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Prisão Domiciliária [Opto SIC]


Televisão 10

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há 6 horas, PT 04 disse:

Crime no poder

“Prisão Domiciliária” é a história de um ex-ministro preso por suspeitas de atividade criminosa. Assinada pelo comentador político João Miguel Tavares, estreia-se dia 16, em streaming, na Opto

Corrupção, tráfico de influências, participação económica em negócio, prevaricação e abuso de poder. Rebenta o escândalo em torno de Álvaro Vieira Branco. O ex-ministro das Obras Pública é a figura central do caso “Marinada”, relacionado com a construção de marinas fluviais no interior do país, e terá de ficar em prisão domiciliária. É uma medida de coação demasiado gravosa para quem se habituara a viver em liberdade e a usá-la em seu proveito, capitalizando a sua influência na esfera pública e partidária. As suspeitas sobre Álvaro Vieira Branco (interpretado por Marco Delgado) já se tinham transformado em sombra, acompanhavam-no há muito, mas as autoridades nunca tinham estado tão perto da verdade como agora. Era quase certo que os seus rendimentos pessoais ou familiares não justificavam o seu nível de vida, só que o puzzle continuava com algumas peças em falta. Até que uma denúncia anónima deu às autoridades a possibilidade de investigar o político mais a fundo.

“Por ser eu a escrever, por dar a cara pela série e por ter tido um papel de supervisão dos argumentos, vão fazer logo comparações com Sócrates, mas esta ideia até é anterior à sua detenção”, antecipa João Miguel Tavares, conhecido pelas suas opiniões fortes sobre a Operação Marquês. A primeira versão da história é de 2014 e foi criada a partir de uma ideia de Patrícia Sequeira, que “queria fazer uma série sobre prisão domiciliária, sobre um político corrupto preso em casa”, conta o argumentista, recordando o ano em que também o ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido no aeroporto da Portela, a 22 de novembro, quando regressava de Paris. Nessa data já as personagens de “Prisão Domiciliária” estariam construídas, embora a ideia não se tenha materializado além de um episódio-piloto. Desde aí, Patrícia Sequeira teve séries como “Terapia” (para a RTP1) ou “O Clube” (disponível na Opto), várias novelas e os filmes “Jogo de Damas”, “Snu” e “Bem Bom”, este último sobre as Doce, com estreia reagendada para 2021, mas a vontade de filmar uma série sobre alguém fechado em casa, de apresentar uma história contada num ambiente controlado, sem grandes exteriores, manteve-se intacta.

“Por ser eu a escrever vão fazer logo comparações com Sócrates”, antecipa João Miguel Tavares, “mas esta ideia até é anterior à sua detenção”

Agora, seis anos volvidos e depois de duas temporadas de “O Clube” no streaming, a realizadora dá forma a uma narrativa de oito episódios onde se retrata a vida de Álvaro Vieira Branco, a partir de um argumento escrito por João Miguel Tavares com Rodrigo Nogueira, Tiago Pais e Catarina Moura, durante o segundo semestre de 2020, reforçando o cariz ficcional da história — até porque não poderia ser de outra maneira. “Andei à procura de criar uma personagem forte, quis construir uma boa ficção. Em Portugal não temos delação premiada, então o nível de detalhe de uma série como ‘O Mecanismo’ [da Netflix], sobre a Operação Lava Jato, seria impossível na ficção portuguesa. Não temos as testemunhas a falar assim”, explica, regressando uma última vez ao antigo primeiro-ministro, quase com um elogio. “Acho que Sócrates é uma personagem tão rica que merecia um documentário, um bom documentário cinematográfico. Não precisamos de entrar na ficção”, considera o também comentador político. Segundo o responsável pela série, ainda guardada a sete chaves, bastará ver o primeiro episódio de “Prisão Domiciliária” para que se tirem quaisquer dúvidas: embora esteja ligada à realidade nacional, é uma obra de ficção.

