Jump to content

Crónicas sobre Televisão


_Daniel_

Posts Recomendados

Agora uma crónica de Nuno Azinheira, sobre a RTP:

 

 

Cada coisa em seu lugar:

 

Nunca acreditei, e sempre achei um disparate, aquela frase estafada que alguns profissionais da RTP proferiam: "Não nos preocupamos com audiências, isso é coisa das privadas." Nunca acreditei porque não concedo que um profissional que esteja numa área competitiva como esta não se preocupe com a recetividade do seu trabalho. E se esse profisisonal existe, então não devia existir, porque é um mau profissional: alguém que vive da comunicação tem de se preocupar com a mensagem que passa e com a eficácia do seu trabalho.Assim sendo, sempre achei um disparate esse argumento de que a RTP não se pode preocupar com audiências, como se a televisão, mesmo a pública, não tivesse de ter espectadores. Podemos conceder que as audiências não podem ser o único ou o mais importante princípio orientador de uma televisão paga com dinheiros públicos, mas nenhum negócio, mesmo o financiado pelo erário público, pode afastar-se do consumidor. Uma televisão privada que não passa o que os seus espectadores querem morre à falta de publicidade. Uma estatal que se afasta dos interesses do público torna-se irrelevante. Não estou com isto a defender que a RTP não deva ter critérios mais apertados para a sua programação. Escrevo nestas páginas há mais de uma década e tenho-o defendido muitas vezes e de forma contundente. Mas não me choca que a RTP tenha uma novela de praia se depois for capaz de cumprir algumas das suas obrigações de serviço público. Não me choca que faça uma entrevista especial à mãe de Cristiano Ronaldo, só porque ela é mãe de quem é, se, entretanto, for capaz de me explicar corretamente o que está em causa no caso BES ou os efeitos que a baixa natalidade pode ter no nosso futuro coletivo.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Nuno Azinheira fala sobre a reportagem que a RTP emitiu sobre Rui Costa:

 

Orgulho Português:

 

Não é trabalhado como Cristiano Ronaldo. Não é rico como Cristiano Ronaldo. Não é tão mediático como Cristiano Ronaldo. E, no entanto, lá estava ontem a RTP a mostrar-nos a história de Rui Costa, nome de príncipe de Florença, bravo cavaleiro do asfalto, o primeiro português a sagrar-se campeão do mundo de ciclismo.

Era isto que eu queria dizer, há quatro dias, quando aqui escrevi que me importava pouco que a RTP fizesse entrevistas a Dolores Aveiro se continuasse a explicar o caso BES ou a refletir sobre os efeitos da queda da natalidade para o futuro do País. Não estou, como já se percebeu, no lote dos que ficaram chocados com o facto de a RTP ter entrevistado a mãe de Cristiano Ronaldo: percebo o mediatismo de Dolores Aveiro - é uma hipocrisia dizer que ela é "só" a mãe de Ronaldo. É "só", de facto, mas o "só" aqui é muito. E esse "só" é jornalisticamente relevante. Concedo, porém, que a entrevista a Dolores Aveiro, por mais contextualizada e profissional que tenha sido conduzida (e foi), é um rebuçado para as audiências. Insisto: e daí? Não venham dizer que a RTP só pode fazer o que os outros não fazem. A RTP tem de fazer o que os outros não fazem, sim. É isso que está assente no contrato de concessão. Se o fizer, estará tudo certo. Mesmo que pisque o olho às audiências e entreviste todas as Dolores Aveiro que achar que podem ser açucaradas.

 

Menos guloso, Rui Costa mereceu aqueles 34 minutos de exposição que a RTP lhe deu ontem, na excelente reportagem de João Pedro Mendonça, um dos mais trabalhadores e competentes jornalistas da televisão pública. "Em nome do pai" contou-nos tudo o que não sabíamos do ciclista e revelou--nos tudo aquilo que já sabíamos do seu autor. Excelente texto, rara sensibilidade, grande trabalho.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Joel Neto fala agora da escolha das personalidades que constituirão o Conselho Geral da RTP:

 

Ponto de Partida:

 

As primeiras personalidades indicadas para o conselho geral da RTP parecem-me, no geral, bem escolhidas. Assim como - repito - me parece bem a criação do órgão, visto que, manifestamente, uma administração, várias direções de programas e informação, uma comissão de trabalhadores, delegados sindicais, um conselho de opinião e uma provedoria do telespectador não são suficientes para formular uma ideia razoável de serviço público, consonante com o regime e o sistema, a Constituição e o modelo capitalista em que vivemos.

