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32: TV Cabo/ZON/NOS


ATVTQsV

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Dobrar o cabo. O cabo da televisão. Os anos 90 foram anos de vacas gordas para o velho continente que finalmente aprendeu dos mestres ingleses e franceses que era viável plantar uma indústria. Mas para um país de brandos costumes como o nosso, "plantar" uma indústria era complicado - pelo menos nos primeiros anos da televisão por cabo.

PRIMÓRDIOS

Antes da televisão por cabo chegar em força a Portugal, haviam dois canais em Portugal: a RTP 1 e a RTP 2. Quem vivia perto da fronteira apanhava a TVE 1 e a TVE 2. Quem vivia mais a norte apanhava um quinto canal a partir de 1985, a TV Galiza. Porém, nesta altura, houve uma revolução tecnológica na Europa: começam a emitir os primeiros canais por satélite cuja intuição inicial foi a de cobrir as ilhas britânicas (boa parte destes canais tinham sede em Londres e arredores) mas tinham intenções de expandir por territórios tão vastos como a Escandinávia. A isto juntamos a massificação dos vídeos e das cassetes em Portugal (eramos tão precários para ter um reprodutor de cassetes, mas privilegiados como o Afonso Gageiro e o LUSITANIATV tinham).

A adesão de Portugal à (então) Comunidade Económica Europeia foi a pedra basilar para a tele-democracia no nosso país - a eclosão do mercado do satélite na Europa, com inúmeros canais sediados no Reino Unido (SKY Channel, Super Channel, The Children's Channel, etc.) e noutras paragens como a Itália ou a Alemanha foram necessárias para que mais e mais portugueses instalassem umas antenas parabólicas que serviam para receber estes canais. Passado algum tempo só serviam de uso para canais alemães, turcos e árabes. Nesta fase, algumas comunidades chegaram a ter as suas próprias redes de "cabo", oriundas de empresas como a Contera ou a TV Babo. Eis que, para combater este grau de pirataria, o governo começa um projecto para começar a televisão por cabo em Portugal propriamente dita. Os primeiros projectos pilotos foram nas regiões autónomas: primeiro a Cabo TV Açoreana em 1992 e a Cabo TV Madeirense em 1993 - ano em que a TV Cabo é formalmente constituída, mas cujas emissões iriam arrancar no ano seguinte.

Porém, a primeira operadora de cabo no continente foi a extinta Bragatel, propriedade da TVTEL que mais tarde viria a entrar num processo de fusão com a ZON, e mais logo a Parfitel, cujas operações arrancaram em Leiria.

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1994

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A TV Cabo arranca oficialmente as suas emissões em Outubro. "O que seria do mundo sem a TV Cabo?", diz a TV Cabo no seu spot oficial de lançamento, à qual só existem partes do mesmo nesta notícia tirada de um 24 Horas de 28 de Setembro de 1994. A operadora arrancou com um pacote contemplativo de trinta canais,os quatro generalistas e 26 temáticos.

