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A Fronteira


Ruben

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Em Janeiro de 2015, o governo ucraniano, farto de múltiplas violações do cessar-fogo por partes dos rebeldes, decide continuar com a guerra no Leste da Ucrânia, desta vez com ajuda da NATO. Os separatistas são conquistados e a guerra no leste da Ucrânia acaba. Segue-se uma contínua desvalorização do rublo e a subida generalizada dos preços dos bens essenciais russos, que leva Vladimir Putin a sofrer um rombo na sua popularidade. Na França, François Hollande é obrigado a convocar eleições presidenciais e legislativas antecipadas no Verão de 2015, ambas eleições essas ganhas por Marine Le Pen, do partido de extrema-direita Frente Nacional. Mal chega ao poder, Le Pen sai da NATO, da União Europeia e da moeda única e termina com as sanções impostas à Rússia pelo ex-presidente, fortalecendo os laços entre os dois países. No Reino Unido, em Novembro de 2015, um referendo sobre se o país deve ou não manter-se na União Europeia acaba com uma vitória considerável do não. O país sai poucas semanas depois do projeto europeu…

A 21 de Dezembro de 2015, um jantar no Kremlin, em Moscovo, organizado por Putin, junta os seus assessores, o Primeiro-Ministro e o respetivo conselho de ministros. Nessa noite, para salvar o seu cargo como presidente, e os interesses não só dele, mas daquilo que considera ser os interesses da Rússia, Vladimir Putin anuncia que a operação “A Fronteira” entrou em curso. “A Fronteira” significa uma guerra aberta com a Ucrânia, um país à beira da falência, argumentando a defesa dos seus cidadãos e respetivos interesses num território governado por incompetentes. Mas também significa outra coisa: mais um aperto na liberdade de expressão russa, a prisão de vários ativistas e opositores do regime, bem como da escória da Rússia para Putin: transexuais e homossexuais. 

 

"A FRONTEIRA" ESTREIA DIA 13 DE JUNHO, ÀS 21H.

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Personagens Principais:

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Vladimir Putin: Presidente da Rússia desde 2012, Putin foi responsável em 2014 pela invasão da Crimeia, e pelo apoio dado militarmente aos separatistas pró-Rússia meses depois. No entanto, em Janeiro de 2015, após sucessivas violações do cessar-fogo, a Ucrânia, com o apoio dos países da NATO, invade os territórios ocupados pelos separatistas e em finais de Fevereiro conquista o último bastião dos rebeldes, a cidade de Lugansk. Putin, pensando que os rebeldes iam aguentar, comete a sua pior decisão desde que é presidente e decide não intervir. Agora, para se vingar da derrota dos separatistas, vive na esperança que a operação “A Fronteira” seja um dos maiores triunfos da história da Rússia, que o fará ser lembrado durante séculos.

Dmitry Medvedev: Primeiro-Ministro da Rússia, Dmitry é do mesmo partido que Putin, com quem trocou de cargos nas eleições legislativas de 2012. Não é tão influente quanto Putin mas mantém longas conversas com ele sobre o estado do país e sobre as decisões, por vezes imprudentes, que o mesmo toma. Inicialmente contra a operação “A Fronteira”, Dmitry considera agora que é a única maneira viável da Rússia se afirmar como uma superpotência.

Mikhail Puchkov: Foi escolhido para vice primeiro-ministro após as eleições. Bastante amigo quer de Dmitry, quer de Putin, Mikhail, que tem pouco mais de trinta anos, é casado e tem duas filhas com cinco e sete anos, respetivamente, serve quase como um confidente dos dois, e é normalmente a pessoa que Putin escolhe para debater assuntos internos mas também externos. Homofóbico, foi ele quem sugeriu que todas as pessoas associadas a movimentos homossexuais fossem presas assim que a operação “A Fronteira” começasse.

Marine Le Pen: Líder do partido Frente Nacional, Marine Le Pen vence as eleições presidenciais antecipadas e mais tarde as legislativas durante o Verão de 2015, para espanto de grande parte dos franceses e de outros líderes internacionais. Saiu do euro, da União Europeia e da NATO e rapidamente inicia uma política de aproximação à Rússia e de restrições a um número cada vez maior de imigrantes e refugiados, criando tensões com os seus antigos aliados.