Não espero agora menos do que isso: a solução desse longo debate. Por mim, tenho tentado dar aqui os meus contributos. Serviço público é coesão. É redução das assimetrias (socioeconómicas, geográficas, culturais), é ocupação dos espaços em que os operadores privados permitem que elas se fomentem e é, até, a proposta de soluções para as lacunas que forçam esses operadores a permiti-las. Concorrência: zero. Lucro: zero. Publicidade: zero. Orçamento: o mínimo possível. Ideal: ser umdia a sociedade civil a cumprir o serviço público. No fim da linha de um excelente exercício da RTP, no fundo, estará o seu próprio desaparecimento.

Naturalmente, vivemos uma fase de transição. À crise estrutural do setor dos media veio somar-se a crise conjuntural da economia - e, ademais, torna-se difícil persuadir os contribuintes de que estamos no caminho certo quando a empresa continua um sorvedouro de meios. Daí as exigências da administração e daí também as soluções das direções. Mas é do lado da despesa que o problema se encontra. Manter o problema do lado da despesa é impor a concorrência desleal. De resto, permanece por experimentar a via da criatividade.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Nuno Azinheira:

 

Um pequeno mundo:

 

Muito se fala do nascimento de projetos televisivos no cabo e da melhoria da oferta e da diversidade de conteúdos que estão hoje acessíveis aos consumidores. Eu próprio, por aqui, o tenho feito. Mas, independentemente de o cabo ser hoje o maior laboratório da televisão em Portugal, onde é possível experimentar conceitos, treinar profissionais e testar soluções, e ao mesmo tempo a grande montra internacional de ficção gourmet, é bom colocar as coisas em perspetiva: o cabo é hoje ainda uma minoria. Uma imensa minoria, é certo, mas uma minoria. Tão minoria que essa ideia de termos disponíveis 150 canais de diferentes conteúdos, sendo verdadeira, é uma ilusão. Ninguém vê 150 canais. Pode fazer zapping, mas, mesmo assim, cansa-se ao décimo quinto. E se deixarmos de fora os principais canais temáticos, veremos que a quantidade de espectadores que cada canal atrai é menos, muito menos, do que o número de leitores de um pobre jornal regional. Vejamos os dados do mês de julho, que está agora a chegar praticamente ao fim, de alguns dos canais: História - 5 mil espectadores/dia; Benfica TV1 - 3 mil; Sporting TV - 2 mil; A Bola TV - 2 mil; SIC Caras - 1400; Canal Q - 900; Económico TV - 500; Euronews - 500. E, mesmo entre os canais mais vivos (Hollywood, Disney, AXN, Globo ou SIC Notícias), falamos de valores a rondar os 30 mil espectadores por dia em média.

É claro que nestes números falta uma dimensão importante e que não é quantificada: o consumo gravado ou noutras plataformas. Sobretudo para um público mais jovem, a TV já não se vê no sofá. Vê-se nas gravações, nos computadores, nas partilhas das redes sociais. Isso é hoje, e cada vez mais, ver TV. Mesmo que as "audiências" não o reconheçam... 

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Crónica de Nuno Azinheira:

 

A Falta que Eles fazem:

 

Um destes dias dei por mim a vaguear pela TV e a parar na RTP Memória. Não é canal que veja diariamente, mas "pico" com frequência. No que toca a idade, 40, estou naquela fase tipo "meio da ponte": já não sou um miúdo, mas também não sou um sénior. Portanto, nem ando sempre na vanguarda das novidades, sobretudo das tecnológicas, nem passo a vida a suspirar "no meu tempo é que era" (embora conheça muitos seniores que, felizmente, também não o fazem...). Isto para dizer que parei na RTP Memória, que exibia E o Resto São Cantigas, programa de 1981 apresentado por Carlos Cruz, Raul Solnado e José Fialho Gouveia. O convidado presente em estúdio era Carlos do Carmo, naturalmente com menos 30 e tal anos, mais cabelo preto, mas aquela voz inconfundível (para mim, a Voz). Não é difícil perceber que fiquei agarrado ao programa como se estivesse em direto. Tudo o que era acessório cheirava a mofo: um cenário impensável hoje em dia; um genérico que parecia os jogos do ZX Spectrum, uns microfones de pé, colocados em frente aos três apresentadores sentados lado a lado em três sofás solitários. Mas o essencial, a conversa, o dom da comunicação, o encantamento da partilha, era fresco. Solnado e Fialho já não estão entre nós: partiram cedo já depois de a TV se ter esquecido deles. A vida de Carlos Cruz levou o rumo que sabemos, mas a sua falta à TV é imensa.

