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A Valsa dos Loucos


Bloody

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Helena não fazia qualquer ideia onde estava metida. Só conseguia sentir o intenso cheiro a… morte. Não que o cheiro lhe fizesse confusão, já estava habituada ao mesmo. Mas assustava-lhe todas as imaginações possíveis que obtinha através daquele cheiro nauseabundo.

Não conseguia ver ou dizer alguma coisa, pois algo lhe tapava igualmente a boca e os olhos. Mas podia sentir o chão onde estava ridiculamente deitada. Estava frio, e provavelmente era constituído apenas por azulejos. Sentia também alguns detritos a rasparem pela pele dos braços descobertos.

 

- Acho que ele está acordada, Eduardo. – Ecoou uma voz na sala, de mulher. Helena não conseguiu reconhecer a voz.

- Tira-lhe as vendas. Se ela começar a portar-se mal, tapa-lhe apenas a boca. Quero que ela veja bem onde é que está metida. – Disse outra vez, esta sendo de Eduardo.  

A mulher não esperou mais e tirou agilmente a venda dos olhos de Helena. É como um raio de laser lhe atravessa-se os mesmos, pois já estava acostumada com a escuridão. Pouco a pouco, Helena abriu completamente os seus olhos, e pôde contemplar Eduardo, sentado numa cadeira de plástico mesmo à sua frente. Olhava muito atentamente para ela.

Entretanto, a mulher tira-lhe também a venda da boca. Era notável a raiva presente em Helena, que virou a cabeça para o lado, na tentativa de não olhar para Eduardo.

- Pensas que eu sou estúpido? – Perguntou-lhe ele. Não obteve resposta. – Nem precisas de responder. O teu plano falhou, consegui ser mais inteligente que tu. Parece que esse cérebro já não funciona bem… ou se é que funcionou desde que tu nasceste. - E Eduardo riu-se. Helena olhou para ele, como um predador para a presa. Embora ela fosse a real presa.

- Porque não me matas de uma vez por todas? Parecemos uns loucos a tentar arruinar a vida um do outro. Mata-me logo e pode honrar a vida da tua querida filha…

- Oh não, minha querida. O facto é que tu não sabes metade da história que me levou até aqui. Mas temos muito tempo para isso. Agora o mais importante é desfrutar do momento.

- Que história? – Inquiriu Helena. – Que história? A tua vingança?

Eduardo aproximou-se. – É uma vingança que surpreendentemente nos liga. Que nos liga como carne e osso. Uma ligação que promete ser inquebrável. Anda lá, Helena… eu pensava que tu eras mais inteligente do que isto...

 

Entretanto, não muito longe dali, Paula tentava a todo custo encontrar a sua amiga. Não havia nenhuma pista para onde o homem a tinha levado. A polícia pouco podia fazer. Foi quando percebeu uma agitação anormal na esquadra, quando chegou com alguns agentes. Parece que tinham encontrado algo: uma agente tinha desaparecido. Exatamente na mesma hora que Helena tinha, supostamente, desaparecido.

 

Helena não entendia nada do que Eduardo lhe dizia. Só me queres confundir. Não há nada que nos possa ligar, pensava.

- Imagino o que estejas a pensar, Helena. Não, não pode haver nada que nos ligue! Nós somos o completo oposto, como é que é possível? – Eduardo suspirou. – Mas há mesmo. Talvez a designação “A Terrível Lena” te consiga perceber o que realmente há entre nós.

Não pode ser… como é que ele sabe da minha alcunha da universidade?

- Oh sim, eu sei a tua terrível alcunha que te perseguiu nos seis longos anos da universidade. E até posso ter dito algumas vezes na tua cara, mas acredita, não foi por má intenção… Já estás a ver que ligação existe entre nós?

Desta vez, Helena não sabia o que pensar. Era simplesmente impossível que aquele homem soubesse tanta coisa da vida dela. Podia ter pesquisado, podia ter simplesmente recebido tais informações. Mas eram demasiadas informações para ele saber.

- Creio que ainda não percebeste o jogo. – Prosseguiu Eduardo. – Talvez eu ao dizer-te o meu primeiro nome, faça luz nessa cabeça oca… Carlos. Carlos Eduardo. 

- Não pode ser… - disse, finalmente, uma Helena angustiante. A verdade era pior do que ela imaginava.

