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R5: TV Guia, 2 a 8 de Outubro de 1993


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(primeira parte)

2020: OPTO assinar uma plataforma de streaming com o sustento do principal canal privado generalista português, cujo canal principal virou brega e povão, e cujo streaming tem ares de Globoplay low budget, mas olha que isto promete, pessoal!

1993: OPTO viver numa democracia televisiva a quatro canais, sendo que o terceiro é o canal que tem uma grelha de fazer o Canal 1 cair o queixo, que tem ares jovens e que quer ser o canal de todas as classes e estratos sociais, que é colorida, vibrante, alegre, divertida e espero que nunca caia do precipício! Estamos no auge, pessoal!

Vivemos num país cuja TV terrestre de sete canais está no limiar da pobreza, até a RTP Memória à noite parece ter melhores programas do que a SIC e a TVI. Sei que há outros países cujos grandes generalistas, à mercê do cabo e do streaming, prepararam-se de antemão para uma homogeneização do formato "generalista", que por norma devia favorecer a todos quando na verdade traduz-se em um sumo populismo televisivo. Se na política temos já o Chega! (que infelizmente parece estar a começar a aumentar o seu número de seguidores), na televisão o equivalente mais próximo é termos programas pimba ao fim-de-semana, televendas a mais durante o dia (e ainda não sei decifrar o enigma do que aconteceu à Gigashopping!), intermináveis experiências sociais e SIC e TVI a fazerem montes de espionagem industrial de modo a conseguir ter as melhores tácticas para sobreviver. Infelizmente, o quinto canal prometido no início da TDT nunca passou do conceito pretendido e continuo a ter uma imagem negativa da televisão terrestre portuguesa, onde comparo-a a uma cidade cujo auge e simultâneo ápice económico foi nos anos 90 e parte dos 2000, contudo o panorama actual é comparado com uma aldeia que ficou "desquecida e ostracizada", que nem no CREDO da HermanSIC. A televisão de hoje, contando a CM TV, foi feita para a classe mais baixa, nem é a classe C, nem a D, nem sequer a E, e sim a classe Z. Que é uma classe mista, por sinal, pois acho que chega a englobar gente de todas as classes, até das classes médias.

No entanto, em 1993, o panorama português era diferente. Na televisão, na política, no entretenimento, em todas as secções da sociedade, era um Portugal completamente diferente do que é hoje, a viver o ápice e sem grandes crises. Contudo, o agravar da crise económica em Portugal há coisa de dez anos acelerou o aumento da pimbalhada, tornou o Somos Portugal num programa fixo e hoje, a CM TV contribuiu ainda mais para a queda da qualidade. Também, por causa disto, há pessoas que assinaram Netflix ou Disney+ para escapar e ficar a salvo, mas o que existe é uma comunidade reduzida de pessoas sem streaming, com ou sem cabo, que tem de se conformar com a qualidade dos canais existentes.

Tudo isto para dizer que o tema da revista era o primeiro aniversário da SIC.

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A televisão privada legalmente dita já estava a fazer um ano! Um ano! Como os tempos mudaram, hoje aos 28 já parece ter uma crise de meia idade. Mas por outro lado a SIC estava a ser a mais promissora das duas, apesar da TVI ter promessas ainda maiores que a auto-estima da SIC e já estava numa espécie de crise, pois as audiências não vingavam. Numa capa toda ela dedicada ao aniversário da SIC, vamos ter uma entrevista com Emídio Rangel, que fala sobre a SIC e a variedade na altura, e as coisas que já não temos.

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(segunda parte)

Como tem sido a norma nas primeiras edições, eu decidi mudar o formato para deixar as grelhas de programação em último, mas como a primeira parte da revista contém um texto que faz os historiadores @miguelalex23 e @Rangel excitarem de prazer (sobretudo se o tema for a criação e o desenvolvimento da SIC), decidi seguir a ordem normal da revista. O outro formato, por outro lado, já estava gasto. Contudo, a divisão vai ser como noutras edições, dado que a grelha de programação continua a ter o seu direito próprio.

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E entramos na revista com um anúncio de luxo ao perfume Vanderbilt, ilustrado por um cisne (eu achava que eram as pernas de uma mulher, encrustadas em vidro, quando vi a imagem esta terça. Ao que parece o cisne era o símbolo deles conforme pode ser visto na direita. "Desperte o esplendor que existe em si", diz o slogan. Quem diz isto pode também dizer "desperta o homem que há em si", "desperta a deusa que há em si", tudo por causa dos anúncios de "ai, eu quero ser como ele/ela" que tinham mudado o paradigma publicitário europeu (com mais incidência no mercado britânico) no fim dos anos 80.

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À esquerda: anúncio ao Energie Plus da Dercos, da Laboratoires D'Anglas, que tinha sido absorvida pela Vichy depois de um processo de fusão em 1991.

À direita, a ficha técnica da revista e o índice.

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Entramos no olhar pelo showbiz internacional, coisa que, na TV 7 Dias de hoje, seria reduzida a uma coluna antes da secção dos resumos das novelas.

  • Barbara Feltus lança o disco You Make Me Feel Good e esperava que a tal fosse um sucesso. Contrariamente ao que foi dito, uma pesquisa por Barbara Feltus "You Make Me Feel Good" no Google só dá links a sites de leilões com o disco e a uma notícia alemã de 2000 que, a dada altura, disse que "a sua canção "You Make Me Feel Good" flopou". A fama é efémera, mas a internet (se é que a canção estiver conservada ali algures) é para sempre.
  • Nicole Kidman entrará em mais dois filmes, My Life e Malice.
  • Emma Thompson e Anthony Hopkins entraram no filme The Remains of the Day.
  • Prémios da MTV, ainda com o Kurt Cobain (com K, né?) vivo. Acabaria por ser mais um músico vítima da "morte aos 27", sendo que a Amy Winehouse também entrou para esta lista em 2011.
  • Mais um livro adaptado a filme: O Relógio Americano.
  • Latoya Jackson, que passou o verão na Europa, mostra-nos o seu novo visual.
  • Gary Numan anda à procura do êxito (outra vez).
  • 25 anos depois de ser estreado, a ópera rock Hair regressa com os seus temas tabu.
  • Contrariamente ao que a revista indica, o filme do Tom Cruise A Firma afinal é americano e provavelmente a revista cruzou-se acidentadamente com uma notícia dele em França, o que levou muitos leitores a acreditar que este filme era francês.
  • Cynthia (ou Cyntya, segundo o texto em baixo, dá um ar mais misterioso) Gibb é a estrela da mini-série americana Gypsy, que foi ao ar na CBS a 12 de Dezembro, pouco mais de dois meses depois desta revista ter estado em circulação.
  • Guiliana Gemma pretende seguir as pisadas do pai.

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Novas séries na TV:

  • Chegou a segunda temporada da série americana The Raven, que tinha sido uma das apostas do primeiro mês da SIC. Nos EUA tinha sido emitido pela CBS sendo que acabaria por ser mais uma vítima do "menos audiências implica que há episódios por emitir", sendo que dos vinte episódios da série, o último não foi emitido nos EUA e sim no estrangeiro. O penúltimo episódio, último para os americanos, tinha sido emitido lá em Abril.
  • Depois da RTP ter emitido a primeira versão do Caminho das Estrelas, a TVI prepara-se para emitir The Next Generation. Como chamar àquilo de "Nova Geração" tinha um certo ar de telenovela juvenil (Morangos com Açúcar! O quê, o quê, o quê? Açúcar! Geração Nortenha!), chamaram àquilo de O Novo Caminho das Estrelas. Uma aposta para tentar alavancar uma TVI fracassada.
  • A RTP servia-nos com Beverly Hills, 90210. A SIC trouxe-nos Melrose Place, uma série "irmã" de 90210 que era para ser sobre a vida de pessoas na casa dos 20. A chegada de uma nova personagem (Amanda Woodward) ao fim de pouco tempo mudaria o rumo da série.
  • Uma nova série para a TV2, que na altura já contava com dois episódios nos EUA (e que tinha mudado da CBS para o canal de cabo USA Network - hoje da NBCUniversal): Tramas de Seda, uma série sobre detectives que procuravam crimes de paixão de índole sexual.
  • A SIC trouxe-nos Amor e Guerra, que apesar do nome era ambientado num restaurante.
  • Uma inusitada produção entre a International Family Entertainment (produtora por trás do extinto Family Channel - hoje Freeform da Disney) com a Antena 3 (antes mesmo de produzir séries e formatos de séries exportáveis), Céus de África, uma série da canadiana Atlantis (depois Alliance Atlantis, depois foi pro saco) filmada na África do Sul, era sobre dois adolescentes, um branco e um negro, a viverem na África do Sul recém saída do Apartheid.
  • Uma nova série na SIC, trata-se da versão televisiva dos Imortais filmada entre Vancouver e Paris (foi o que estava acordado entre as produtoras. A primeira parte era no destino "turístico" de muitos produtores de séries, Vancouver, e a segunda em Paris para satisfazer as necessidades da cúpula francesa). Actualmente em emissão na RTP Memória (está a decorrer a segunda temporada).
  • e mais um par de eventos especiais

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Foi aqui que começou o império da Coral Europa! O primeiro trabalho deles foi a venda da telenovela Copázio Topázio em 1993. Como explicar isto? Em Junho a produtora mudou o seu nome e separador para Coral (como dizem em espanhol, "a secas"). A Coral era a produtora da RCTV (Porque hay un corazóóóóóóón que grita, porque hay una emocióóóóóóóón bonita) e tinha divisões de vendas internacionais para as Américas e a Europa (Espanha e países balcânicos também estavam na rota dos mexicanos e venezuelanos, mais tarde Israel). Não sei quando é que foi feito o desmame da Coral Europa da casa "mãe", acho que foi anterior à declaração de Hugo Chávez a dizer que a "golpista" RCTV seria cassada. Topázio chega num horário impensável até para novelas latinas nos anos 90, a faixa das 21:30. Por outro lado, Lágrimas (da concorrente Venevisión) foi tida como um dos programas de mais sucesso dos problemáticos primeiros meses da TVI.

E ainda:

  • Anabela vai representar Portugal no Festival OTI, tentativa da organização de replicar a Eurovisão com países das Américas, Portugal e Espanha, que acabou no início dos anos 2000. Mesmo com o downgrade da organização, foram feitas tentativas de começar do zero no México, mas tal como a Intervisão, não vingaria.
  • Margarida Ferreirinha é a nova jornalista dos intercalares de informação da RTP.
  • A TVI comprou os Emmys de 1993, mas para quando? Natal?
  • A RTP assina um contrato com a Fundação de São Carlos para emitir três concertos por ano.

Olha o menu desportivo aí, gente! Dificilmente três dos canais da SPORT.TV iriam ter tanta variedade numa semana já com ligas a decorrer. Eleven Sports talvez.

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Conforme vimos na TV Guia do fim de Terra Mãe cinco anos mais tarde, já no espólio catalão, era costume a TV Guia publicar a lista dos filmes que os quatro canais iriam programar para o mês vindouro. Saca só a quantia de sessões que os quatro canais tinham, era inveja para a Globo e a sua Sessão da Tarde, Tela Quente, Classe A, Campeões de Bilheteria, etc; e por esta altura já havia o Lauro António Apresenta. Acho que depois da renovação de 1996 foi extinto e o Lauro António tinha sido criado pelo Markl ou no tempo do Parabéns ou num programa do Herman na rádio.

Mas tudo bem. A ementa televisiva era variada, desde o cinema europeu mais refinado até telefilmes rascas com as personagens de Já Tocou na Faculdade no Hawai. Eu até faria uma imagem só com os filmes todos e as suas nacionalidades como um complemento daqui a não sei quando tempo. Por falar no Lauro António, um dos destaques é precisamente ao filme da série M.A.S.H., uma comédia militar (militéri comédi) ambientada na Guerra da Coreia e nos anos seguintes.

Ah, e alguns dos filmes estão sem título em português, como alguns filmes franceses.

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E este é o cartaz da segunda quinzena. Mesmo sem filmes de Halloween no dia 31, a dita data tinha já O Padrinho na SIC. Dois dias antes tínhamos um filme do Ingmar Bergman, um dos cineastas mais parados do mundo e Açores. Tanto que na Herman Enciclopédia Mundial satirizaram na mouche os filmes dele, com poucas falas (e palavras a mais na "tradução", como "estar vivo é o contrário de estar morto").

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Credo, já estamos em Outubro, ainda não chegou a meio e agora começam a apregoar com estas campanhas natalícias? Em 1993, a Palmolive acredita que o Natal tinha começado em Setembro, com prémios da Blaupunkt, da Bosch e para o sortudo, um novo Renault Twingo.

E agora vamos à parte que mais nos interessa, o primeiro aniversário da SIC! Que aparentemente cresceu muito num ano, dado ser caricaturizado como uma criança de seis! (admite lá, a SIC foi registada em 1987)

Qual a influência da SIC no panorama audiovisual? Em vez de recorrer a resumos não resisti em copiar as entrevistas. Comecemos pelo Mário Castrim, do extinto Tal & Qual.

"É ingrato julgar uma estação de TV ao fim do primeiro ano de vida. As estruturas não estão montadas, como se viu pelo recurso a técnicos e tecnologias espanholas em coisas tão simples como um jogo de futebol ou uma transmissão em directo; as pessoas, ou se encontram em fase de adaptação a novos processos e novos ambientes, ou procuram abrir caminho batendo com a cabeça na parede, ou caminhando às apalpadelas, o que cria uma certa instabilidade no curso diário; e prossegue o esforço por encontrar um espaço, uma afirmação, uma razão que junte o útil (a emissão em si mesmo) ao agradável - o fluxo da publicidade.

Por outro lado, também não será correcto, nem justo, compará-la com outras estações donas do mercado há dezenas de anos, com a poderosa força da inércia a seu favor, e tendo a seu favor muitas outras forças...

Na impossibilidade de romper caminho através das grandes produções ou das grandes atracções populares (o futebol, a telenovela, os filmes), a SIC lá vai andando com pequenas vampirices - o "Playboy", os filminhos eróticos pouco heréticos ou esse vómito de celulite mental que é o "Água na Boca". Prefere as "shitcoms" às "sitcoms". Aquele "Cosby" e aquele "Bel Air" são, só com personagens negros, a mesma porcaria americana de muitas histórias só com brancos.

Sem rasgos nem diferenças na informação diária, é na informação de médio curso que mais se tem distinguido. Êxitos como o "Terça à Noite" onde, apesar dos esforços de Miguel Sousa Tavares, não foi possível distinguir claramente entre a vivacidade e o banzé, entre a ordem e a algazarra. Nunca será demais lembrar: a emissão de Évora é um dos grandes momentos de televisão em Portugal, desde sempre.

Esperava-se que a produção nacional não fosse, para breve, uma prioridade da SIC, tão dispendiosa ela é. Mas ninguém lhe tira a honra de ter produzido essa pequena jóia que é "A Viúva do Enforcado". Infelizmente, uma jóia não faz a relojoaria. Tirando alguns aspectos da crítica política (penso em "Cara-Chapada"), a orientação da programação da SIC salienta-se por um seguidismo por vezes chocante. Resta saber se por sua vontade, se por força das exigências de mercado. A concorrência conduz à informação. Os treze canais existentes em Nova Iorque são tão irmãos gémeos, tão, tão, que se connfundem uns aos outros...

Suponho que um dos grandes problemas com que se debate a SIC é a dificuldade de informação dos seus programas. Num país onde tão pouco se consomem jornais diários e onde as revistas de especialidade não cobrem eficientemente o país, o geral é as pessoas carregarem no botão e deixarem-se ir. Certos programas servem de referência, outras vezes de armadilha. A tal inércia que a SIC ainda não venceu. Com bons profissionais. Com um visível "amor à camisola" que não resolve tudo. Mas ajuda muito."

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Maria Filomena Mónica, de O Independente:

"Era uma vez um país que apenas possuia televisão oficial, Portugal. Era um monstro com dois braços, um musculado, que chegava a todo o lado, e outro, magrinho,  apenas cobria os grandes centros. O primordial preto-e-branco do ecrã foi, dizem-me, substituído pela cor, mas o cinzento continuava a invadir tudo. Habituámo-nos a ver aparecer, em treiste fila, para nos servir com a sua sopa ideologógica. Salazar, Marcello Caetano, Spínola, Vasco Gonçalves, Mário Soares, Mota Pinto, Sá Carneiro, Balsemão e Cavaco Silva. Nos intervalos, davam-nos séries, debates e filmes, uns bons, outros maus.

Assim fomos vivendo, até que, no glorioso dia 6 de Outubro de 1992, de um antigo armazém de bananas em Carnaxide, surgiu um sinal novo. O poder abrira, a medo, é certo, mas abrira, uma janela, por onde poderiam entrar novos pensamentos, palavras e caras. Ao ver, pela primeira vez, o colorido logotipo da SIC, percebi que estava a assistir a um momento histórico.