Os tempos mudaram e não é fácil perceber se, tanto anos depois, um programa destes, com outra roupagem mas com gente desta estirpe profissional, triunfaria. Temo que não. Hoje queremos mais vida, mais animação e acordes fáceis. E não estou a ver nenhum dos três aos pulos à frente da câmara a gritar 760 milhões e a prometer o paraíso em barras de ouro...

  • Gosto 1
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Crónica de Nuno Azinheira sobre as Festas de Verão das privadas:

 

O Circo Algarvio:

 

As festas de verão da SIC e da TVI já se tornaram um clássico nesta altura do ano. Carnaxide escolhe Vilamoura, Queluz de Baixo opta pela Praia da Rocha. Durante uma noite, os ritmos são mais descontraídos, desaparecem as gravatas, há mais animação, mais copos, mais música. Tenho para mim que estes momentos são mais importantes internamente, porque permitem maior união e o fortalecer do espírito de equipa, do que externamente. É verdade que, por uma noite, os espectadores estão mais próximos das "estrelas", mas ninguém passa a preferir esta ou aquela estação por causa da festa de verão.

Não deixa, porém, de ser verdade que estas celebrações ajudam a tornar mais humanas as figuras da TV, que têm frequentemente (e às vezes injustamente) colada a si uma imagem de altivez e distanciamento. Ora, as festas permitem isso mesmo: no calor da noite, com mais copo ou menos copo, mais música ou menos música, somos quase todos iguais.

Houve um tempo em que as festas da SIC e da TVI eram mais privadas, mais recolhidas. Era um momento íntimo, em que outros convidados não entravam. Hoje, as festas são happenings de uma noite algarvia que vive cada vez mais do poder das estrelas que consegue atrair. Ora, nem o Seven, em Vilamoura, nem o Meo Spot, na Rocha, podem dispensar o poder mediático desses notáveis. Não admira, pois, que as estações tenham passado a fazer transmissões diretas, com passadeiras vermelhas e vários pontos de reportagem. Nisto, a TVI não brinca em serviço: hora e meia em direto, com o povo eufórico para ver passar os VIP. Em casa também: 785 mil espectadores. Há uma semana, a SIC tinha sido mais discreta: 35 minutos, 500 mil em direto. A TV também vive deste circo. E o povo gosta de circo.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Crítica de Nuno Azinheira sobre o sucesso de Dança com as Estrelas:

 

Dança arrasa:

 

A estreia de Dança com as Estrelas 2 voltou a dar à TVI uma vitória arrasadora que, em boa verdade, nunca teve com Rising Star. É verdade que contou com a ajuda da RTP, que depois dos excelentes resultados de The Voice Portugal (914 mil espectadores de média), terminado uma semana antes, achou que não tinha melhor produto para "vender" do que um best of do concurso. Resultado: numa semana perdeu meio milhão de espectadores. E, assim sendo, deixou livre o caminho à TVI.

É uma forma de ver a coisa, mas, quanto a mim, não é a única. Dança com as Estrelas 2 arrasou porque o formato tem sensualidade e emoção. E tem Cristina Ferreira, que arrasta consigo multidões. O que eu quero dizer é que acredito que, se tivesse concorrido mano a mano com The Voice Portugal, Dança com as Estrelas 2 tinha sido um adversário mais forte do que Rising Star. Porque as danças dos corpos com pouca roupa e a sensualidade dos passes ousados seriam sempre mais excitantes para um certo tipo de espectadores do que os concorrentes do Rising Star.

E não me digam que o grande trunfo do Rising Star foi um novo tipo de público que trouxe à TVI? Quem, os jovens? Não é verdade: a estreia de Dança... teve 27% de espectadores com menos de 34 anos, enquanto a final de Rising Star teve 22%. Mais classes A/B? Não. Dança... teve 13% destes espectadores deste segmento. Rising Star teve 14%. A diferença é reduzida.