Angela Merkel: Chanceler da Alemanha desde 2005, Merkel está num beco sem saída. De um lado, a Alemanha é bastante dependente do gás russo e do outro, foi obrigada a sancionar ainda mais o governo de Putin pelas suas ações na Ucrânia, o que causou um impacto na economia alemã. Em 2015, depara-se com ainda mais problemas, com Marine Le Pen a tornar-se uma ameaça cada vez mais real.

Barack Obama: O presidente dos Estados Unidos está a menos de um ano de acabar o seu mandato. Tanto internamente, como externamente, a sua situação está longe de ser a melhor, com o Partido Republicano a pressionar o presidente para prevenir novas ameaças russas em território ucraniano. 

 

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Personagens Principais:

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Alexei Navalny: É um dos opositores do regime de Putin mais popular, especialmente em Moscovo, onde concentra a grande maioria dos que o apoiam. É contra a anexação da Crimeia, embora se descreva como um nacionalista russo. Para Putin, é uma das pessoas que o incomoda e como tal, vai estar no topo da lista de dissidentes políticos para serem aprisionados assim que a operação “A Fronteira” começar.

Yulia Navalnaya: Casou-se com Alexei em 2000, do qual teve dois filhos, Dasha e Zahar. Apesar de ser a mulher do homem que Putin mais receia, para o presidente russo ela não tem grande importância. Não se costuma pronunciar em público, nem tem um grande papel nas críticas que o marido faz aos mais altos órgãos de estado russos e é por estes motivos que é poupada na lista de persona non grata da operação “A Fronteira”.

Ahmed Bousaid: Chegou à França em 2013, como refugiado sírio. Nasceu em 1990, na cidade síria de Raqqa. Quando a Guerra Civil estala no país, em 2011, os seus pais, Amir e Hadiyyah, mantêm-se na cidade, na esperança que os combates acabem em breve. A situação muda quando o Estado Islâmico conquista vastas áreas da Síria e fica às portas das cidades. Com medo de perderam a própria vida por serem alauitas, os três fogem para a capital francesa. Após as eleições antecipadas de Julho de 2015, e com a Frente Nacional no poder, os três correm agora o risco de voltarem à força para a Síria.

Bashir Azid: Também ele um refugiado sírio, chegou à França em 2011. Nasceu em 1988, em Damasco. Perdeu os seus pais nos primeiros protestos contra o regime de Bashar Al-Assad, um motivo que o levou a abandonar o país. A vitória da Frente Nacional, um partido que abomina, nas eleições faz com que esteja na mira do governo francês para ser expulso do país, algo que Bashir quer evitar a todo o custo.

 

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Personagens Principais:

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Filipp Pavlov: Nasceu em 1995, na cidade russa de São Petersburgo. Assumidamente gay desde os seus 15 anos, quer ser professor de escola primária e adora crianças. Conheceu Ivan numa marcha gay em Moscovo, em 2011, começando a namorar com ele pouco depois. No entanto, a felicidade dos dois é posta cada vez mais em risco, devido à crescente violência contra homossexuais, promovida pelo governo russo.

Ivan Mihaylov: Nasceu em 1994, na cidade russa de Moscovo. Mais restrito no que toca a assumir a sua orientação sexual, revelou apenas a sua homossexualidade aos seus pais e amigos em 2011. Levados pelo choque, os pais deserdam-no e, após conhecer Filipp, vai viver com ele em Moscovo. Quer ser psicólogo, um sonho que se tornou mais difícil após ser obrigado a sair de casa.

Isaak Markovic: Nasceu em 1995, na cidade russa de Moscovo. Assumiu-se como gay à sua família aos 17 anos e vive sozinho num apartamento por opção própria. Escreve um blog, predominantemente anti-Putin, que denuncia os “crimes do governo russo” contra os homossexuais. É um grande amigo de Filipp e Ivan desde que conheceu casal numa discoteca gay da cidade, em 2012. 

 

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Seguimos agora para o 4º e último núcleo de personagens d'"A Fronteira":

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Boris Vladislav: Nasceu em 1993, na cidade russa Volgogrado. Alistou-se para o exército assim que fez 18 anos, realizando assim o seu sonho de criança em ser soldado. Teve um passado traumático, a sua mãe foi espancada até à morte pelo seu pai e desde então vivia na casa de uns tios. Apenas fala com Igor, um amigo de infância, dentro do seu grupo. Está atualmente em treinos perto da fronteira com a Ucrânia e o seu grupo fará parte da linha da frente assim que a operação “A Fronteira” arrancar.