Canal 1, TV2, SIC e TVI
O que se sabe. Com imagem mais nítida, som mais claro. Da posição um, na TV Cabo, entregue ao Canal 1, à posição quatro, entregue à TVI. De acordo com a lei, os projectos Lusomundo-Multicanal e TVTel-Intercabo terão de distribuir também os dois canais públicos nos seus serviços básicos. A SIC e a TVI poderão ainda tirar vantagem dos distribuidores de cabo. Com a evolução da legislação do sector, elas poderão apostar, através do cabo, no desdobramento de emissões. Por exemplo: inverter a ordem dos horários nobres, rearranjar a programação de acordo com as áreas geográficas, núcleos de assinantes, tendo em conta classes sociais, escalões etários, interesses regionais, etc. Porém, passados mais de vinte e três anos, os tais desdobramentos nunca chegaram a acontecer.
Menu
Posição 5, na TV Cabo. O mosaico, ponto de partida para a escolha dos outros canais. Para os amantes do «zap», a possibilidade de ver, ao mesmo tempo, a programação de 13 canais, sem som, mas com muitas imagens.
Eurosport
Canal de desporto, com sede no Reino Unido (e na altura com donos franceses). Uma das revelações no satélite nos últimos anos. Da aeróbica ao futebol, do ténis ao golfe, ao boxe, ao voleibol, basquetebol ou ginástica. Uma espécie de CNN para o desporto (eventualmente o Rui Tovar ajudou a começar a emitir em português). Canal em língua inglesa. Na posição 6 da TV Cabo, também presente no menu da Bragatel, projecto local para Braga liderado pela TVTel.
DSF (89! Ruf an!)
Posição 7 da TV Cabo. O mesmo do anterior, mas sob o rigor alemão. Destaque para os acontecimentos na Europa Central. E para os campeonatos nacionais de futebol. O canal era também conhecido pelos anúncios a linhas eróticas. Por causa dos mesmo anúncios que passavam nos intervalos, boa parte do que as gentes portuguesas sabem de alemão são números. E "ruf(ig) an" (chama-me).
Cinema: TNT e Hollywood Channel
Dois canais num só, um complementar do outro. O TNT, com a oferta do grupo de Ted Turner (TNT e Cartoon Network foram lançados em simultâneo nos EUA), o Hollywood, com aquilo que a indústria americana tem para mostrar. Filmes, filmes e mais filmes. O primeiro, nas 12 horas que restam ao Children's Channel Cartoon Network (posição 10 no menu da TV Cabo), presta atenção especial aos «clássicos» dos anos 30, 40 e 50. O Hollywood prefere as superproduções. Nunca há intervalos para a publicidade. Mas a dobragem em castelhano, por vezes, pode ser um risco (é a segunda língua mais falada nos EUA). Nas primeiras semanas de lançamento do serviço poderão ser vistos filmes como «A Casa do Lago», de Mark Rydell, ou «Daddy Nostalgie», de Bertrand Tavernier. Pela madrugada dentro, pode surgir um ou outro filme mais ousado. Como o «clássico» «Por trás da Porta Verde», uma espécie de «Garganta Funda» discreto (o projecto da TVTel é que teve o bom senso comercial de arriscar o Adult Channel). A programação dos filmes é repetida regularmente. Um e o outro também estão presentes nos menus da TVTel.
Teleuno (actual AXN da América Latina)
Se é série produzida pela Aaron Spelling, está lá. Melrose Place, Beverly Hills 91210, Malibu 2010 são obrigatórias. Mas também as velhas produções norte-americanas com sucesso comprovado nas «hertzianas». É o caso de Dallas, Oito e Basta, O Barco do Amor ou Uma Casa na Pradaria. Ou ainda Burke's Law, North of 60, Acapulco Heat, Hearts of the West. Em castelhano. Um canal detido pela Spelling Satellite Network, em que participa a Blockbuster Entertainment, também detida pela Philips. Posição 10, no menu da TV Cabo. Entre as ofertas da Bragatel, projecto da TVTel.
Cartoon Network
Posição 10 no menu da TV Cabo. Os melhores desenhos animados cujos direitos de exibição a Turner Broadcasting Systems conseguiu comprar no mercado norte-americano. São 12 horas de emissão por dia em que os «clássicos» da animação se misturam com outros mais recentes -- os Flintstones, com o filme nos ecrãs, foram a sensação do Verão. Com um pouco de sorte, até um adulto se arrisca a ver os clássicos de Hannah e Barbera, Chuck Jones, Tex Avery. Às vezes nota-se a falta de contraponto com as produções dos estúdios da UPA (Mister Magoo e assim). Nas outras 12 horas ficam os filmes do TNT. Também presente na oferta do projecto TVTel.
Discovery
Há três anos, o Discovery atreveu-se a transmitir os documentários de John Ford sobre a II Guerra Mundial: o desembarque da Normandia, a guerra no Pacífico. Bastava isso para recomendar o Discovery. O seu passado. Mas o presente não vai mal. Com o aumento das redes de cabo, com as horas de emissão para preencher, investe agora cerca de 25 milhões de dólares, por ano, na produção de documentários sobre natureza, ciência a tecnologia. No canal 11 da TV Cabo, na lista de ofertas da Bragatel.
Travel Channel
O espírito da viagem, mais do que a descoberta de simples destinos turísticos. Tem rubricas como Holiday Destinations e Runaway with the Rich and the Famous. Mas deixa imagens dos Barbados, do Quénia, Nassau. Canal 12, na TV Cabo. Também na Bragatel, do projecto TVTel.
MTV (quando dava Music na Television)
Foi o exemplo máximo da «televisão pura» para uma personalidade como Andy Warhol, quando do seu lançamento nos EUA, no começo da década de 80. Nada mais tinha do que «videoclips» e publicidade. Hoje existem as suas variantes para a Europa, a América Latina, os países nórdicos... É a música anglo-americana, a sua oferta, e é com algum cuidado que arrisca outras aventuras. No canal 13 da TV Cabo, também na lista de ofertas da Bragatel, da TVTel.
MCM
Há cinco anos, François Thiellet, quadro superior da francesa Général de Depôts, propôs à administração da empresa aquilo que o mercado pedia, passado o sucesso da revelação da MTV: um canal que tirava a lição suprema da norte-americana (a exploração do «videoclip») e arriscava outras músicas para lá da norte-americana -- francesa, sobretudo, mas também africana, latino-americana e muitas mais. A Général de Depôts aceitou o desafio, como aceitaram os seus parceiros sociais, a Société Général des Eaux, o Canal Plus, a Lyonnaise des Eaux, a Polygram France e a Sony. Cinco anos depois, no mercado interno, a MCM («meu canal musical») lidera em relação à MTV. É também pela diversidade que, a partir de agora, a MCM se arrisca a levar música portuguesa: Madredeus, Pedro Abrunhosa, GNR ou Xutos e Pontapés. Agora, François Thiellet pensa no lançamento de um outro canal para satélite e cabo: um canal de jazz e música clássica. No canal 14 da TV Cabo, na lista da Bragatel do projecto TVTel.
Viva (ou para os leigos, Vava)
Participado pela Time Warner, a Viva tem base na Alemanha. Se algo o pode definir, passa pela mistura de conceitos entre a MTV e a MCM. Com música alemã pelo meio. No canal 15 da TV Cabo.
CNN International
É a CNN de Ted Turner, o canal de informação que fez do mundo uma «aldeia global». Conhecido entre os consumidores de televisão por satélite -- e não só. No canal 16 da TV Cabo. Também entre a oferta da Bragatel.
Euronews
A primeira resposta à produção de acontecimentos «made in USA» promovida pela CNN. Conta com a participação das principais televisões europeias (inclusive a RTP). Além de noticiários, os documentários, os magazines e o trabalho de divulgação das culturas europeias. No canal 17 da TV Cabo, também na grelha da Bragatel.
SKY News
A visão britânica da actualidade. De algum modo, «a CNN de Sua Majestade». Um canal já conhecido dos consumidores portugueses de televisão por satélite. Noticiários hora a hora. Na posição 18 da TV Cabo, na lista de oferta da Bragatel.
TVE Internacional
Uma espécie de RTP Internacional, muito mais variada e rica, na versão castelhana da televisão pública RTVE. Pensa no mercado latino-americano. Tem espaços de informação, inúmeras telenovelas, passatempos e muitos documentários e magazines de informação. Na posição 19 da TV Cabo, entre a oferta da Bragatel do projecto TVTel.
Galavisión
O «canal das estrelas» mexicanas. Telenovelas hispanas atrás de telenovelas hispanas. E música latino-americana, mais informação. Mas, de toda a programação, são os dramas de «estrelas» várias e de todas as «mulheres proibidas» aquilo que ressalta. Na posição 20 da TV Cabo. Também na oferta da Bragatel.
Rai Uno
Deu dores de cabeça a Berlusconi, o que só confirma o facto de ser «o canal de maior prestígio em Itália». Programação generalista, das séries norte-americanas (dobradas em italiano) aos filmes, dos documentários aos concursos, variedades, espectáculos e versões das telenovelas. E informação. No canal 21 da TV Cabo. Também na lista da Bragatel, do projecto TVTel.
Rai Due
Complementa a programação do primeiro canal da televisão pública italiana, com particular destaque para os filmes e séries norte-americanas. Preocupações maiores com a informação. E os grandes concursos. No canal 22 da TV Cabo; entre os escolhidos para o projecto TVTel.
NBC Super Channel
Exemplo da forte presença norte-americana na televisão por satélite da Europa. Uma programação centrada na informação (muito distante do início, a meio dos anos 80, quando os «videoclips» eram o lema, na era do Music Box que passou a ser o Super Channel), com escolha rigorosa de filmes, séries e magazines de divulgação. O canal em que a Europa se pode espantar com Jay Leno, o «entertainer» revelação da América no último ano. No canal 23 da TV Cabo, entre as propostas da Bragatel.
BBC World Service (BBC Prime)
A BBC por si só. O serviço público de referência na Europa. A televisão que criou séries tão importantes como Sim Senhor Ministro, Lovejoy ou documentários como «Arena, o Espírito de Lorca», de memória recente na televisão portuguesa. Uma selecção do que melhor a BBC One e a BBC Two mostram, nas emissões internacionais daquela que ainda se dá ao luxo de se definir apenas por BBC. Atenção aos sábados e domingos à noite: há teatro, drama e comédia. No canal 24 da TV Cabo.
TV5
Também na lista da Bragatel do projecto TVTel. Se se pensar no melhor que as televisões em língua francesa têm para oferecer, tem de se pensar no canal que o retransmite, por satélite, a TV5. Das produções de informação da belga RTBF, como Strip Tease, ao Sacré Soirée, espectáculo parisiense de Jean-Pierre Foucault. E, claro, Bouillon de Culture, de Bernard Pivot, com que «continuou» o seu Apostrophes. No canal 25 do menu da TV Cabo. Entre a oferta do serviço Bragatel.
BBC News (BBC World, que iria ser lançada em Janeiro do ano seguinte)
A informação da BBC. A lançar em breve. No canal 26 da TV Cabo.
Deutsche Welle
Informação e entretenimento, num canal em língua alemã. Mas também em castelhano, sempre que os produtos e os mercados o justifiquem. No canal 27 da TV Cabo.
SAT.1
Canal generalista alemão, um dos históricos da televisão por satélite. Séries norte-americanas, «clássicos» do cinema, magazines de informação, todas as séries e «soaps» norte-americanas que se podem ver (ou ter visto) na televisão portuguesa. Sempre dobrado em alemão. Na posição 28 da TV Cabo. Nas distribuidoras do projecto TVTel, como a Bragatel, terá um contraponto interessante na 3.SAT.
Junior
Canal de programação infantil em língua francesa. A lançar em breve. Na posição 29 da TV Cabo.
RTL (canal famoso pelo ataque da trungalhunga no início da década)
Conhecido dos espectadores portugueses de televisão por satélite. Tutti Frutti, há dois anos, a versão original de Água na Boca, chamou as atenções. Depois ficou a referência das suas «madrugadas quentes», os filmes e as séries de origem norte-americana. E o magazine de informação Explosiv. Uma peça no império CLT (parceiro da TVI), maior do que o Luxemburgo, onde tem sede.

