava. "Havia lugares em que entediam melhor o espanhol que o português de Portugal.".
Para Ângelo, a forma de conquistar o público brasileiro é assumir essa diferença. "O português de Portugal vai ter que ser encarado como língua estrangeira."
Como os brasileiros não entendem bem o que o grupo canta, ele aposta na qualidade da música.


Folha de São Paulo - 28 de setembro de 1996. (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/9/28/ilustrada/8.html)

O que vocês talvez não saibam é que, além da dificuldade natural com a pronúncia portuguesa (supressão de vogais, velocidade de fala, diferença de vocabulário, etc), existe uma carga negativa em torno da variante. É visto como cômico, caricato, ranzinza, "feio", excessivamente fechado, "áspero" e "desagradável". Não houve qualquer esforço histórico em mudar essa ideia de ambas as partes. No meu caso específico, a minha dificuldade vai depender do interlocutor e da região da pessoa. O José Sócrates é relativamente fácil de entender, mas aquela cantora do tema da novela "Telhados de Vidro" é muito difícil entender.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

há 15 horas, PierreDumont disse:

Muita gente acredita nas histórias que os youtubers contam sobre Portugal. Outros se mudam para Portugal para conseguir a cidadania e se mandar para outro país que pague melhores salários. Outro grande problema é ser um mercado limitado e não permitir ordenados maiores. Então, para determinadas profissões como a Medicina, não há vantagem em mudar-se, já que os ordenados no Brasil são bem mais altos que a média na região (um médico brasileiro recebe pelo menos 5 vezes mais que um profissional peruano). Pelo que entendi, Portugal é um ótimo país para aposentados de outros países europeus e nômades digitais, mas que torna-se cada vez mais difícil para o próprio português.

Uma sugestão válida para os portugueses que estão com pouca grana: estudem muito e tentem concursos públicos no Brasil. Os empregos do Estado costumam a pagar bem acima da média. O cargo de auditor da Receita Federal do Brasil paga, inicialmente, 21 mil reais ao mês (cerca de 3,9 mil euros ao mês) e a única exigência é ter uma graduação validada por uma universidade federal brasileira. Lembrando que a nacionalidade portuguesa é a única que permite concorrer a concursos públicos brasileiros.

Há algum tempo atrás, eu pensei seriamente em deixar este fórum após sofrer ataques pessoais por partes de portugueses em outros fóruns e redes sociais. Eu li coisas horríveis destinadas à minha pessoa, aos meus conterrâneos e ao meu país que me deixaram com a pior imagem possível de Portugal. Inclusive, quase entrei na Justiça contra uma advogada portuguesa que vive em Salvador, cheguei a consultar o meu advogado e só desisti para evitar maiores dissabores em minha vida pessoal, que já está cheia de problemas. O que me dissuadiu da ideia foi o ótimo relacionamento que eu tenho com vocês neste fórum.

Eu reconheço que o Brasil tem sérios problemas sociais, políticos, econômicos e até culturais. Também reconheço que existem vários brasileiros de índole questionável, mas não dá pra aceitar o comportamento horrível por parte de vários portugueses com os brasileiros. Não somos pessoas famintas, desonestas, promíscuas sexualmente que vivem quase todos em favelas. 

Vale salientar que muitos brasileiros são levados a acreditar que Portugal é um "Brasil melhorado na Europa" e, da mesma forma, muitos portugueses tendem a acreditar que o Brasil é o país que mais se parece à Portugal no Mundo e ficam revoltados quem os contesta. Eu posso afirmar, com toda a certeza, que a maioria dos brasileiros sabia muito pouco sobre Portugal atual até imigrar. O que sabemos de vocês vem dos livros de História, que adota um tom crítico acerca da colonização brasileira, e dos esteriótipos portugueses (o Seu Manoel da padaria e Dona Maria que vestem preto, são extremamente literais e ouvem fado). Como eu disse em outro tópico: 

Nos oito shows que deram em São Paulo e no Rio, os Delfins sentiram que o público tinha dificuldade para entender o que o grupo cantava. "Havia lugares em que entediam melhor o espanhol que o português de Portugal.".
Para Ângelo, a forma de conquistar o público brasileiro é assumir essa diferença. "O português de Portugal vai ter que ser encarado como língua estrangeira."
Como os brasileiros não entendem bem o que o grupo canta, ele aposta na qualidade da música.