Igor Romanov: Nasceu no mesmo ano que Boris, na cidade russa de Volgogrado. Também ele sempre sonhou em ser soldado e juntamente com Boris, alistou-se no exército também aos 18 anos, permanecendo junto com o seu amigo de infância desde então.

Nikolay Volkov: Nasceu em 1960, na cidade soviética (atualmente russa) de Rostov do Don. Coronel desde dos 30 anos, participou em várias missões pela União Soviética. Após a queda do regime, manteve-se nas forças armadas, estando agora responsável pelo grupo de Boris e Igor, localizado perto da fronteira com a Ucrânia.

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MAPA:

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Vermelho: Rússia [e aliados]

- Excelentíssimos senhores e senhoras, o presidente da Federação Russa, Vladimir Vladimirovitch Putin. – disse um assessor do mesmo. Uma vaga de aplausos segue-se.
- Caríssimos ministros, assessores e compatriotas da Rússia, estou perante vocês hoje para anunciar um novo capítulo na gloriosa história deste belo país. Está na altura de sermos nós a comandar aquilo que é nosso por direito! Está na altura de sermos nós a colocar a Rússia no estado de onde nunca deveria ter saído: o de superpotência mundial! O espetáculo começou, meus caros! Está na altura de deixarmos de ser a piada do mundo…

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19 de Janeiro de 2015

No Kremlin, Vladimir Putin segue apressado para o seu escritório. O presidente da Rússia recebera um telefonema vindo do Kremlin sobre a situação na Ucrânia ainda nem o Sol se tinha levantado sobre a capital russa. Ao que parece, o governo ucraniano, farto de múltiplas violações do cessar-fogo por partes dos rebeldes, decide continuar com a guerra no Leste da Ucrânia, desta vez com ajuda da NATO, que contribuía com equipamento vindo principalmente dos Estados Unidos.
- Posso saber a razão de me teres acordado tão cedo? – disse Mikhail, vice primeiro-ministro desde 2012, trinta anos um homem forte e alto, com cabelo castanho escuro, barba por fazer e olhos azuis claros, sentado numa poltrona dos inúmeros escritórios privados e luxuosos do Kremlin, ainda ensonado.
- Os estupores ucranianos romperam com o cessar-fogo no Leste da Ucrânia. Ao que parece estão fartos das constantes agressões dos nossos queridos amigos.
- E o que planeias fazer? – perguntou Medvedev, também presente.
- Segundo o que os serviços secretos apuraram, houve uma recente entrada de equipamento militar vinda do estrangeiro, provavelmente vinda dos Estados Unidos. Ao início pensei que seria apenas uma renovação de equipamento, mas parece que me enganei. – respondeu Putin.
- Tu não podes renovar o equipamento dos separatistas. Era como se anunciasses ao mundo que estivemos este tempo todo na Ucrânia e que queremos desfazer o país aos bocados.
- E o que vou fazer então, Mikhail? Deixá-los ganhar? Não te esqueças que o rublo está a decrescer, o preço do petróleo também não dá sinais de vir a aumentar. Toda a popularidade que conquistei pode ir pelo cano abaixo!
- Assim como pode ir se decidires intervir na Ucrânia! – disse Medvedev, que se levantou para buscar um copo de whisky. – Pensa bem, Putin. Tu ainda tens a Crimeia, que é algo que nem a Ucrânia ou o ocidente se atreverá a invadir, sabendo que se trata agora de um território russo. Quanto ao leste da Ucrânia, haverá outras chances…

Putin esteve calado por breves instantes, a olhar para uma das janelas do seu escritório, de costas voltadas para Mikhail e Medvedev.