Os outros que vão chegar
O alargamento da oferta de canais, nas sete operadoras da TV Cabo Portugal -- TV Cabo Lisboa, Porto, Tejo, Douro, Sado, Mondego e Guadiana --, deverá continuar com a inclusão das produções do Canal Plus (filmes e desporto. Será que Portugal iria ter o seu Canal+?). O Canal Plus, da Compagnie Générale des Eaux tem-se constituído, ao longo dos últimos quatro anos, como um dos maiores financiadores da produção da Home Box Office (HBO) e da Warner. Em 1995, os canais temáticos de outra participada da Time Warner, a HBO, poderão constituir uma oferta adicional das operadoras da TV Cabo. São eles o Cinemax (filmes), o Comedy Central (séries filmadas), Time Warner Sports e o HBO. A estes podem vir a juntar-se ainda a TF1, o Childrens Channel (canal britânico TCC), o Sky Movies ou o Family Channel (agora Challenge). Como nenhum operador, até agora, tem o exclusivo dos canais, estes podem também vir a ser oferecidos nos "pacotes complementares" de outros operadores. As sete distribuidoras da TV Cabo Portugal deverão distribuir o Sega Channel, que a Sega e a Time Warner lançaram nos EUA, no ano passado. A TV Cabo Portugal tem já um protocolo com os representantes nacionais da Sega, a Ecovídeo, para o lançamento regular do serviço, em Novembro. A partir dessa altura, Sonic, a personagem da Sega, terá um aliado em Fibras, a mascote da TV Cabo.

É em menos de um terço do território, que se vai aumentar a possibilidade de escolha de serviços. E não apenas de televisão. Aumenta-se a escolha, mas pode tornar-se cada vez mais difícil o acesso à informação.
Televisão por cabo
O mundo por um fio
Maria Augusta Gonçalves