Folha de São Paulo - 28 de setembro de 1996. (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/9/28/ilustrada/8.html)

O que vocês talvez não saibam é que, além da dificuldade natural com a pronúncia portuguesa (supressão de vogais, velocidade de fala, diferença de vocabulário, etc), existe uma carga negativa em torno da variante. É visto como cômico, caricato, ranzinza, "feio", excessivamente fechado, "áspero" e "desagradável". Não houve qualquer esforço histórico em mudar essa ideia de ambas as partes. No meu caso específico, a minha dificuldade vai depender do interlocutor e da região da pessoa. O José Sócrates é relativamente fácil de entender, mas aquela cantora do tema da novela "Telhados de Vidro" é muito difícil entender.

Acho que o facto de Portugal e Brasil serem países tão distantes do ponto de vista de entendimento e partilha cultural deve-se em grande parte a um isolacionismo que os dois lados tiveram. Para piorar a situação, ambos viveram situações isolacionistas praticamente ao mesmo tempo (Estado Novo em Portugal e Ditadura Militar no Brasil). Depois há que acrescentar outros pormenores. Após o 25 de Abril, Portugal deixou ter uma política de "Orgulhosamente Sós". Contudo, havia grandes divisões políticas, com uma parte da esfera política a querer integração com a Europa Ocidental e outra com a esfera Soviética. Não há espaço para pensar em integração culturais com outros países de lusófonos quando tens isto a acontecer, quando praticamente só existe outro país no mundo que é lusófono e quando, por causa da censura e cariz tradicionalista do antigo regime, a produção de cultura de massas era extremamente reduzida e sem espaço para exportação (muitos dos "Clássicos" do Cinema Português não passam de obras de propaganda ao regime do Estado Novo e enoja-me que se continue a exibir esses filmes sem o devido contexto e juízo crítico).

Ora, depois do Verão Quente de 75, quando Portugal deixou de ter políticas isolacionistas e passou a ter alguma estabilidade política, o foco do novo regime foi primeiro efectuar uma integração com a Europa Ocidental, seja por questões de ressalvar a legitimidade do regime, seja por questões económicas. Grande parte da nossa política externa teve isso como foco ao longo dos anos 80 e 90. Sim, tivemos exposição a cultura de massas brasileiras, mas acho que o nosso entendimento do Brasil era semelhante ao que vocês tinham de Portugal: um enchurrilho de estereótipos, alguns alvo de chacota. Com esta situação toda criou-se a tempestade perfeita para o que viria a acontecer na década de 2000.

E é aqui que chego à xenofobia. Não tenho dúvidas nenhumas que muita da imagem que muita malta de comentários xenófobos faz venha da questão de imigração brasileira para Portugal no final da década de 90, inícios dos anos 2000 (já vou explicar isto). O boom da construção civil levou a um aumento no números de imigrantes do Brasil, PALOP e até da ex-URSS. No meio desta situação surgiram também movimentos de imigração destas zonas, tanto legal como ilegal que serviram para fomentar a indústria do "entretenimento de cavalheiros" e da prostituição. O resultado: criou-se o estereótipo do "pobre da favela", "preto da barraca" ou o "Yuriy que acrescenta um i em cada vogal que diz" que só sabe carregar sacos e baldes de cimento durante um número insuportável de horas e da prostituta de Leste ou Brasileira que vem roubar os maridos e, na típica estupidez do ser humano, houve quem generalizasse. Não tenho dúvidas que o movimento Mães de Bragança tenha colocado o pé no acelerador nestes estereótipos, principalmente em relação às mulheres brasileiras, ucranianas e russas a residir em Portugal. O pior disto é que se as pessoas de Leste se têm conseguido livrar desses rótulos (e ainda bem!), parece ser mais difícil para os brasileiros e custa-me a entender porquê. E nem vou pegar nas comunidades asiáticas, porque isso é quase entrar na toca do coelho.