 

VINTE ANOS ANTES

 

- Carlos… - disse Helena, ao entrar no seu quarto do campus da universidade. – Carlos! – Repetiu, ao notar que o rapaz não lhe prestava atenção.

- O que é que tu queres? O exame é amanhã e eu… - reclamou Carlos.

- Estou grávida. – Disse rapidamente Helena.

É como uma bomba tivesse rebentado entre eles. A desgraça tinha ganho proporções desastrosas, e chegou ao casal que quase ninguém conhecia. O choque era evidente no rosto de Carlos, que não conseguia dizer alguma palavra.

Helena começou a andar de um lado para o outro da sala. – Eu não posso ficar com a criança… tenho casa para pagar, as propinas… e os meus pais? O que dirão eles?

Carlos não acreditava no que ouvia. – Desculpa, mas eu também tenho poder de decisão! Não podes simplesmente querer não ter esse filho!  

- E o que é que tu queres, então? Que eu ande 9 meses com isto na barriga? E o meu curso? E o meu futuro?! – Dizia Helena, que aumentava de voz.

- Mas é o meu filho que está aí! Não quero que que ele morra!

O casal discutiu o resto do dia, até o sol se pôr. Chegou à conclusão que sim, era uma questão inevitável ter o bebé. Para o bem exclusivo de Helena.

 

ATUALMENTE

 

- Pode ser pode. – Continuou Eduardo. – E eu que fui tão burro, ao pensar que irias recordar que tens, ou tiveste, uma filha! Que podias contemplar os olhos dela, e perceberes que o teu passado não, e nunca deve, ser esquecido! Um acidente que demorou tanto tempo a ser planeado, para depois a minha linda boneca morrer… por tua culpa!

- Tu és louco. Sempre soube que ter posto aquilo no mundo só ia trazer problemas…

Eduardo correu até Helena e esbofeteou-lhe. – Cala-te, vadia! Era minha ideia voltar a ter uma vida normal contigo! – Helena desta vez manteve-se calada. – Mas já estavas casada, com aquele Francisco da outra faculdade… sou tão burro! – Eduardo então abriu um sorriso. – Mas eu tenho o final perfeito para ti, minha linda. Pode não ser comigo, mas também não vai ser com outro qualquer, outra vez.

Então, Eduardo virou Helena, colocando-a à frente do que parecia ver vidros negros. Subitamente, os vidros ganhavam vida, e é possível ver o que está lá dentro.

- O destino que eles tiveram, é o mesmo que tu irás ter. – Sussurrou Eduardo no ouvido de Helena, que, pela primeira vez, sentiu que já não restava esperança nenhuma dentro dela.

E a outra mulher voltou a tapar-lhe os olhos.

 

---

 

 

E é esta a verdade por trás da vingança de Eduardo... a morte da filha dele, e de Helena! O que será que irá acontecer a ela? Conseguirá ser ela salva a tempo por Paula? Terá a agente desaparecida ligação com Eduardo? Não percas as respostas amanhã com o episódio Aquelas Certas Horas no Inferno!

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A história está de volta! Depois de um pequeno período, eis que volta para o seu 6º episódio. :)

 

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Aquilo que Helena apenas conseguia ver era seis corpos, pendurados numa grande barra, muito perto do teto da pequena sala. Logo entendeu de onde o cheiro nauseabundo que no início cheirou, e que continuava a cheirar, vinha. Daqueles corpos, possivelmente num elevado estado de degradação.

Era difícil identificar de quem se tratava, pois o estado em que se encontravam não permitia tal coisa. Eduardo, que se encontrava não muito longe de Helena, voltara ao local, desta vez com uma máscara na sua cara.

- Não consegues dizer-me quem são? – Disse, com uma voz grave devido à máscara. Helena não respondeu. – São os teus ex-colegas. Aqueles que trabalhavam contigo há cinco anos… - Eduardo riu-se para si. – Interroguei um a um, para saber onde estavas metida. Só este último… - e apontou que estava mais à esquerda – me disse tudo. Foi bom vê-los sofrer. Mas tu irás passar por bem pior, portanto não fiques a pensar neles.  

Helena não podia acreditar, agora que conseguia reconhece-los. De facto, cada corpo que ali estava pendurado era um dos seus colaboradores, enfermeiros do hospital quando trabalha em Lisboa. Isto é um pesadelo, isto é um pesadelo, pensava para ela. Um pesadelo que durava imenso tempo, e parecia não acabar.

