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117: Continente


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(primeira parte: até 2000 + ou -)

Eu em tempos já idos falei sobre o Carrefour, o Feira Nova e o Jumbo, hoje vou falar sobre a história do Continente recorrendo a anúncios. Quiçá um dia faça algo sobre o Modelo.

Ora, a razão pela qual ando a escrever uma crónica sobre eles é por uma razão: esta semana o Continente faz 35 anos (na quinta-feira) e para quem não sabe, leva-nos a acreditar que teve a honra de ser o primeiro hipermercado português, mas não. Como já disse em Setembro, a honra era do Jumbo ainda nos anos 70, quando a então Pão de Açúcar abria os primeiros hipermercados sob esta insígnia. Como até 1985 só havia uma entidade exploradora de hipermercados em Portugal, o Grupo Pão de Açúcar, a entrada da Sonae no mercado foi meio que uma "democratização" deste conceito.

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Reconhecem este logo? Ao contrário do que muitos imaginam, não foi invenção nossa, e sim francesa: consta que em 1972 (mais ou menos na mesma altura que surgiram os primeiros hipers de Portugal), o grupo Promodés abre em França (berço do conceito moderno de hipermercado) o primeiro Continent, em Ormesson-sur-Marne, perto de Paris. A empresa começa a aumentar os seus negócios internacionais em 1976, com a abertura neste ano de um Continent na Alemanha e um Continente na Valência em Espanha. O Continent entra na Bolsa de Paris em 1979, depois segue rumo para Portugal em 1985, Itália em 1987, Grécia em 1991, Taiwan em 1995 e China em 1999. Em 2000, a marca cessa de existir em quase todos os países onde operava (menos Portugal), sendo que quem ficou com os Continents franceses foi o Carrefour.

Até 1985, a Sonae só detinha a cadeia de supermercados Modelo. O Modelo era em parte detida por franceses, já que até 1993, em alguns locais, ainda se chamava de Modelo Prisunic (Prisunic era uma cadeia francesa entretanto fechada, criada em 1931 e encerrada em 2003). Consta que a Promodés chegou a Portugal no início da década, afim de procurar um parceiro local, tendo sido aliada com a Sonae em 1985. É neste contexto que é aberto, na Senhora da Hora em Matosinhos, o primeiro hipermercado do norte, que nos primeiros anos recebia romarias de muita gente, até de Braga, dada a novidade daquilo. O lugar foi construído em terrenos que eram de pertença da Igreja - ora se não fosse um gigantesco templo onde possamos rezar ao deus Consumo:

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Só uma das fotos está a cores (que pena), era a foto creio que aérea, que saquei do site do Jornal do Algarve. As restantes fotos são do site do JN, cujas imagens estão a preto e branco. Segundo o próprio:

"Só no primeiro dia a loucura foi tal que a loja fechou à meia-noite com as prateleiras completamente vazias. Para conseguir alguma ordem e garantir a segurança, a entrada chegou a ser controlada por um apito, que anunciava o fechar de portas, para reabrir à saída dos outros.

Por dia, cerca de 15 mil pessoas visitavam diariamente o Continente, gastando em média cerca de 10 contos (50 euros).

A euforia era de tal ordem que vendiam-se 300 aparelhos de vídeo e 500 bicicletas por dia, assim como 36 toneladas de açúcar e 2000 caixas de garrafas Martini, aos fins de semana."

A campanha de inauguração dos hipermercados Continente (ou do hipermercado Continente, até 1987 só havia um) era tanta que a Sonae teve a genuína ideia de criar um slogan para comprovar a sua eficacia:

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Gigantão! Baratão! E com uma ilustração! Ilustração a cores da entrada do Continente, para suprir a falta de uma foto decente a cores. Só consegui encontrar a versão impressa, pois acho que também deu na televisão, mas até à data, e apesar da abundância de anúncios de 1985 na net, não há nada do Continente. Até à desaparição do canal do LUSITANIATV, a conta tinha o anúncio mais antigo da cadeia disponível, de 1987, onde já mencionava a segunda loja na Amadora. Acho que para ver, os assinantes da MEO podem ir ao MEO Kanal dele, e ao fim de 100000 toques no botão à procura de um título que tenha "Continente", "1987" e (salvo erro) "BETAMAX", vão ter muita sorte.