Não sei se o formato voltará ou não à antena da TVI. Mas se isso acontecer, haverá muita coisa a mudar. No lote de vozes selecionadas, no glamour da produção e até na transversalidade do júri. É verdade que The Voice Portugal nunca ganhou a Rising Star, mas estamos a falar de estações com históricos diferentes. Tivessem trocado de emissora, tivessem passado The Voice Portugal na TVI e Rising Star na RTP, e veriam a diferença.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Crónica de Joel Neto sobre o Big Brother de Israel e as suas medidas de segurança:

 

Atentados e " reality shows":

 

Tive o privilégio, enquanto jornalista, de acompanhar o rescaldo de um atentado em Israel. Estava em Belém quando, emjulho de 1997, um suicida se fez explodir no mercado de Mahane-Yehuda, no centro de Jerusalém. Beneficiado pelos fluxos do trânsito, fui o primeiro a chegar ao hospital e um dos primeiros a chegar ao mercado.

Nem por isso me dei conta do momento histórico que presenciava - tristemente histórico, não apenas porque extinguia uma longa trégua, mas porque punha em causa os Acordos de Oslo, que haviam valido o Nobel a Rabin, Peres e Arafat. Tinha 23 anos, escrevia sobre futebol e dominava mal o conflito. Mas percebi uma coisa: independentemente do sangue derramado, assim que se ligava uma câmara de TV toda a gente se esforçava por representar bem o papel que lhe cabia.

Vim a confirmá-lo noutras oportunidades: o que mais evidentemente distingue o conflito israelo-palestiniano não é o ódio, nem a dor, nem a humanidade que resiste entre os escombros. É a televisão, a sua omnipresença e a maneira como condiciona os comportamentos e os próprios atos de guerra. Portanto, ler agora que o canal israelita Keshet não quis cancelar o Big Brother em curso, preferindo antes instalar um alarme e um abrigo "na casa", é tudo menos surpreendente.

Todo o contexto de Israel é, até certo ponto - até certo ponto, repito -, o de um reality show. Para as lógicas contemporâneas da produção televisiva, o recrudescimento do conflito até pode vir a revelar-se um bom negócio. E, para as lógicas históricas daquela guerra, um palco com centenas de milhares de espectadores em permanência pode sempre vir a mostrar-se um instrumento útil. Oxalá não.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Joel Neto fala sobre o facto de crianças se tornarem concorrentes de concursos do Horário Nobre de Domingo:

 

Vêm aí os garotos...

Os norte-americanos chamam-lhes stage moms e stage dads (mãezinhas e paizinhos de palco, digamos assim), e, agora que a RTP se prepara para lançar The Voice Kids e a SIC decidiu abrir Factor X a adolescentes e até pré-adolescentes, não me ocorre outra coisa senão deplorar o seu regresso.

Preocupa-me pouco a ideia de que aqueles miúdos estejam a trabalhar, ou a caminho disso. Considerar a atividade artística trabalho infantil, desde que cumprida a lei (que me parece boa), é coisa de país burguês, entediado e inculto. Trabalho infantil é ter de andar a tratar de porcos em chiqueiros e a coser solas de sapatos em fábricas fumarentas durante 12 horas por dia.

O que os garotos dos concursos de talentos não merecem é serem transformados numa espécie de repositório das ambições dos paizinhos e das mãezinhas, de que transformarem-se num vazadouro das respetivas frustrações não dista um cabelo. Sobretudo a partir do momento em que o sucesso, a existir, ultrapasse a simples curiosidade. Daí aos esgares de despeito e ressentimento é um tirinho.

A psicologia engana-se em muita coisa, mas não nisto. E a estatística não se engana nunca. Boa parte dos jovens artistas que brilharam e desapareceram apenas desapareceram porque não conseguiram libertar-se da superproteção (chamem-lhe proteção, chamem) familiar. E boa parte dos que nem chegaram a brilhar apenas ousaram tentá-lo por insistência do clã também.

Tudo isso estará em The Voice Kids e Factor X: em olhares fugazes, em hesitações, nos próprios desempenhos. A televisão está-se nas tintas, e dela talvez não se esperasse outra coisa. Por mim, vou colecionando matéria sobre a espécie.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Joel Neto:

 

Notas Soltas

 

1. Chegamos a esta altura do verão e já vamos com sorte se ao menos uma coisa, nas diferentes televisões (portuguesas e não só), nos tiver impressionado bem. 2014 é um desses anos abençoados. A série de cinco programas da BBC com que SIC Notícias assinalou o centenário da Primeira Guerra Mundial brilharia a grande altura em qualquer altura do calendário. Na silly season tem sabor a milagre, e o mínimo que se pode esperar é uma boa dose de repetições ao longo do verão. Muito interessante, em particular, o seriado A Caminho da Guerra 37 Dias, documentário de ficção à moda antiga: formalmente clássico, historicamente rigoroso e mediaticamente eficaz. Que saudades de quando isto era a regra, e não a exceção.