É que Álvaro Vieira Branco é, antes de tudo, um homem de família, e fará tudo o que estiver ao seu alcance para continuar a dar aos seus aquilo a que sempre os habituou. A vida de luxo que chamou a atenção das autoridades tem de ser mantida, a mulher Raquel e os filhos Frederico e Matilde não devem sofrer mais do que o necessário — é claro que a prisão domiciliária muda por completo a dinâmica familiar —, e até a mãe de Álvaro fará os possíveis para que nada falte ao clã. Também ela habituada ao poder, Maria de Lourdes Vieira foi uma das primeira mulheres autarcas do país, no interior, e agora vê tudo a desmoronar-se por culpa do filho. Terá de vender a própria casa para que Álvaro possa pagar a defesa e as inúmeras despesas domésticas de forma legal — todas as contas estão congeladas e a circulação de dinheiro é muito controlada —, mudando-se para a casa onde o filho se mantém em prisão domiciliária, na companhia da mulher (que se sente desgastada num casamento com um homem agora acusado de um conjunto de crimes). 

Apesar do confinamento imposto pelas autoridades, com pulseira eletrónica (“uma espécie de demonstração física do pecado, uma chaga presente na sua vida”, como caracteriza o argumentista), Álvaro não quer cingir-se à vida domiciliária e pretende manter a sua influência enquanto luta pela sua liberdade — embora a tenha perdido para estar numa mansão de luxo com todas as comodidades. David Rebelo Morais, o seu advogado de longa data, será o seu principal aliado no que à justiça diz respeito, enquanto uma outra figura se encarrega de expandir a teia de influência do ex-ministro em novos esquemas do partido. É Bernardo Góis, seu antigo assessor e que se mantém na equipa do governo, que o ajudará — numa luta em que não raras vezes torceremos por Álvaro Vieira Branco. Mesmo depois de vermos os trabalhos pouco claros de Zé Mário, antigo bombista das FP-25 e capataz de confiança, ou das vezes em que, juntamente com o motorista Arnaldo, consegue levar dinheiro ao homem acusado de receber dinheiro que não lhe pertencia por direito.

Parecem demasiadas personagens a orbitar à volta de um Álvaro que valeria por si — “O Marco [Delgado] agarrou o Álvaro pelos cornos, com imensa força, quase de forcado”, considera João Miguel Tavares —, mas a verdade é que todas elas têm uma força própria, garantida no próprio writers’ room (neste caso uma sala de argumentistas digital, uma vez que apenas houve dois encontros presenciais entre os guionistas). “Não quis que as outras personagens fossem de papelão ou que alguém fosse estúpido. As personagens unidimensionais não nos interessavam nada. Fugimos à caricatura”, afirma. E houve uma máxima seguida para garantir que cada uma valesse por si: “Isto só pode funcionar se cada personagem puder dar um spin-offda série”, como quando Saul Goodman ganhou uma série própria (“Better Call Saul”, da AMC, na Netflix) a partir de “Breaking Bad” (exibido na SIC Radical e disponível na Netflix). As motivações de cada um e o que representam em “Prisão Domiciliária” estão definidas e há uma ideia de como podem evoluir, pelo que nenhum caminho é sem saída quando a intenção é contribuir para uma nova fase da ficção nacional — que tenta aproximar-se da qualidade internacional sem perder a sua essência, algo que a Netflix também quis garantir ao encomendar “Glória”.

“Levamos com muitas séries estrangeiras, grande parte americanas, e há sempre uma dificuldade em encontrar uma voz própria”, considera João Miguel Tavares, que apesar disso se mostra otimista quanto à criação de séries que consigam cruzar a sofisticação de produtos internacionais — alguns deles “extraordinários e extraordinariamente populares” — sem esquecer a essência portuguesa. “A pouco e pouco, é um caminho que começa a ser trilhado, em parte pelo cinema e em parte pela ficção televisiva”, apesar de termos um mercado com uma dimensão muito inferior à espanhola (muitas vezes termo de comparação). “Mas somos do tamanho da Suécia, e as séries deles têm muito sucesso”, contrapõe ainda João Miguel Tavares.

É a meio caminho entre o lado autoral e o mainstream que se encontra “Prisão Domiciliária”, tratando uma história que podia ser real de uma maneira diferente, “que não se pareça com nada”. E essa originalidade parece estar por toda a parte. Do icónico hotel Lapa Palace, em Lisboa, transformado em mansão do ex-ministro acusado de crime, à participação de Samuel Úria (que além de responsável pela música da série também interpreta uma personagem), passando até por um cameo radiofónico do próprio João Miguel Tavares, enquanto comentador. “Prisão Domiciliária” é pura ficção, mas é muito real.

Gostei do que li.

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