- Vou enviar homens para o leste da Ucrânia. – disse Putin, interrompendo o enorme silêncio que rompia pela sala. – Pode ser que o avanço se for tão lento e o número de mortos disparar, o governo ucraniano decida aceitar a derrota uma vez mais num novo acordo. Acordo esse que será muito mais favorável para nós.
- Muito bem, encontrámos uma solução! Para comemorar vou voltar para os doces braços da minha mulher que se encontra no único lugar onde queria estar agora, que é minha cama! – riu-se Mikhail.
- Mikhail! – disse Putin. – Antes de voltares para a tua cama e para os braços da tua mulher, pede à minha assistente para chamar o Serguei, preciso de discutir alguns detalhes sobre isto com ele. Obrigado pela vossa ajuda, podem ir agora.

Putin estava certo, o número de mortos disparou. Dos quase 5000 mortos desde Janeiro, o número em pouco mais de um mês atingiu os 8000. Apesar do presidente russo ter mandado quase três mil homens para o Leste da Ucrânia, o progresso feito pelo governo ucraniano pouco abrandou. Em meados de Fevereiro, Mikhail pede a Putin que retire todos os soldados em solo ucraniano para evitar “complicações” desnecessárias. O presidente russo aceita e sofre o seu primeiro revés internacional. A sua popularidade cai nos meses que se seguem.

*

- Olá amor. – disse Filipp com uma voz suave pela manhã, acordando o seu namorado.
- O que queres, parvo? Deixa-me dormir! – exclamou Ivan, resmungado por o terem acordado.
- Não te lembras que dia é?
- O dia em que tu me acordas cedo?
- Também! – riu-se. – Hoje é dia 28 de Maio. Diz-me que pelo menos associas algo a este dia. – acrescentou.
- Claro que associo, é o dia em que nos conhecemos! – sorriu. – Agora deixa-me dormir! – acrescentou.

Filipp, um rapaz com quase um metro e noventa centímetros, de cabelos loiros e olhos azuis era um gay assumido desde há cerca de cinco anos, encontrou Ivan, também ele alto, de olhos verdes e cabelo preto, a 28 de Maio de 2011, no “Moscow Pride”, uma parada gay anual. Tornaram-se amigos e começaram a namorar no Verão desse ano.
Em Agosto, Ivan revela aos seus pais que é homossexual. Estes deserdam-no, com vergonha das tendências sexuais do seu filho, e expulsam-no de casa. Já grande parte dos seus amigos passaram-no a ignorar, como que se deixasse de existir. Estar relacionado com alguém homossexual era cada vez mais perigoso em território russo e, temendo serem espancados no meio da rua por grupos radicais, era preferível perderem um amigo a perderem a vida. No meio dessa situação desesperada, Ivan pede ao seu namorado para deixar a sua casa e amigos em São Petersburgo e viver com ele. Filipp viaja para a capital russa e os dois vivem juntos desde então. Ambos trabalham em trabalhos temporários para pagarem as contas (com uma pequena ajuda dos pais de Filipp) e ao mesmo tempo poderem estudar – Filipp quer ser professor de escola primária e Ivan um psicólogo.

- Já que os púdicos do Kremlin baniram as paradas gay de Moscovo por uns quê? 100 anos, não foi, o que queres fazer logo à noite para comemorarmos? – perguntou Filipp, à medida que saia da cama para se ir vestir.
- Porque não convidas uns amigos lá da discoteca?
- Tu achas que tenho vontade de dar uma festa aqui em casa depois de um dia exaustivo? Queres fazer uma orgia, ou queres simplesmente matar-me de cansaço?
- Então o que sugeres, senhor crítico? – reclamou Ivan, que entretanto já se tinha levantado.
- Tu apenas não entendeste a minha pergunta. – riu o namorado deste. – Eu queria perguntar o que tu queres fazer logo à noite comigo, para comemorarmos.

Ivan soltou um sorriso obsceno.

- Bem, acho que podemos fazer qualquer coisa daqui a pouco. – disse ele, abraçando e beijando o namorado.
- Agora sim, já entendeste. – riu Filipp.