É ainda a multiplicação de canais que marca o lançamento da televisão por cabo em Portugal. Uma espécie de pré-história do sistema, uma duplicação da oferta do satélite, sem problemas de sintonia, sem problemas de som ou de imagem. Porém, quando a legislação evoluír, pode-se ir mais longe: desdobrar emissões, procurar mercados específicos, ter acesso a espectáculos, a jogos, a vídeos, a todo o tipo de serviços, no sector das telecomunicações. Ter o mundo por um fio. A partir de Novembro, quando as sete operadoras da TV Cabo Portugal iniciarem a venda dos seus serviços, cerca de 30 mil pessoas poderão ter acesso à televisão por cabo. Em Dezembro, serão cem mil. Em 1995 assistir-se-á ao lançamento de outros projectos. Lideram-nos a Lusomundo, associada à norte-americana United International Holdings (UIH), na Multicanal, e a TVTel que prepara o início das emissões em Braga, ao mesmo tempo que estuda a instalação em Leiria, Aveiro e Vale do Ave. É um negócio que, no conjunto, envolve perto de cem milhões de contos. Um investimento que se faz, sobretudo, nas zonas de maior poder de compra: áreas bem definidas de Lisboa, Porto, Braga e Coimbra, não mais do que dois por cento do território nacional, onde se situa 40 por cento desse poder. E a tendência acentua-se. O alargamento do projecto da TV Cabo Portugal (86 concelhos até ao ano 2000, um investimento de 60 milhões de contos) processa-se de acordo com os mapas do maior consumo: as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, as zonas habitacionais de Braga, Aveiro, Viseu, Leiria e a faixa costeira até Setúbal têm a prioridade. Locais que tanto a Lusomundo como a TVTel também têm em conta. É aqui que se concentra 75 por cento do poder de compra. É aqui, em menos de um terço do território, que se vai aumentar a possibilidade de escolha de serviços. E não apenas de televisão. Ou seja: aumenta-se a escolha, mas pode tornar-se cada vez mais difícil o acesso à informação. Até agora, a lei que regulamenta o sector apenas permite a distribuição de canais existentes, em emissões integrais e simultâneas. Porém, a situação tende a evoluír. No Reino Unido, por exemplo, as operadoras de cabo também podem fornecer serviços de telecomunicações. Uma tendência que se verificará nos outros países da Comunidade -- basta que se sigam as recomendações para a liberalização e que se processe a desregulamentação do sector, marcada para 1997.

Canais a cabo
São 28, agora, os canais que as operadoras da TV Cabo Portugal vão distribuir, vão passar a 30, em breve, poderão chegar aos 40, ao longo do próximo ano (não cumpriram a promessa). A instalação custa 15 contos, a assinatura do serviço três mil escudos por mês. A Lusomundo, com a UIH ("holding" constituídas pela US West e a TCI; a terceira maior companhia telefónica dos EUA e o maior operador de cabo, respectivamente), prevê tarifas semelhantes para a venda dos seus produtos. Mas, acima de tudo, o que pretende é rentabilizar o que detém: uma carteira de programas, de direitos de filmes já legendados (representa sete "majors" norte-americanas, em cinema, vídeo e televisão) e os arquivos de dois dos mais antigos jornais. O grupo tenciona começar as suas emissões com a distribuição de um "pacote" de 20 a 30 canais. Mas sente que pode ir mais longe. Tem um argumento para lutar pela evolução da lei: o facto de ela prejudicar os operadores portugueses, ao favorecer a distribuição de canais internacionais. E tem vontade de investir até 30 milhões de contos no mercado português, nos próximos cinco anos. A TVTel, em associação com a Intercabo, do grupo Philips Media, propõe um conjunto de 30 canais que, além dos quatro nacionais, inclui ainda uma das maiores revelações dos últimos anos, o canal franco-alemão ARTE, ainda o Adult Channel e o Pro.7 (estes três não são comuns à TV Cabo), a CNN, o TNT Cartoon, o Discovery e o Hollywood, entre outros. O serviço básico da TVTel será constituído por 20 canais, sujeito a uma tarifa mensal de dois mil escudos. A este juntar-se-á um "pacote complementar" de dez canais específicos, pelo preço total de três mil escudos. A ligação da TVTel à Philips Media permite-lhe algumas vantagens. A companhia participa na Blockbuster, proprietária de empresas como a Spelling, de que se alimentam as televisões.

O fim da "caixa idiota"
Apenas a alteração da lei portuguesa, de acordo com as normas já desenvolvidas noutros países da Comunidade, poderá trazer à televisão por cabo a sua verdadeira dimensão. A ideia é ter acesso a todo o tipo de informação a partir de um simples cabo. E isso passa pela possibilidade de se constituirem canais específicos, televisões locais, fornecerem-se serviços de telecomunicações. A televisão por cabo promove a mudança de hábitos em frente ao ecrã. Quem a vê, poderá interagir com as imagens, alugar vídeos e jogos que lhe cheguem ao televisor, escolher os espectáculos a que quer assistir e o modo como os quer ver; poderá ter acesso a "bancos" de informação, seleccionar os seus próprios programas, construir a sua televisão. Não é por acaso que, no começo deste ano, a propósito das tendências de desregulamentação verificadas nos EUA, a britânica "The Economist" noticiava o fim da "caixa idiota". Ou seja, o fim da caixa que apenas recebe as imagens que lhe dão. Ao mundo de George Orwell, a revista contrapunha outro: "Big Brother is you, watching", escrevia. A dependência da televisão e as dificuldades no acesso à informação são agora os perigos que se detectam: se a televisão do passado era "o ópio do povo", a do futuro representará o mais puro "crack". É mais ou menos o fascínio de ter o mundo por um fio.

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@JDaman Obrigado, o meu alemão é demasiado "limitado", o máximo que sei são números, a que horas começa o horário nobre deles e "Esta é a Primeira Televisão Alemã com o Telejornal". Ouvi a tal expressão do "telefona-me" numa edição da Caderneta de Cromos mas não sabia como se escrevia. É tipo o dilema do keims/keips/whatever.

No entanto, vou ter de fazer uma confissão: se os mais "crescidos" pela Europa fora aprendiam números em alemão com aqueles anúncios do DSF à noite (sobretudo nos países de leste),eu aprendi algumas coisas de alemão com a RTL e o Viva. O Viva por esta altura só havia na Bragatel e o equivalente àqueles anúncios do "ruf mich an" eram aqueles anúncios a toques e jogos para telemóveis - foi com o Viva que soube que eles usam "Handy" para telemóvel. Ah, e um episódio do Paraíso Filmes tem uma sequência em que o TS está a ver um daqueles anúncios do "ruf mich an" - isto em 2001.