2. Uns quantos atores portugueses de telenovela entraram numa campanha pela adoção de animais. Veem-se os makings ofs, leem-se as entrevistas e a sensação que dá é que se fotografariam com os seus bichos, ou mesmo sem eles, até para uma campanha em defesa da democracia norte-coreana. Como em tantas outras vezes, o Bem volta a demonstrar-se, de algum modo, um efeito colateral do Mal. Como em algumas dessas outras tantas, continua, apesar disso, a ser Bem.

3. O brasileiro Ibope, mais ou menos correspondente à nossa GFK, vai passar a medir os índices de audiências da televisão consumida através de computador e smartphones. Ainda serão pouco relevantes, mas trata-se de um esforço de rigor. No Brasil, cada cidadão possui conta, em média, em sete redes sociais diferentes - a internet não é uma ferramenta, ou sequer um vício, mas uma obsessão. E por cá, não começa a ser assim também? 

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Joel Neto:

 

O que mudou nas novelas?

Pedro Górgia não tem dúvidas quanto ao "sucesso" de Jardins Proibidos e Patrícia Tavares garante que o Jardins Proibidos "fará correr muita tinta". Temo o pior: não tanto por eles, mas pelo que hoje tem sucesso e faz correr tinta. Seja como for, o remake da TVI (estreia em setembro) deverá ajudar-nos a perceber os rumos tomados pela ficção portuguesa, e pelas telenovelas em particular, ao longo destes 15 anos em que efetivamente passámos a ter ficção televisiva.

Dizia há dias o também actor Virgílio Castelo, numa entrevista à Notícias TV sobre o cabeleireiro gay que interpreta em Mulheres, que a ficção, e nomeadamente o género da telenovela, "também tem por obrigação educar". E acrescentou: "Não sei se não deveria ter até como primeira obrigação educar." Curiosamente, o mesmo Virgílio Castelo dizia em 2003, já depois de passar pela direcção da NBP, que as telenovelas não deveriam predominar na ficção e que muito menos deveriam ser exibidas em horário nobre. E não se tratou apenas de um pensamento súbito: já no ano anterior havia desafiado a RTP a abster-se das telenovelas, "culturalmente empobrecedoras".

Eu também mudo de opinião. Muito. Uma parte pequenina da história dos jornais onde escrevi nestes 25 anos também é a história de como fui mudando de opinião. Contudo, não acompanhei Virgílio Castelo na mudança em epígrafe: continuo a concordar com o essencial do que ele dizia há doze anos, sensivelmente por alturas da versão original de Jardins Proibidos.

Talvez o remake me ilumine. Seria mesmo interessante a TVI sobrepor as duas versões, usando o TVI Ficção. Mas é possível que as descobertas a fazer não sejam tão animadoras como as deseja Virgílio. 

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Joel Neto:

 

Uma certa atarantação:

No capítulo das coisas absurdas, tenho o meu top 3 bem definido: as limitações ao número de Excelentes na avaliação de um grupo de professores; a definição de objetivos numéricos para a imposição da lei por parte das autoridades; e, naturalmente, a criação de metas de audiências para a RTP2 - quaisquer que elas sejam, em geral ou para um horário em particular, durante uns meses apenas ou durante o ano todo.

Tenho manifestado a minha discordância com a determinação de objetivos audimétricos para qualquer canal público. No que diz respeito à RTP1, ainda posso tentar perceber que se trate de uma fase de transição, embora a caminho de uma coisa que continua por saber-se bem qual seja. No caso da RTP2, será apenas um retrocesso - e o modo como o diretor de Programas, Elísio Oliveira, vai reclamando meios para poder corresponder diz tudo.

Já nem me refiro, note-se, ao velho binómio "mais qualidade, menos audiências". O número de que estamos a falar é suficientemente pequeno e circunscrito àquilo que pode entender-se como o nosso público intelectual para voar sob esse radar.

Acontece que, neste momento, os portugueses têm acesso a centenas de canais, na distribuição paga como em streaming. Para a RTP2, competir nos mercados de nicho ao ponto de obter 4% de audiências é pura ficção. Resultado: apenas a TDT poderá salvar qualquer empreendimento dessa natureza - e o público da TDT é tão heterogéneo (para dizer o mínimo) que só aligeirando, fazendo concessões e, em suma, abandonando a matriz do canal será possível seduzi-lo.

