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15: SIC Radical


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Para ti, caro leitor, o que é que é radical? O que é que achas sobre o conceito do canal, de tudo o que pode caber num só canal que tem "radical" no nome? Posso ter feito um teste aos vossos nervos, mas o que é que este canal tem - ou tinha - de radical?

A SIC Radical era mais do que um canal, pelo manos até 2008. Era uma civilização onde éramos livres de fazer o que queríamos, era uma sociedade iconoclasta. Depois veio o Boucherie e começou a carreira do canal como um exemplo de "network decay" e o pior a nível português.

A SIC Radical foi um dos três planos da SIC para a TV Cabo: foi o terceiro, na sequência da compra da extinta CNL pela SIC e do lançamento da SIC Gold. De acordo com as palavras do próprio canal, "Radical" significava coisas diversas tipo "ser o psicólogo do Richard Gere", "ser uma versão feminina do Zorro" ou ""uma peúga que apresenta um programa de televisão".

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O canal arrancou a 23 de Abril de 2001, numa altura em que supostamente haviam menos regras do que se podia mostrar ou não na televisão portuguesa (nem a produção nacional foi salva!) e a sua grelha assentava num misto equilibrado entre produções americanas (South Park, A Quinta Dimensão, Howard Stern), Canadianas (normalmente cedidas pela então dona da City TV - SexTV, Fashion Television (nada tem a ver com a Fashion TV, o nome é uma mera coincidência), Eduardo Mãos de Peúga), uma ou outra série britânica (de preferência daquelas comédias mais ácidas que nem o Britcom da RTP ousaria passar) e anime. E alguma produção nacional, o que inicialmente assentava no Curto Circuito e na produção de mais programas do Templo dos Jogos e do Portugal Radical, outrora produtos da SIC generalista, desta vez emitidos num canal e em horários mais cómodos. Basta lerem esta crónica do Público para poderem ter uma ideia do canal nos seus primórdios.

O Curto Circuito era já um programa por referência, o programa estreou juntamente com o extinto CNL. Com o fecho do CNL foi transferido para o canal de programação da TV Cabo - que ainda no ano de 2001 iria assumir a designação de Canal 21 - para depois passar a integrar a grelha deste canal. Irei fazer uma THdS dedicada ao Curto Circuito um dia destes, e também uma para o CNL.

Porém, de acordo com uma notícia do Tal&Qual reproduzida em parte pelo Público, estava inicialmente negada a criação de uma versão portuguesa do formato canadiano Naked News. Só no ano seguinte é que o programa viu a luz do dia, com a feliz tradução do nome do formato para Nutícias.
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O Nutícias era um nuticiário curto (de cerca de alguns minutos) que era emitido dentro do "horário da bolinha vermelha" em que a mesma emissão repetia de hora em hora entre as 23 e as 4. No Canadá o formato era um site pago, mas em Portugal era tipo o Canal Íntimo, vulgarmente conhecido pelo calão lisboeta como o Canal 18: era do povo. O programa teve duas fases que duravam um ano cada: a primeira fase (2002-2003) era apresentado predominantemente por mulheres (entre as quais a Paula Coelho) a fazerem strip-tease à medida que o noticiário avançava. Lembro-me de apanhar um aos 4 anos e ficava consternado com o strip-tease. True story! Se calhar foi da minha idade e do facto de estar menos habituado a ver coisas deste género. A segunda fase era a fase da boneca virtual com pouca roupa, fase esta que gerou imensas críticas (e uma correspondência do Ricardo Araújo Pereira, que viria a ser a identidade do tal "Pipi" que fez uma outra correspondência para o Vivir Viver) pelo facto de terem mudado para pior. Desta não me lembro porque eu julgava que o Nutícias ainda estava na sua primeira fase. Estava enganado. O programa eventualmente iria ser cancelado em 2004.

Nos primeiros anos, a SIC Radical tinha vários temas por onde iam os programas deste canal. Os programas próprios (ou boa parte deles) não faziam parte dos blocos de programação (programas como o CC, o Max Música, o Cine XL, etc.), os talk-shows e séries também. No início a grelha assentava-se mais em produção estrangeira, tendo comprado programas do catálogo dos donos da CityTV (Eduardo Mãos de Peúga e versões programa dos canais Fashion Television (não, não é o Fashion TV, é outro canal canadiano) e SexTV - curiosamente os programas vieram primeiros e depois viraram canais). Os grandes blocos eram o Banzai, que era dedicado aos animes (quem tinha Cabovisão tinha acesso ao extinto Locomotion que na sua versão ibérica passava programas em português brasileiro, hue), o Mundo Perdido (séries de animação para adultos, esta era uma outra vertente do extinto Locomotion), a TV de Culto que passava séries antigas de culto e o Extraterrestre que passava séries de ficção científica. Algumas das séries viriam integrar o Medicina Alternativa. O canal passava conteúdo erótico, mas não pornográfico, no Mau Maria. Da grelha inicial do canal constavam o Mundo Perdido e o Banzai. Quando veio o TV de Culto passou a haver uma elevada massa de telespectadores "deslocados" da estética do canal, em particular de pessoas acima dos 35 anos.