*

Mais uma noite quente fazia-se sentir pelas ruas de Paris. A 26 de Julho de 2015, Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita “Frente Nacional”, que já tinha ganho as antecipadas eleições presidenciais, vence agora a primeira volta das eleições legislativas, também antecipadas, ganhando na segunda volta contra Sarkozy, com quase 60% dos votos. O resultado surpreende toda a gente na França.
Isto é o culminar de um Verão animado na política francesa. Em Abril, vários ministros de François Hollande resignam e o presidente convoca eleições antecipadas. Para Le Pen, esta era a sua oportunidade ouro. Após uma campanha acesa, a mesma usa o número cada vez maior de refugiados vindos da Síria, o desemprego e até mesmo os ataques terroristas ao jornal “Charlie Hebdo”. Tudo isso levou a uma subida percentual do seu partido nas várias sondagens, apesar de em nenhuma delas alguma vez ter alcançado o primeiro lugar. Depois de ter vencido as presidenciais, convocam-se também novas eleições, desta vez para o parlamento francês. A “Frente Nacional” voltou a espantar os franceses e vence com lugares suficientes para ter maioria absoluta.
Putin seguia atentamente estas eleições e tinha todos os motivos para o fazer. Depois do desaire no Leste da Ucrânia, a vitória de Le Pen na França fazia toda a diferença no cenário geopolítico mundial. Nos meses que se seguiram, Le Pen retira o país da moeda única, da União Europeia e da NATO, acaba com as sanções económicas que tinham como alvo a Rússia e a relação entre os dois países começa a florescer, para preocupação dos mercados e líderes mundiais. No entanto, Putin não era o único que seguia atentamente o panorama francês. Ahmed Bousaid e a sua família, todos eles refugiados vindo da cidade síria de Raqqa, tinham razões para estar preocupados. O próximo alvo de Le Pen seriam eles. Desde que a nova presidente da França tomou posse, viviam na incerteza, como que se estivessem a jogar à roleta russa e fosse a vez deles de pegarem na arma, apontá-la às suas próprias cabeças e apertarem o gatilho. Iriam eles voltar para a Síria, desolada por combates entre forças pró-governamentais e rebeldes e manchada de sangue devido aos frequentes crimes contra a humanidade cometidos pelo Estado Islâmico?
Ahmed fazia essa pergunta todos os dias e a cada dia que passava ansiava mais por uma resposta. Até que na manhã fria de 19 de Dezembro de 2015 ela finalmente veio, quando um polícia bateu à porta.

- Boa tarde, estou a falar com o senhor Amir Bousaid? – perguntou o polícia. Trazia um bastão na sua mão, como que se tratassem de meros animais. Ahmed apenas via polícias de bastão na mão durante manifestações, o que o assustou.
- Não. – disse Ahmed, assustado. – Sou o Ahmed, os meus pais estão ali dentro.
- Preciso que os chames.

Ahmed chamou os seus pais, que tomavam o pequeno-almoço. Os dois saem da mesa e dirigem-se para a porta num instante.

- Presumo que esteja agora a falar com o senhor Amir Bousaid, estou certo?
- Sim, está. – respondeu Amir, também ele assustado ao ver o bastão na mão do polícia. A sua mulher, Hadiyyah, mal conseguia respirar com tamanha ansiedade. – O que se passa?
- Num prazo de 72 horas terão de apresentar na prisão La Santé, localizada numa rua com o mesmo nome. Se não se apresentarem dentro do prazo estabelecido, a polícia francesa estará no seu direito em levar-vos até lá à força.
- Prisão?! Somos alguns criminosos? – perguntou Amir, exaltado.
- O governo francês quer controlar os número de refugiados com asilo político no país, apenas isso.
- Esse governo será a vergonha da história da França durante as próximas décadas! Querem imitar quem? Hitler?! Estaline?! – gritou Ahmed. A sua mãe acalcava-lhe no pulso com cada vez mais força para que ele parasse.
- Diga ao seu filho para parar de dizer infantilidades. Bem, o meu aviso está dado, espero que tomem a decisão correta. Continuação de um bom dia.

Hadiyyah desata a chorar assim que o polícia se afasta da sua casa. Amir abraça a mulher para consola-la, tal como a consolou quando saiu da Síria, deixando tudo o que conhecia e que lhe era querido para trás. Já Ahmed dirigiu-se para o seu quarto. Estava petrificado…

*

No Kremlin, Vladimir Putin reúne-se com várias figuras do seu regime na tarde do dia 19 de Dezembro. Como primeiro ponto da ordem de trabalho está o planeamento e discussão de detalhes de uma operação apelidada de “A Fronteira”. Esta seria a mais importante operação da Rússia após a queda da União Soviética e algo que poderia até ser comparado com a Grande Purga, sequestrada por Estaline na década de 30. Externamente, a Rússia iria invadir a Ucrânia, um país à beira da falência e ainda destruído por quase dois anos de guerra, sem qualquer aviso prévio ou declaração formal de guerra. Internamente, todos os opositores do regime, ativistas, homossexuais, transexuais, entre outros, seriam presos. Qualquer tipo de propaganda ou defensor de outras ideias consideradas imorais seriam também eliminados do território russo.