A SIC pecou durante este primeiro ano. O seu primeiro aniversário não é altura para o lembrar. É antes o momento para recordar os seus melhores momentos. À cabeça, a informação, noticiários e debates, depois as séries, portuguesas como "A Viúva do Enforcado" e estrangeiras como o "Playboy" e certas reportagens de "Praça Pública" e os jovens do Boletim Meteorológico e os "cameramen" que nos deram algumas das mais limpas imagens jamais vistas, e até os bonecos do "Cara-Chapada".

Ao fim de um ano, quem se lembra ainda do tempo em que apenas a voz oficial nos entrava dentro de casa? Hoje, tudo é possível, o lixo e o luxo."

Jorge Leitão Ramos do Expresso:

"Este primeiro ano foi sobretudo um ano de experimentação da TV privada em Portugal e da concorrência. Assistiu-se, sobretudo, a uma melhoria considerável no sector informativo. Mérito que não pertence exclusivamente à SIC, já que a RTP, face à concorrência, viu-se também obrigada a melhorar a qualidade da sua informação.

Mas se a inovação foi notável na área da informação, perdemos, no entanto, muito com a corrida desenfreada às audiências, que originou uma baixa generalizada na qualidade.

Extra-informação, a SIC não trouxe nada de novo. Continuamos a ver o que já víamos antes de 6 de Outubro de 1992. Não houve inovação no tipo de rubricas apresentadas, as apostas foram feitas em programas similares aos da RTP.

É espantoso como em 1993, com quatro canais de TV a operar em Portugal, não haja um grande magazine cultural com espaço para o debate, como, por exemplo, em França e outros países europeus. E esta aridez vai perdurar enquanto continuar a "guerra das audiências".

Isto não é uma crítica. Entendo perfeitamente que a SIC, enquanto canal privado, não esteja ali para perder dinheiro. É assim em todo o lado quando se vive em concorrência. Mas a verdade é que o panorama é de tal modo desolador que, hoje em dia, só vejo televisão por dever do ofício. Caso contrário, só assistiria aos programas de informação."

José Saraiva, do Jornal de Notícias:

"A alteração do panorama televisivo modificou claramente os habitos televisivos dos portugueses. Nos primeiros tempos, porém, o que me pareceu foi que as expectativas foram de certo modo defraudadas. A estratégia de competir com a RTP teve um saldo negativo. Esqueceram-se de que estavam a competir com uma televisão que dispunha de uma verba muito superior. A RTP, suportada pelo Estado, pôde comprar um cabaz de programas que a SIC não tinha cabedais suficientes para agarrar.

Contudo a aposta na informação foi bem-sucedida e obrigou a RTP, mais concretamente, o Canal 1, a alterar o seu figurino, para tentar recuperar o espaço que a SIC lhes estava a comer. Mas apesar do esforço, neste final do ano, a SIC está bastante atrás. Enquanto o Canal 1, tende a voltar ao modelo anterior, pró-governamental e institucionalizado, procurando marcar a diferença num ou noutro directo.

Todavia no Norte do País, a aceitação da SIC está um pouco abalada. A SIC não aparece - curiosamente a TVI está a cobrir esses acontecimentos - e isso merece uma reflexão: A Televisão não pode ser feita para "colarinhos brancos", tem de ser para todos.

Por outro lado, atingir 15% de audiência é espantoso e quase inédito na Europa. O que significa que os portugueses desejavam há muito a TV privada.

Julgo também que os recentes contratos, como é o caso de Teresa Guilherme (SIC) ou do Goucha (TVI) podem ser responsáveis por sérias dificuldades financeiras. Temo que neste momento de crise da Comunicação Social, isso possa afectar o futuro da televisão privada.

A TVI é que tem me surpreendido bastante. Se tivessem um pivô com mais força, poderiam ter rivalizado com a SIC."

Para acabar, Correia da Fonseca, do Jornal do Fundão e Diário do Alentejo:

"Como talvez alguém recorde, não fui dos que encararam a chegada da TV privada a Portugal com olhos sebastianistas, olhando-a como um acontecimento messiânico que haveria de salvar o audiovisual português de todos os seus pecados. Bem antes de Outubro de 92, pensava-se que as emissoras privadas de televisão conduziriam a uma provável melhoria na área da informação e a uma possível degradação de qualidade na programação geral em consequência de disputas concorrenciais que visariam aliciar auditórios dominados por um mau-gosto neles metodicamente inculcado ao longo dos anos.

Creio que a experiência deste primeiro ano, contado desde o início das emissões da SIC, me deu razão, e acho que isso nem sequer corresponde a algum mérito meu: a previsão era fácil demais para qualquer que tivesse olhado para o que se passara noutros países. No que especificamente diz respeito à SIC, as rubricas informativas (Jornal da Noite, Praça Pública) ou que menos directamente estão ligadas à informação, mas, de facto, prolongam e completam ("Terça à Noite", "O Jogo da Verdade", "Conta-Corrente") obrigaram a RTP a abandonar ao menos um pouco a sua tradicional subserviência perante o discurso do Poder, ensaiando passos no sentido de um pluralismo a que nem ela nem o público estavam habituados. Quanto à programação geral, a tristemente famosa "guerra das telenovelas", que conduziu muitos telespectadores à náusea do género, foi emblemática quando pode, no pior sentido, a concorrência sem princípios mas com fins.

Para além disto, a SIC trouxe uma pontinha de erotismo só capaz de escandalizar um pluritanismo que já não se usa e é um acréscimo de sangue, violência e terror com algumas séries. Pouca coisa com os que um dia sonharam com uma TV inteligente, saborosa e útil. Mas aceito que não se possa pedir muito mais nos tempos que vão correndo e cujo perfil, aliás, um dia destes vai ser forçado mudar."

Aproveitando o aniversário da SIC, o Jumbo (ainda detido pelo Grupo Pão de Açúcar) anuncia os sorteios do segundo aniversário do seu hipermercado na Maia. Hoje, nem num aniversário em fracções de 5/10/25 anos vemos coisa parecida.

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E há novidades no primeiro aniversário:

  • A Bolsa e a Vida: apontamentos económicos com cerca de cinco minutos de duração. A SIC ainda estava indecisa na sua data de estreia. Recentemente a SIC e a SIC Notícias emitiram um programa parecido, Economia com Quem Sabe, do Crédito Agrícola (mas com um minuto de duração, a bem das audiências, e perto da meia-noite na SIC, seguindo a duração do Minuto de Economia).
  • Tostões e Milhões: o regresso do programa de análise económica visto de dois paradigmas, o dos ricos e o dos pobres. Hoje a TV privada é "de pobre" e já não atende às elites.
  • Terça à Noite: regressa das férias outro programa "prestígio" dos primórdios do canal, com o Miguel Sousa Tavares a apresentar.
  • Encontros Imediatos: o segundo concurso da SIC, o Dating Game português, ganhava novo horário (sábados à noite) e com uma reformulação total. Com isto, o genérico feito por Hans Donner iria pro saco
  • Um programa de conversas para os domingos à noite.
  • O primeiro talk-show diurno e diário de uma TV privada em Portugal, E o Resto é Conversa (ou E o Resto ConvÉrsa, segundo o próprio logo do programa) tinha estreia marcada para o dia 4.
  • O Pecado Mora Aqui: talk-show para as quartas com temáticas pecaminosas.

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  • Casos de Polícia: hoje temos a Crónica Criminal dentro do Casa Feliz (e o Rua Segura depois da meia-noite na CM TV) mas na altura, ter programas policiais em horário nobre era uma espécie de must.
  • Chuva de Estrelas: versão portuguesa do Soundmix Show holandês (da qual Portugal iria participar nas finais europeias), a primeira temporada era tida como a principal aposta para aumentar as audiências e a vantagem da SIC face à RTP.
  • Na Cama Com...: talk-show de Catarina Furtado.
  • Um novo desenho animado da Nickelodeon, trazida dos estúdios Klasky-Csupo, que fizeram alguns episódios do início dos Simpsons e Os Meninos do Coro, Ren e  Stimpy. Diz-se que dava na SIC depois do Jornal da Noite, muito irreverente e esquizofrénica era a SIC dos inícios, a tentar apelar a todos os tipos de telespectador.
  • A segunda temporada de Raven, série de kung-fu já mencionada aqui por ter o seu último episódio por emitir nos EUA.
  • Melrose Place, aparentemente, dobrado em português do Brasil. Que nem no extinto canal Teleuno que viria a aparecer mais tarde na TV Cabo, e que posteriormente passou lá no Sony Channel nos primeiros anos. Por outro lado, no Brasil chegou a dar na "irmã de sangue" da SIC, a Globo, entre 1994 e 1998, e repetida posteriormente pela Bandeirantes.
  • A faixa MTV continuava a ser emitida bem perto do fecho da emissão.
  • E filmes de luxo.

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Uma entrevista comprida a Emílio Rangel. Eu até gostava de a transcrever mas dá-me uma trabalheira das grande, portanto a única solução é "abrir novo separador". Malz aê. Em breve a transcrição da entrevista, se tiver tempo, mas pelo que vi é um must: a primeira das citações da entrevista refere à um enviado da TV Guia a dizer que a teleivsão portuguesa ficou mais rica graças a ter um menu variado que ia das novelas ao erotismo. No fundo, 27 anos depois, acho que os espectadores sem cabo ficariam melhor à mercê de uma plataforma de streaming. Talvez no dia 23 ou 24 é que vou lançar a entrevista transcrita. Talvez.

O Multibanco ainda não tinha o Multinho, como tal a "mascote" era o logo deles com pés e sem cara, tapado pelas faixas horizontais do logo clássico deles. Ainda se lembram do tempo em que haviam anúncios com temática de outono? Hoje já não há, culpem o Natal alargado. (A desgraça é que nas Filipinas as campanhas de Natal começam sempre em Setembro por costume deles)

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Para quem estava a sentir a falta de voluptuosas pernas no início da revista, a Lycias responde aos desejos do leitor com os seus collants. Tudo isto "graças a [sic] compressão elástica gradual" (e as embalagens estavam em italiano, por preguiça da marca?).

20 confidências sobre Carlos Mendes:

  1. Só por obrigação consigo cumprir horários.
  2. Gosto de ser reconhecido na rua e não me incomoda nada a popularidade.
  3. Odeio despertadores, mas reconheço precisar deles para acordar.
  4. Não ressono.
  5. Já fiz todos os melhoramentos possíveis em casa; agora, estou é a fazer uma casa nova.
  6. Recebo em casa 44 canais de televisão e costumo ver a CNN, Sky Sport, Sky News, Sky Movies e, naturalmente, a SIC.
  7. Moledo é a minha praia preferida.
  8. Sou um bom contador de anedotas, mas em privado.
  9. Já participei mais nos trabalhos domésticos.
  10. Não sou de corar e nada é capaz de me fazer mudar de cor. Sou da Corado.
  11. Em pequenino, o meu sonho era ser grande.
  12. Os meus ídolos de infância foram os meus irmãos Abílio e Jaime, Nicolau Breyner, Beatriz Costa, D'Artagnant, Billy the Kid, Elvis, Marlon Brando, Danny Kaye, Peter Pan, Lenine, Che Guevara.
  13. O meu pior defeito é a preguiça.
  14. Thomas Edison, Marat e Arafat são as personalidades estrangeiras que mais admiro.
  15. D. João II foi o melhor rei de Portugal.
  16. O que mais me irrita em Lisboa são as sete horas da tarde.
  17. Em casa ando de chinelos, pantufas e, por vezes descalço.
  18. Nunca viro a cara para ver passar uma mulher bonita.
  19. A quinta-feira é o melhor dia da semana.
  20. Não cumpri o serviço militar.

Como é que ele via os canais da SKY depois de Setembro deste ano? A pirataria do serviço era alta? Se calhar isto explicava o porquê da SKY One aparecer nas revistas de televisão depois daquele fatídico 1 de Setembro (que lhes valeu também uma mudança de imagem).

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E vamos às notícias brasileiras:

  • Paulo Gorgulho vai de férias para o Paraguai, onde a novela Pantanal estava a ser emitida pelo Canal 13 (na época só haviam dois canais lá, o 9 da SNT e o 13 da RPC).
  • Fernanda Montenegro recusou o papel de ser ministra da cultura. Mas como se não és capaz de administrar um par de sapatos?
  • Patrícia Pilar recebeu 150 mil dólares para posar nua numa revista.
  • Betty Faria negoceia outros trabalhos para o estrangeiro.
  • Maria Zilda mostra penteados mais louros na novela Olho Por Olho (cujo logo foi refeito do conceito do programa da SIC Jogo da Verdade).
  • José Mayer foi escolhido para uma nova novela da Globo, Nova Califórnia (nome entretanto mudado para Fera Ferida).
  • Lizandra Souto agora quer ser dentista.
  • Luiza Tomé interpretará o mulherão de Tubiacanga em Fera Ferida (Nova Califórnia).
  • Fábio Júnior atrai mulheres quando canta. Diz que só enfrenta um problema depois dos 40 anos.
  • Natália do Vale evita falar à imprensa.
  • Suzana Vieira foi tida pelos brasileiros como a melhor actriz de teatro.
  • Carlos Alberto Ricelli, a viver nos EUA, encontra-se no Rio e promete uma nova novela na Globo, mas não pode anunciar mais dados dado que tem compromissos profissionais na América.
  • Lima Duarte comprou o seu quinto cavalo.

É impressão minha ou vejo uma mensagem subliminar no anúncio da Nescafé? Um símbolo ovular, num losango amarelo, nas páginas de notícias dos actores das novelas brasileiras? Não vos lembra algo?

"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante"

Ainda há pessoas que dizem que estou doido, mas afinal de contas, é uma coincidência.

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Entrevista a Cláudia Ohana da novela Vamp.

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Resumos da novela O Dono do Mundo + anúncio ao Tarot do Kamal.

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Resumos da Banqueira do Povo (DINHEIRO, DINHEEEEEEEEEEEEEIRO), a terminar e Bebé a Bordo.

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Resumos de Vamp e Despedida de Solteiro.

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Resumos de Deus nos Acuda e a primeira novela de uma privada a aparecer nestas páginas, Renascer.

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Inédito! Foto do genérico de La Revancha, na dobragem das vendas internacionais da Venevisión como Lágrimas - a Record emitiria a dita no ano seguinte como A Revanche. À direita, anúncio ao catálogo 3 Suisses, que hoje tem mais relevância em França, pelo que sei, onde acho que lidera o e-commerce das roupas.

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O Canal 1 tinha uma série com o Nicolau Breyner a liderar a tabela, novelas? Só na vice-liderança do canal, com as duas novelas a dar na altura. Por incrível que pareça o top da 4 era Lauro António/Marés Vivas/Lágrimas.

Ah, e por falar em 3 Suisses, eles tinham acabado de lançar no mercado português.

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Filmes da semana, parte 1. É difícil imaginar que a TVI chegava a passar filmes portugueses em horário nobre, num lugar hoje ocupado pelo Jornal das 8 e por qualquer xaropada que tiverem em horário nobre.

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Parte 2.

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Parte 3 + anúncio ao Nestlé Junior Crescimento com mais uma daquelas frases típicas dos anúncios nas revistas a gozar com o nome do produto: "Quando o seu filho for Sénior vai agradecer-lhe por ter passado Junior" (sim, sem acento, viva a globalização). Acho incrível ter achado isto numa revista cujo tema central já aqui debruçado ser o primeiro aniversário de um canal privado :D

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Resumo do horário nobre. O que é que as televisões nos reservarão para o dia inteiro? Descubram na terceira parte!

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há 1 hora, ATVTQsV disse:

(segunda parte)

Como tem sido a norma nas primeiras edições, eu decidi mudar o formato para deixar as grelhas de programação em último, mas como a primeira parte da revista contém um texto que faz os historiadores @miguelalex23 e @Rangel excitarem de prazer (sobretudo se o tema for a criação e o desenvolvimento da SIC), decidi seguir a ordem normal da revista. O outro formato, por outro lado, já estava gasto. Contudo, a divisão vai ser como noutras edições, dado que a grelha de programação continua a ter o seu direito próprio.

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E entramos na revista com um anúncio de luxo ao perfume Vanderbilt, ilustrado por um cisne (eu achava que eram as pernas de uma mulher, encrustadas em vidro, quando vi a imagem esta terça. Ao que parece o cisne era o símbolo deles conforme pode ser visto na direita. "Desperte o esplendor que existe em si", diz o slogan. Quem diz isto pode também dizer "desperta o homem que há em si", "desperta a deusa que há em si", tudo por causa dos anúncios de "ai, eu quero ser como ele/ela" que tinham mudado o paradigma publicitário europeu (com mais incidência no mercado britânico) no fim dos anos 80.

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À esquerda: anúncio ao Energie Plus da Dercos, da Laboratoires D'Anglas, que tinha sido absorvida pela Vichy depois de um processo de fusão em 1991.

À direita, a ficha técnica da revista e o índice.

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Entramos no olhar pelo showbiz internacional, coisa que, na TV 7 Dias de hoje, seria reduzida a uma coluna antes da secção dos resumos das novelas.