Basicamente, tudo isto ensina-nos uma valiosa lição: isolacionismo, divisão e ignorância não ajudam absolutamente ninguém. Quanto mais tentarmos entender os outros em vez de colocarmos rótulos, melhor sabemos que são iguais a nós e com os mesmos problemas que temos na vida. E se nos juntarmos em vez de nos isolarmos, somos mais fortes e capazes de lutar pelos objectivos que temos em comum.

  • Gosto 2
  • Adoro 3
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

há 5 horas, jt9 disse:

que nojo a sociedade de hoje em dia

e depois as declaraçoes desta senhora, enfim

 

Mas pelos vistos o miudo é mesmo problemático, insulta tudo e todos, inclusive já ameaçou colegas com facas e outras coisas e eles fartaram-se. Não que justifique, mas se uns podem apanhar dele, ele também não é especial.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

há 10 horas, JDaman disse:

Acho que o facto de Portugal e Brasil serem países tão distantes do ponto de vista de entendimento e partilha cultural deve-se em grande parte a um isolacionismo que os dois lados tiveram. Para piorar a situação, ambos viveram situações isolacionistas praticamente ao mesmo tempo (Estado Novo em Portugal e Ditadura Militar no Brasil). Depois há que acrescentar outros pormenores. Após o 25 de Abril, Portugal deixou ter uma política de "Orgulhosamente Sós". Contudo, havia grandes divisões políticas, com uma parte da esfera política a querer integração com a Europa Ocidental e outra com a esfera Soviética. Não há espaço para pensar em integração culturais com outros países de lusófonos quando tens isto a acontecer, quando praticamente só existe outro país no mundo que é lusófono e quando, por causa da censura e cariz tradicionalista do antigo regime, a produção de cultura de massas era extremamente reduzida e sem espaço para exportação (muitos dos "Clássicos" do Cinema Português não passam de obras de propaganda ao regime do Estado Novo e enoja-me que se continue a exibir esses filmes sem o devido contexto e juízo crítico).

Ora, depois do Verão Quente de 75, quando Portugal deixou de ter políticas isolacionistas e passou a ter alguma estabilidade política, o foco do novo regime foi primeiro efectuar uma integração com a Europa Ocidental, seja por questões de ressalvar a legitimidade do regime, seja por questões económicas. Grande parte da nossa política externa teve isso como foco ao longo dos anos 80 e 90. Sim, tivemos exposição a cultura de massas brasileiras, mas acho que o nosso entendimento do Brasil era semelhante ao que vocês tinham de Portugal: um enchurrilho de estereótipos, alguns alvo de chacota. Com esta situação toda criou-se a tempestade perfeita para o que viria a acontecer na década de 2000.

E é aqui que chego à xenofobia. Não tenho dúvidas nenhumas que muita da imagem que muita malta de comentários xenófobos faz venha da questão de imigração brasileira para Portugal no final da década de 90, inícios dos anos 2000 (já vou explicar isto). O boom da construção civil levou a um aumento no números de imigrantes do Brasil, PALOP e até da ex-URSS. No meio desta situação surgiram também movimentos de imigração destas zonas, tanto legal como ilegal que serviram para fomentar a indústria do "entretenimento de cavalheiros" e da prostituição. O resultado: criou-se o estereótipo do "pobre da favela", "preto da barraca" ou o "Yuriy que acrescenta um i em cada vogal que diz" que só sabe carregar sacos e baldes de cimento durante um número insuportável de horas e da prostituta de Leste ou Brasileira que vem roubar os maridos e, na típica estupidez do ser humano, houve quem generalizasse. Não tenho dúvidas que o movimento Mães de Bragança tenha colocado o pé no acelerador nestes estereótipos, principalmente em relação às mulheres brasileiras, ucranianas e russas a residir em Portugal. O pior disto é que se as pessoas de Leste se têm conseguido livrar desses rótulos (e ainda bem!), parece ser mais difícil para os brasileiros e custa-me a entender porquê. E nem vou pegar nas comunidades asiáticas, porque isso é quase entrar na toca do coelho.