 

Eduardo então foi para o outro lado da sala, onde algo grande estava tapado.

- Sabes, - disse ele. – Por vezes os médicos precisam de umas boas aulas de costura. Por vezes eles não sabem fazer uma porcaria de uns pontos em cortes nos corpos das pessoas, suas pacientes. Eu estou aqui para lhe ajudar, senhora doutora. – E destapou a tal coisa, a mesma revelou-se ser uma grande máquina de costura. – A aula vai agora mesmo começar. – Terminou ele.

Entretanto, Paula, nos estabelecimentos da polícia, tentava encontrar alguma forma de chegar a Helena. Deus sabe o que aquele maluco pode fazer. Das mil e uma formas que pensou em encontrar a amiga, nenhuma parecia-lhe satisfatória.

Subitamente, parece que o seu cérebro ganha luminosidade. Só podia haver aquela forma. Sabia que podia lá chegar. Como é que ninguém tinha pensado nisso? E, não hesitando, Paula fala com os polícias. Pergunta-lhes o que acham da sua ideia. Estes falam entre si muito rapidamente, acabando por acenar. Estavam prontos a começar.

Na pequena sala escura, Eduardo caminhava pela mesma, enquanto dizia ideias soltas. Helena continuava, em pé, a encarar a máquina. Não se atrevia a mover-se, nem um centímetro.

- Um dos problemas existentes nos médicos neste país é que, por mais que o problema seja grave, eles teimam em dizer às pessoas que “está tudo bem”. Mesmo que eles saibam que a pessoa vai morrer, repetem a mesma frase… “está tudo bem”! E não param de o dizer, o que é horrível. Horrível! Porque não dizer logo a maldita verdade?!

Na realidade, Helena estava a tentar ignorar tudo o que aquele homem dizia. Embora fosse verdade, e Helena sabia que o era, tinha que ignorar. Eduardo continuava:

- Mas há mais problemas, obviamente. Para além disto, os terríveis médicos teimam em fechar os olhos nas situações mais dramáticas. Se vem algo mais complicado, e não sabem o que devem fazer, a melhor solução é apenas fechar os olhos! Querem eles lá saber! – Gritava. Entretanto, para de falar e começa a encarar Helena de lado. Ao aproximar-se dela, sussurrou-lhe no ouvido: – Como disse, hoje pretendo ensinar, nem que seja à porra de uma médica, como ser um melhor profissional. Vais ver e sentir, e irás te tornar numa pessoa bem melhor.

Helena desviou-se do bafo sufocante que vinha de Eduardo. Este, irritado por não ter uma resposta, ligou a máquina, e olhou para Helena com desejo. Tudo o que tinha sonhado iria agora se realizar.

- Cátia, liga a máquina. – Disse Eduardo, virando-se para a cúmplice. Nada me irá deter.

 

UMA HORA DEPOIS

 

- O sinal parece permanecer aqui. – Disse o polícia loiro, que mantinha o portátil consigo. Ao seu lado, no volante, estava um outro polícia, um moreno. Atrás deles estava Paula. À frente do carro, estava um pequeno armazém, sem algumas janelas. Apenas um grande portão.

- Eles certamente estão lá dentro. – Observou o polícia moreno, enquanto analisava o portátil. – O que sugeres que façamos? Pedimos reforços? Só somos dois… - e olhou estranhamente para Paula. - Três.

- Não podemos pedir reforços, pode ser muito tarde. Sabe-se lá o que estes dois maníacos podem fazer até eles chegarem. O que sugiro é que entramos de rompante e apanhá-los de surpresa. Disparar sobre eles se preciso.

- E como sabes que eles não estão armados? – Inquiriu o moreno. - Pode haver mais pessoas!

- É por isso que vamos entrar de surpresa. Eles não irão ter tempo suficiente para poder reagir, quem for que lá esteja.

Os dois polícias encaram-se um ao outro. Aquela parecia ser mesmo a melhor maneira.

- Ao ataque então. – Respondem.

 

15 MINUTOS DEPOIS – DENTRO DO ARMAZÉM

 

Eduardo estava, plenamente, feliz. Sentia-se incrivelmente bem. Era impressionante como um sentimento, que com o tempo fora desaparecendo, voltasse como um raio para o seu corpo, para a sua alma, para o seu espírito. À frente dele estava a sua magnífica obra de arte. A obra-prima. A obra que, mesmo que ninguém a conhecesse, era para ele a coisa mais bonita alguma vez feita, em todo o mundo.