  • Barbara Feltus lança o disco You Make Me Feel Good e esperava que a tal fosse um sucesso. Contrariamente ao que foi dito, uma pesquisa por Barbara Feltus "You Make Me Feel Good" no Google só dá links a sites de leilões com o disco e a uma notícia alemã de 2000 que, a dada altura, disse que "a sua canção "You Make Me Feel Good" flopou". A fama é efémera, mas a internet (se é que a canção estiver conservada ali algures) é para sempre.
  • Nicole Kidman entrará em mais dois filmes, My Life e Malice.
  • Emma Thompson e Anthony Hopkins entraram no filme The Remains of the Day.
  • Prémios da MTV, ainda com o Kurt Cobain (com K, né?) vivo. Acabaria por ser mais um músico vítima da "morte aos 27", sendo que a Amy Winehouse também entrou para esta lista em 2011.
  • Mais um livro adaptado a filme: O Relógio Americano.
  • Latoya Jackson, que passou o verão na Europa, mostra-nos o seu novo visual.
  • Gary Numan anda à procura do êxito (outra vez).
  • 25 anos depois de ser estreado, a ópera rock Hair regressa com os seus temas tabu.
  • Contrariamente ao que a revista indica, o filme do Tom Cruise A Firma afinal é americano e provavelmente a revista cruzou-se acidentadamente com uma notícia dele em França, o que levou muitos leitores a acreditar que este filme era francês.
  • Cynthia (ou Cyntya, segundo o texto em baixo, dá um ar mais misterioso) Gibb é a estrela da mini-série americana Gypsy, que foi ao ar na CBS a 12 de Dezembro, pouco mais de dois meses depois desta revista ter estado em circulação.
  • Guiliana Gemma pretende seguir as pisadas do pai.

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Novas séries na TV:

  • Chegou a segunda temporada da série americana The Raven, que tinha sido uma das apostas do primeiro mês da SIC. Nos EUA tinha sido emitido pela CBS sendo que acabaria por ser mais uma vítima do "menos audiências implica que há episódios por emitir", sendo que dos vinte episódios da série, o último não foi emitido nos EUA e sim no estrangeiro. O penúltimo episódio, último para os americanos, tinha sido emitido lá em Abril.
  • Depois da RTP ter emitido a primeira versão do Caminho das Estrelas, a TVI prepara-se para emitir The Next Generation. Como chamar àquilo de "Nova Geração" tinha um certo ar de telenovela juvenil (Morangos com Açúcar! O quê, o quê, o quê? Açúcar! Geração Nortenha!), chamaram àquilo de O Novo Caminho das Estrelas. Uma aposta para tentar alavancar uma TVI fracassada.
  • A RTP servia-nos com Beverly Hills, 90210. A SIC trouxe-nos Melrose Place, uma série "irmã" de 90210 que era para ser sobre a vida de pessoas na casa dos 20. A chegada de uma nova personagem (Amanda Woodward) ao fim de pouco tempo mudaria o rumo da série.
  • Uma nova série para a TV2, que na altura já contava com dois episódios nos EUA (e que tinha mudado da CBS para o canal de cabo USA Network - hoje da NBCUniversal): Tramas de Seda, uma série sobre detectives que procuravam crimes de paixão de índole sexual.
  • A SIC trouxe-nos Amor e Guerra, que apesar do nome era ambientado num restaurante.
  • Uma inusitada produção entre a International Family Entertainment (produtora por trás do extinto Family Channel - hoje Freeform da Disney) com a Antena 3 (antes mesmo de produzir séries e formatos de séries exportáveis), Céus de África, uma série da canadiana Atlantis (depois Alliance Atlantis, depois foi pro saco) filmada na África do Sul, era sobre dois adolescentes, um branco e um negro, a viverem na África do Sul recém saída do Apartheid.
  • Uma nova série na SIC, trata-se da versão televisiva dos Imortais filmada entre Vancouver e Paris (foi o que estava acordado entre as produtoras. A primeira parte era no destino "turístico" de muitos produtores de séries, Vancouver, e a segunda em Paris para satisfazer as necessidades da cúpula francesa). Actualmente em emissão na RTP Memória (está a decorrer a segunda temporada).
  • e mais um par de eventos especiais

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Foi aqui que começou o império da Coral Europa! O primeiro trabalho deles foi a venda da telenovela Copázio Topázio em 1993. Como explicar isto? Em Junho a produtora mudou o seu nome e separador para Coral (como dizem em espanhol, "a secas"). A Coral era a produtora da RCTV (Porque hay un corazóóóóóóón que grita, porque hay una emocióóóóóóóón bonita) e tinha divisões de vendas internacionais para as Américas e a Europa (Espanha e países balcânicos também estavam na rota dos mexicanos e venezuelanos, mais tarde Israel). Não sei quando é que foi feito o desmame da Coral Europa da casa "mãe", acho que foi anterior à declaração de Hugo Chávez a dizer que a "golpista" RCTV seria cassada. Topázio chega num horário impensável até para novelas latinas nos anos 90, a faixa das 21:30. Por outro lado, Lágrimas (da concorrente Venevisión) foi tida como um dos programas de mais sucesso dos problemáticos primeiros meses da TVI.

E ainda:

  • Anabela vai representar Portugal no Festival OTI, tentativa da organização de replicar a Eurovisão com países das Américas, Portugal e Espanha, que acabou no início dos anos 2000. Mesmo com o downgrade da organização, foram feitas tentativas de começar do zero no México, mas tal como a Intervisão, não vingaria.
  • Margarida Ferreirinha é a nova jornalista dos intercalares de informação da RTP.
  • A TVI comprou os Emmys de 1993, mas para quando? Natal?
  • A RTP assina um contrato com a Fundação de São Carlos para emitir três concertos por ano.

Olha o menu desportivo aí, gente! Dificilmente três dos canais da SPORT.TV iriam ter tanta variedade numa semana já com ligas a decorrer. Eleven Sports talvez.

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Conforme vimos na TV Guia do fim de Terra Mãe cinco anos mais tarde, já no espólio catalão, era costume a TV Guia publicar a lista dos filmes que os quatro canais iriam programar para o mês vindouro. Saca só a quantia de sessões que os quatro canais tinham, era inveja para a Globo e a sua Sessão da Tarde, Tela Quente, Classe A, Campeões de Bilheteria, etc; e por esta altura já havia o Lauro António Apresenta. Acho que depois da renovação de 1996 foi extinto e o Lauro António tinha sido criado pelo Markl ou no tempo do Parabéns ou num programa do Herman na rádio.

Mas tudo bem. A ementa televisiva era variada, desde o cinema europeu mais refinado até telefilmes rascas com as personagens de Já Tocou na Faculdade no Hawai. Eu até faria uma imagem só com os filmes todos e as suas nacionalidades como um complemento daqui a não sei quando tempo. Por falar no Lauro António, um dos destaques é precisamente ao filme da série M.A.S.H., uma comédia militar (militéri comédi) ambientada na Guerra da Coreia e nos anos seguintes.

Ah, e alguns dos filmes estão sem título em português, como alguns filmes franceses.

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E este é o cartaz da segunda quinzena. Mesmo sem filmes de Halloween no dia 31, a dita data tinha já O Padrinho na SIC. Dois dias antes tínhamos um filme do Ingmar Bergman, um dos cineastas mais parados do mundo e Açores. Tanto que na Herman Enciclopédia Mundial satirizaram na mouche os filmes dele, com poucas falas (e palavras a mais na "tradução", como "estar vivo é o contrário de estar morto").

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Credo, já estamos em Outubro, ainda não chegou a meio e agora começam a apregoar com estas campanhas natalícias? Em 1993, a Palmolive acredita que o Natal tinha começado em Setembro, com prémios da Blaupunkt, da Bosch e para o sortudo, um novo Renault Twingo.

E agora vamos à parte que mais nos interessa, o primeiro aniversário da SIC! Que aparentemente cresceu muito num ano, dado ser caricaturizado como uma criança de seis! (admite lá, a SIC foi registada em 1987)

Qual a influência da SIC no panorama audiovisual? Em vez de recorrer a resumos não resisti em copiar as entrevistas. Comecemos pelo Mário Castrim, do extinto Tal & Qual.

"É ingrato julgar uma estação de TV ao fim do primeiro ano de vida. As estruturas não estão montadas, como se viu pelo recurso a técnicos e tecnologias espanholas em coisas tão simples como um jogo de futebol ou uma transmissão em directo; as pessoas, ou se encontram em fase de adaptação a novos processos e novos ambientes, ou procuram abrir caminho batendo com a cabeça na parede, ou caminhando às apalpadelas, o que cria uma certa instabilidade no curso diário; e prossegue o esforço por encontrar um espaço, uma afirmação, uma razão que junte o útil (a emissão em si mesmo) ao agradável - o fluxo da publicidade.

Por outro lado, também não será correcto, nem justo, compará-la com outras estações donas do mercado há dezenas de anos, com a poderosa força da inércia a seu favor, e tendo a seu favor muitas outras forças...

Na impossibilidade de romper caminho através das grandes produções ou das grandes atracções populares (o futebol, a telenovela, os filmes), a SIC lá vai andando com pequenas vampirices - o "Playboy", os filminhos eróticos pouco heréticos ou esse vómito de celulite mental que é o "Água na Boca". Prefere as "shitcoms" às "sitcoms". Aquele "Cosby" e aquele "Bel Air" são, só com personagens negros, a mesma porcaria americana de muitas histórias só com brancos.

Sem rasgos nem diferenças na informação diária, é na informação de médio curso que mais se tem distinguido. Êxitos como o "Terça à Noite" onde, apesar dos esforços de Miguel Sousa Tavares, não foi possível distinguir claramente entre a vivacidade e o banzé, entre a ordem e a algazarra. Nunca será demais lembrar: a emissão de Évora é um dos grandes momentos de televisão em Portugal, desde sempre.

Esperava-se que a produção nacional não fosse, para breve, uma prioridade da SIC, tão dispendiosa ela é. Mas ninguém lhe tira a honra de ter produzido essa pequena jóia que é "A Viúva do Enforcado". Infelizmente, uma jóia não faz a relojoaria. Tirando alguns aspectos da crítica política (penso em "Cara-Chapada"), a orientação da programação da SIC salienta-se por um seguidismo por vezes chocante. Resta saber se por sua vontade, se por força das exigências de mercado. A concorrência conduz à informação. Os treze canais existentes em Nova Iorque são tão irmãos gémeos, tão, tão, que se connfundem uns aos outros...

Suponho que um dos grandes problemas com que se debate a SIC é a dificuldade de informação dos seus programas. Num país onde tão pouco se consomem jornais diários e onde as revistas de especialidade não cobrem eficientemente o país, o geral é as pessoas carregarem no botão e deixarem-se ir. Certos programas servem de referência, outras vezes de armadilha. A tal inércia que a SIC ainda não venceu. Com bons profissionais. Com um visível "amor à camisola" que não resolve tudo. Mas ajuda muito."

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Maria Filomena Mónica, de O Independente:

"Era uma vez um país que apenas possuia televisão oficial, Portugal. Era um monstro com dois braços, um musculado, que chegava a todo o lado, e outro, magrinho,  apenas cobria os grandes centros. O primordial preto-e-branco do ecrã foi, dizem-me, substituído pela cor, mas o cinzento continuava a invadir tudo. Habituámo-nos a ver aparecer, em treiste fila, para nos servir com a sua sopa ideologógica. Salazar, Marcello Caetano, Spínola, Vasco Gonçalves, Mário Soares, Mota Pinto, Sá Carneiro, Balsemão e Cavaco Silva. Nos intervalos, davam-nos séries, debates e filmes, uns bons, outros maus.

Assim fomos vivendo, até que, no glorioso dia 6 de Outubro de 1992, de um antigo armazém de bananas em Carnaxide, surgiu um sinal novo. O poder abrira, a medo, é certo, mas abrira, uma janela, por onde poderiam entrar novos pensamentos, palavras e caras. Ao ver, pela primeira vez, o colorido logotipo da SIC, percebi que estava a assistir a um momento histórico.

A SIC pecou durante este primeiro ano. O seu primeiro aniversário não é altura para o lembrar. É antes o momento para recordar os seus melhores momentos. À cabeça, a informação, noticiários e debates, depois as séries, portuguesas como "A Viúva do Enforcado" e estrangeiras como o "Playboy" e certas reportagens de "Praça Pública" e os jovens do Boletim Meteorológico e os "cameramen" que nos deram algumas das mais limpas imagens jamais vistas, e até os bonecos do "Cara-Chapada".

Ao fim de um ano, quem se lembra ainda do tempo em que apenas a voz oficial nos entrava dentro de casa? Hoje, tudo é possível, o lixo e o luxo."

Jorge Leitão Ramos do Expresso:

"Este primeiro ano foi sobretudo um ano de experimentação da TV privada em Portugal e da concorrência. Assistiu-se, sobretudo, a uma melhoria considerável no sector informativo. Mérito que não pertence exclusivamente à SIC, já que a RTP, face à concorrência, viu-se também obrigada a melhorar a qualidade da sua informação.

Mas se a inovação foi notável na área da informação, perdemos, no entanto, muito com a corrida desenfreada às audiências, que originou uma baixa generalizada na qualidade.

Extra-informação, a SIC não trouxe nada de novo. Continuamos a ver o que já víamos antes de 6 de Outubro de 1992. Não houve inovação no tipo de rubricas apresentadas, as apostas foram feitas em programas similares aos da RTP.

É espantoso como em 1993, com quatro canais de TV a operar em Portugal, não haja um grande magazine cultural com espaço para o debate, como, por exemplo, em França e outros países europeus. E esta aridez vai perdurar enquanto continuar a "guerra das audiências".

Isto não é uma crítica. Entendo perfeitamente que a SIC, enquanto canal privado, não esteja ali para perder dinheiro. É assim em todo o lado quando se vive em concorrência. Mas a verdade é que o panorama é de tal modo desolador que, hoje em dia, só vejo televisão por dever do ofício. Caso contrário, só assistiria aos programas de informação."

José Saraiva, do Jornal de Notícias:

"A alteração do panorama televisivo modificou claramente os habitos televisivos dos portugueses. Nos primeiros tempos, porém, o que me pareceu foi que as expectativas foram de certo modo defraudadas. A estratégia de competir com a RTP teve um saldo negativo. Esqueceram-se de que estavam a competir com uma televisão que dispunha de uma verba muito superior. A RTP, suportada pelo Estado, pôde comprar um cabaz de programas que a SIC não tinha cabedais suficientes para agarrar.

Contudo a aposta na informação foi bem-sucedida e obrigou a RTP, mais concretamente, o Canal 1, a alterar o seu figurino, para tentar recuperar o espaço que a SIC lhes estava a comer. Mas apesar do esforço, neste final do ano, a SIC está bastante atrás. Enquanto o Canal 1, tende a voltar ao modelo anterior, pró-governamental e institucionalizado, procurando marcar a diferença num ou noutro directo.

Todavia no Norte do País, a aceitação da SIC está um pouco abalada. A SIC não aparece - curiosamente a TVI está a cobrir esses acontecimentos - e isso merece uma reflexão: A Televisão não pode ser feita para "colarinhos brancos", tem de ser para todos.

Por outro lado, atingir 15% de audiência é espantoso e quase inédito na Europa. O que significa que os portugueses desejavam há muito a TV privada.

Julgo também que os recentes contratos, como é o caso de Teresa Guilherme (SIC) ou do Goucha (TVI) podem ser responsáveis por sérias dificuldades financeiras. Temo que neste momento de crise da Comunicação Social, isso possa afectar o futuro da televisão privada.

A TVI é que tem me surpreendido bastante. Se tivessem um pivô com mais força, poderiam ter rivalizado com a SIC."

Para acabar, Correia da Fonseca, do Jornal do Fundão e Diário do Alentejo:

"Como talvez alguém recorde, não fui dos que encararam a chegada da TV privada a Portugal com olhos sebastianistas, olhando-a como um acontecimento messiânico que haveria de salvar o audiovisual português de todos os seus pecados. Bem antes de Outubro de 92, pensava-se que as emissoras privadas de televisão conduziriam a uma provável melhoria na área da informação e a uma possível degradação de qualidade na programação geral em consequência de disputas concorrenciais que visariam aliciar auditórios dominados por um mau-gosto neles metodicamente inculcado ao longo dos anos.

Creio que a experiência deste primeiro ano, contado desde o início das emissões da SIC, me deu razão, e acho que isso nem sequer corresponde a algum mérito meu: a previsão era fácil demais para qualquer que tivesse olhado para o que se passara noutros países. No que especificamente diz respeito à SIC, as rubricas informativas (Jornal da Noite, Praça Pública) ou que menos directamente estão ligadas à informação, mas, de facto, prolongam e completam ("Terça à Noite", "O Jogo da Verdade", "Conta-Corrente") obrigaram a RTP a abandonar ao menos um pouco a sua tradicional subserviência perante o discurso do Poder, ensaiando passos no sentido de um pluralismo a que nem ela nem o público estavam habituados. Quanto à programação geral, a tristemente famosa "guerra das telenovelas", que conduziu muitos telespectadores à náusea do género, foi emblemática quando pode, no pior sentido, a concorrência sem princípios mas com fins.