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1995

A TV Cabo, apesar dos planos megalómanos que teve para expandir no seu primeiro ano de existência, não chegou a terminar a sua lista de compras. HBO? Fora de Portugal. SEGA Channel? Não, não tínhamos paciência para um serviço de download de proto-internet. Canal+? A expansão para Portugal estava fora de questão. Até seria giro ver um HBO em Portugal, ainda por cima dava-nos a sensação de que Portugal estava mais à frente do que "nuestros hermanos".

O anúncio em cima foi basicamente o anúncio mais velho da TV Cabo que consegui encontrar. Pela sua duração digna de televenda da Ideia Casa (que tinha acabado de surgir na altura), falava basicamente sobre o quão moderno era a operadora. Porém, rastos do anúncio de 1994 que a lançou ainda são difíceis de encontrar.

Poucas foram as mudanças em 1995. Para já, no anúncio não aparece o Hollywood, que segundo os donos do canal foi lançado em 1995. Em vez, aparece um "Canal Cinema" que aparentemente tem o tipo de letra da TV Cabo - cheira-me a um canal próprio.

Obviamente, a TV Cabo, ainda com trinta canais, não chegou aos quarenta que tanto queria num espaço de doze meses desde o arranque das suas emissões regulares. Numa data desconhecida, um dos canais alemães (o SAT.1) foi trocado pelo Canal Fiesta, da qual não existem registos audiovisuais. A BBC World Service Television foi dissolvida em dois canais temáticos - BBC World para a informação, BBC Prime para o entretenimento.

No mesmo ano nasce a Guia TV Cabo - revista mensal que tinha as grelhas dos canais de televisão da plataforma. Igualmente, da mesma revista não consigo encontrar scans, uma pena.

Este anúncio foi provavelmente feito na mesma altura que o de cima, pois mostra a mesma edição da Guia TV Cabo (a primeiríssima).

Curiosamente, na retrospectiva do ano das empresas do grupo PT, na página alusiva à TV Cabo, aparentemente estava a testar mais sete canais, das quais dois franceses (Arte/La Cinquième e M6) e, pasme-se, cinco espanhóis (TVE 1, TVE 2, Antena 3, Tele 5, Canal Sur) que nunca viram a luz do dia. Porém, quem vivia na fronteira e tinha Cabovisão tinha os canais no seu pacote até as emissões analógicas terrestres acabarem em Espanha na Páscoa de 2010. E ainda há quem se anda a queixar dos direitos e tal.

Editado por ATVTQsV
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1996

Este ano foi marcado por mais uma expansão dos conteúdos em português: inicialmente em horas de consumo elevado, o Canal Cinema/Canal Hollywood era legendado, o Discovery era dobrado. E não, não era em português de Portugal, era em português do Brasil. Foi daqui que se inspiraram para fazer a Herman Geographic, primeiro na Herman Zap e depois na Herman Enciclopédia. Porém 1996 foi um ano que mudou os paradigmas ao conteúdo lusófono: uma nova empresa, a Multicanal TPS, empresa com sede em Espanha e detida pela ABC (que tinha acabado de ser comprada pela Disney) olha para o mercado português com grandes esperanças. O Canal Hollywood e o Panda Club são oficialmente lançados em Portugal em Abril, à qual seguiu-se o Odisseia/Odisea em Maio como o primeiro canal ibérico de documentários. Saem a SAT.1 e a Deutsche Welle para dar lugar ao Fiesta e ao Panda Club (o Fiesta chegou a estar fora da Guia TV Cabo porque tinha o pudor de não publicar a sua grelha). Entram também os canais franceses arte e M6. Houve também uma afronta aos donos da Teleuno e tiveram de o tirar da grelha, tendo sido substituída pelo canal HTV, dedicado aos ritmos hispânicos, que viria a ser substituído pelo Sol Música (que merece ter uma crónica sua). O ano acaba com a chegada do VH1 europeu à plataforma, para perfazer um total de seis canais de música (MTV (apesar de passar a ser semi-generalista para a juventude), MCM, Viva, CMT, HTV e VH1).

Em baixo podem ver um anúncio à TV Cabo gravado a 2 de Dezembro do mesmo ano:

 

 

Editado por ATVTQsV
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1997

Neste ano, a TV Cabo ainda não tinha chamado clientes suficientes para aderirem ao serviço:

de tal maneira que os seus anúncios em 1997 ainda tinham a aura de "novidade" de anos anteriores.

Nesta altura ainda não existiam os canais premium. É claro que a TV Cabo estava a estudar esta hipótese, a hipótese de ter um canal do género. No que toca a novidades, em 1997 tivémos:
-Em Janeiro, entra o Travel Latin America, da Discovery;
-o Canal Fiesta em Abril passou a Cine de Siempre;
-o HTV foi trocado pelo Sol Música;
-o Cine de Siempre fora trocado pelo Estilo/Vivir Viver e entrou também o Bloomberg.

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On 10/02/2018 at 15:55, ATVTQsV disse:

(eramos tão precários para ter um reprodutor de cassetes, mas privilegiados como o Afonso Gageiro e o LUSITANIATV tinham).

Não podemos esquecer do pai do @RQ7T, e por falar nisso. Eu e o meu pai trouxéssemos o leitor de betas dele, mas aquilo nem consegue enfiar as cassetes direito porque já tem 35! anos!

Editado por Vascof2001
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Igualmente nos primeiros tempos da TV Cabo pouca gente tinha o serviço, pois só algumas zonas tipo Lisboa, Porto e Braga é que a acediam. Não é como hoje em dia em que é tão banal. Se alguém fizesse scans de revistas da especialidade como a Guia TV Cabo era de valor. Pode ser que apareça um dia no OLX ou coisa que o valha, é material precioso.

Há muita informação sobre os primórdios da TV Cabo no Google Groups, informação ali entre 1995 e 2000. Porém, informações sobre como eram as grelhas das outras operadoras como a Bragatel ou a Cabovisão é impossível.