No fundo, apenas deixando de ser RTP2 a RTP2 conseguirá chegar aos 4%. Que sentido fará então alimentar a RTP2, ademais se um dia a RTP1 voltar a ser RTP1?

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Joel Neto:

 

Despachos para quê?

Passou-se a primeira jornada do campeonato de futebol e não houve jogo em sinal aberto. A situação começou a desenhar-se cedo, mas nem por isso se torna menos digna de estupefação.

Quando Miguel Relvas retirou a Liga da lista dos eventos de interesse público, o que havia a discutir era a ponderação. Agora que Poiares Maduro voltou a incluí-la, há a discutir a qualidade do despacho, o grau de compromisso do mercado para com a lei, a eficácia da fiscalização e ainda a redação do contrato de concessão e a própria legitimidade da RTP enquanto estação pública.

Talvez tenha sido um erro, face à tricefalia das nossas paixões clubísticas, impor apenas um jogo de um dos cinco primeiros classificados. Mas houve tempo para percebê-lo. Nem o Governo nem a ERC agiram quando deviam. Ou, que se saiba, depois disso.

De qualquer modo, produtos diferentes têm valores de mercado diferentes, e o facto é que nem a SportTV nem a Benfica TV receberam qualquer proposta. Estamos, pois, em incumprimento. E o incumprimento é da RTP.

Tenho defendido a natureza pública da estação, numa lógica de complementaridade em relação à restante oferta e à procura do ideal da coesão. Em circunstâncias assim, junto-me aos que disso desdenham: para que serve, afinal, tal monstro?

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Congelar o jornalismo:

 

As férias, se entendidas como tempo para o lazer, para a praia, para o convívio com os amigos, para as patuscadas e para as passeatas a dois, são normalmente tempo para menor atenção às notícias. Mesmo para jornalistas. Desculpem se escandalizo alguém, mas eu, pelo menos, tento desligar. Há tempo para tudo. Para trabalhar e para descansar. E para férias, naturalmente. E elas, quando cumpridas no seu conceito, colocam geralmente a nu um dos principais problemas do jornalismo: a falta de contextualização da maior parte da nossa informação. Falo da televisão, mas em boa verdade podia falar da rádio, da internet e dos jornais (também deste, claro está...).

Acabado de vir de férias, de uma casa grande com dez adultos e seis crianças com menos de oito anos, em que a televisão raramente esteve ligada e quando esteve foi para ver bonecada animada, perdi o início da história dos banhos solidários. E no domingo dei por mim a ver imagens, repetidas em catadupa, de Cristiano Ronaldo a sujeitar-se a um banho de água gelada. Não percebi a razão da tontice, a não ser o facto de ser uma tontice e, portanto, ter, logo aí, uma razão de existir, sobretudo numa época em que as redes sociais são capazes de transformar a maior tontice num fenómeno viral. Até que a SIC me explicou tudo. Foi a SIC (embora acredite que a RTP e a TVI também o tenham feito em determinado momento) que me explicou que o banho gelado pretende ajudar a investigação médica em esclerose lateral amiotrófica. O desafio foi lançado, em julho, em Boston, pelo ex-jogador de basebol Pete Frates, que sofre desta doença grave e incapacitante.

Basta esta pequena explicação para dar sentido a uma imagem. O jornalismo explica. Precisa de ter sentido. Não o congelem, por favor.

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Crónica de Nuno Azinheira:

Andar á coca:

 

Não há meias palavras para uma tontice destas: o disparate que o ator Pêpê Rapazote disse na segunda-feira em direto no Verão Total é, não só uma brincadeira de mau gosto, como uma tremenda irresponsabilidade. O ator, que se estreou na condução do programa das tardes da RTP, aproveitou um dos momentos de promoção a uma linha de valor acrescentado para sugerir aos espectadores que o prémio de mil euros em cartão que estava em jogo poderia ser gasto na compra de droga. "Desde que o seu dealer tenha um terminal de multibanco", acrescentou Pêpê, terminando com um "é a loucura!", não sem que antes tivesse ainda fungado, numa clara alusão ao gesto repetido pelos consumidores de cocaína.