Mais de um ano e meio mais tarde, a 7 de Julho de 1987 (07/07/1987) foi aberto o Continente da Amadora, na EN249. Se considerarmos os primeiros Jumbos (o primeiro Pão de Açucar Jumbo foi aberto na Venda Nova em 1971), o Continente não foi o primeiro hiper da Grande Lisboa.

Nos primeiros anos do Continente, eles gostavam muito de usar o prefixo "hiper" até o talo, comme ceci:

Anúncio com voz do Carlos Duarte, que quando morreu em Agosto teve o seu ano de nascimento escondido no segredo dos deuses. Sei que o anúncio de 1987 que descrevi tinha uma imagem parecida ao slide no fim. Que eu saiba, o slogan "Comprar é Ganhar" já datava daqueles tempos.

Campanha FantastiContinente de 1990. Minha nossa, viagens pelo mundo oferecidas por um hipermercado, isto é bem do "tempo da outra senhora" que coincide com o tempo das vacas gordas.

Campanha do sexto aniversário. O LUSITANIATV também tem este anúncio mas com qualidade de imagem inferior, e datado de 1992: será que a campanha durou até inícios daquele ano?

No mesmo ano aparece o esboço daquela que viria a ser a mascote infantil/natalícia do Continente, a Leopoldina. Eu não vou peidar na farofa agora, pois já falei sobre a história dela há dois anos.

A 5 de Outubro de 1994, a inauguração de um novo Continente no Fogueteiro levou à queda do seu tecto no primeiro dia, devido às cheias e ao mau sistema de escoamento das águas.

Tenho a ideia de que boa parte dos anúncios da primeira década do Continente, salvo os da Leopoldina (a partir de 1992) eram de promoções. E não promoções banais, passatempos extraordinários.

Contudo eles já tinham a marca própria, na época Produtos Seleccionados Continente.

Por outro lado, em Espanha para promover uma promoção gigante (em todos os sentidos da palavra), meteram uma pessoa dentro de uma espécie de maquete do hiper.

Em Portugal, no que diz respeito aos Produtos Seleccionados Continente, chegaram a ter uma campanha com um chef pseudo-francês acompanhada por música de acordeão francês clichê. Teria sido uma obra para esconder as origens francesas da marca?

Como é que gosta deles? Baixinhos, baixinhos! E ainda com uma metáfora no fim que iria pirar os apresentadores do extinto Altos e Baixos.

Chuva de preços baixos em todos os Continentes. Na altura do anúncio, só haviam oito, e ainda não havia nada no Alentejo e Algarve. Eu já postei este anúncio na crónica do Carrefour por razões meramente comparativas.

Regresso às Aulas de 1995 completamente colorido e com uma estética tão 1991 que dói.

Em 1996 o Continente (junto com a sua matriz francesa Continent) muda de logo, mantendo o tipo de letra e o conceito e aproximando-o de um globo terrestre educativo. Aqui foi adoptado um novo slogan, Gente indeligente poupa no Continente. Aqui vemos uma mulher confusa num hipermercado todo ele branco e desprovido de interesse (seria este o hipermercado do paraíso?), confusa porque não estava ninguém, porque foi ao Continente.

1997 trouxe a abertura do Colombo, o maior centro comercial português (título perdido em 2009) e que ainda hoje é o melhor do país. Com ele foi lançado um novo hipermercado Continente, à qual seguiu-se em 1999 o seu "irmão mais novo" no Centro Vasco da Gama. Ambos os centros comerciais lisboetas são de pertença da Sonae.

Em 1997 as celebridades entraram em campanhas. Aqui Alexandra Lencastre vai à Feira do Bebé em Fevereiro,

e em Junho/Julho foi a vez da Maria Rueff (que também integrava os actores da Herman Enciclopédia) para a terceira edição do Grande Festival dos Preços Baixos.

Anúncio a dois com Manuela Carona e Margarida Marinho.

Feira do Bebé de 1998, precisamente no mês em que nasci. E acabou dias depois de ter nascido (nasci a 21 de Fevereiro). O LUSITANIATV tinha uns intervalos da SIC de meados do mês, estiveram na net em 2018-2019 (quando o canal antigo saiu do ar).

Regresso às Aulas de 1999. Chega a professora e tudo para no ar. Magia! Agora todos estamos paralisados! Vamos esperar que a professora saia!

Não encontrei anúncios soltos entre 1999 e 2001, portanto paro aqui.

