ATVTQsV Postado 20 de novembro 2018 Partilhar Postado 20 de novembro 2018 No ano passado falei sobre o programa equivalente a este na TVI, o Batatoon. O Batatoon surge antes do Buéréré deixar de ser o programa que era - foi cancelado na sua fórmula clássica quando ainda estava no seu auge - no fim de 1998. Mas para entender perfeitamente o Buéréré em si, vamos recuar até ao longínquo ano de 1993. Na altura em que o Buéréré surgiu, a SIC tinha programação infantil, porém reduzida: era normalmente aos fins-de-semana, a abrir a grelha do canal. E o canal passava séries como O Livro da Selva em anime, co-produção com o fundador da Mondo TV que mais tarde veio a produzir aberrações que eram plágios da Disney (e tantas outras que não eram. Basta ver o caso de séries como Slash que deu na RTP 2 e teve bastante repercussão ou as séries baseadas em marcas da Giochi Preziosi, e quem não se lembra de deparar com vídeos de crítica negativa ao filme Tentacolino?) ou The Adventures of T-Rex. Até que a SIC teve uma ideia inesperada e trouxe uma invenção que veio mudar os programas infantis portugueses. O Buéréré foi uma invenção de Ediberto Lima, numa altura em que a SIC tinha capital da Globo. Uma das "ideias" de Ediberto Lima era a de trazer formatos de sucesso no Brasil para eventualmente serem "traduzidos" para a realidade portuguesa. O Muita Lôco era baseado num formato brasileiro de Serginho Groisman (algo me diz que era o Programa Livre do SBT - e não foi a única ligação que a SIC teve com o SBT em época de capital da Globo, pois já passou o Jô Soares Dez e Meia), o Big Show SIC era baseado num formato que os brasileiros chamam de "programa de auditório", um programa tido como "brega e povão" (o Big Show SIC terá a sua edição, talvez para o ano, aguardem) e, claro, o formato de programa infantil, que viria a ter mais significado quando a fase mais recordada do Buéréré chegou. Uma coisa é certa: o Buéréré mudou completamente o género infantil na televisão portuguesa, da mesma maneira que, através de pragas, o Zig Zag fez basicamente o contrário ao ser um substituto aos guardiões da moral que são os pais que os impedem de ver certos e determinados desenhos animados e ajudou outros canais a dar o exemplo, como o Canal Panda que passou a ser um canal pré-escolar e educativo ou o Cartoon Network através das suas políticas de censura. Pois o Buéréré foi um antes e um depois: até então, todos os programas infantis que a RTP produzia, até os primeiros da TVI, recaíam sobre um formato já mais que antigo e monótono, o das crianças sentadas num formato algo pesado para as novas exigências da criançada. Porém inicialmente o Buéréré era um programa austero, mas fora da monotonia da RTP e até da TVI. O primeiro genérico usado pelo Buéréré tinha mesmo a cara de ter sido saído da Globo, apesar de, nesta altura, estar a emitir a "série" de cães TV Colosso como o seu contentor infantil (e como já disse, mais tarde o Bambuluá teve a mesma estética). É fácil imaginar isto com qualidade PAL-N e nenhum DOG no ecrã como se fosse um programa da própria Globo, uma vez que até Hans Donner teve a sua contribuição para fazer alguns símbolos e reciclar conceitos (Jogo da Verdade = Olho no Olho). A apresentadora das primeiras fases do Buéréré era a Ana Marques. Aos 3:45, alguns excertos do programa com ela: Aqui o segundo genérico (incompleto) mais alguns excertos de um jogo, calculo que num estúdio improvisado, com o apoio da Toys "R" Us com a sua mascote girafa: Regra geral dos programas infantis dos anos 90: quando não havia nada dos desdobramentos dos canais por faixa etária (o Canal Panda e o Biggs, o Disney Junior e o Disney Channel, o Nick Jr. e o Nickelodeon, e, pasmem-se, o Boomerang e o Cartoon Network) era normal ver jardins de infância a irem participar nos jogos que haviam entre as séries. Eis outro excerto, em parceria com a Lego: Em 1994 o Buéréré passou a ser emitido de segunda a sexta, inicialmente por uma hora, a começar às 16. A SIC cresceu a sua emissão diária à medida que os anos avançavam. Ainda na fase anterior ao Dragon Ball, a SIC de segunda a sexta abria por volta do meio-dia. A aposta no Buéréré durante a semana foi claramente uma aposta ganha para fazer frente ao cada vez mais enfraquecido Brinca Brincando do Canal 1 (mais tarde Um-Dó-Li-Tá e foi espalhado pelos dois canais) ou qualquer coisa que a TVI tinha na manga. Paralelamente à criação do Buéréré diário