Para além disto, a SIC trouxe uma pontinha de erotismo só capaz de escandalizar um pluritanismo que já não se usa e é um acréscimo de sangue, violência e terror com algumas séries. Pouca coisa com os que um dia sonharam com uma TV inteligente, saborosa e útil. Mas aceito que não se possa pedir muito mais nos tempos que vão correndo e cujo perfil, aliás, um dia destes vai ser forçado mudar."

Aproveitando o aniversário da SIC, o Jumbo (ainda detido pelo Grupo Pão de Açúcar) anuncia os sorteios do segundo aniversário do seu hipermercado na Maia. Hoje, nem num aniversário em fracções de 5/10/25 anos vemos coisa parecida.

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E há novidades no primeiro aniversário:

  • A Bolsa e a Vida: apontamentos económicos com cerca de cinco minutos de duração. A SIC ainda estava indecisa na sua data de estreia. Recentemente a SIC e a SIC Notícias emitiram um programa parecido, Economia com Quem Sabe, do Crédito Agrícola (mas com um minuto de duração, a bem das audiências, e perto da meia-noite na SIC, seguindo a duração do Minuto de Economia).
  • Tostões e Milhões: o regresso do programa de análise económica visto de dois paradigmas, o dos ricos e o dos pobres. Hoje a TV privada é "de pobre" e já não atende às elites.
  • Terça à Noite: regressa das férias outro programa "prestígio" dos primórdios do canal, com o Miguel Sousa Tavares a apresentar.
  • Encontros Imediatos: o segundo concurso da SIC, o Dating Game português, ganhava novo horário (sábados à noite) e com uma reformulação total. Com isto, o genérico feito por Hans Donner iria pro saco
  • Um programa de conversas para os domingos à noite.
  • O primeiro talk-show diurno e diário de uma TV privada em Portugal, E o Resto é Conversa (ou E o Resto ConvÉrsa, segundo o próprio logo do programa) tinha estreia marcada para o dia 4.
  • O Pecado Mora Aqui: talk-show para as quartas com temáticas pecaminosas.

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  • Casos de Polícia: hoje temos a Crónica Criminal dentro do Casa Feliz (e o Rua Segura depois da meia-noite na CM TV) mas na altura, ter programas policiais em horário nobre era uma espécie de must.
  • Chuva de Estrelas: versão portuguesa do Soundmix Show holandês (da qual Portugal iria participar nas finais europeias), a primeira temporada era tida como a principal aposta para aumentar as audiências e a vantagem da SIC face à RTP.
  • Na Cama Com...: talk-show de Catarina Furtado.
  • Um novo desenho animado da Nickelodeon, trazida dos estúdios Klasky-Csupo, que fizeram alguns episódios do início dos Simpsons e Os Meninos do Coro, Ren e  Stimpy. Diz-se que dava na SIC depois do Jornal da Noite, muito irreverente e esquizofrénica era a SIC dos inícios, a tentar apelar a todos os tipos de telespectador.
  • A segunda temporada de Raven, série de kung-fu já mencionada aqui por ter o seu último episódio por emitir nos EUA.
  • Melrose Place, aparentemente, dobrado em português do Brasil. Que nem no extinto canal Teleuno que viria a aparecer mais tarde na TV Cabo, e que posteriormente passou lá no Sony Channel nos primeiros anos. Por outro lado, no Brasil chegou a dar na "irmã de sangue" da SIC, a Globo, entre 1994 e 1998, e repetida posteriormente pela Bandeirantes.
  • A faixa MTV continuava a ser emitida bem perto do fecho da emissão.
  • E filmes de luxo.

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Uma entrevista comprida a Emílio Rangel. Eu até gostava de a transcrever mas dá-me uma trabalheira das grande, portanto a única solução é "abrir novo separador". Malz aê. Em breve a transcrição da entrevista, se tiver tempo, mas pelo que vi é um must: a primeira das citações da entrevista refere à um enviado da TV Guia a dizer que a teleivsão portuguesa ficou mais rica graças a ter um menu variado que ia das novelas ao erotismo. No fundo, 27 anos depois, acho que os espectadores sem cabo ficariam melhor à mercê de uma plataforma de streaming. Talvez no dia 23 ou 24 é que vou lançar a entrevista transcrita. Talvez.

O Multibanco ainda não tinha o Multinho, como tal a "mascote" era o logo deles com pés e sem cara, tapado pelas faixas horizontais do logo clássico deles. Ainda se lembram do tempo em que haviam anúncios com temática de outono? Hoje já não há, culpem o Natal alargado. (A desgraça é que nas Filipinas as campanhas de Natal começam sempre em Setembro por costume deles)

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Para quem estava a sentir a falta de voluptuosas pernas no início da revista, a Lycias responde aos desejos do leitor com os seus collants. Tudo isto "graças a [sic] compressão elástica gradual" (e as embalagens estavam em italiano, por preguiça da marca?).

20 confidências sobre Carlos Mendes:

  1. Só por obrigação consigo cumprir horários.
  2. Gosto de ser reconhecido na rua e não me incomoda nada a popularidade.
  3. Odeio despertadores, mas reconheço precisar deles para acordar.
  4. Não ressono.
  5. Já fiz todos os melhoramentos possíveis em casa; agora, estou é a fazer uma casa nova.
  6. Recebo em casa 44 canais de televisão e costumo ver a CNN, Sky Sport, Sky News, Sky Movies e, naturalmente, a SIC.
  7. Moledo é a minha praia preferida.
  8. Sou um bom contador de anedotas, mas em privado.
  9. Já participei mais nos trabalhos domésticos.
  10. Não sou de corar e nada é capaz de me fazer mudar de cor. Sou da Corado.
  11. Em pequenino, o meu sonho era ser grande.
  12. Os meus ídolos de infância foram os meus irmãos Abílio e Jaime, Nicolau Breyner, Beatriz Costa, D'Artagnant, Billy the Kid, Elvis, Marlon Brando, Danny Kaye, Peter Pan, Lenine, Che Guevara.
  13. O meu pior defeito é a preguiça.
  14. Thomas Edison, Marat e Arafat são as personalidades estrangeiras que mais admiro.
  15. D. João II foi o melhor rei de Portugal.
  16. O que mais me irrita em Lisboa são as sete horas da tarde.
  17. Em casa ando de chinelos, pantufas e, por vezes descalço.
  18. Nunca viro a cara para ver passar uma mulher bonita.
  19. A quinta-feira é o melhor dia da semana.
  20. Não cumpri o serviço militar.

Como é que ele via os canais da SKY depois de Setembro deste ano? A pirataria do serviço era alta? Se calhar isto explicava o porquê da SKY One aparecer nas revistas de televisão depois daquele fatídico 1 de Setembro (que lhes valeu também uma mudança de imagem).

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E vamos às notícias brasileiras:

  • Paulo Gorgulho vai de férias para o Paraguai, onde a novela Pantanal estava a ser emitida pelo Canal 13 (na época só haviam dois canais lá, o 9 da SNT e o 13 da RPC).
  • Fernanda Montenegro recusou o papel de ser ministra da cultura. Mas como se não és capaz de administrar um par de sapatos?
  • Patrícia Pilar recebeu 150 mil dólares para posar nua numa revista.
  • Betty Faria negoceia outros trabalhos para o estrangeiro.
  • Maria Zilda mostra penteados mais louros na novela Olho Por Olho (cujo logo foi refeito do conceito do programa da SIC Jogo da Verdade).
  • José Mayer foi escolhido para uma nova novela da Globo, Nova Califórnia (nome entretanto mudado para Fera Ferida).
  • Lizandra Souto agora quer ser dentista.
  • Luiza Tomé interpretará o mulherão de Tubiacanga em Fera Ferida (Nova Califórnia).
  • Fábio Júnior atrai mulheres quando canta. Diz que só enfrenta um problema depois dos 40 anos.
  • Natália do Vale evita falar à imprensa.
  • Suzana Vieira foi tida pelos brasileiros como a melhor actriz de teatro.
  • Carlos Alberto Ricelli, a viver nos EUA, encontra-se no Rio e promete uma nova novela na Globo, mas não pode anunciar mais dados dado que tem compromissos profissionais na América.
  • Lima Duarte comprou o seu quinto cavalo.

É impressão minha ou vejo uma mensagem subliminar no anúncio da Nescafé? Um símbolo ovular, num losango amarelo, nas páginas de notícias dos actores das novelas brasileiras? Não vos lembra algo?

"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante"

Ainda há pessoas que dizem que estou doido, mas afinal de contas, é uma coincidência.

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Entrevista a Cláudia Ohana da novela Vamp.

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Resumos da novela O Dono do Mundo + anúncio ao Tarot do Kamal.

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Resumos da Banqueira do Povo (DINHEIRO, DINHEEEEEEEEEEEEEIRO), a terminar e Bebé a Bordo.

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Resumos de Vamp e Despedida de Solteiro.

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Resumos de Deus nos Acuda e a primeira novela de uma privada a aparecer nestas páginas, Renascer.

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Inédito! Foto do genérico de La Revancha, na dobragem das vendas internacionais da Venevisión como Lágrimas - a Record emitiria a dita no ano seguinte como A Revanche. À direita, anúncio ao catálogo 3 Suisses, que hoje tem mais relevância em França, pelo que sei, onde acho que lidera o e-commerce das roupas.

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O Canal 1 tinha uma série com o Nicolau Breyner a liderar a tabela, novelas? Só na vice-liderança do canal, com as duas novelas a dar na altura. Por incrível que pareça o top da 4 era Lauro António/Marés Vivas/Lágrimas.

Ah, e por falar em 3 Suisses, eles tinham acabado de lançar no mercado português.

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Filmes da semana, parte 1. É difícil imaginar que a TVI chegava a passar filmes portugueses em horário nobre, num lugar hoje ocupado pelo Jornal das 8 e por qualquer xaropada que tiverem em horário nobre.

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Parte 2.

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Parte 3 + anúncio ao Nestlé Junior Crescimento com mais uma daquelas frases típicas dos anúncios nas revistas a gozar com o nome do produto: "Quando o seu filho for Sénior vai agradecer-lhe por ter passado Junior" (sim, sem acento, viva a globalização). Acho incrível ter achado isto numa revista cujo tema central já aqui debruçado ser o primeiro aniversário de um canal privado :D

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Resumo do horário nobre. O que é que as televisões nos reservarão para o dia inteiro? Descubram na terceira parte!

Fábio Júnior deixou a carreira de ator em 1998. Foi apresentador durante algum tempo na TV Record e hoje dedica-se apenas à sua carreira como cantor. É pai dos atores Fiuk e Cléo Pires.

Fernanda Montenegro foi chamada para substituir o homem mais odiado em Portugal (Antônio Houaiss, o pai do "AO-90"). Como não topou, o cargo foi dado a um diplomata.

O antigo prédio da SIC era um armazém de bananas? parece que o Brasil exportou a cultura de improvisar estúdios em prédios construídos para outras finalidades.

Curiosa essa tentativa de dar uma série estrangeira com dobragem brasileira. Aliás, soube recentemente que o Netflix está realizando dobragens brasileiras com alguns dobradores portugueses para simular alguns sotaques estrangeiros (ex: alemão suíço, inglês britânico). Entretanto, parece-me que o Teleuno não dava todas as séries em português brasileiro, algumas vinham em espanhol mesmo.

Topázio foi dada pela Telecinco na Espanha em 1991 e no Brasil pelo SBT entre 1992 e 1993. Em ambos os casos, a telenovela era dada no mesmo horário de Portugal (21:30/21:40). Só lamento ser um pouco antiga e com uma qualidade de imagem precária até para padrões brasileiros (525/30).

Encontrei um sítio brasileiro no Web Archive com várias notas sobre a Televisão em Portugal. Até mesmo uma especulação sobre a privatização da RTP e o sonho de Emídio Rangel de entrar no mercado brasileiro. Se tivereses interesse, eu te mando.

Editado por PierreDumont
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Algumas curiosidades:

LaToya Jackson que nesse verão já tinha dado muito que falar por acusar o irmão Michael no processo de pedofilia seria uma das convidadas do programa estrela da reentré televisiva desse ano da TVI: Momentos de Glória. Segundo o que vi noutra revista da mesma altura esteve 24 horas em Portugal e só saiu do hotel para ir ao estúdio onde cantou 2 canções (que pena que já ñ haja o ícone de confuso da Júlia Pinheiro). Na sua chegada ao aeroporto questionada pelos jornalistas nem sabia em que país estava.:riso:. Sem querer fazer OT esse programa recebeu gente celebridades como Jeremy Irons, Gina Lollobrigida entre outros - inusual para uma TV que estava a dar os seus primeiros passos.

O título da notícia do Tom Cruise é: Tom Cruise e a Mafia. Ele é membro da cientologia:rofl:

Em relação ao primeiro aniversário da SIC, eu era muito novo nessa altura, mas pelo que ouvi pessoas mais velhas dizerem e pelo que li aqui e noutros sítios, o ponto forte era a informação, sobretudo os programas de debate. Tinha 2 pesos pesados que tinham saído da RTP: Margarida Marante e Miguel de Sousa Tavares. "Conta Corrente", "Sete à Sexta", "Crossfire", entre outros foram programas que faziam boas audiências e eram transmitidos em horário nobre.

Em termos de entretenimento, a SIC só começou a jogar a sério quando fez um ano. Até essa altura o programa mais visto da SIC quase nunca chegava ao milhão de espectadores. Na reentré de 93 a contratação bomba da SIC foi a Marina Mota e começou o Chuva de Estrelas nesse outono. O fim da novela 'O Dono do Mundo' na RTP e a estreia quase depois de 'Mulheres de Areia' em janeiro de 94 aliado à estratégia do Rangel de jornal com jornal, novela com novela começaram a abrir caminho e aí sim, a SIC começou verdadeiramente a crescer em audiências.

Em relação às audiências dessa semana realmente foi uma casualidade 'O Dono do Mundo' ñ liderar porque era líder incontestável. Aliás essa foi a última novela da RTP a fazer valores a rondar os 3 milhões de espectadores. No outro lado, na SIC 'Renascer' fazia cerca de 700k.

 

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há 4 horas, thass_hot disse:

Em termos de entretenimento, a SIC só começou a jogar a sério quando fez um ano. Até essa altura o programa mais visto da SIC quase nunca chegava ao milhão de espectadores. Na reentré de 93 a contratação bomba da SIC foi a Marina Mota e começou o Chuva de Estrelas nesse outono. O fim da novela 'O Dono do Mundo' na RTP e a estreia quase depois de 'Mulheres de Areia' em janeiro de 94 aliado à estratégia do Rangel de jornal com jornal, novela com novela começaram a abrir caminho e aí sim, a SIC começou verdadeiramente a crescer em audiências.

Em relação às audiências dessa semana realmente foi uma casualidade 'O Dono do Mundo' ñ liderar porque era líder incontestável. Aliás essa foi a última novela da RTP a fazer valores a rondar os 3 milhões de espectadores. No outro lado, na SIC 'Renascer' fazia cerca de 700k.

Qual o horário que davam Mulheres de Areia na SIC?

Quanto à "O Dono do Mundo", ela foi profundamente rejeitada no Brasil por causa da trama principal e perdeu espaço para as mexicanas (Carrossel e Rosa Selvagem). Em determinado momento, a diferença entre "Carrossel" e "O Dono do Mundo" foi inferior a 10 pontos, uma vergonha para a Globo naquela época. A coisa só melhorou com a chegada de "Pedra sobre Pedra" em janeiro de 1992.

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há 2 minutos, PierreDumont disse:

Qual o horário que davam Mulheres de Areia na SIC?

Quanto à "O Dono do Mundo", ela foi profundamente rejeitada no Brasil por causa da trama principal e perdeu espaço para as mexicanas (Carrossel e Rosa Selvagem). Em determinado momento, a diferença entre "Carrossel" e "O Dono do Mundo" foi inferior a 10 pontos, uma vergonha para a Globo naquela época. A coisa só melhorou com a chegada de "Pedra sobre Pedra" em janeiro de 1992.

Mulheres de Areia dava às 20.30-20.35 (nesta altura os noticiários duravam meia hora:surpresa:) e Fera Ferida também. Aliás MdA foi a primeira novela que deu a seguir ao Jornal da Noite na SIC. De Corpo e Alma e Renascer eram transmitidas antes.

No Brasil O Dono do Mundo deu antes de Pedra Sobre Pedra, mas em Portugal foi ao contrário. Nessa altura o normal era haver um gap de 2 anos (às vezes mais, às vezes menos) entre a exibição original do Brasil e na RTP. Mas como PSP era co-produção entre RTP e Globo a RTP exibiu logo assim que terminou Meu Bem Meu Mal.

Depois disso a história já é conhecida: em 1994 a SIC assinou o contrato de exclusividade com a Globo e a RTP só acabou de exibir Fera Ferida. Antes desta ainda exibiu Mandala com mais de 6 anos de atraso em relação à sua exibição original, devia ter comprado os direitos de exibição e ñ a tinha exibido na altura.

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há 51 minutos, thass_hot disse:

Mulheres de Areia dava às 20.30-20.35 (nesta altura os noticiários duravam meia hora:surpresa:) e Fera Ferida também. Aliás MdA foi a primeira novela que deu a seguir ao Jornal da Noite na SIC. De Corpo e Alma e Renascer eram transmitidas antes.