Basicamente, tudo isto ensina-nos uma valiosa lição: isolacionismo, divisão e ignorância não ajudam absolutamente ninguém. Quanto mais tentarmos entender os outros em vez de colocarmos rótulos, melhor sabemos que são iguais a nós e com os mesmos problemas que temos na vida. E se nos juntarmos em vez de nos isolarmos, somos mais fortes e capazes de lutar pelos objectivos que temos em comum.

Eu ansiava por sua resposta porque é um imenso prazer ler as suas ponderações, sempre lúcidas e ricas. Confesso que tentei e ainda tento descodificar o ethos lusitano para compreender determinados aspectos da construção da realidade sociocultural brasileira. Se a sociedade norte-americana é facilmente decifrável (basicamente é uma sociedade altamente estratificada, altamente puritana e baseada na cultura da descartabilidade), o mesmo eu não posso dizer da portuguesa.

Porém, eu percebo alguns anseios do inconsciente coletivo lusitano que vão além dos desafios enfrentado pelas consequências sociopolíticas e culturais da Revolução dos Cravos. Eu peço que me corrija se eu estiver errado: existe uma certa frustração e até revolta do português médio em não ser a principal "referência" sociocultural do Brasil e a sua influência no gigante tropical ser muito mais simbólica e histórica que prática. Eu identifico esse anseio na tese do jornalista Carlos Fino: "a maior herança dos tempos de glória de Portugal seja aquela que mais se envergonha da sua origem". Ao mesmo tempo sinto que existe o "complexo de colonizador" no inconsciente coletivo que fica evidente no ciúme de uma projeção muito maior da sua ex-colônia em determinados aspectos (seja os português com sotaque autenticamente brasileiro em "Family Guy" ou os elogios à musicalidade da variante tropicalizada da língua portuguesa, que foi eleita como um dos melhores sotaques do Mundo). Talvez o medo de um país 92 vezes maior em território? E por fim temos a sensível questão racial e as influências culturais extra-portuguesas na construção da identidade brasileira. A percepção de um país mestiço com fortes contributos ameríndios e subsaarianos que dissolvem boa parte da estrutura portuguesa podem causar arrepios nos "puristas da portugalidade".

Você falou no isolacionismo português e me fez lembrar de algo que ilustra bem essa ausência "paterna": na terceira metade da década de 80, João Pessoa precisava de apoio para restaurar o seu patrimônio histórico. A progressiva reforma de logradouros e edificações foi possível através de uma parceria com o governo espanhol. Cheguei a ver uma velha gravação de um telejornal regional daquela época em que a representante espanhola falava em romper o "pré-conceito que vincula o Brasil exclusivamente à Portugal e que João Pessoa era uma cidade de origem espanhola" (nota: na própria historiografia brasileira usa-se o termo "União Ibérica" ao período correspondente entre 1580 e 1640. O senso brasileiro é de que o Brasil foi uma colônia vinculada à Espanha e, no caso específico da minha cidade, ela recebeu o nome de um rei espanhol: Filipeia, usado nas primeiras décadas de sua existência). 

Editado por PierreDumont
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

há 25 minutos, PierreDumont disse:

Eu ansiava por sua resposta porque é um imenso prazer ler as suas ponderações, sempre lúcidas e ricas. Confesso que tentei e ainda tento descodificar o ethos lusitano para compreender determinados aspectos da construção da realidade sociocultural brasileira. Se a sociedade norte-americana é facilmente decifrável (basicamente é uma sociedade altamente estratificada, altamente puritana e baseada na cultura da descartabilidade), o mesmo eu não posso dizer da portuguesa.