- Senhor Putin, você sabe que irá provocar a ira do Ocidente. – avisou Serguei Lavrov, o atual ministro das Relações Exteriores russas. – Pode até começar uma Terceira Guerra Mundial! E pior que isso, uma guerra nuclear!
- As grandes cidades russas estão equipadas com um sofisticado sistema de defensa, capaz de detonar bombas atómicas enquanto as mesmas ainda se encontram na atmosfera, prevenindo assim um desastre nuclear catastrófico. – disse Serguei Shoygu, ministro da defesa russo. 
- E de qualquer das maneiras não podemos garantir que haja uma nova Guerra Mundial! – disse Mikhail. – A Ucrânia, apesar de toda a aproximação ao Ocidente nos últimos meses, ainda é um país não-alinhado! Não pertence nem à União Europeia, nem à NATO. Além disso, nós podemos usar a nossa posição como membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas para impedir que certas votações que têm como alvo a Rússia aconteçam.
- Lavrov, você consegue-me garantir que não vamos ter qualquer inconveniente de algum dos nossos aliados acerca desta guerra? – perguntou Putin.
- O meu trabalho é garantir que esses inconvenientes não aconteçam, portanto sim, acho que lhe posso garantir isso mesmo.  – respondeu Lavrov. – Mas, e os Estados Unidos? E os países da União Europeia, o que fazer caso eles nos ataquem com bombas nucleares? – acrescentou.
- Duvido que algum país, incluindo os Estados Unidos, faça um ataque e fique com o peso nos ombros de ter começado uma guerra nuclear. Assim como nós não iremos começar uma guerra nuclear, só se formos forçados a isso. – disse Putin. – Essa será a informação que o Kremlin irá transmitir também aos nossos homólogos norte-coreanos, chineses e mais recentemente, franceses.
- Mas a França ainda não é um aliado, Putin. – disse Medvedev, que se mantinha calado até então, ouvindo atentamente os seus compatriotas.
- Algo que será temporário, Medvedev. Tenho conversado frequentemente com a Marine Le Pen, e posso garantir que a relação entre os dois países tem crescido imenso desde que ela chegou ao poder.
- Muito bem, falemos então da operação dentro da Rússia. – disse Putin. – Mikhail, foste tu que propuseste isto, diz-nos o que planeias fazer.
- Bem, eu acho que é óbvio que o povo russo não quer pessoas com problemas de identidade sexual no seu território. Estudos recentes mostram que a enorme maioria da população é contra a homossexualidade, portanto é mais que óbvio o que temos de fazer. Juntamo-los com aqueles que estão contra o regime, acrescenta-se toda a propaganda a favor deles e acabamos assim com toda a oposição política que temos e que nos poderia dar problemas durante a guerra na Ucrânia. – disse Mikhail.
- Mas encontrar opositores é fácil. Agora localizar qualquer homossexual na Rússia é uma tarefa quase impossível. – disse Medvedev.
- Sim, é, mas pode ser bastante fácil localizar uma boa fatia deles. Começamos pelas associações, depois colocamos polícias à paisana nas discotecas, bares ou qualquer outro lugar frequentado por gays. A partir daí é só localizar as suas moradas e mandá-los para a prisão. Já contactei também um amigo nos serviços secretos para localizar pessoas que participaram naqueles circos a que chamam de “paradas gay”, portanto está tudo pronto para esta operação internamente.
- E têm as nossas prisões capacidade para albergar tanta gente? – perguntou Medvedev. – Sem esquecer também a Amnistia Internacional e outras organizações dos Direitos Humanos.
- Poderá não haver capacidade para todos ao início, mas não vamos fazer disso um problema. Afinal de contas, a Sibéria sempre serve para alguma coisa. – disse ele, fazendo rir todos os presentes da reunião. – E quanto à Amnistia, eu não vejo grandes razões de preocupação aí. Afinal de contas, no meio de uma guerra, quem quer realmente saber se os Direitos Humanos são cumpridos, quando na realidade nem em tempos de paz se lembram deles?
- Bem! – disse Putin, levantando-se da cadeira. – Eu acho que já discutimos tudo o que havia para discutir. Vamos avançar com o que foi dito aqui tanto externamente, como internamente. “A Fronteira” irá ser anunciada dia 21, com toda a pompa e circunstância! No dia a seguir a esse, quando o Sol ainda estiver para nascer, a Ucrânia e o Ocidente irão pagar por terem andado a gozar connosco nestes últimos meses.