No Brasil O Dono do Mundo deu antes de Pedra Sobre Pedra, mas em Portugal foi ao contrário. Nessa altura o normal era haver um gap de 2 anos (às vezes mais, às vezes menos) entre a exibição original do Brasil e na RTP. Mas como PSP era co-produção entre RTP e Globo a RTP exibiu logo assim que terminou Meu Bem Meu Mal.

Depois disso a história já é conhecida: em 1994 a SIC assinou o contrato de exclusividade com a Globo e a RTP só acabou de exibir Fera Ferida. Antes desta ainda exibiu Mandala com mais de 6 anos de atraso em relação à sua exibição original, devia ter comprado os direitos de exibição e ñ a tinha exibido na altura.

Bem, ter um atraso em relação à emissão original é algo relativamente comum até hoje. O que não é normal é o que aconteceu com a novela hispano-americana "Guadalupe" no Brasil em 1993: ela estava adiantada em uma semana em relação à sua emissão nos EUA. A dobragem em português brasileiro era feito a toque de caixa.

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(terceira parte)

A programação! Pelos vistos estávamos em plena época de vacas gordas, onde RTP, SIC e TVI recebiam convidados internacionais com frequência, mas é o menos relevante.

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Quem viu a primeira edição das Revistas da Gente em Outubro recorda-se que, seis anos mais tarde, a RTP ainda tinha lucro a mais para comprar desenhos animados para o Canal 1 e a TV2. Fora os que toda a gente sabe, eis os "desconhecidos":

  • Desenha-me Uma História - esta até o Desenhos Animados Anos 90 não sabe... Deduzo que tenha sido feita em França, mas mesmo as informações em francês são escassas, quase no nível das Super Stories (até hoje nem nos EUA se sabe quem é que produziu aquela baghassa)
  • Pif e Hercul - série de 130 episódios inspirados numa tira de BD francesa. Ao que se sabe, foi uma das muitas animações europeias a ser feita em regime de outsourcing em Pyongyang, no famigerado estúdio SEK, 26 de Abril para o regime de Pyongyang, que também fez animações para a Mondo TV.
  • Cococinel - série francesa sobre uma joaninha cujo tema principal era a ecologia e o ambiente (culpem o Capitão Planeta).
  • Ric - se não me engano, esta série era sobre um corvo azul. A personagem mais tarde virou um canal infantil rasca na Alemanha (pertencente à (e emitindo o catálogo da) Your Family Entertainment)
  • Spider - lembram-se da aranha dos intervalos do Panda em 2006? É essa aí!
  • Joshua Jones - série britânica em stop-motion. 12 episódios foram produzidos, emitidos pela BBC no primeiro trimestre de 1992.
  • Le bonheur de la vie (A Felicidade da Vida) - para fechar a faixa infantil, uma série francesa de 20 episódios de cinco minutos cada a abordar um tema que a televisão portuguesa já estava a bombardear mais do que nunca: a sexualidade. Uma avó pergunta aos seus netos perguntas (às vezes embaraçosas) sobre a sexualidade. Entre os temas tratados estão os gémeos, a puberdade (teve direito a dois episódios, tema complexo demais), genealogia e cromossomas. Em 2007, com um filme franco-canadiano-dinamarquês de cerca de 25 minutos de duração chamado Então é Assim houve uma polémica, porém acho que na altura havia menos polémica sobre temas sexuais, mesmo se tratasse de educação sexual na infância. Esta acho que era a animação preferida da Dra. Rute Remédios :curtainpeek:

A manhã é concluída com sessenta minutos de WWE (então WWF) comentados por Tarzan Taborda e um programa com o Luís de Matos. Depois de um intercalar de informação programas culturais e o Clube Disney (ou Disney Club - outros programas da Disney feitos para canais terrestres por país usavam o mesmo genérico). Resto da tarde: filme, série, série, concurso. Totoloto, tempo, Telejornal, entrevista semanal de Maria Elisa, esta semana com o padre Carlos Azevedo. Despedida de Solteiro, crianças para a cama (Quando a lua acordar, coisas que a vida tem...), Parabéns sem acento, que nem no genérico do programa, terceiro episódio de uma série sobre a Princesa Diana, filme, grelhas de programação, hino, agora sim vou me deitar. Umas 19 horas de emissão mais variadas se compararmos com a mesma quantia de horas na RTP 1 de hoje, com especial incidência nas fases do Deusdado e do Barroso.

Quanto à TV2, magazines para as chamadas "minorias" e Universidade Aberta, o clássico dos sábados. Filme, documentário, série, série, TV2 Desporto, série dos Açores, tempo, bailado. Mau Tempo no Canal, o ápice da televisão açoriana.

Havia ainda um par de perguntas Memória TV. Esta era sobre o vencedor do primeiro festival da OTI. Não googlem, pois a resposta está a chegar!

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Era o Brasil com Diálogo.

Antes de entrar na grelha da SIC e da TVI, vamos às TVs públicas espanholas. O Prémio Tua História de Subestação de Preguiça vai para a TV Guia que na altura não sabia como era o logo da TVG e cortou o E da TVE, como se fosse um canal da TVE :sarcastic::haha:

Mas vamos aos factos. As duas primeiras autonómicas (ETB e TV3) dependiam dos circuitos da TVE. A TVG foi, pasmem-se, a primeira a não depender dos emissores da TVE, sendo a sua rede de emissores inteiramente autónoma. Na edição passada falei sobre a experiência falhada da TVE e TVC em abrirem um terceiro canal da TVE em conjunto, aproveitando o circuito catalão dos dois canais (em particular o segundo) mas tal plano acabaria em águas de bacalhau, criando a favor da TVC o seu segundo canal, o Canal 33, e o resto é conversa.

Na altura Portugal tinha o mesmo fuso horário que Espanha, portanto direi que a TVE, para quem vivia na fronteira, nos antecipava à hora de abertura, sendo que o primeiro canal abria às 07:30. No entanto eram poucos os desenhos que a RTP e a TVE tinham comprado e consequentemente emitido no mesmo período. Apesar da faixa infantil ter a mesma duração (três horas e meia) o que dava a seguir não era wrestling, era o MacGyver. Uma grelha à base de séries, desenhos animados e filmes, terminando bem perto das cinco da manhã. Outra coisa a salientar é que na TVE a mira técnica (desde 1991) era acompanhada por simultâneos das rádios, Radio 1 para a 1 e Clásica para a 2. A TVE 2, por outro lado, tinha manhãs mais sérias mas tinha uma veia de "canal complementar". Suponhemos que a TVE 2 era a nossa TV2, mas sem sobredosagem de desporto.

Ah e a Galega, como é apelidada pelos telespectadores, ou Telegaita (usado para gozar com ela). Ainda não descobriram como ligar a mira à Radio Galega, portanto a emissão começava "tecnicamente" quinze minutos antes de abrir quando a mira passava a dar música. A emissão abria às 09:45 e ainda não havia Xabarín (o Xabarín foi inventado no ano seguinte). O "peche" (nas grelhas ainda era "remate") era marcado (a ETB também o fazia) na grelha do canal. Uma coisa é certa: o célebre programa Luar ainda não existia.

Voltemos a Portugal. O Buéréré estava longe de atingir o auge. Ainda havia um sumário às 14 antes de mais um episódio da Dra. Quinn (grande série, o meu pai via no extinto people+arts em 2007). O canal ainda servia-nos a estreia de Melrose Place depois do capítulo de 90210 ter teminado no Canal 1, sendo que o Jornal da Noite dava às 20:45! 20:45, meus amigos, 20:45! É difícil imaginar que aos fins-de-semana os noticiários das generalistas davam a horas completamente diferentes e não coincidiam entre si! E depois, a nova roupagem (sem Donner) do Encontros Imediatos e erotismo em dose dupla, com este "vómito de celulite mental" que era o Água na Boca e a série Diários Eróticos. Quem sabe se um dia hei de actualizar a crónica com estas críticas negativas ao programa que nos primórdios rendeu muitas audiências a uma SIC enfraquecida à nascença.

Antes de haver BBC Vida Selvagem na SIC, quem ficava com os documentários deles era a TVI, que tinha pouco para a sua grelha infantil ao sábado (quase nada). Temos direito a um compacto "tipo Globo Portugal" de Lágrimas e o episódio deste sábado. É difícil imaginar que às 20:35 davam filmes, mesmo num canal fraco com uma componente forte (nalguns aspectos). Entre os filmes davam Rosa Baiana, que era da Band (a ficção hoje é o seu ponto mais fraco). O fecho de emissão ainda aparece como "Adeus",  não sei quando é que foi mudado para o separador que abria a emissão. O que importa é que quando estava fora do ar dava a RFM.

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Ainda mais francesadas na faixa infantil do Canal 1 (mesmo nos anos 2000, quando a RTP comprava novos desenhos animados sabe-se lá de onde, deixavam o título original ou traduzido para inglês da fonte das vendas internacionais e só depois é que corrigiram no site). A série Kevin's Cousins era britânica, era da BBC. Por ser domingo tinha quatro horas. O Top+ dava às 13:15 (hoje os noticiários ainda não chegam a meio!) e era seguido por um "programa de continuidade", o Domingo Gordo de  Júlio Isidro, com Marés Vivas, um filme e depois a série Dinossauros (lembrem-se: era dobrada). Estimo que a emissão tenha fechado por volta da uma da manhã.

A TV2 começava com o já mencionado noutra altura À Mão de Semear e dava também um programa chamado Regiões, longe de haver um noticiário com este nome na RTP 1. Gente Remota traz-nos um documentário sobre o milagre económico japonês (a chamada "bolha"). Depois o TV2 Desporto, Carlos Cruz a convidar "personalidades históricas" e um filme (especulo que a TV2 tenha fechado mais tarde e tenha tido mais horas de emissão).

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Já me esquecia: a faixa infantil da TVE 1 tinha as mesmas séries ao sábado e ao domingo, ao contrário do Canal 1. El Rescate del Talismán era uma adaptação espanhola de um concurso britânico, sendo que em Espanha era patrocinada em parte pela omnipotente Sega. Fora isto, deixa-me deixer uma coisa: sábado e domingo pareciam iguais na TV pública espanhola.

Quem sabia que uma série podia dar em português e em galego no mesmo dia? É o que aconteceu com Os Dinossauros, cuja dobragem é impossível de encontrar (os galegos são notórios por fazerem as melhores dobragens dentro de Espanha, dada a quantidade de referências locais que meteram nas dobragens dos filmes). Também dá para ver como era uma noite sem futebol na TVG, para ter uma ideia da grelha "normal".

A SIC trazia-nos os Rugrats (ao que consta, inicialmente legendado) ao meio-dia. Este 3 de Outubro marca a estreia da série dos Imortais - 27 anos e 10 dias mais tarde, a RTP Memória repôs a série. Com a aproximação do aniversário vemos programas especiais na SIC, como um beauty pageant. Porque é que a televisão portuguesa já não passa este tipo de conteúdo? Será que é por causa do estereótipo de "eu venci e quero acabar com a pobreza mas na verdade quero esconder tudo" ou por causa da descida na qualidade na última dúzia de anos? Ninguém sabe, nadie lo va a saber, así que pásate de largo.

A TVI dava A Casa do Tio Carlos em duas modalidades, sendo que de segunda a sexta era bem mais reduzido. Às 16:30, aproveitando o sucesso "na sombra" de Já Tocou!, foi emitido o filme das férias no Hawai, mas tal como num episódio da série Lassie ainda neste canal e nesta parte da crónica, era sobre como parar a criação de um novo hotel de luxo. A TVI fechava poucos minutos depois da meia-noite. Aproveitem para ouvir o Oceano Pacífico, aproveitem!

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E vamos para o dia 4, dia de trabalho. Para poucos não é, é ponte! Porquê? Amanhã é o Dia da República! No fundo acaba por ser uma grelha normal, sendo que o Bom Dia incluía coisas que o Bom Dia Portugal não iria ter (hoje o Bom Dia Portugal é um loop), e ainda séries, filmes, etc.

Por esta altura o Agora Escolha (já sem pontuação no nome) dava no Canal 1. Acho injusto não terem incluído as opções numa revista que estava ligada à RTP, nem sequer apareciam as ditas no fim da emissão com a grelha.

Não sabia que o Ponto Por Ponto tinha sido mudado para a TV2 - sentido oposto ao Agora Escolha. A troca de canais acabou por trazer malefícios e os programas foram cancelados no ano seguinte. Hoje o TV2 Jornal foi deixado para mais tarde por causa do hóquei.

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Fato inútil: sabiam que o Cifras y Letras chegou a ter uma versão infantil?

A Galiza já tinha o Dragon Ball (como Dragón Z). Aparentemente Espanha já tinha comprado desde 1990 atendendo aos pedidos das nascentes autonómicas que estavam com dificuldades em encontrar programas. E num MIPCOM, um tal de Paco Gratacós, pedinchou o Dragon Ball e outras séries de anime dada a quantidade de episódios e "shelf life" para passar nestas televisões, tanto que ele foi convidado a ir ao Japão sem saber nem uma pava da língua e cultura deles. Entendam um pouco da história aqui (tem mais a ver com o Doraemon que ainda não tinha chegado à Galega, mas que eu saiba na Catalunha já passavam).

A SIC ainda abria às 16:30, mas para alavancar a corrida à guerra das telenovelas, já tinha a reposição de Roque Santeiro. Uma grelha destas com noticiário às S20:45 seria praticamente impensável em 2020. A SIC ainda mostrava a força da informação.

Na TVI, Telhados de Vidro era uma memória distante. Porém o canal ainda tinha dois períodos de emissão, sendo que a pausa já durava menos de uma hora. Estreia da novela Topázio, numa hora impossível para novelas nas generalistas (13:25) e estreavam o mito das dobragens brasileiras que era o Esquadrão Classe A que, ao contrário do popular belief, não era dobrado na Herbert Richers e sim na BKS (tida como descendente da AIC, uma das primeiras no ramo). A Super Máquina (apesar de ser também da Universal) foi dobrada na Herbert Richers, daí a confusão. Podem matar as saudades (e arrepender) com o genérico.

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Olha o poster atrapalhando a grelha aí, gente! Só falta é a cobertura das cerimónias do dia 5 de Outubro, coisa que na altura era só coisa de oficiais do governo. Cuidado com as Imitações durava 25 minutos? Achava que durava mais. O dobro, talvez.

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Poster dos AC/DC.

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Grelha da TV2. E não, é Degrassi (recentemente a RTP 2 deu a adaptação mais recente que acho que era da Netfix, por via do catálogo da DHX Media, detentora dos direitos). Lembra-me alguns anúncios a prostitutas no CM que escreveram travesti com Y.

Vá, ao menos nunca vi alguem falar sobre um tal de "Degrassí"...

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A SIC aproveitava o feriado para abrir mais cedo, a TVI, nada. Em horário nobre, a estreia de Ora Bolas, Marina.

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É chegado o dia do aniversário da SIC! Nada de contra-programação em nenhum canal da RTP.

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A aniversariante começa bem cedo, às 08:30, sendo que Renascer não dá esta noite por causa do programa da nova grelha. Às 23 horas, uma ligação à festa de aniversário do canal com celebridades internacionais! Hoje já não há verba para comprar, sei lá, um Dimash Kudaibergen e actuar num programa português (eu já disse que a televisão de hoje virou pimba). Se alguém fizesse contra-programação, a TVI faria um programa com a nova grelha. Hoje a SIC quando reage a tácticas na TVI torna as novelas "especiais" e convida pessoas do primeiro escalão português para os programas do daytime. Imaginem isto em 1993!

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Quinta é dia de Raios Isco e Coriscos, que tinha sido estreado duas semanas antes.

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E voltamos ao início às 16:30 para a SIC. Pouco depois da meia-noite: Como Fazer Amor Com a Mesma Pessoa Para Sempre. Um especial da Playboy que deve atrair muitos telespectadores por causa do título.

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Sexta é dia da série líder em audiência, Nico d'Obra.

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E ainda a estreia (tardia, 23:30) de Céus de África. A mira que dava à tarde tinha a Renascença?

E sim, como já disse, Os Simpsons davam na TVE (mais na 2 do que na 1). A Antena 3 passou a ter os direitos em Dezembro de 1994. Hoje dão no Neox e na Disney+, à qual se junta a dobragem catalã que chegou a dar na Antena 3 na região por algum tempo.

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Antevisão do próximo fim-de-semana e anúncio ao Boticário. Compre os nossos produtos e ganhe um bonsai.

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Grelhas da RTP Madeira e Açores, canais onde iam os enlatados da RTP em fase terminal durante anos.

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Satélite, com os mesmos canais da TV Guia (porém com grelha mais alargada, atendendo às dimensões da revista). Do pouco erotismo que encontrei na RTL, vi uma tal de "Serie Rose". A série que também fez titilar os argentinos no extinto canal de cabo duvidoso Unovisión. Ah e a Playboy.

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Continuação da grelha dos canais de satélite e os horóscopos do Kamal.