- Pronto, Cátia. – Finalmente disse para a sua colega. – Já está tudo feito. Podes ir para casa, reunir-te com a tua família. Foste uma preciosa ajuda nisto tudo, e sempre que quiseres, terás a mim como um amigo pronto a proteger.

Cátia não pensou duas vezes, e rapidamente abandonou a sala. Estava em choque, e Eduardo sabia disso. Mas não queria saber, e continuava a encarar o seu trabalho.

 

Abruptamente, um estrondo ecoa por todo o armazém, seguindo-se por vários estrilhos. O grito de Cátia percorre todas as paredes ao mesmo tempo que dois tiros são soados, que sufocam o grito. Eduardo levanta-se demoradamente e ri-se para si mesmo. Estava mesmo à espera.

Os dois polícias não demoram a chegar à sala do homem. Ao chegar à porta, fechada, esperam um pouco, com esperanças de ouvir barulhos.

Silêncio.

Então, não hesitaram. Ao abrir a porta violentamente, dispararam dezenas de balas em Eduardo, que, de costas para eles, cai no chão. Os polícias ainda se mantém longe dele, avançando pouco a pouco, até se depararem que o homem está morto. Morreu com um sorriso no rosto. Morreu de felicidade.

Porém, aquele não era o único corpo presente naquela sala. Do outro canto, estava outro, dobrado, nu, completamente arrepiado. Termia por todos os lados.

- Helena? – Disse o polícia louro. O corpo então moveu a cabeça lentamente, e ambos os polícias tiveram o maior susto de sempre nas suas vidas. Aquilo não era sequer um corpo. 

 

---

 

O enredo está já quase a acabar! Não percas os últimos dois episódios este fim de semana, onde haverá um último confronto entre Helena e Eduardo... sim, porque isto ainda não acabou! Quem vencerá? Quem irá perder? A única coisa que posso adiantar é que...

 

... só um sai vivo! Quem será?! Está atento, surpresas não faltarão!

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                Os doutores não sabiam o que fazer. Aquilo ia muito além do que estavam prontos a fazer. Aquilo parecia nem ter sido feito por pessoal racional, ou uma pessoa sequer. Era demasiado grotesco, demasiado maligno, demasiado malévolo. E certamente teria consequências que iriam durar a vida inteira de Helena.

 

Os dois polícias que a encontraram não aguentavam mais perguntas. Antes de se considerarem heróis, por terem salvado Helena, precisam de explicar pormenorizadamente aquilo que encontraram, embora aquilo que encontraram estivesse bem à vista de todos.

- Nós encontrámos-lha mesmo assim. – Continuavam a dizer. – Não interferimos no seu estado. Em qualquer aspeto.

E então, Helena era mais uma vez vista. O choque, o terror, todas as vezes atingiam como bombas atómicas. Era um monstro que era analisado. E esta finalmente percebeu o discurso todo que Eduardo lhe fez, em relação aos médicos não falarem o que deviam falar, não verem o que deviam de ver.

 

Os olhos de Helena estavam cuidadosamente, e perfeitamente, costurados. Estavam completamente unidos por um pequeno fio. Não conseguia abrir os olhos, e a dor acertava-lhe fortemente se tentasse. Agora mantens os olhos fechados… nada muda entretanto... imaginava Helena a voz de Eduardo.

Porém, não eram só os olhos que estavam neste estado… a sua boca também. Para que desta forma Helena não fale nada. Como há vinte anos atrás, em que nada falou.

Helena, porém, surpreendia-se com o seu estado. Não tinha sentido qualquer dor ao longo de todo o processo. Não seria o objectivo principal de Eduardo? Fazê-la sofrer? Ou quereria ele que Helena tivesse o sofrimento só depois de ver o seu estado? Pelo menos ele estava morto, e isso era certo. Era uma pequena parte para o alívio.

 

Dias passaram, e entretanto tudo correra pelo melhor. Os médicos tinham satisfatoriamente tirado tudo aquilo. Helena, porém, mantinha-se no hospital, com medo de voltar ao mundo real. Teria que voltar de qualquer forma. Faltava pouco tempo para receber a alta pelos médicos. As cicatrizes não sairão tão cedo… pensava Helena. É uma maneira de recordar tudo aquilo que mudou, mais uma vez, a vida dela.