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  • 9 meses depois...

Graça Bau

Pedimos desculpa pela interrupção (comprida, também). Até ao fim da semana a parte relativa ao ano de 1998. No entanto, deliciem-se com esta entrevista a Graça Bau sobre a TV Cabo dentro dos limites do que foi contado até agora, um balanço de 1997, para o Jornal de Negócios.

Benfica estará no nosso serviço

Entrevista a Graça Bau, presidente da TV Cabo

O contrato entre o Benfica e a SIC não impedirá a transmissão de jogos do clube da Luz no novo sistema «pay-per-view» da TV Cabo. Será possível uma solução de compromisso. 
  
O presidente da TV Cabo está optimista quanto à evolução do negócio em Portugal. Graça Bau encara a concorrência como um desafio salutar em que todos saem a ganhar. A Cabovisão, dos canadianos da Cable Satisfaction e do BPI, é a principal concorrente.

Como correu o ano de 1997 para a TV Cabo?

  • Foram atingidos os objectivos que a empresa tinha estabelecido. A prioridade foi a expansão, nomeadamente a cobertura do país, que tínhamos iniciado há três anos. Atingimos 1,5 milhões de casas, conseguindo uma penetração significativa dentro desse mercado, o que se traduziu numa grande adesão de clientes ao serviço básico, o único que então disponibilizávamos. Pretendeu-se também consolidar a empresa e criar uma massa crítica de clientes que nos permitisse oferecer novos serviços que estavam em preparação e para os quais tínhamos feito alianças. Desta forma, conseguimos constituir uma base de suporte para nos lançarmos noutros negócios que consideramos urgentes, de modo a que o país acompanhe o que está acontecer ao nível europeu, nos EUA e na América do Sul.

Mas os clientes da TV Cabo ainda se encontram essencialmente no litoral do país...

  • A taxa de adesão tem sido boa, quando comparada com os padrões desta indústria no estrangeiro. No entanto, o nosso objectivo é que toda a população tenha TV Cabo em casa e isso ainda não foi conseguido. Estamos a avaliar tecnologias alternativas para oferecer um serviço ao nível nacional. O nosso objectivo é «cablar» dois milhões de casas, mas não existem dois milhões de casas economicamente «cabláveis». Além disso, não é tecnologicamente razoável «cablar» zonas imensamente dispersas. Quando o mercado da televisão paga estiver desenvolvido, poderemos então lançar novas operações, eventualmente via satélite ou de outras tecnologias de cabo sem fios, emissão de multicanal. Em breve teremos uma opção para cobrir o país inteiro com televisão temática paga.

Espanha optou por uma solução mista...

  • Espanha está a «cablar» as cidades e a estabelecer uma plataforma digital para cobrir o país inteiro. Além de problemas geográficos (a população espanhola é muito dispersa), houve também que solucionar questões legais na implantação do cabo. Mas, face ao histórico, Portugal terá uma posição mais dominante no cabo em relação a Espanha, atendendo basicamente à história de lançamento dos serviços.

A TV Cabo é uma distribuidora de comunicação via cabo ou uma produtora de conteúdos?

  • A TV Cabo foi criada para responder aos objectivos do Grupo Portugal Telecom (PT) que tem como objectivo uma evolução do seu pacote de serviços em consonância com aquilo que está a acontecer internacionalmente. A actividade da PT centrou-se, até há pouco tempo, na transmisão de voz e dados. Hoje, a PT quer ser um operador multimédia e entrar na produção de conteúdos e na distribuição destes. Deste modo, a TV Cabo assume-se como o braço de negócio da PT para o desenvolvimento e distribuição de conteúdos. Esses dois objectivos estão claramente provados nas opções que fizemos, nomeadamente na associação com produtoras de conteúdos. É um caminho que começámos a seguir quando nos aliámos à RTP e à Olivedesportos. Por outro lado, temos uma associação com a Globo e com a SIC na área dos outros conteúdos. E temos também um protocolo de acordo para vir a integrar a Lusomundo nesse bloco, para produzir conteúdos para a área Premium (cinema e séries).

E quanto a outros canais temáticos mais específicos?

  • O mercado nacional ainda não justifica o aparecimento de um microcanal. Estaremos interessados num canal desse tipo se tivermos parcerias e um mercado que se mostre interessado nesse serviço. Se tivermos hipótese de viabilizar um canal desse tipo, avançaremos num esquema de distribuição ampla ou codificada. Do ponto de vista da investigação e desenvolvimento, estamos aptos e abertos a estudar oportunidades, embora não seja nosso objectivo a implementação por nossa iniciativa. No entanto, pensamos ainda haver espaço para mais televisão temática em Portugal.

Como por exemplo?

  • Principalmente de informação genérica, regional ou social. As grande metrópoles de Lisboa e Porto poderão justificar a existência de um canal temático mais específico associado aos problemas das respectivas zonas metropolitanas.

Qual o valor da assinatura mensal dos canais «pay-per-view»?

  • Estão a ser realizados estudos de mercado. Queremos um equilíbrio entre um preço que tenha uma grande adesão, mas que remunere os investimentos efcetuados de modo a que a sociedade que fez o investimento venha a ter lucro conforme esperado.

Houve quem falasse numa assinatura mensal de 5 mil escudos para o canal desportivo...

  • Não creio que os preços atinjam esses valores. Estamos a tentar obter um preço que registe uma grande adesão. Sempre praticámos uma política de preços que leve as pessoas a aderir, no sentido de privilegiar uma política de poucos lucros mas com muito clientes, para, no global, conseguirmos atingir o « break even». A nossa visão não é, portanto, de curto prazo. O nosso projecto é nacional, rejeitando uma estratégia de lucros pontuais em determinadas áreas de intervenção. Provámos isso na estratégia de cobertura alargada da TV Cabo.

Para alcançar o objectivo de ter muitos clientes num canal desportivo, precisará obviamente dos benfiquistas. A TV Cabo transmitirá os jogos do Benfica?