somou-se a criação de um segundo bloco infantil, o Nickelodeon, com base num contrato que o canal tinha, que consistia na emissão de séries do canal mais um concurso português, o Tudo ou Nada, adaptação do Double Dare. Ainda com base na relação, havia também a participação portuguesa no Global GUTS e a emissão de Ren e Stimpy noutros horários como depois do Jornal da Noite. Porém, em 1995, tudo mudou. Motivado pelo efeito Dragon Ball que começava a polarizar a programação infantil, o Buéréré passou a ter nova apresentadora. Inicialmente temporária, tal como o Batatoon que, quando estreou em Dezembro de 1998, era uma expansão inicialmente natalícia daquilo que o Batatinha fazia sozinho nos meses anteriores, a nova apresentadora iria mudar o rumo do programa para sempre. Mas antes, uma noção sobre a tal polarização da programação infantil: RTP: coisas inofensivas, geralmente de baixo custo, com acesso a catálogos de séries que contenham um alto teor educativo e pouca acção (a série Yamazaki foi alvo de polémicas na AR em 2002) SIC: coisas cheias de acção e atitude à anos 90 TVI: menos acção e mais comédia, com aposta em séries da Hanna-Barbera A nova apresentadora era a Ana Malhoa, na altura uma cara jovem. O Buéréré passou por uma mudança na estrutura: o Buéréré normal passou a ser o diário enquanto que aos fins-de-semana era o Super Buéréré. Direi apenas que era um Buéréré mais "turbinado". E é nesta fase que entramos na sua fase de ouro. A época de ouro do Buéréré começou em 1995 e durou até à reconfiguração no fim de 1998. Numa altura em que Ediberto Lima conseguiu revitalizar a SIC, aproveitou o seu know-how de formatos brasileiros e importou o Xou da Xuxa para traduzir à jovem Ana Malhoa, que passou a ser a Xuxa dos portugueses. A reciclagem entre SIC e Globo era tal que até aproveitaram o plim-plim da Globo para diversas coisas assinadas por Ediberto Lima: o genérico deste programa, do Big Show SIC, e, em 2003, no separador da sua produtora, a Ediberto Lima Produções. O Super Buéréré (o Buéréré turbinado) era o Show da Malhoa, e servia de antecâmara ao Batatoon da concorrência. A sua imitação bastante fiel à estética de programas infantis do Brasil da altura continha um estúdio que era também usado para actuações musicais, da própria Ana Malhoa ou de outros artistas, que tocavam músicas infantis e outras não tão infantis. Por exemplo, chegaram a actuar artistas de metal no Batatoon e no Infantaria (TVI e RTP 1 respectivamente) na viragem do milénio. "Aha! Se passavam musicas destas em programas destes então está explicado o porque do gosto de grande parte da minha geração em musica pesada (quer ouçam regularmente ou não ha sempre aquela banda mais metal ou mais hardcore que o pessoal surpreendentemente ate gosta). Era isso e passarem desenhos animados de jeito outra vez, os desenhos animados pseudo-pacifistas que passam agora metem me nojo (digo isto pq tenho uma irma de 10 anos)" Ao lado de Ana Malhoa estavam: o Boiréré e a Vacareré (ou Boi Ré-Ré, e Vaca Ré-Ré mas o que importa é que o "Ré-Ré" dos nomes deles lia-se tal qual o "réré" do nome do programa); o Croko; o Sapo Filipe; a Melzinho; e as coreógrafas Anetes e Mini-Anetes, em honra à deusa suprema Ana Malhoa. De segunda a sexta, o Buéréré diário, que mantinha o nome Buéréré, era apresentado pela Ana Malhoa e pelo Boi Ré-Ré e Vaca Ré-Ré. Eis um excerto onde é anunciado um passatempo onde ofereciam uma toalha alusiva ao Livro da Selva da Disney (estávamos nos anos depois do Renascimento da Disney e eles estavam em alta!): O programa gerou todo um filão de merchandising. O Buéréré e o Big Show SIC entenderam-se bem a um ponto em que chegavam a promover o Big Show SIC no Buéréré, tal como foi visto mais acima. Mas também houve uma epidemia de crossovers (mais baratos) entre os dois programas em CDs do Buéréré. Ana Malhoa e o macaco Hadrianno (ainda há milhões de pessoas que escrevem Adriano) num CD com os êxitos infantis da Ana Malhoa. A cassete A Turma Big Buéréré, com direito ao Big do Big Show SIC, um lançamento conjunto Espacial e Som Livre (a Som Livre em Portugal agora chama-se iPlay, e o nome foi adoptado uns anos depois do capital da Globo ter saído da SIC). E ainda um álbum alusivo ao rock; e o álbum Grande Pagode, aqui com o Hadrianno (que esteve nos dois programas) a acenar ao comprador do CD. Teve até direito a puzzle com os animais com a qual Ana Malhora apresentava, em estilo