 

Paula visitava muitas vezes a amiga durante o seu internamento. Era a única visita que Helena tinha, o que lhe reconfortava bastante.

Numa das visitas, Paula perguntou a Helena sobre o Eduardo. Era inevitável não falar dele, e imperativo deixar tudo clarificado.

- Mas, Helena, eu apenas não entendo o que te fez levar tanto tempo junto dele… ele não te tratava mal? – Interrogou a amiga.

Helena respirou fundo antes de responder. - Por momentos, Paula, eu pensava que ele era mesmo o tal. Depois de tanto tempo com vários rapazes, pensava que aquele podia vir a ser o principal, que me iria fazer feliz para o resto da minha vida. Ao terminamos os nossos cursos, podíamos viver a nossa vida como um verdadeiro casal, cada um com o seu emprego… - Suspiro. - Mas depois veio a maldição da gravidez. Devias de ver como ele mudou. Parecia que a maldita da bebé era a vida dele, e não queria saber de mim! Então, já no meio da gravidez, e no limite de poder fazer o aborto, ameaçou matar-me se não tivesse a bebé. Não tive outra escolha senão ter aquele diabo… - Outro suspiro. - Depois do nascimento, não soube mais nada deles, eles desapareceram. Os meus pais nunca souberam nada disto, nem tão pouco podiam. Então depois consegui fazer o resto do meu curso, deixando este triste episódio para trás… Não podia deixar que isto arruinasse o meu futuro, era tão promissor! – Quarto suspiro. - Até que este passado esbarrou-me e… bem, olha no que veio dar. Homem morto, filho morto, eu meio morta. Enfim, talvez tenha sido o destino, não sei. 

Paula entendia a amiga, embora pouco mais pudesse fazer por ela.

- Tu se quiseres, depois de te darem alta, podes vir para minha casa. Já está tudo em ordem lá no bairro, embora a tua casa… bem, não reste nada dela.

Helena ficou como que iluminada. Embora saísse do hospital, estar fechada na casa da amiga era um bom cenário de imaginar. Estaria longe de todos.

- Parece uma ótima ideia. – Disse, aliviada. – Obrigado por tudo, Paula.

 

UMA SEMANA DEPOIS

 

- Realmente, não restou nada dela. – Observou Helena, enquanto passava de carro ao lado daquilo que era, antigamente, a sua casa. – Ao menos foi-se já tudo, não iria querer nada que me prendesse ao passado.

Paula olhou para a amiga, com um olhar doce, pegando na mão de Helena. – Tudo irá correr bem, não te preocupes. O homem já morreu, não há nada que te irá prender.

- Cremado, disseste tu?

- Sim, ele foi cremado. Parece que não o queriam enterrar na terra dele, estava tudo revoltado… nunca vi nada assim.

Tomara, pensou Helena. Olhou-se ao espelho. Pelo menos já se tinha habituado ao seu novo rosto picotado. Isto passa… lentamente, mas lá deve passar.

 

TRÊS DIAS DEPOIS

 

- Helena, vou sair. – Ouviu-se um berro da cozinha. – Tens o almoço pronto no frigorífico, é só tirar. Qualquer coisa não hesites em ligar-me! – E uma porta fecha-se com brutidão. Helena acordou com o barulho.

Ele morreu. Não temas nada. Este era o primeiro e novo pensamento quando Helena acordava. Não havia um único dia em que pensasse coisa diferente. Depois disto, ganhava forças para se levantar e começar um novo dia – mesmo que o dia fosse estar fechada na casa da sua amiga.

Foi para a cozinha, estava cheia de fome. Decidiu fazer tostas mistas, quando o telefone tocou repentinamente. Talvez seja Paula. Esquecera-se de algo. Porém, quando Helena chegou ao telefone, este desligou-se.

Bruscamente, vem da cozinha vários barulhos – estaladiços, como que se alguém partisse a janela – e um baque profundo. Helena não hesita a ver do que se trata, encontrando apenas um grande tijolo no chão e vários vidros. A janela estava completamente partida. O tijolo vinha com um aviso, escrito com letras maiúsculas.

 

DA PRÓXIMA VEZ, ATENDE O TELEFONE

 

E este toca outra vez, assustando a mulher. Isto não pode estar a acontecer outra vez!, pensou, dirigindo-se a ele. Parou à frente do aparelho, observando-o. O telefone não parava de tocar. Chamava um número desconhecido. Com as mãos a tremer, Helena pega no telefone, e encostou ao ouvido. A voz que saiu de lá era inconfundível. Era, também, de família.