Pêpê Rapazote, com quem até simpatizo, quis ser engraçado. Levou a sua tarefa de apresentador naquele registo leve de Diogo Almada, a personagem que interpreta em Bem-Vindos a Beirais. Fez mal. Faltou ao respeito aos espectadores. Faltou ao respeito à RTP. Faltou ao respeito à sua profissão. E faltou ao respeito, naturalmente, a si.

Dito isto, convém ter o sentido das proporções e não embarcar no disparate incendiário que a viralidade das redes sociais normalmente propicia. Aproveitar esta garotice (não foi um engano nem um lapsus linguae)) para reencher de cicuta as seringas que os críticos profisisonais da RTP têm permanentemente preparadas é quase tão idiota quanto a snifadela de Rapazote. "Agora a RTP até promove a venda de droga nas suas tardes", li de gente respeitável nas últimas 24 horas. Senhores, a RTP tem muito por onde zurzir. E o serviço público que faz também. Não é preciso grande investigação. Basta andar à coca...

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

O Balde de água gelada:

 

A concorrência estimula. Nem sempre acrescenta qualidade. Em certos casos, até pode puxar para baixo. Mas a concorrência é boa: acorda, estremece, faz có- cegas, obriga a mexer. A concorrência é o balde de água gelada que nos desperta do torpor. É o sino que toca a rebate, num mercado apertado em que já nada está adquirido. E quem pensa o contrário morre.

Em 1992, a RTP estava sozinha e chegou a SIC. Pode discutir-se o gosto de algumas novas coisas que a televisão passou a produzir, mas ninguém de boa-fé pode ignorar o que se avançou, o que se cresceu, o que se democratizou. Em 2000, a SIC estava cristalizada, renasceu a TVI. E com ela uma nova forma de contar histórias: as reais e as ficcionadas. Pode discutir-se, de novo, o gosto de algumas coisas que a televisão passou a produzir, mas ninguém de boa-fé pode voltar a ignorar o que se avançou e cresceu na produção de ficção em português, na capacidade de alimentar uma indústria e de dar emprego a centenas de atores profissionais.

Em 2012, a SIC Notícias era líder absoluta no cabo. Era a mais vista, a mais influente, a mais mediática, a única com capacidade de marcar agenda. Hoje, continua a ser o canal informativo mais visto, mas tem uma TVI24 mais forte, mais próxima, muito mais competitiva, e taco-a-taco em alguns horários do dia. E a RTP Informação, que precisa do abanão que a sua direção promete para o último trimestre do ano, tem cada vez mais à perna a CMTV, que nos últimos dias tem oscilado entre os 0,7% e os 0,9% de share, apenas numa operadora, a Meo.

A concorrência trouxe seguramente muito exagero, muita linha indevidamente ultrapassada, mas ela estimula cada profissional a ser melhor, cada projeto a dar mais. Não é perfeita? Não. Mas é melhor do que a agonia de nada fazer, de nada arriscar.

  • Gosto 1
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

O poder das crianças

por NUNO AZINHEIRA

 

Durante anos a fio, um dos sinais de força da SIC era a sua programação infanto-juvenil. Era imbatível. As manhãs de sábado e domingo no canal de Carnaxide não tinham rival e, em boa medida, a liderança da estação também começava por aí. Era o tempo em que não havia gravações automáticas, em que o que se via na televisão era exatamente o que estava a dar na caixa mágica e, em casa, quem mandava no comando eram as crianças.

Os tempos mudaram: a SIC continua a ter clássicos da sua programação infanto-juvenil como o Disney Kids ou o LOL nas manhãs de sábado e domingo, mas o que, lá dentro, oferece à miudagem é hoje aparentemente menos interessante. Kid Canal ou três episódios seguidos (!) repetidos de Inspetor Max, na TVI, são mais fortes do que tudo o resto.

Os números, de resto, não enganam: a média do período horário 08.00-12.00 ao sábado é 19,5%-12,4% a favor da TVI e, ao domingo, 18,3-13,9%. São valores médios, como disse, mas acumulados ao longo dos primeiros oito meses deste ano de 2014.

A SIC, aliás, que durante anos era líder de audiência neste período horário, fica em terceiro por agora, uma vez que a RTP1, com o Bom Dia Portugal e repetições, consegue ficar à sua frente: média acumulada de 17,5% ao sábado e 17,8% ao domingo.