de desenho animado (era o que faltava, um desenho animado com o Boi Ré-Ré, a Vaca Ré-Ré, o Croko e a o Filipe, mas em Portugal raramente tivemos dinheiro para desenhos animados, e a RTP estava sempre a esbanjar o dinheiro todo). O programa também continha algumas rubricas que hoje em dia estariam reduzidas no Zig Zag da RTP, que já parece artificial. Tinha os Truques de Magia com Damião e Helena (que em 1998 passou a ser disponível em brinquedo para a pequenada emular), o "Eureka, agora eu sei" e conselhos de segurança. Também havia o Correio, onde enviavam desenhos para o Buéréré. Havia também este 0641 do Saúl em 1997. Candidato a meme do ano: Nesta fase de ouro, Ana Malhoa diz que, numa das emissões do Buéréré onde apresentou, chegou a fazer uma audiência de 92%, algo considerado impensável, até num programa infantil, numa altura em que a televisão dos mais novos não era artificial. Estava na sua fase de ouro, quando acordou de uma fase em que a indústria estava monótona. Até que, em pleno apogeu, o programa foi cancelado, devido a um alegado desentendimento entre Ana Malhoa e Ediberto Lima, pelo menos foi o que contaram no Maluco Beleza. A última emissão do Buéréré do formato antigo foi a 28 de Dezembro de 1998. Também, por esta altura, o Buéréré voltou às tardes mas das férias de Natal e sem apresentadores tal como a grelha em baixo o indica: No entanto, o Buéréré continuaria a ser emitido na grelha até 2002. Agora o Buéréré tinha sido despromovido a um mero contentor e tinham de passar agora o "bichinho" ao todo-poderoso Batatoon da TVI, que também passou por uma crise no seu auge (caso das agressões da qual a TVI quer esconder a sete chaves). O que fazer? Dar uma de "vamos fingir que isto existe", do Buéréré só aproveitar o genérico, meter copyright no fim e pronto, contentor feito! Mas quando o Iô-Iô surgiu em Outubro de 2002, os directores da SIC tiveram a brilhante ideia de atirar o Buéréré para Bué-Bué Longe. Perdão. Para BUÉRÉRÉ longe daqui! 2 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
OTalAntiquado Postado 22 de novembro 2018 Partilhar Postado 22 de novembro 2018 (editado) Fun fact: Descobri há dias pelo canal de YouTube Portuguese Retro TV que um ano depois da Ana Malhoa ter saído do Buereré, e este se ter tornado num mero bloco de animações, em 1999, a Ediberto Lima Produções, Lda. fez locuções e dobragens para canais de cabo, como People+Arts e Canal História. Isto pode ser comprovado, quando no fim ouvimos o locutor a dizer: "Versão portuguesa: Ediberto Lima Produções" num tom sério (o que faz com que seja estranho, porque associamos imediatamente ao Buereré, Big Show SIC e Muita Lôco). Por volta desses anos, a Dialectus também teve a sua marca-d'água no final de documentários, com: "Tradução e locução: Ideias & Letras", que ainda sobrevive nos dias de hoje, quando passa nesses canais. Editado 26 de novembro 2018 por OTalAntiquado Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
ATVTQsV Postado 22 de novembro 2018 Autor Partilhar Postado 22 de novembro 2018 Também na altura tiveram a real gana de legendar séries para o Canal Panda como o Doraemon. 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
D91 Postado 5 de outubro 2020 Partilhar Postado 5 de outubro 2020 Lembro-me de acordar cedo para ver o "Buéréré". Passaram neste programa desenhos animados que me marcaram muito como "Rugrats", "CatDog", "Dragon Ball", "Navegantes da Lua", "Sissi", etc. 2 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
D91 Postado 31 de janeiro 2021 Partilhar Postado 31 de janeiro 2021 Genérico do Buéréré em 2002: Um promo do Buéréré no final dos anos 90: Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
TV1_22 Postado 17 de dezembro 2022 Partilhar Postado 17 de dezembro 2022 On 05/10/2020 at 20:17, D91 disse: Lembro-me de acordar cedo para ver o "Buéréré". Passaram neste programa desenhos animados que me marcaram muito como "Rugrats", "CatDog", "Dragon Ball", "Navegantes da Lua", "Sissi", etc. Que depois foi para a TVI naquele bloco chamado "Sempre a Abrir"... 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
D91 Postado 17 de dezembro 2022 Partilhar Postado 17 de dezembro 2022 há 14 minutos, TV1_22 disse: Que depois foi para a TVI naquele bloco chamado "Sempre a Abrir"... Sim. E acho que também deu no "Batatoon". 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
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