- Mãe?

 

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E é assim que está aberta a porta para o final de A Valsa dos Loucos, a postar já amanhã. Não percas, pois surpresas esperam por ti! Quem terá o melhor final? Quem irá morrer? Tudo será desvendado no último episódio, A Derradeira Valsa!

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Vou? Não vou? Tens o teu filho em perigo. Pode ser uma emboscada. Podem ir atrás da Paula. Mas ele não morreu? Polícias incompetentes.

               

A cabeça de Helena enchia-se destas, e de outras perguntas, enquanto o tempo passava. Ainda mantinha um pequeno papel nas mãos, o mesmo encontrara preso ao tijolo, que firmemente dizia que o seu filho ainda estava vivo. Atrás dele, estava escrita uma morada, que Helena desconhecia do que se tratava.

                Nunca houve um momento, em toda a vida de Helena, em que ela se sentisse mais dividida do que este. Deveria ir, ou não deveria ir? Estará realmente o seu filho? Será que não, e é uma armadilha para Helena?

                - Ficares aqui fechada sem fazeres nada, não irás saber realmente o que se passa. – Diz Helena para a parede, ouvindo mentalmente a voz do médico a ordenar “descanso profundo”. A esperança de uma mãe é algo difícil de ser quebrada. Rapidamente arruma a sua mala com o mais importante, e saí do quarto do apartamento alugado por Paula. Não havia tempo a perder.

 

                Felizmente, Paula não tinha levado o carro para o seu trabalho, para espanto de Helena. O mesmo tinha o GPS lá colocado, a que Helena não hesitou em lá colocar a morada escrita no papel. Um caminho foi desenhado, mostrando que o destino não estava a uma grande distância de onde o carro estava estacionado. Helena liga então o carro.

               

Meia hora depois, Helena chega ao local. O mesmo não lhe é desconhecido: trata-se de um grande descampado, com algumas árvores de carvalho e pinheiros, e um grande armazém no centro do descampado. Era o armazém em que esteve sequestrada por Eduardo.

                Helena, decidida a ir para o armazém, sai do carro, caminhando para o edifício velho. Ao parar à porta do mesmo, encosta o seu ouvido à pequena janela, na tentativa de ouvir quaisquer sons de lá. Silêncio.

                Não há tempo a perder, pensou ela. Então, decidida, arromba com a porta do armazém com um pontapé. O barulho espalha-se pelo armazém todo, e a entrada fica desimpedida. Está tudo na mesma, percebeu Helena, lembrando-se daquele lugar quando saiu do mesmo.

                De lá, uma ténue voz começou a sair. Helena conseguia ouvir tal voz, mas não entendia o que dizia. Seria o filho, a pedir por ajuda? Ao entrar no armazém, a voz tornou-se mais nítida e revelou-se de ser um rapaz. Seria certamente do seu filho.

Subitamente, a voz ganhou força, e gritou bastante alto. – MÃE!

É como se explodisse algo no interior de Helena, que correu para a voz, a mesma não parava de gritar o mesmo: MÃE, MÃE, MÃE!

Helena não sabia por onde ia, apenas corria. A voz parecia estar a ficar cada vez mais próxima, que, por um lado, confortava a mulher. Uma parede surge então, e Helena para na mesma. A voz parecia mesmo vir dali. Repetia sempre o mesmo.

Não há por aqui uma porta?!, pensava Helena, enquanto procurava ansiosamente por uma porta. Conseguiu encontrar já no fundo da parede, que ligava à parede lateral do grande armazém. Estava destrancada e Helena não hesitou em entrar. 

 

- FILHO! – Gritou, ao deparar-se como que estava na sala. Era a mesma onde esteve presa com o Eduardo. O seu filho, Rafael, estava pendurado no teto, ainda vivo. Continuava a gritar, porém, não se ouvia nada. Helena correu até ele, esbarrando-se no meio do caminho. Uma parede transparente separava-a do seu filho.