A SIC Radical foi também uma incubadora de novos talentos e recebeu alguns talentos já existentes como o Rui Unas e o Nuno Markl. Num destes programas, O Perfeito Anormal (que tinha também a colaboração do Markl), nasceu o Gato Fedorento, que também vai ter uma THdS.

Ali pelos idos de 2005-2006, o canal renovou os seus grafismos pela primeira vez. Estrearam programas tipo a WWE, que iria ter mais um apogeu, e a série Family Guy, que era vista só por "privilegiados" na FOX. O canal permaneceu no mesmo estado por years on end.

Em 2008, a SIC Radical mudou o seu director de programas: o Ricardo Palacin saiu do canal para entrar na nascente Benfica TV e o cargo era agora o do Pedro Boucherie Mendes. Inicialmente as coisas correram bem, estrearam programas como o Fogo Posto e O Programa do Aleixo. Mas na backstage, um novo género de programa veio para (supostamente) "conquistar" a grelha: o reality-show americano. Estrearam programas tipo aquele em que vestiam fatiotas de super-heróis low-cost, o I Survived a Japanese Game Show (que na SIC Radical era "Kamikazes", que tradução) que iria gerar um "clone" imperfeito português na TVI e a versão americana de O Momento da Verdade, estrado para garantir o balanço da versão portuguesa a ser emitida na altura na SIC generalista. Lembro-me de ver e ficava com algum receio por causa da versão americana daquela voz sintetizada que dizia que a resposta era verdadeira ou falsa. Mas à medida que avançavam os anos, este tipo de programa iria ter mais "visibilidade" na grelha: enquanto passavam séries tipo South Park, Scrubs, Family Guy, a britânica Compromissos Commerciais ou a neo-zelandesa Bro'Town (lembram-se? era financiada pela New Zealand On Air. Não sei porquê, mas o separador antigo deles causa-me excitação) iriam surgir mais alguns programas que por esta altura começariam a infiltrar canais como o Discovery Channel. Programas sobretudo da Spike TV, lembro-me que no verão de 2010 (salvo erro) vi um programa deles que era o Manswers e fiquei estupefacto.

Dizia eu no já longínquo ano de 2008: "se existe uma SIC Mulher, porque é que não há uma SIC Homens?". Secretamente, a SIC Radical respondeu ao meu pedido e começou a longa rota deste canal no "canal da degradação" que é hoje em dia. Pensem no canal latino-americano Infinito, que passou pela mesma experiência, apesar do conceito-base original do Infinito ser de documentários e da SIC Radical ser um canal de entretenimento jovem. Também chegou a passar as TED Talks em 2010-2011, isto num canal com Radical no próprio nome? Porque é que não tiveram a primazia de colocar na SIC Notícias, que seria o lugar mais adequado?

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Pouco tempo depois de fazer dez anos (e de ter estrado Marés Vivas, que quando o canal nasceu ainda dava na TVI), o canal "despiu" o seu símbolo icónico mas a programação continuava em queda livre. E é o que o canal passou a ser.

TruTV. Spike. Discovery Channel. Mais uns quantos canais locais por país. São tantos os canais que passaram a ser daqueles canais de reality-shows para homens com tremenda virilidade, cujas grelhas consistem em programas tipo reality-shows daqueles incrivelmente maus, fakes e forçados, à qual se juntam séries espanholas da congénere espanhola da SIC, a Antena 3, e pouco ou nada a ver com o formato antigo.

Sejamos sinceros, se tivéssemos um canal da Atresmedia para compararmos com a SIC Radical, não seria um canal, seriam dois: o Mega e o Atreseries. O Mega porque o dito canal passa aqueles reality shows até à exaustão e o Atreseries por causa das suas séries.

Se a SIC Radical mantivesse os seus traços de nascença, o que é que teríamos? Basicamente uma versão portuguesa do Neox, onde até fariam tudo por comprarem os direitos da Teoria do Big Bang. Mas se continuassem com a produção de programas tipo o Cabaret da Coxa ou o Nutícias, aí sim é que teria censura: no Cabaret da Coxa, apesar de passar em horários dentro dos da "bolinha vermelha", iriam ter de censurar as asneiras todas, no Nutícias teriam de fazer tipo a fase da boneca virtual. Mas o que seria da SIC Radical se o Pedro Boucherie Mendes nunca chegasse ao canal?

Desde que eu escrevi esta THdS, vi que o canal continua a piorar, sobretudo em termos audiométricos. Nem a aposta na popular série dinamarquesa Borgen a salvou. O canal continua decadente e sem rumo certo.

Há utilizadores cá do fórum que desejam o seu encerramento. Ainda não sabemos se a SIC está disposta a proceder a tal.

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  • 1 ano depois...

A SIC Radical na sua prime foi talvez o meu canal de televisão preferido de todos os tempos. Bons velhos tempos em que passava o Raw/Smackdown, o Curto Circuito, o Vai Tudo Abaixo, os Gato Fedorento, o South Park, o Family Guy, o DBZ, o The Daily Show e bilhentas outras coisas que adorava. E quem me dera ter apanhado o Nutícias a sério também.

Uma pena que o canal tinha tido uma queda tão grande, mas enfim.

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