  • Todos os clubes de futebol são imprescindíveis. Não tenho dúvida de que conseguiremos oferecer um serviço para todos os clubes.

O contrato entre o Benfica e a SIC não será um entrave?

  • O Benfica não tem contrato para o próximo ano. Tenho a certeza de que o Benfica estará no nosso serviço.

Como encara a concorrência no sector?

  • É muito positivo haver concorrência porque faz desenvolver o negócio. Com muitas empresas torna-se possível confrontar opções, as empresas aprendem e lutam, originando um melhor desempenho. É um desafio para todos e portanto julgo que toda a gente ganha com a concorrência. Sou fã da concorrência.

A Cabovisão, cujos maiores accionistas são a Cable Satisfaction e o BPI, é actualmente a principal concorrente?

  • A situação não é completamente transparente e por isso não estou por dentro da evolução. O nosso principal concorrente era a Bragatel. Recentemente, julgo que houve uma política de compras, que colocou a Cabovisão como concorrente número um da TV Cabo em termos de número de clientes.

Os projectos de desenvolvimento da empresa obrigam a novos investimentos. Estão a pensar em recorrer à Bolsa para os financiar?

  • A política de de financiamento é escolhida ao nível do Grupo Portugal Telecom, que decidirá a estratégia a ser operacionalizada pela TV Cabo.

Qual a sua opinião acerca do serviço TV Cabo Internet?

  • A nossa posição é de grande expectativa e de grande trabalho com clientes experimentais para o desenvolvimento de aplicações. Temos uma grande reserva relativamente às tecnologias disponíveis actualmente, pelo que não daremos nenhum passo com qualquer serviço em que não tenhamos confiança no produto e na tecnologia que estamos a oferecer aos nossos clientes. Teremos de aguardar por novidades no domínio da investigação e desenvolvimento. Portugal não tem capacidade financeira para fazer grandes projectos em que depois tenha de corrigir fortemente. Se nos EUA estes serviços estão em teste, não faz sentido tentar ultrapassá-los em Portugal. Não temos estômago financeiro para fazer uma coisa dessas.

«Wait and see»?

  • Não, «wait and work». Estamos a trabalhar numa óptica dos serviços e na relação com o mercado, pois os serviços e a relação com o mercado não dependem da tecnologia. Quando tivermos confiança numa tecnologia, quando houver sensibilidade por parte da gestão, atacaremos esse mercado com a força com que atacámos o mercado da TV por cabo.

A componente tecnológica é, portanto, fundamental...

  • Sim. Não queremos pôr em casa dos nossos clientes uma caixa que seis meses depois tenha de ser reposta. A tecnologia está a ferver e está no domínio dos laboratórios. Seremos cuidadosos nas opções a seguir.

Mas o potencial deste sistema é enorme...

  • Tenho muita confiança no futuro dessa tecnologia e acho que isso vai ser importante para o desenvolvimento do negócio do cabo em Portugal e das telecomunicações. Será um passo muito importante na evolução das telecomunicações. No entanto, há que ter cuidado. Muitos serviços rodeados de pouca expectativa conheceram um aumento exponencial, enquanto outros que eram aguardados com grande expectativa morreram. Dois desses exemplos foram, respectivamente, o telemóvel e o videotex.

Como pensa que vai correr 1998?

  • Vai correr bem. Faremos o possível para interagir com qualidade no mercado e para que o mercado reconheça a nossa competência e adira aos nossos serviços. Não vai faltar empenho, não falta força, não falta competência. Portanto, estamos optimistas. Mas a vida às vezes reserva-nos surpresas. O primeiro trimestre deste ano está a correr melhor do que o esperado, temos um desvio entre 30 e 40% acima do plano.

Pensa atingir o «break-even» ainda este ano?

  • Não, não é possível. Apesar de estarmos a ultrapassar as densidades de penetração médias ao nível europeu em muitos casos, ainda não será possível alcançar o «break even» durante este ano.

Então, para quando?

  • O nosso objectivo desde o início do projecto é atingir o «break even» antes do ano 2000. Algumas empresas do nosso grupo já terão condições potenciais para o atingir, mas nós privilegiamos o desenvolvimento, a inovação com confiança, mas com consciência de termos resultados no curto-prazo. Quanto mais inovamos, mais atrasamos o «break even», pois entramos em novos negócios. Há um jogo de privilégios de curto-prazo e de longo-prazo que gerimos com cuidado.

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1998

Para a TV Cabo, este foi o ano da tecnologia: o problema dos territórios dispersos foi resolvido com o lançamento da TV Cabo por satélite em emissões digitais, o que deu início à era da televisão digital em Portugal. Por outro lado, uma das pretensões da TV Cabo, a emissão de canais premium, foi concretizada. A chamada "televisão de Graça Bau", outrora "televisão do futuro", estava pronta para receber o século XXI.

Ou quase. A TV Cabo ainda emitia os seus serviços de cabo por via analógica, enquanto que a exclusividade da via digital era por satélite. Por falar em "via digital": esta combinação de palavras não vos parece familiar? Pois a TV Cabo satélite partilhava as frequências e o satélite da extinta operadora Via Digital, mas que grande bacanal. Chegou a haver a partilha de alguns canais temáticos e uma altura em que as emissões da TV Cabo eram captadas ilegalmente nos descodificadores espanhóis da Via Digital em regime legal, mas já volto.

A SIC, TV Cabo e Globo assinaram um acordo que criou a Portusat, uma filial da Globosat que deu início à internacionalização da Globo. Sem o GNT, não teríamos TV Globo Internacional. É basicamente o mesmo que as sextapes de Pamela Anderson não podiam ser as mesmas sem as chamadas Taveiradas do nosso célebre arquitecto Tomás Taveira, mas isto já é outra história de subestação.