Na quarta parte: um artigo sobre compressão de imagem, aí sim é que o Pierre vai excitar

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Vou deixar só umas notas. Talvez volte a comentar depois (li o tópico na diagonal):

- Não deixa de impressionar a enorme quantidade e variedade de programas emitidos diariamente pelos 4 canais, mesmo com o início de emissão às 16.00 como era o caso da SIC. Houve uma regressão imensa nesse aspecto, séries, programas de informação e cinema desapareceram das grelhas; 

- Não fazia a mínima ideia que BBC Vida Selvagem era emitida pela 4;

- Agora Escolha e Ponto por Ponto trocaram de canal (Canal 1 e TV2) respectivamente em Setembro. Agora Escolha durou apenas até ao início de 94, altura em Ponto por Porto regressa ao primeiro canal para terminar de vez no verão.

- O Esquadrão Classe A emitido às 20.00, daquilo que me lembro, era legendado. A versão dobrada passaria à tarde a dada altura (já em 94?).

Editado por Rangel
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(quarta parte)

E vamos à conclusão da revista.

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Primeiro com uma entrevista a Luís Pereira de Sousa, a falar sobre o erro que foi o Clube da Manhã da RTP e a criação de um novo programa diário (Temas e Temas) na TV2. Curiosamente na Comercial tinha um programa também ele chamado de Clube da Manhã, quando a rádio ainda era generalista depois da privatização.

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Tudo sobre Vittorio Mezzogiorno aquando da sexta temporada de La Piovra.

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Programas policiais na TV2 e na SIC.

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Aqui já podemos ver os logos de ambos os programas, e ainda anúncios à Labello (a embalagem permanece quase toda IGUAL em 2020 e a iogurtes da Longa Vida com compota no fundo. Será que este conceito ainda existe?

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Mais um para a história da indústria supermercadeira portuguesa: a abertura do Continente de Coimbra no Coimbrashopping! Lembram-se de, nos tempos do Carrefour, quando ir ao Continente não era banal?

Perfil de Kevin Kline à laia de um filme a dar na 4.

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Entrevista a Kevin Kline (continuação).

Há os champôs 2 em 1 (ou tu aine one segundo Lauro Dérmio). E 3 em 1? A Wella fazia tudo para tentar ultrapassar a Vidal Sassoon, que impôs o "2 em 1" no mercado.

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Com o desenvolvimento técnico a preparar para a chegada das tecnologias digitais, as produtoras estavam a apressar o desenvolvimento para ter técnicas modernas de compressão de imagem. Um texto para o Pierre ler já que é estudioso na matéria.

A Carne PEC tem as melhores origens. O que é feita desta marca? PEC só me faz lembrar a pior fase da crise...

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Notícias sobre o panorama internacional da televisão:

  • Os canais de vendas em casa (comparável com o actual canal Galeria na MEO) HSN e QVC nos EUA anunciam uma fusão. Eventualmente o plano falhou.
  • O Nouvel Observateur lançou um suplemento de televisão em Setembro.
  • Os anunciantes nos canais espanhóis vão ter descontos.
  • A BBC aparenta sofrer uma crise de audiências face à ITV que tem tentado tudo para ultrapassar as audiências à escala nacional com sucesso. As audiências (não sei se era do primeiro canal ou dos dois) estavam a rondar quase na casa dos 30%, por outro lado a ITV já tinha ultrapassado os 40%.
  • Rupert Murdoch anuncia novos canais da SKY... oops, já foi concretizado. O pacote SKY Multichannels entrou no ar a 1 de Setembro e levou à codificação forçada dos canais do pacote, o que ditou o fim da SKY One em boa parte da Europa.
  • A WB quer um canal de televisão. Motivado pelas mudanças na indústria (e a compra dos direitos da NFL pela FOX), entrou ao ar o canal The WB, em parte graças a uma parceria com a Tribune, sendo as principais filiais a WPIX (Nova Iorque), WGN (Chicago) e KTLA (Los Angeles). Em 2006 foi substituída pela CW.
  • Depois de uma mudança na estrutura da RAI, a televisão adopta medidas de austeridade para competir agressivamente com a Mediaset, que tem canais com perfis parecidos a cada canal da RAI.
  • O ministro francês do audiovisual anuncia planos de apoio para a produção nacional.
  • Depois da fusão dos dois canais públicos, a TF1, seis anos depois de ser privatizada, passou a ter o dobro das receitas do sector público.

Ainda temos um anúncio à Blanka, que mudou de nome para Vanish em 2006 (e viva a globalização. Já agora, porque é que não unificam o nome de todas as divisões de gelados da Unilever?).

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Novidades do sector música e top de singles e LPs.

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Anúncio à Klorane e capa da secção de moda.

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Mais alguns exemplos do chamado "look total".

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Cupões dos concursos, quatro da RTP e dois da SIC: Casa Cheia, Roda da Sorte, Entre Famílias (que voltou em 2006 como Em Família mas não vingou), Palavra Puxa Palavra, Encontros Imediatos (que viria a mudar por esta altura) e Labirinto.

Anúncio ao passatempo dos Beatles e vencedores do passatempo da Sega.

Anúncio aos Donuts com dois jovens a saltar livremente. Algo me diz que foi feito com os dois deitados. Talvez, talvez não.

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Anúncio do Luso (porque é que este slogan já não se usa)?

Notícias sobre Hollywood. A principal notícia era o suicídio de Hervé Villechaize com 50 anos de idade.

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Com Crunch, ganhar é "motar". Vencedores anunciádos no Público, no CM e na revista Autosport.

Ingmar Bergman terá direito a um ciclo que se prolongará por um bom tempo na TV2, com 24 filmes.

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Na caixa a azul, quais os filmes a serem emitidos.

Anúncio a uma fritadeira tipo televendas sem saber a procedência.

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Resumo daquilo que já foi falado sobre as novidades da SIC para Outubro, olhe que a Sessão Aventura ainda não usava o separador da congénere brasileira. O aniversário da SIC servia de pano de fundo para um festival de comédia, onde uma sátira a Balsemão lhe valeu o prémio.

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Anúncio a uma campanha da Mokambo patrocinada pela extinta loja de electrodomésticos Excel e pela empresa de porcelana Spal.

Novidades do vídeo e o top 10 de vendas. O Guarda-Costas estava na frente.

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Empresas e produtos: Corega Ultra, mais um whisky, novo sabonete da Nivea e um acordo empresarial.

Anúncio bem raro ao Queridos Inimigos. Como a TVI queria entrar no jogo!

Videocapa do filme Desafio Total.

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A Danone mostra-nos os seus iogurtes de dupla camada. Videocapa para o filme As Aventuras de Rocketeer.

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A TV Guia Editora publicava também revistas da Rua Sésamo. Numa escola antiga onde andei (que foi fundada já nos anos 2000!), a biblioteca tinha um dos livros deles.

Tarjetas dos filmes da semana.

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A fechar a revista, Casa Comum, um programa na TV2 sobre defesa de causas comuns, longe da RTP 2 ter assumido um perfil "societal" em 2004. Anúncio à Arcopal. Decoração "Lancelot": todo o serviço pelo preço de um almoço.

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Contracapa com anúncio à Fagor. Já viu a roupa toda que vai lavar durante os próximos 5 anos?

EPÍLOGO

É incrível ver na primeira pessoa quem criticava o estado da televisão na altura. Uns disseram que a SIC trouxe mais do mesmo, outros provam o contrário.

O Água na Boca, criticado por muitos, era dos programas mais vistos do primeiro ano da SIC. A aposta na sensualidade e no erotismo ajudaram o canal a tentar procurar mais telespectadores, coisa que hoje em dia seria impensável - programas eróticos desapareceram à margem de novas leis na televisão e o máximo que se consegue arranjar é a milionésima repetição do Império dos Sentidos ou de Lady Chatterley na CM TV. Por outro lado, mesmo com uma grelha a fixar nas nove horas de segunda a sexta e com o espectáculo que era a SIC de nascença, a sua grelha era bem mais variada do que agora - a mesma quantia de programas dos primeiros meses dava para preencher um dia inteiro em 2020.

Quanto à quantidade de programas e qualidade de grelha, conforme já foi dito pelo @miguelalex23, passámos por uma clara regressão. Hoje nem com alguns canais de cabo se encontra variedade, sendo que a maioria só quer ver desgraças na CM TV ou novelas na Globo (antes a Globo do que a CM TV, a meu entender). Vamos por partes:

  • séries: é claro que surgiram os canais de séries e mais tarde as plataformas de streaming. Portugal chegou a ser o paraíso das séries (e houve um tempo em que a FOX dominava o cabo) mas ainda passavam algumas séries em canais terrestres, coisa que levou a uma grave regressão na RTP 2 e posterior reformatação a séries mais alternativas, quase todas europeias. Aqui em Portugal produzir séries é caótico já que acham que as novelas são mais baratas de produzir e mesmo com apoios da ICA, pouca gente vê as séries da RTP 1;
  • informação: hoje na SIC e na TVI tens noticiários básicos. Se olharmos aos canais de notícias vemos que a SIC Notícias ainda tem debates mas acho que a qualidade do canal tem baixado consideravelmente nos últimos cinco anos. Por outro lado a TVI 24 tem estado numa crise de identidade durante boa parte da sua existência. Quanto a programas extra-noticiário, já não há programas como o Praça Pública (ou o Nós Por Cá), o que é uma pena dado que programas destes é que faziam falta.
  • filmes: os filmes são a pior parte da regressão televisiva portuguesa. Outrora dominavam os domingos à tarde até que alguém teve a ideia de tornar o programa ambulante de domingo na TVI num programa fixo (semanal) e em 2013 a SIC veio copiar a fórmula, matando a expressão "filme de domingo à tarde" aos poucos (coitados dos que estão sem cabo!). A pior parte é, mesmo em tempos pandémicos, os canais continuam a apregoar a pimbalhada "com segurança". Uns dirão que a razão pela qual há poucos filmes é porque os enlatados estão a ficar mais caros. Outros dirão que investir em programas nacionais de pimbalhada é mais barato e rende muito dinheiro. Antigamente toda a gente - até quem não sabia ler! - vibrava com os filmes e agora temos de nos conformar com o que temos.

E isto traduz-se numa nova incongruência: porque é que a televisão nacional passa música pimba e não as rádios nacionais? Será que um telespectador do Somos Portugal ouve a Comercial mesmo tendo tipos musicais diferentes entre si? Nas nacionais, música pimba só a gozar e em covers. Ecos de um país ainda sem televisão local de jeito.

Falo por experiência própria: não tenho dinheiro para plataformas de streaming e em casa é costume sacar filmes, séries e novelas nos nossos computadores (eu e muitos outros), mas o streaming acaba por dar um travo à situação para muitos, aumentando o fosso entre os ricos e os pobres. Eu estou na idade de um consumidor de séries de plataformas de streaming mas não pago por nenhuma delas. Os únicos canais premium que tenho são os TVCines e o meu pai costuma vê-los.

O agravamento da pimbalhada foi no início dos anos 2010. Com uma crise económica e o chamado PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento) que não causou grande estabilização nem crescimento à economia nacional, as televisões olharam aos artistas pimba como o último sacrifício. Vimos também, ainda antes de 2010, à reconversão do Preço Certo de um concurso familiar a um concurso das classes mais baixas, o que para mim vai contra o formato mesmo nos EUA. Depois com o agravar da crise a qualidade dos programas baixou significativamente aos níveis que vemos hoje. É incrível termos herdado programas do tempo em que nomes como Vítor Gaspar e Pedro Passos Coelho e termos como "austeridade" entravam nas nossas casas diariamente. Hoje, a televisão terrestre "de pobre" ainda não se recompôs desta crise.

Admite lá, eu não devo estar sozinho nesta luta: um dia, vamos voltar a ter a televisão generalista de qualidade que tínhamos outrora, com uma incomensurável variedade de produtos e de âmbito familiar, por mais impossível que seja. E digo impossível porque hoje em dia o "tempo em família" é quase nulo, nem com pandemia nem sem pandemia. Alguém há de mudar o panorama da televisão terrestre para devolver a cor - hoje parece uma versão alargada da RTP 1 há quarenta anos mas com programas horrorosos, anunciantes fraudulentos e frigideiras das televendas que não cumprem o que prometem.

Quanto aos críticos da imprensa que deram uma crítica à SIC:

  • Mário Castrim: apesar do suposto investimento dispendioso, a SIC continuaria a investir no erotismo por mais uns anos, dedicando depois as primeiras horas do ano novo para emitir filmes eróticos, e no fim dos anos 90, a série francesa Aphrodysia. A crítica negativa a Cosbys e Bel-Airs mostra que Portugal estava mal habituado a este tipo de sitcoms - apesar da RTP investir com séries mais flopadas, conforme vimos da primeira vez.
  • Maria Filomena Mónica: a SIC tentou libertar-se das intempéries de um mercado televisivo restrito à RTP, sendo que um ano depois do início da SIC, vivia-se entre o luxo (RTP) e o lixo (SIC).
  • Jorge Leitão Ramos: o seu sonho de ver um grande magazine cultural foi concretizado em 1995 quando a TV2, à laia de um problema existencial, mudou o seu perfil drasticamente e passou a incluir em horário nobre o Acontece de Carlos Pinto Coelho, extinto na reformulação de 2003/2004 da RTP.
  • José Saraiva: as contratações de personalidades que outrora estavam com a RTP acabariam por render e arrepender - o Goucha voltaria à RTP passado pouco tempo e permaneceria em definitivo na TVI a partir de 2002.
  • Correia da Fonseca: o perfil das privadas foi mudando forçadamente ao longo dos tempos. Hoje é das classes mais baixas.

Quando é que nós portugueses vamos voltar a ter o direito a uma televisão de qualidade? Nunca. O sonho da televisão perfeita é impossível em pleno 2020. Mas com a pandemia e o aumento do fosso entre privilegiados e desfavorecidos, mais pessoas ficaram expostas aos programas das generalistas e os canais não fizeram nada para diversificar as grelhas. Isto é internacional, até há chilenos que querem ter este direito. Hoje o sonho da televisão perfeita é uma mera ilusão. Quem sabe se, um dia, algures em Portugal, um canal clandestino é aberto na TDT com filmes e séries, para depois ser fechado pelas autoridades. O sonho da televisão perfeita é sol de pouca dura. Quem sabe se um dia vamos mudar a nossa televisão.

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On 19/11/2020 at 19:44, ATVTQsV disse:

(terceira parte)

A programação! Pelos vistos estávamos em plena época de vacas gordas, onde RTP, SIC e TVI recebiam convidados internacionais com frequência, mas é o menos relevante.

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Quem viu a primeira edição das Revistas da Gente em Outubro recorda-se que, seis anos mais tarde, a RTP ainda tinha lucro a mais para comprar desenhos animados para o Canal 1 e a TV2. Fora os que toda a gente sabe, eis os "desconhecidos":

  • Desenha-me Uma História - esta até o Desenhos Animados Anos 90 não sabe... Deduzo que tenha sido feita em França, mas mesmo as informações em francês são escassas, quase no nível das Super Stories (até hoje nem nos EUA se sabe quem é que produziu aquela baghassa)
  • Pif e Hercul - série de 130 episódios inspirados numa tira de BD francesa. Ao que se sabe, foi uma das muitas animações europeias a ser feita em regime de outsourcing em Pyongyang, no famigerado estúdio SEK, 26 de Abril para o regime de Pyongyang, que também fez animações para a Mondo TV.
  • Cococinel - série francesa sobre uma joaninha cujo tema principal era a ecologia e o ambiente (culpem o Capitão Planeta).
  • Ric - se não me engano, esta série era sobre um corvo azul. A personagem mais tarde virou um canal infantil rasca na Alemanha (pertencente à (e emitindo o catálogo da) Your Family Entertainment)
  • Spider - lembram-se da aranha dos intervalos do Panda em 2006? É essa aí!
  • Joshua Jones - série britânica em stop-motion. 12 episódios foram produzidos, emitidos pela BBC no primeiro trimestre de 1992.
  • Le bonheur de la vie (A Felicidade da Vida) - para fechar a faixa infantil, uma série francesa de 20 episódios de cinco minutos cada a abordar um tema que a televisão portuguesa já estava a bombardear mais do que nunca: a sexualidade. Uma avó pergunta aos seus netos perguntas (às vezes embaraçosas) sobre a sexualidade. Entre os temas tratados estão os gémeos, a puberdade (teve direito a dois episódios, tema complexo demais), genealogia e cromossomas. Em 2007, com um filme franco-canadiano-dinamarquês de cerca de 25 minutos de duração chamado Então é Assim houve uma polémica, porém acho que na altura havia menos polémica sobre temas sexuais, mesmo se tratasse de educação sexual na infância. Esta acho que era a animação preferida da Dra. Rute Remédios :curtainpeek:

A manhã é concluída com sessenta minutos de WWE (então WWF) comentados por Tarzan Taborda e um programa com o Luís de Matos. Depois de um intercalar de informação programas culturais e o Clube Disney (ou Disney Club - outros programas da Disney feitos para canais terrestres por país usavam o mesmo genérico). Resto da tarde: filme, série, série, concurso. Totoloto, tempo, Telejornal, entrevista semanal de Maria Elisa, esta semana com o padre Carlos Azevedo. Despedida de Solteiro, crianças para a cama (Quando a lua acordar, coisas que a vida tem...), Parabéns sem acento, que nem no genérico do programa, terceiro episódio de uma série sobre a Princesa Diana, filme, grelhas de programação, hino, agora sim vou me deitar. Umas 19 horas de emissão mais variadas se compararmos com a mesma quantia de horas na RTP 1 de hoje, com especial incidência nas fases do Deusdado e do Barroso.