Em Carnaxide há um trabalho grande para fazer ao fim de semana, claramente os dias menos competitivos da estação: apenas o segmento da hora do almoço e a tarde de sábado (com os magazines coordenados por Daniel Oliveira e, por vezes, algum cinema) são capazes de puxar a estação para cima. Mas é insuficiente. São poucos os sábados e domingos que a SIC consegue ficar acima dos 15% de quota de mercado. Para uma televisão comercial, é manifestamente pouco.

  • Gosto 3
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

 

O poder das crianças

por NUNO AZINHEIRA

 

Durante anos a fio, um dos sinais de força da SIC era a sua programação infanto-juvenil. Era imbatível. As manhãs de sábado e domingo no canal de Carnaxide não tinham rival e, em boa medida, a liderança da estação também começava por aí. Era o tempo em que não havia gravações automáticas, em que o que se via na televisão era exatamente o que estava a dar na caixa mágica e, em casa, quem mandava no comando eram as crianças.

Os tempos mudaram: a SIC continua a ter clássicos da sua programação infanto-juvenil como o Disney Kids ou o LOL nas manhãs de sábado e domingo, mas o que, lá dentro, oferece à miudagem é hoje aparentemente menos interessante. Kid Canal ou três episódios seguidos (!) repetidos de Inspetor Max, na TVI, são mais fortes do que tudo o resto.

Os números, de resto, não enganam: a média do período horário 08.00-12.00 ao sábado é 19,5%-12,4% a favor da TVI e, ao domingo, 18,3-13,9%. São valores médios, como disse, mas acumulados ao longo dos primeiros oito meses deste ano de 2014.

A SIC, aliás, que durante anos era líder de audiência neste período horário, fica em terceiro por agora, uma vez que a RTP1, com o Bom Dia Portugal e repetições, consegue ficar à sua frente: média acumulada de 17,5% ao sábado e 17,8% ao domingo.

Em Carnaxide há um trabalho grande para fazer ao fim de semana, claramente os dias menos competitivos da estação: apenas o segmento da hora do almoço e a tarde de sábado (com os magazines coordenados por Daniel Oliveira e, por vezes, algum cinema) são capazes de puxar a estação para cima. Mas é insuficiente. São poucos os sábados e domingos que a SIC consegue ficar acima dos 15% de quota de mercado. Para uma televisão comercial, é manifestamente pouco.

 

Claramente verdade!

Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Amuos e Carinhos:

 

O desentendimento entre António Simões e Rui Santos no Play Off da SIC Notícias, no último domingo, foi apenas mais um no longo rol de zaragatas em década e meia de programas de futebol falado na televisão portuguesa. Não conheço o histórico das relações entre a antiga glória do Benfica e o comentador da SIC. Sei que Rui Santos é um comentador assertivo, de ideias fortes, por vezes insistentemente irritante (ou irritantemente insistente, que a ordem dos fatores é arbitrária). Mas é daí, e da sua frontalidade, que lhe vem a força, a influência, a capacidade de gerar ódios de estimação. O futebol é assim, um jogo de paixões fortes, sem meios-termos, sem consensos entre adeptos.O "não lhe admito" que, durante uns instantes, Simões e Santos trocaram em direto, perante o sorriso seráfico de Manuel Fernandes e a serenidade de João Abreu, foram apenas um bocadinho de folclore. Até porque ao pé de cenas protagonizadas por Dias Ferreira, Gomes da Silva ou Eduardo Barroso, esta foi para meninos...

Que haja respeito e espaço na televisão portuguesa para alguém com 70 anos de carreira é sinal de que este País, apesar de todos os pesares, faz sentido. Dir-se-á que estes casos se contam pelos dedos das mãos e acontece numa área, a televisão, que ganha com a sua enorme exposição pública. Mas foi bonita e bem interessante a entrevista de Cristina Esteves a Ruy de Carvalho no Protagonistas desta semana na RTP Informação, gravado no Chapitô. Cristina é uma excelente e versátil profissional. Além disso, ouvir alguém tratá-la na TV por "Cristininha", "minha filha", "minha querida" ou "meu amor" é um carinho respeitador e ternurento. Quase redentor nos tempos que correm.

Editado por Mundo
Link to comment
Partilhar nas redes sociais

Junta-te a nós!

Podes agora comentar e registar-te depois. Se tens uma conta, Entra para responderes com a tua conta.

Visitante
Responder a este tópico

×   Colaste conteúdo com formatação.   Restore formatting

  Only 75 emoji are allowed.

×   O teu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar apenas como link

×   Uau! O teu conteúdo anterior foi recuperado.   Limpar Tudo?

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

×
×
  • Criar Novo...