Ainda no início do ano, houve um reforço na grelha: nasceu o Canal Programação, que era basicamente um canal de programação na sua primeira fase:
tvcabo.jpg

Ainda em Janeiro, a RTP África, que tinha sido criada como uma espécie de "canal 2" para os PALOP, o canal de economia EBN que não chegou a durar tanto tempo (por causa da fusão com a CNBC Europe no mesmo ano), o Canal Parlamento em regime experimental, o EbS - Europe by Satellite - que emitia sessões do Parlamento Europeu, a Fashion TV, a TV Galicia, o Muzzik e um pacote de quatro rádios: Antena 1, Antena 3, Rádio Renascença e RFM. Nada de Antena 2, para os puristas da música clássica, uma pena. O Canal Programação emitia a Rádio Comercial até à sua reformulação em 2001.

Eventualmente surgiram os primeiros canais premium: a SportTV (hoje escreve-se SPORT.TV, e o ponto é por causa de haver preguiça por colocar o ponto no meio (existe no Unicode) do nome), primeiro canal premium 100% português, e alguns canais premium que vieram com a parceria com a Portusat: dois Telecines e, mais tarde, o Sexy Hot. Mas o Sexy Hot é mais recente. Ainda surgiu o primeiro canal pornográfico premium, a Playboy, e (a pedido de muitas famílias) um canal para os quê frô, a Zee TV, cuja versão europeia emite de Londres. Já até 2008 para ter algum realismo àquilo, as emissões da Zee TV encontravam-se limitadas ao head-end lisboeta para atender o máximo de quê frôs (imigrantes indianos) possível. Quê frô?

A EbS e a Galavisión saíram. Viva o Vivir Viver/Climax (Íntimo a partir de 1999) e os dois canais ditos básicos da Globo, o GNT e o Canal Brasil. Já em Junho, para acomodar a chegada dos primeiros canais premium, retiraram as rádios da grelha.

Sobre o caso satélite: uma coisa que encontrei há uns anos foi uma série de relatos de espanhóis que viam - ilegalmente - os canais da TV Cabo na Via Digital. Ouvi relatos de que um telespectador chegou a apanhar Lupin III na RTP 2 e jogos da liga espanhola na SportTV, quando algumas empresas espanholas assinaram um acordo numa altura em que a concorrência tinha os direitos da liga, assinado antes da SportTV existir.

Ainda em 1998, quando a SportTV estava a dar os seus primeiros passos, houve uma zaragata de direitos de transmissão de um jogo do Sporting que gerou ao bloqueio da RAI Uno. Ao que parece apesar do sinal FTA estar codificado, nos operadores não era, pois tal foi o caso com a Fórmula 1, isto numa altura em que emitia por normas analógicas. Houve até uma queixa. Isto voltou a passar em 2006 com o caso do Mundial de 2006 na RTL e na M6 mas isso depois já vemos.

Editado por ATVTQsV
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  • 5 meses depois...
On 12/02/2018 at 13:10, ATVTQsV disse:

Este ano foi marcado por mais uma expansão dos conteúdos em português: inicialmente em horas de consumo elevado, o Canal Cinema/Canal Hollywood era legendado, o Discovery era dobrado. E não, não era em português de Portugal, era em português do Brasil.

Acredito que alguns canais disponíveis para o Brasil poderiam servir para Portugal como o HBO Brasil, Telecine (canal único que virou cinco em 1995), SporTV, Globo News, Multishow, MTV Brasil, ESPN Internacional, além dos sinais integrais do TNT e Cartoon Network (eles não dividiam canal no Brasil, cada um emitia em seu espaço). As operadoras de cabo, no Brasil, davam duas versões do TNT (TNT Dobrado e TNT Legendado). A Globo tardou em chegar à Portugal, os mexicanos já estavam na Europa com o Galavisión anos antes com suas novelas, programas de concurso e o famoso noticiário em espanhol ECO (aqui davam em três canais separados: ECO, Canal de las Estrellas e Telenovelas).

P.s.: O MCM e o TV Galícia Internacional estiveram disponível no Brasil em uma pequena operadora chamada TecSat entre 1998 e 2003.

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  • 3 semanas depois...

1999

Poucas foram as mudanças em 1999. Só entraram o Canal de História e o CNL. O Climax passou a ser o Íntimo e a TNT passou a ser o TCM. A 29 de Março o People & Arts substituiu o único Travel que havia na grelha (o europeu já tinha saído).

No entanto, a TV Cabo tinha agora uma plataforma da Telepac que trazia a internet para a televisão, a netbyTV, na prática um antecessor da Smartbox que viria a surgir no ano seguinte.

Em Março do mesmo ano, a TV Cabo começa a vender pelo menos um minuto por hora de anúncios, pelo menos nos canais que emitiam em português. À falta de exemplos direi apenas que o GNT, durante toda a sua existência, tinha como principal anunciantes as empresas da PT, sobretudo a TMN que aparecia em tudo o que era intervalo (a extinta Varig também tinha anúncios deles a passar no canal).

Paralelamente ao plano para lançar o CNL, havia também um plano para um Canal Porto (futura NTV e sem relações com o Porto Canal) com início previsto para 23 de Junho de 1999, com a emissão das festas daquela que para nós é a noite mais longa do ano, o São João. No entanto, o canal só arrancou com mais de dois anos de atraso (merece a sua própria THdS) e em Outubro arrancou o CNL, o primeiro canal de notícias produzido em Portugal.

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  • 3 anos depois...

Excerto do Canal da Programação da ZON em 2011.

De notar que na programação aparece algumas coisas estranhas, como por exemplo, nos 2:39 o TG1 das 12:30 (13:30 em Itália) estar escrito como Telegiornale... e qual é o canal que, aos 2:45 não tem logotipo (entre a RTR Planeta e a SIC Notícias)? Aos 3:10 o TVR News Bulletin deverá ser o Telejurnal... 

Outros detalhes:

O logotipo da TVE Internacional ainda era o de 2000 (?) até 2008.

Aquele canal do coelhinho para maiores tinha os nomes dos programas, hoje aparece como "conteúdo adulto".

 

O canal de Programação foi substituido pela Globo Portugal em 2012.

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