Antes da conclusão, enquanto estava a procurar anúncios, encontrei alguns do Continente brasileiro, e atenção, é uma cadeia de supermercados, não hipermercados, de 1996 e 2000:

Basta ver como eram os anúncios dos supermercados cá e comparar como eram no Brasil, linguagens de marketing completamente diferentes umas das outras.

Como já disse, o Continent fora de Portugal saiu de cena em 2000. Houve uma fusão entre a Continent e o Carrefour e a marca desapareceu naquele ano, até em Espanha. Por alguma razão Portugal ficou com a marca e a likelihood, tornando-se no único país do mundo a usá-la. Daqui para a frente, o Continente era 100% Sonae.

À laia de epílogo (para esta parte): em 2019 a Sonae ganhou os direitos do nome Continente em Espanha. Por outro lado, quando tal foi anunciado, a Sonae disse que não iria abrir um Continente em Espanha em tão pouco tempo. Esperemos que um dia, a Sonae, numa tentativa de fazer o contrário que fez a Mercadona, instale o primeiro Continente 100% Sonae em Espanha, a não ser que haja um problema com uma das cadeias vigentes e que a Sonae compre os estabelecimentos, tipo o que passou com o Carrefour por cá.

Na segunda parte (isto terá três partes): os anos 2000.

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Quando era pequeno, lembro-me que queria ir ao Continente, sobretudo por causa da Leopoldina, mas os meus pais nunca lá iam. :mosking: Não havia na minha cidade e, quando íamos a Coimbra, só queriam ir ao Fórum, cujo supermercado na altura era o Carrefour.

Durante muitos anos, a Câmara Municipal não aceitou a construção de um Continente, por considerar que existia um número excessivo de supermercados na cidade. Agora, não só temos um, como dois Continentes na minha cidade: um Bom Dia e um Modelo (e entretanto abriu mais um Lidl e até um Aldi :mosking:).

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Antigamente alguns centros comerciais da Sonae chegaram a ter o Continente e o Modelo Bonjour (no Norteshopping e acho que no Vasco da Gama e Colombo era assim) no mesmo sítio. Na verdade o Modelo Bonjour estava no piso 1 (o Continente estava no piso 0, como sempre) e nunca entendi como é que isso era possível.

Acho que no GuimarãeShopping também era assim, mas devo estar enganado.

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há 8 minutos, Diogo O. disse:

Soube disso em 2016 e fiquei tipo, WTF, duas lojas completamente iguais no mesmo espaço. :cryhappy: 

Pingo Doce sonha em ter mais de 2 tipos de lojas :smoke:

O Pingo Doce também tem 3 tipos de lojas: super, mega e hiper. Não as distingue é no nome.

Pessoalmente, gosto mais dos produtos do Pingo Doce do que do Continente.

há 2 horas, ATVTQsV disse:

Ainda em 2020,não percebo o porquê.

Certamente por ser sustentável.

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há 3 horas, ATVTQsV disse:

Ainda em 2020,não percebo o porquê.

Porque o Continente hiper, mesmo estando ligado ao shopping, acaba por ser mais afastado do "centro" do shopping, tendo até o seu próprio parque de estacionamento. O Continente Bom Dia acaba por ser para quem quer comprar apenas uma coisa ou outra que tem lá sem perder tanto tempo. Só sei que sempre que lá vou estão ambos com muita gente.

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Cruzando esta crónica com a do Carrefour publicada há uns meses atrás, fui há 2 dias atrás ao Continente Gaia Jardim (antigo Carrefour de Gaia) à procura do esgotado calendário Kinder. A última vez que lá tinha entrado foi em Outubro de 2009 (mais de 11 anos atrás). A estrutura parece a mesma, mas aquela magia de se entrar num Carrefour perdeu-se. Além de achar que reduziram imenso a àrea de hipermercado perdeu aquela aura de Carrefour. E a 'cherry on top of the cake' é que o calendário estava lá esgotado também.

Em relação à marca Continente, em Portugal esta comprou o Carrefour, mas em França e Espanha foi o Carrefour que comprou o Continente. Penso que o Continente como é uma marca mais forte comprou a mais fraca. O mesmo aconteceu nos outros 2 países, onde além disso o Carrefour também absorveu outra marca - Pryca.

Em relação à publicidade da Alexandra Lencastre de 1997, nesta altura ela apresentava na RTP1 um programa - 'Superbebés'

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