*

Um jantar glamoroso decorre em Moscovo. Na noite gélida de 21 de Dezembro de 2015, Vladimir Putin, o presidente da Rússia, reúne-se com o primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, o seu conselho de ministros e outras pessoas relacionadas com a elite política russa. Um anúncio importante estava para ser feito. Mikhail, Serguei Shoygu e Serguei Lavrov esperaram por ele com uma enorme ansiedade.
Depois do jantar, das habituais conversas fúteis de gente com o poder suficiente para alterar a vida de milhões de pessoas, o presidente levanta-se para fazer um anúncio. Chegou a hora que todos esperavam.

- Excelentíssimos senhores e senhoras, o presidente da Federação Russa, Vladimir Vladimirovitch Putin. – disse um assessor do mesmo. Uma vaga de aplausos segue-se.
- Caríssimos ministros, assessores e compatriotas da Rússia, estou perante vocês hoje para anunciar um novo capítulo na gloriosa história deste belo país. Por muito tempo, vivemos renegados. O ocidente rejeita-nos como cães raivosos, a América vê-nos como inimigos mortais. Está na altura de sermos nós a comandar aquilo que é nosso por direito! Está na altura de sermos nós a colocar a Rússia no estado de onde nunca deveria ter saído: o de superpotência mundial! O espetáculo começou, meus caros! Está na altura de deixarmos de ser a piada do mundo…

Outra vaga de aplausos, bem mais calorosos que os primeiros, segue-se.

 

MAPA:

 

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Vermelho: Rússia [e aliados]
Azul: Ucrânia [e aliados]

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Gostei muito, Rúben! Uma história muito realista, até parece ser mesmo verdade (e batamos três vezes na madeira para não se tornar. :ph34r: Se sim, Rúben, tens presença garantida num programa de tarot, há que ver pelo lado positivo), e com uma boa contextualização história.
Comentando em a história em si, creio que o mote está lançado e muitos pormenores ainda estão por se desenvolver. Gostei muito da intriga dos refugiados sírios, tema mais atual e presente não podia ser. 
Em suma, para o primeiro episódio, considerei uma história muito coerente e bem escrita, com intrigas que podem dar pano para mangas. 
PS: Shippo Petin (ou seja, Marine Le Pen + Putin <3333).

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:giveheart:

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Gostei muito, Rúben! Uma história muito realista, até parece ser mesmo verdade (e batamos três vezes na madeira para não se tornar. :ph34r: Se sim, Rúben, tens presença garantida num programa de tarot, há que ver pelo lado positivo), e com uma boa contextualização história.
Comentando em a história em si, creio que o mote está lançado e muitos pormenores ainda estão por se desenvolver. Gostei muito da intriga dos refugiados sírios, tema mais atual e presente não podia ser. 
Em suma, para o primeiro episódio, considerei uma história muito coerente e bem escrita, com intrigas que podem dar pano para mangas. 
PS: Shippo Petin (ou seja, Marine Le Pen + Putin <3333).

Conteúdo Oculto

​Obrigado Ana. :P

Gostei muito Ruben, estas histórias com este tipo de temas sempre foram do meu interesse :mosking: :P Mas fiquei admirado por não haver Merkel aqui... :rolleyes: 

​Vai haver Merkel, embora não seja propriamente personagem principal. :laugh: Obrigado Diogo. :P

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Muito bom, Ruben! Eu, que não percebia muito bem o que se passava na Rússia e com a Le Pen, graças à história consegui ver as consequências que pode haver caso o que mais se teme concretize-se, o que espero mesmo que não. E a escrita está leve, o que leva a uma sucessão de acontecimentos nada cansativos. Espero pelos próximos episódios! :) 

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