Quanto à TV2, magazines para as chamadas "minorias" e Universidade Aberta, o clássico dos sábados. Filme, documentário, série, série, TV2 Desporto, série dos Açores, tempo, bailado. Mau Tempo no Canal, o ápice da televisão açoriana.

Havia ainda um par de perguntas Memória TV. Esta era sobre o vencedor do primeiro festival da OTI. Não googlem, pois a resposta está a chegar!

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Era o Brasil com Diálogo.

Antes de entrar na grelha da SIC e da TVI, vamos às TVs públicas espanholas. O Prémio Tua História de Subestação de Preguiça vai para a TV Guia que na altura não sabia como era o logo da TVG e cortou o E da TVE, como se fosse um canal da TVE :sarcastic::haha:

Mas vamos aos factos. As duas primeiras autonómicas (ETB e TV3) dependiam dos circuitos da TVE. A TVG foi, pasmem-se, a primeira a não depender dos emissores da TVE, sendo a sua rede de emissores inteiramente autónoma. Na edição passada falei sobre a experiência falhada da TVE e TVC em abrirem um terceiro canal da TVE em conjunto, aproveitando o circuito catalão dos dois canais (em particular o segundo) mas tal plano acabaria em águas de bacalhau, criando a favor da TVC o seu segundo canal, o Canal 33, e o resto é conversa.

Na altura Portugal tinha o mesmo fuso horário que Espanha, portanto direi que a TVE, para quem vivia na fronteira, nos antecipava à hora de abertura, sendo que o primeiro canal abria às 07:30. No entanto eram poucos os desenhos que a RTP e a TVE tinham comprado e consequentemente emitido no mesmo período. Apesar da faixa infantil ter a mesma duração (três horas e meia) o que dava a seguir não era wrestling, era o MacGyver. Uma grelha à base de séries, desenhos animados e filmes, terminando bem perto das cinco da manhã. Outra coisa a salientar é que na TVE a mira técnica (desde 1991) era acompanhada por simultâneos das rádios, Radio 1 para a 1 e Clásica para a 2. A TVE 2, por outro lado, tinha manhãs mais sérias mas tinha uma veia de "canal complementar". Suponhemos que a TVE 2 era a nossa TV2, mas sem sobredosagem de desporto.

Ah e a Galega, como é apelidada pelos telespectadores, ou Telegaita (usado para gozar com ela). Ainda não descobriram como ligar a mira à Radio Galega, portanto a emissão começava "tecnicamente" quinze minutos antes de abrir quando a mira passava a dar música. A emissão abria às 09:45 e ainda não havia Xabarín (o Xabarín foi inventado no ano seguinte). O "peche" (nas grelhas ainda era "remate") era marcado (a ETB também o fazia) na grelha do canal. Uma coisa é certa: o célebre programa Luar ainda não existia.

Voltemos a Portugal. O Buéréré estava longe de atingir o auge. Ainda havia um sumário às 14 antes de mais um episódio da Dra. Quinn (grande série, o meu pai via no extinto people+arts em 2007). O canal ainda servia-nos a estreia de Melrose Place depois do capítulo de 90210 ter teminado no Canal 1, sendo que o Jornal da Noite dava às 20:45! 20:45, meus amigos, 20:45! É difícil imaginar que aos fins-de-semana os noticiários das generalistas davam a horas completamente diferentes e não coincidiam entre si! E depois, a nova roupagem (sem Donner) do Encontros Imediatos e erotismo em dose dupla, com este "vómito de celulite mental" que era o Água na Boca e a série Diários Eróticos. Quem sabe se um dia hei de actualizar a crónica com estas críticas negativas ao programa que nos primórdios rendeu muitas audiências a uma SIC enfraquecida à nascença.

Antes de haver BBC Vida Selvagem na SIC, quem ficava com os documentários deles era a TVI, que tinha pouco para a sua grelha infantil ao sábado (quase nada). Temos direito a um compacto "tipo Globo Portugal" de Lágrimas e o episódio deste sábado. É difícil imaginar que às 20:35 davam filmes, mesmo num canal fraco com uma componente forte (nalguns aspectos). Entre os filmes davam Rosa Baiana, que era da Band (a ficção hoje é o seu ponto mais fraco). O fecho de emissão ainda aparece como "Adeus",  não sei quando é que foi mudado para o separador que abria a emissão. O que importa é que quando estava fora do ar dava a RFM.

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Ainda mais francesadas na faixa infantil do Canal 1 (mesmo nos anos 2000, quando a RTP comprava novos desenhos animados sabe-se lá de onde, deixavam o título original ou traduzido para inglês da fonte das vendas internacionais e só depois é que corrigiram no site). A série Kevin's Cousins era britânica, era da BBC. Por ser domingo tinha quatro horas. O Top+ dava às 13:15 (hoje os noticiários ainda não chegam a meio!) e era seguido por um "programa de continuidade", o Domingo Gordo de  Júlio Isidro, com Marés Vivas, um filme e depois a série Dinossauros (lembrem-se: era dobrada). Estimo que a emissão tenha fechado por volta da uma da manhã.

A TV2 começava com o já mencionado noutra altura À Mão de Semear e dava também um programa chamado Regiões, longe de haver um noticiário com este nome na RTP 1. Gente Remota traz-nos um documentário sobre o milagre económico japonês (a chamada "bolha"). Depois o TV2 Desporto, Carlos Cruz a convidar "personalidades históricas" e um filme (especulo que a TV2 tenha fechado mais tarde e tenha tido mais horas de emissão).

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Já me esquecia: a faixa infantil da TVE 1 tinha as mesmas séries ao sábado e ao domingo, ao contrário do Canal 1. El Rescate del Talismán era uma adaptação espanhola de um concurso britânico, sendo que em Espanha era patrocinada em parte pela omnipotente Sega. Fora isto, deixa-me deixer uma coisa: sábado e domingo pareciam iguais na TV pública espanhola.

Quem sabia que uma série podia dar em português e em galego no mesmo dia? É o que aconteceu com Os Dinossauros, cuja dobragem é impossível de encontrar (os galegos são notórios por fazerem as melhores dobragens dentro de Espanha, dada a quantidade de referências locais que meteram nas dobragens dos filmes). Também dá para ver como era uma noite sem futebol na TVG, para ter uma ideia da grelha "normal".

A SIC trazia-nos os Rugrats (ao que consta, inicialmente legendado) ao meio-dia. Este 3 de Outubro marca a estreia da série dos Imortais - 27 anos e 10 dias mais tarde, a RTP Memória repôs a série. Com a aproximação do aniversário vemos programas especiais na SIC, como um beauty pageant. Porque é que a televisão portuguesa já não passa este tipo de conteúdo? Será que é por causa do estereótipo de "eu venci e quero acabar com a pobreza mas na verdade quero esconder tudo" ou por causa da descida na qualidade na última dúzia de anos? Ninguém sabe, nadie lo va a saber, así que pásate de largo.

A TVI dava A Casa do Tio Carlos em duas modalidades, sendo que de segunda a sexta era bem mais reduzido. Às 16:30, aproveitando o sucesso "na sombra" de Já Tocou!, foi emitido o filme das férias no Hawai, mas tal como num episódio da série Lassie ainda neste canal e nesta parte da crónica, era sobre como parar a criação de um novo hotel de luxo. A TVI fechava poucos minutos depois da meia-noite. Aproveitem para ouvir o Oceano Pacífico, aproveitem!

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E vamos para o dia 4, dia de trabalho. Para poucos não é, é ponte! Porquê? Amanhã é o Dia da República! No fundo acaba por ser uma grelha normal, sendo que o Bom Dia incluía coisas que o Bom Dia Portugal não iria ter (hoje o Bom Dia Portugal é um loop), e ainda séries, filmes, etc.

Por esta altura o Agora Escolha (já sem pontuação no nome) dava no Canal 1. Acho injusto não terem incluído as opções numa revista que estava ligada à RTP, nem sequer apareciam as ditas no fim da emissão com a grelha.

Não sabia que o Ponto Por Ponto tinha sido mudado para a TV2 - sentido oposto ao Agora Escolha. A troca de canais acabou por trazer malefícios e os programas foram cancelados no ano seguinte. Hoje o TV2 Jornal foi deixado para mais tarde por causa do hóquei.

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Fato inútil: sabiam que o Cifras y Letras chegou a ter uma versão infantil?

A Galiza já tinha o Dragon Ball (como Dragón Z). Aparentemente Espanha já tinha comprado desde 1990 atendendo aos pedidos das nascentes autonómicas que estavam com dificuldades em encontrar programas. E num MIPCOM, um tal de Paco Gratacós, pedinchou o Dragon Ball e outras séries de anime dada a quantidade de episódios e "shelf life" para passar nestas televisões, tanto que ele foi convidado a ir ao Japão sem saber nem uma pava da língua e cultura deles. Entendam um pouco da história aqui (tem mais a ver com o Doraemon que ainda não tinha chegado à Galega, mas que eu saiba na Catalunha já passavam).

A SIC ainda abria às 16:30, mas para alavancar a corrida à guerra das telenovelas, já tinha a reposição de Roque Santeiro. Uma grelha destas com noticiário às S20:45 seria praticamente impensável em 2020. A SIC ainda mostrava a força da informação.

Na TVI, Telhados de Vidro era uma memória distante. Porém o canal ainda tinha dois períodos de emissão, sendo que a pausa já durava menos de uma hora. Estreia da novela Topázio, numa hora impossível para novelas nas generalistas (13:25) e estreavam o mito das dobragens brasileiras que era o Esquadrão Classe A que, ao contrário do popular belief, não era dobrado na Herbert Richers e sim na BKS (tida como descendente da AIC, uma das primeiras no ramo). A Super Máquina (apesar de ser também da Universal) foi dobrada na Herbert Richers, daí a confusão. Podem matar as saudades (e arrepender) com o genérico.

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Olha o poster atrapalhando a grelha aí, gente! Só falta é a cobertura das cerimónias do dia 5 de Outubro, coisa que na altura era só coisa de oficiais do governo. Cuidado com as Imitações durava 25 minutos? Achava que durava mais. O dobro, talvez.

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Poster dos AC/DC.

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Grelha da TV2. E não, é Degrassi (recentemente a RTP 2 deu a adaptação mais recente que acho que era da Netfix, por via do catálogo da DHX Media, detentora dos direitos). Lembra-me alguns anúncios a prostitutas no CM que escreveram travesti com Y.

Vá, ao menos nunca vi alguem falar sobre um tal de "Degrassí"...

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A SIC aproveitava o feriado para abrir mais cedo, a TVI, nada. Em horário nobre, a estreia de Ora Bolas, Marina.

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É chegado o dia do aniversário da SIC! Nada de contra-programação em nenhum canal da RTP.

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A aniversariante começa bem cedo, às 08:30, sendo que Renascer não dá esta noite por causa do programa da nova grelha. Às 23 horas, uma ligação à festa de aniversário do canal com celebridades internacionais! Hoje já não há verba para comprar, sei lá, um Dimash Kudaibergen e actuar num programa português (eu já disse que a televisão de hoje virou pimba). Se alguém fizesse contra-programação, a TVI faria um programa com a nova grelha. Hoje a SIC quando reage a tácticas na TVI torna as novelas "especiais" e convida pessoas do primeiro escalão português para os programas do daytime. Imaginem isto em 1993!

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Quinta é dia de Raios Isco e Coriscos, que tinha sido estreado duas semanas antes.

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E voltamos ao início às 16:30 para a SIC. Pouco depois da meia-noite: Como Fazer Amor Com a Mesma Pessoa Para Sempre. Um especial da Playboy que deve atrair muitos telespectadores por causa do título.

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Sexta é dia da série líder em audiência, Nico d'Obra.

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E ainda a estreia (tardia, 23:30) de Céus de África. A mira que dava à tarde tinha a Renascença?

E sim, como já disse, Os Simpsons davam na TVE (mais na 2 do que na 1). A Antena 3 passou a ter os direitos em Dezembro de 1994. Hoje dão no Neox e na Disney+, à qual se junta a dobragem catalã que chegou a dar na Antena 3 na região por algum tempo.

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Antevisão do próximo fim-de-semana e anúncio ao Boticário. Compre os nossos produtos e ganhe um bonsai.

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Grelhas da RTP Madeira e Açores, canais onde iam os enlatados da RTP em fase terminal durante anos.

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Satélite, com os mesmos canais da TV Guia (porém com grelha mais alargada, atendendo às dimensões da revista). Do pouco erotismo que encontrei na RTL, vi uma tal de "Serie Rose". A série que também fez titilar os argentinos no extinto canal de cabo duvidoso Unovisión. Ah e a Playboy.

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Continuação da grelha dos canais de satélite e os horóscopos do Kamal.

Na quarta parte: um artigo sobre compressão de imagem, aí sim é que o Pierre vai excitar

As revistas portuguesas não publicavam a grelha das estações privadas espanholas? eu li um relato de um brasileiro que foi viver em Portugal, junto à fronteira, e apanhava a emissão da Telecinco pelos idos de 1992. Foi assim que matou as saudades do programa da Xuxa (que passava aos domingos às 19:45 pela T5).

A série "Os Dinossauros" davam em Portugal em 1993 com dobragem brasileira? as outras séries supracitadas (Esquadrão Classe A e A Super Máquina) eram dadas no canal "USA Network" por volta de 1996 e, surpreendentemente, estava aberto em NTSC no principal satélite do Brasil para 4 milhões de residências. 

Outra dúvida: A soap opera norte-americana "Santa Bárbara" que dava a SIC em 1993 estava dobrada ou legendada? sei que ela passou no Brasil pela TV Manchete entre março e julho de 1992, com escassas audiências.

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há 1 minuto, PierreDumont disse:

As revistas portuguesas não publicavam a grelha das estações privadas espanholas? eu li um relato de um brasileiro que foi viver em Portugal, junto à fronteira, e apanhava a emissão da Telecinco pelos idos de 1992. Foi assim que matou as saudades do programa da Xuxa (que passava aos domingos às 19:45 pela T5).

Só as públicas e a partir de 1985 a TVG. Por outro lado no ABC de Sevilha mesmo depois da chegada das privadas, eles só publicavam a grelha dos dois canais da RTP (em português e sem traduções livres como faziam a TV 7 Dias e a Nova Gente com as espanholas). Acho que isto tinha a ver com dificuldades de cobertura quando as privadas em ambos os países começaram, porém aqui em Portugal havia mais uma "autonómica" já disponível, o Canal Sur, no "sudeste" português (partes do Alentejo e Algarve). Lembro-me de ter visto um depoimento algures no Facebook da Enciclopédia de Cromos (ou noutro lugar, mas tenho 100% de certezas que era na Enciclopédia) a dizer que se lembra de ver filmes eróticos no canal, a quem lhe carinhosamente deu o apelido de Bacanal Sur. No entanto a fonte das grelhas espanholas eram provavelmente da TVE Galicia (daí o Telexornal na grelha da TVE 1 - o canal ainda usa este nome para o seu noticiário regional na Galiza mas é emitido inteiramente em espanhol).

há 5 minutos, PierreDumont disse:

A série "Os Dinossauros" davam em Portugal em 1993 com dobragem brasileira? as outras séries supracitadas (Esquadrão Classe A e A Super Máquina) eram dadas no canal "USA Network" por volta de 1996 e, surpreendentemente, estava aberto em NTSC no principal satélite do Brasil para 4 milhões de residências. 

Sim, era dobrado em português de Portugal, uma raridade. E o que o @miguelalex23 disse sobre a série ser legendada primeiro e dobrada depois corresponde ao que foi dito no especial de Natal da Herman Enciclopédia. Primeiro era emitido legendado e depois naquelas dobragens Herbert Richers e BKS (BKS "descendente" da AIC, as dobragens da Hanna-Barbera que a TVI passou eram daquele tempo e estúdio). Agora o nome da série em português do Brasil mesmo sendo legendado na estreia na TVI é um enigma, se calhar estavam a reservar a dobragem.

há 7 minutos, PierreDumont disse:

Outra dúvida: A soap opera norte-americana "Santa Bárbara" que dava a SIC em 1993 estava dobrada ou legendada? sei que ela passou no Brasil pela TV Manchete entre março e julho de 1992, com escassas audiências.

100% de certezas que era legendado, mas preciso de algum "ancião" para verificar. Vizinhos era legendado sim, conforme relatos cá do fórum, e estavam a passar os primeiros episódios quando a Kylie Minogue (Charlene) ainda estava lá (e apanhou ainda a fase da mudança da Seven para a Ten).

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há 9 minutos, PierreDumont disse:

As revistas portuguesas não publicavam a grelha das estações privadas espanholas? eu li um relato de um brasileiro que foi viver em Portugal, junto à fronteira, e apanhava a emissão da Telecinco pelos idos de 1992. Foi assim que matou as saudades do programa da Xuxa (que passava aos domingos às 19:45 pela T5).