Porém, eu percebo alguns anseios do inconsciente coletivo lusitano que vão além dos desafios enfrentado pelas consequências sociopolíticas e culturais da Revolução dos Cravos. Eu peço que me corrija se eu estiver errado: existe uma certa frustração e até revolta do português médio em não ser a principal "referência" sociocultural do Brasil e a sua influência no gigante tropical ser muito mais simbólica e histórica que prática. Eu identifico esse anseio na tese do jornalista Carlos Fino: "a maior herança dos tempos de glória de Portugal seja aquela que mais se envergonha da sua origem". Ao mesmo tempo sinto que existe o "complexo de colonizador" no inconsciente coletivo que fica evidente no ciúme de uma projeção muito maior da sua ex-colônia em determinados aspectos (seja os português com sotaque autenticamente brasileiro em "Family Guy" ou os elogios à musicalidade da variante tropicalizada da língua portuguesa, que foi eleita como um dos melhores sotaques do Mundo). Talvez o medo de um país 92 vezes maior em território? E por fim temos a sensível questão racial e as influências culturais extra-portuguesas na construção da identidade brasileira. A percepção de um país mestiço com fortes contributos ameríndios e subsaarianos que dissolvem boa parte da estrutura portuguesa podem causar arrepios nos "puristas da portugalidade".

Você falou no isolacionismo português e me fez lembrar de algo que ilustra bem essa ausência "paterna": na terceira metade da década de 80, João Pessoa precisava de apoio para restaurar o seu patrimônio histórico. A progressiva reforma de logradouros e edificações foi possível através de uma parceria com o governo espanhol. Cheguei a ver uma velha gravação de um telejornal regional daquela época em que a representante espanhola falava em romper o "pré-conceito que vincula o Brasil exclusivamente à Portugal e que João Pessoa era uma cidade de origem espanhola" (nota: na própria historiografia brasileira usa-se o termo "União Ibérica" ao período correspondente entre 1580 e 1640. O senso brasileiro é de que o Brasil foi uma colônia vinculada à Espanha e, no caso específico da minha cidade, ela recebeu o nome de um rei espanhol: Filipeia, usado nas primeiras décadas de sua existência). 

Em relação ao ponto que mencionaste: sem dúvida que existe esse complexo, e pior ainda, existe uma total ignorância e falta de vontade em entender por parte de quem o tem sobre o porquê das coisas não serem como desejam. Mas para isso, precisamos também de abordar a forma como o colonialismo é abordado no sistema de ensino português, onde se colocam imensos panos quentes sobre os actos dos colonos sobre as populações locais e sobre os povos escravizados. O colonialismo é extremamente relativizado e isso faz com que abordar questões coloniais seja extremamente complicado, especialmente para com gerações mais velhas. Eu faço parte de uma família de ex-colonos em África e acredita que quando há muitos anos tentei abordar as questões da auto-determinação dos povos africanos como sendo a sua legítima vontade e o porquê de estarem contra a presença dos portugueses foi bastante complicado, dados os laços emocionais e dado que muitos ex-colonos desconheciam algumas das condições extremamente miseráveis e sem direitos básicos em que muitos nativos viviam. Com isto acaba por se criar em muitos portugueses a ideia de que de certa forma as ex-colónias nos devem algo e muitos estranham como é que "eles" desconhecem tanto de Portugal se falam a mesma língua e fizeram parte do país durante décadas. Mais do que frustração e revolta, é também um certo alheamento da realidade que muito do nosso sistema educativo nada faz para resolver e continua-se assim a propangadear o mito de que "como colonos, até fomos uns tipos porreiros". Ninguém entende porque é que o Brasil é tão distante de nós culturalmente e politicamente e ninguém parece querer entender porque é que certas populações africanas lusófonas (algumas delas residentes em Portugal!) tentam vincar tanto a questão da sua identidade.

Quanto ao outro ponto que referiste, não me choca. Há muito que Portugal é conhecido por literalmente ignorar pedidos de recuperação ou restauro de património histórico ou por já chegar tarde demais ao terreno. Aí talvez nem diria que fosse uma questão de isolacionismo, mas mais financeira e de um certo descuido perante o património.

  • Adoro 1
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Junta-te a nós!

Podes agora comentar e registar-te depois. Se tens uma conta, Entra para responderes com a tua conta.

Visitante
Responder a este tópico

×   Colaste conteúdo com formatação.   Restore formatting

  Only 75 emoji are allowed.

×   O teu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar apenas como link

×   Uau! O teu conteúdo anterior foi recuperado.   Limpar Tudo?

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

×
×
  • Criar Novo...