A série "Os Dinossauros" davam em Portugal em 1993 com dobragem brasileira? as outras séries supracitadas (Esquadrão Classe A e A Super Máquina) eram dadas no canal "USA Network" por volta de 1996 e, surpreendentemente, estava aberto em NTSC no principal satélite do Brasil para 4 milhões de residências. 

- Pelo que me lembro, nenhuma das revistas portuguesas publicavam as grelhas de programação da Antena 3 e da Telecinco na altura

- "Dinossauros" deu por cá com dobragem portuguesa

Editado por LAboy 456
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On 20/11/2020 at 12:08, ATVTQsV disse:

Com o desenvolvimento técnico a preparar para a chegada das tecnologias digitais, as produtoras estavam a apressar o desenvolvimento para ter técnicas modernas de compressão de imagem. Um texto para o Pierre ler já que é estudioso na matéria.

Esta questão da compressão de imagem é um assunto deveras interessante. Pois, trouxe a economia do espectro e, ao mesmo tempo, emissões com boa qualidade de imagem e som. Um transponder aguenta apenas dois canais analógicos "PAL" com extraordinários 18 MHz cada e com alguma perda de qualidade. Um transponder da Banda Ku consegue comportar até 15 canais digitais "Standart Definition" digitais sem comprometer a qualidade de imagem e som na compressão MPEG-2. A chegada da alta definição obrigou a adoção de um novo padrão de compressão, o "MPEG-4". 

Em termos de compressão de imagem, nenhuma empresa do mundo supera a "Nossa TV Brasileira" do Pastor Romildo Ribeiro Soares: em um transponder de Banda Ku eles dão 26 canais "SD" e mais 6 em "Full HD". Antes, eles davam 18 canais "SD" por transponder.

Infelizmente, não consegui maiores informações técnicas sobre o antigo padrão europeu "D2-MAC". Li que eles conseguiram reduzir o uso de banda para um canal de TV para 5 MHz, um feito e tanto para a época (final dos anos 1980). Tudo isto sem esquecer a qualidade, que era extraordinária graças à separação de crominância e luminância na hora de emitir como se fosse um "S-Vídeo" satelital.

Hoje em dia, até a qualidade de imagem é relativa. Os nossos televisores de LCD/LED não são capazes de lidar bem com imagens em baixa definição, deixando as imagens borradas e sem nitidez. Apenas os televisores "CRT" e "Plasma" conseguiam tal façanha. Espero que o "OLED" consiga mudar esta situação.

Tu mencionaste a queda na qualidade da programação. Pois, bem: tal fenômeno ocorre na grande maioria dos países do Mundo graças à disseminação da Internet e da TV por assinatura. Mesmo nestas duas plataformas, a oferta pode ser um tanto decepcionante em vários momentos. Esperava muito da TDT brasileira, mas o que mais vejo é uma overdose de padres e pastores em looping eterno. 

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há 23 minutos, PierreDumont disse:

Tu mencionaste a queda na qualidade da programação. Pois, bem: tal fenômeno ocorre na grande maioria dos países do Mundo graças à disseminação da Internet e da TV por assinatura. Mesmo nestas duas plataformas, a oferta pode ser um tanto decepcionante em vários momentos. Esperava muito da TDT brasileira, mas o que mais vejo é uma overdose de padres e pastores em looping eterno. 

Eu sei que isto acontece em 99% dos países do mundo. Aqui ao lado, em Espanha, também os canais secundários da TDT passaram a ser canais normais, com intervalos normais, e conteúdos "normais".

O país mais próximo que corresponde à realidade brasileira aqui na Europa é a Itália, que acho que é o país com mais canais na TDT, acho que com todos os MUXs locais ultrapassa os 100 ou 150. Na fase analógica (acho que é porque na Itália não houve cabo) surgiram dezenas de televisões locais graças a um vazio legal, hoje muitas destas televisões até sustentam os seus próprios MUXs. Mas no que diz respeito a um canal nacional, temos o Canale Italia com dúzias de clones espalhadas em partes do país. Se no Brasil a cúpula está a ser dominada por pastores, na Itália é com televendas e cartomantes.

Porque é que eu escolhi o Chile como exemplo demonstrativo? Direi apenas que a televisão chilena é um parente pobre e deformado das indústrias televisivas de Portugal e de Espanha, mas com menos produção nacional. Até há programas da manhã que duram cinco horas e grelhas tão escassas como as nossas que dão para preencher o ecrã inteiro quando os canais estão sem emissão. Com a queda na qualidade no Chile, nasceu o jogo das TVs fictícias em 2005/2006, inicialmente concentrando-se na reposição de séries antigas e emulação do esquema antigo, contudo com o tempo surgiram canais fictícios que emularam programas como os da manhã.

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há 2 horas, ATVTQsV disse:

Lembro-me de ter visto um depoimento algures no Facebook da Enciclopédia de Cromos (ou noutro lugar, mas tenho 100% de certezas que era na Enciclopédia) a dizer que se lembra de ver filmes eróticos no canal, a quem lhe carinhosamente deu o apelido de Bacanal Sur.

Parece que não era só exclusividade do Canal Sur:

Jornal/Revista: O Globo

Data de Publicação: 16/04/1995

Autor/Repórter: Andrea Doti

NO DOMINGO DE RAMOS, FILME PORNÔ NA TV

O telefone da prefeitura do balneário de Benidorm, na Espanha, entrou em colapso no domingo de Ramos. Vários moradores, furiosos, ligaram para protestar contra o que viam na televisão. Tinham se preparado para assistir, depois do noticiário da hora do almoço, ao filme previsto na programação sobre a Paixão de Cristo. Mas foram surpreendidos com a emissão de "Não parar de fazer amor", um longa-metragem pornográfico alemão.

Meia hora depois do início do filme, a polícia foi alertada e chegou à sede da emissora para interromper a transmissão. As autoridades locais ainda não divulgaram que tipo de sanção será aplicado ao canal de TV.

https://www.tv-pesquisa.com.puc-rio.br/mostraregistro.asp?CodRegistro=27945&PageNo=3 

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há 1 hora, ATVTQsV disse:

Eu sei que isto acontece em 99% dos países do mundo. Aqui ao lado, em Espanha, também os canais secundários da TDT passaram a ser canais normais, com intervalos normais, e conteúdos "normais".

O país mais próximo que corresponde à realidade brasileira aqui na Europa é a Itália, que acho que é o país com mais canais na TDT, acho que com todos os MUXs locais ultrapassa os 100 ou 150. Na fase analógica (acho que é porque na Itália não houve cabo) surgiram dezenas de televisões locais graças a um vazio legal, hoje muitas destas televisões até sustentam os seus próprios MUXs. Mas no que diz respeito a um canal nacional, temos o Canale Italia com dúzias de clones espalhadas em partes do país. Se no Brasil a cúpula está a ser dominada por pastores, na Itália é com televendas e cartomantes.

Porque é que eu escolhi o Chile como exemplo demonstrativo? Direi apenas que a televisão chilena é um parente pobre e deformado das indústrias televisivas de Portugal e de Espanha, mas com menos produção nacional. Até há programas da manhã que duram cinco horas e grelhas tão escassas como as nossas que dão para preencher o ecrã inteiro quando os canais estão sem emissão. Com a queda na qualidade no Chile, nasceu o jogo das TVs fictícias em 2005/2006, inicialmente concentrando-se na reposição de séries antigas e emulação do esquema antigo, contudo com o tempo surgiram canais fictícios que emularam programas como os da manhã.

Quisera o Brasil ter a mesma quantidade de canais da TDT da Itália. Ao menos, os italianos mantiveram um gerenciamento adequado das frequências através dos MUXs. O disperdício de espectro no Brasil chega a ser escandaloso: alguns canais religiosos chegam a ter 2 ou 3 canais na mesma região com a mesmíssima programação ocupando o mesmo espaço que poderia abrigar até 36 canais "SD" ou 18 canais "Full HD". Muito embora que o velho serviço analógico das parabólicas brasileiras tenha chegado próximo ao que a TDT italiana é: com um pico máximo de 32 canais no final de 2008, existia uma razoável oferta da programação co-existindo com televendas, pastores, padres, venda de fertilizante e leilão de bois e vacas. Tal serviço satelital está em processo tardio de migração para a emissão digital e está com o futuro incerto por causa do 5G: ainda discutem se haverá migração para a Banda Ku ou se vão usar um filtro especial para as parabólicas já instaladas.

Faz sentido a escolha pelo Chile: é o país da América do Sul cuja a trajetória das suas estações de Televisão se aproxima de Portugal e Espanha: de um monopólio estatal/universitário até o surgimento da Televisão privada em 1990, passando pela programação relativamente escassa (em relação aos seus vizinhos) e ao sucesso da TV à cabo por causa da medonha norma "NTSC". Aliás, lembro-me de um comentário no ForosPerú sobre a faixa de programação cultural em todas as estações de lá e seu perfil mais "europeu" em certos aspectos.

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há 14 horas, PierreDumont disse:

Faz sentido a escolha pelo Chile: é o país da América do Sul cuja a trajetória das suas estações de Televisão se aproxima de Portugal e Espanha: de um monopólio estatal/universitário até o surgimento da Televisão privada em 1990, passando pela programação relativamente escassa (em relação aos seus vizinhos) e ao sucesso da TV à cabo por causa da medonha norma "NTSC". Aliás, lembro-me de um comentário no ForosPerú sobre a faixa de programação cultural em todas as estações de lá e seu perfil mais "europeu" em certos aspectos.

Uma vez eu li que economicamente o Chile é o país mais europeu da América do Sul, partindo de factos recentes.

há 15 horas, PierreDumont disse:

Parece que não era só exclusividade do Canal Sur:

Jornal/Revista: O Globo

Data de Publicação: 16/04/1995

Autor/Repórter: Andrea Doti

NO DOMINGO DE RAMOS, FILME PORNÔ NA TV

O telefone da prefeitura do balneário de Benidorm, na Espanha, entrou em colapso no domingo de Ramos. Vários moradores, furiosos, ligaram para protestar contra o que viam na televisão. Tinham se preparado para assistir, depois do noticiário da hora do almoço, ao filme previsto na programação sobre a Paixão de Cristo. Mas foram surpreendidos com a emissão de "Não parar de fazer amor", um longa-metragem pornográfico alemão.

Meia hora depois do início do filme, a polícia foi alertada e chegou à sede da emissora para interromper a transmissão. As autoridades locais ainda não divulgaram que tipo de sanção será aplicado ao canal de TV.

https://www.tv-pesquisa.com.puc-rio.br/mostraregistro.asp?CodRegistro=27945&PageNo=3 

Credo, isto é o irmão mais pobre do escândalo do filme Calígula da Rede OM que tanto apregoas :heat:

Segundo uma nota da EFE que foi traduzida para O Globo ("Escándalo por una emisión en Benidorm"), tal situação aconteceu num canal local. Dificilmente o Canal 9 e a TV3 fariam tamanha catástrofe. Pelo que li, antes da criação das cadeias Localia e Popular TV, as televisões locais em Espanha eram tão desorganizadas que pareciam as "nossas" televisões clandestinas depois de consumir substâncias ilícitas.

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On 22/11/2020 at 18:48, PierreDumont disse:

As revistas portuguesas não publicavam a grelha das estações privadas espanholas? eu li um relato de um brasileiro que foi viver em Portugal, junto à fronteira, e apanhava a emissão da Telecinco pelos idos de 1992. Foi assim que matou as saudades do programa da Xuxa (que passava aos domingos às 19:45 pela T5).

Realmente uma vez que a TV privada chegou a Espanha ñ entendo porque ñ tinha as grelhas da T5 e A3. Se calhar por a cobertura ser pobre no território espanhol e as partes que fazem fronteira com Portugal serem quase todas interior.

Quanto à Xuxa, o meu namorado lembra-se que ela foi contratada pela T5 em 92/93 para fazer o show ao sábado de manhã. Foi paga a peso de ouro, mas só durou uma temporada aqui em Espanha. Aliás a canção 'Ilarié' ainda é cantada por gente de 30-40 anos hoje (que eram crianças na altura). Só um aparte: ela falava muito mal espanhol.:adoro:

On 22/11/2020 at 18:57, ATVTQsV disse:

Só as públicas e a partir de 1985 a TVG. Por outro lado no ABC de Sevilha mesmo depois da chegada das privadas, eles só publicavam a grelha dos dois canais da RTP (em português e sem traduções livres como faziam a TV 7 Dias e a Nova Gente com as espanholas). Acho que isto tinha a ver com dificuldades de cobertura quando as privadas em ambos os países começaram, porém aqui em Portugal havia mais uma "autonómica" já disponível, o Canal Sur, no "sudeste" português (partes do Alentejo e Algarve). Lembro-me de ter visto um depoimento algures no Facebook da Enciclopédia de Cromos (ou noutro lugar, mas tenho 100% de certezas que era na Enciclopédia) a dizer que se lembra de ver filmes eróticos no canal, a quem lhe carinhosamente deu o apelido de Bacanal Sur. No entanto a fonte das grelhas espanholas eram provavelmente da TVE Galicia (daí o Telexornal na grelha da TVE 1 - o canal ainda usa este nome para o seu noticiário regional na Galiza mas é emitido inteiramente em espanhol).

Ainda hoje a TVE1 tem um horário (14:00-14:30) com o noticiário regional aqui na Catalunha apesar de termos TV3 e 3/24 (canal de notícias catalão). E penso que funciona assim em todas as comunidades autónomas. Aqui na Catalunha o informativo regional é inteiramente transmitido em catalão. Ñ sei como é nas outras comunidades com idioma próprio (C. Valenciana, País Vasco e Galiza) mas na Catalunha o uso de catalão e a % de pessoas que o fala ou entende é muito elevada.

Editado por thass_hot
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Há uma segunda faixa perto das 16 horas, acho que é depois do tempo (aquelas previsões detalhadas que não temos cá :drool:). Que eu saiba só a Catalunha tem o noticiário na sua língua (L'informatiu) e há uma dúzia de anos não tinha o mesmo grafismo que outros noticiários regionais, usando uma adaptação do Telediario (igual ao de Madrid). Acho que hoje todas as regiões usam grafismos adaptados do Telediario.

Já aqui disse que o Telexornal da TVE é em espanhol (o Telexornal da TVG é todo ele em galego). A TVG chegou a produzir um em espanhol mas era emitido em exclusivo para as Américas. Que eu saiba, o noticiário da TVE no País Vasco é em espanhol (Telenorte), a ETB por outro lado tem um em vasco na ETB 1 e um em espanhol na ETB 2 (este passa na ETB Sat em detrimento do noticiário vasco). Dada a conjuntura actual da TVE, o L'informatiu compete mais com a edição da tarde do Telenotícies. Sobre a Valência e as Baleares não sei, vou investigar a respeito.

E como já disse na revista anterior, à laia do começo "tardio" da TVE 2 face à RTP 2, nos anos 80 havia um circuito catalão que ocupava algumas horas de emissão antes da emissão nacional abrir. Hoje, apesar da 2 ser emitida de Barcelona (como a RTP 2 a ser emitida do Porto) ainda mantém um certo grau de autonomia, este ano a TVE Catalunya anunciou um aumento no número de programas em catalão.

ACTUALIZAÇÃO: fui ver como era o Telexornal da TVE e afinal é em Galego, afinal chama-se Telexornal Galicia. Quando vi as descrições em Galego no site deles fiquei espantado, achava que tinham mudado de língua há anos.

Editado por ATVTQsV
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On 23/11/2020 at 09:01, ATVTQsV disse:

as televisões locais em Espanha eram tão desorganizadas que pareciam as "nossas" televisões clandestinas depois de consumir substâncias ilícitas.

Não viu as televisões locais do Brasil, elas beiravam ao total anarquismo. De filme pirateado à apresentadora arrotando em plena emissão. 

https://www.youtube.com/watch?v=KoQKnWmxUds 
 

há 14 horas, thass_hot disse:

Quanto à Xuxa, o meu namorado lembra-se que ela foi contratada pela T5 em 92/93 para fazer o show ao sábado de manhã. Foi paga a peso de ouro, mas só durou uma temporada aqui em Espanha. Aliás a canção 'Ilarié' ainda é cantada por gente de 30-40 anos hoje (que eram crianças na altura). Só um aparte: ela falava muito mal espanhol.

Xuxa foi um fenômeno, sabe-se lá por qual motivo nunca foi lançada na Televisão de Portugal. Sei que a SIC chegou a negociar com Xuxa em 1995 e um disco seu foi lançado no mercado português nesta mesma época. 

O inglês dela é problemático:

https://www.youtube.com/watch?v=KDp6e0_d7g8 

A emissão de noticiários regionais na hora do almoço na Televisão da Espanha me fez lembrar que existe algo parecido no Brasil desde a formação das redes nacionais nos anos 70. O horário das 12:00 às 14:00 sempre foi a faixa nobre das atrações regionais. Originalmente, a Rede Globo destinava 10 minutos ao noticiário local dentro do Jornal Hoje. Atualmente são 75/80 minutos. As demais redes destinam até 4 horas da emissão para assuntos locais.

 

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