 

Da sala, várias ouves começaram-se a ouvir: MÃE, MÃE! Rápido Filipe, vai ajudá-lo, ai meu… MÃE, MÃE! Rápido, Filipe, vai ajudá-lo, ai meu… MÃE, MÃE! Rápido Filipe, vai ajudá-lo, ai meu… MÃE, MÃE! Rápido, Filipe, vai ajudá-lo, ai meu…

Era uma gravação, que se repetia constantemente. Helena conhecia aquela gravação, foi quando gravou, inesperadamente, uma queda do baloiço de Rafael, quando tinha três anos. Filipe, o seu marido, estava consigo. A voz que ouviu quando entrou no armazém era uma gravação.

Helena começava a desesperar e tentou encontrar algo na sala que tentasse partir aquela parede transparente, mergulhando no chão. A sala estava completamente vazia.

 

Subitamente, a porta por onde Helena entrou fecha com brutidão, e é trancada. Helena levanta-se e corre para a mesma, encontrando, do outro lado, a cara que menos esperava encontrar: Paula, a sua amiga.

- Paula! PAULA! Tira-me daqui! – Gritava Helena, através de uma pequena janela. Paula, porém, não fez nada.

- Helena, Helena… - Respondeu a amiga, abanando a cabeça. – Durante todo este tempo, não conseguiste entender, pois não? – A outra mulher calou-se. – Irás entender. Está atenta, essa gravação não é a única que irá sair dessas colunas. – Concluiu Paula, que afastou-se, dirigindo-se para a porta do armazém. Helena continuou a berrar pela amiga, mas não conseguiu nada. Tentava abrir a porta, mas não conseguia.

A gravação entretanto mudara. Helena olhava para o teto, atenta às palavras:

 

Helena. Finalmente, chegou os teus últimos momentos de vida. Depois destes acontecimentos, deverás querer adormecer no interior da tua tragédia que foi o teu período enquanto uma pessoa viva.

As palavras eram de Paula, atentou Helena. A voz era única.

A vingança é algo que é preciso ser-se tomada, Helena, por isso peço perdão por todos estes acontecimentos que viveste. Sabes que é algo que consome a alma, e é preciso rapidamente ser resolvida. Mas não duvides que tudo o que fiz foi porque tu mereceste.

Helena olhou para o filho. O filho parou de tentar gritar e chorava compulsivamente. A gravação continuou:

Vamos lá assentar o assunto, que deves estar confusa. Então mas não estava o Eduardo morto? Não estava o homem que te atormentou durante todos estes anos cremado? Bem, na verdade, um homem está cremado. Entretanto, lamento informar-te que não é o Eduardo. Esse continua bem vivo.

O choque apoderou-se do corpo de Helena. Ele continuava vivo, quem lhe perseguia recentemente revelou-se não ser Eduardo.

A verdade, amiga, é que o Eduardo esteve mais perto de ti do que tu imaginaste. Podes encontrar as respostas a isto no canto dessa sala. Procura, eu dou-te algum tempo.

Helena olhou pelos cantos da sala. De facto, num dos cantos, algumas folhas amarrotadas estavam no chão. Apressou-se a apanha-las e vê-las. Eras três folhas. Duas mostravam uma ficha de identificação de um homem, e de uma mulher. A terceira mostrava uma confirmação, e uma grande assinatura de um médico – Filipe Albuquerque. O homem falecido de Helena. Esta começou a ligar os dados, e o choque ia aumentando.

Sim, Helena. Eu sou um dos casos de sucesso do teu homem, o médico que mudava de sexo das pessoas. O meu primeiro grande passo para tudo isto que aconteceu. A mudança de Carlos Eduardo para Paula, a tua nova melhor amiga. Era uma medida que tinha ser tomada, e tu foste tão burra na altura não perceber quem era o homem inicial.

Helena caiu no chão, completamente desmoronada interiormente. Não havia mais nada a fazer.

O falso Eduardo que te atormentou nestes dias recentes não passava de um brinquedo meu, que fazia tudo o que lhe pedia. Tudo correu bem. Tudo como planeado. Deixou-te fugir para vires ter comigo. Explodimos a tua casa para ele saber quanto atuar. Ele levou-te para aqui, sabendo que era aqui que irias morrer. Não às mãos dele, mas às minhas. E eu facilmente te trouxe aqui de volta.

Agora quero que atentes o que está à tua frente: o teu filho. Tu lembras-te o que aconteceu à nossa, não te lembras? Bem, olha só o que irá acontecer ao teu. 

Então, a outra pequena sala, que mantinha Rafael preso, encheu-se de chamas. O rapaz começou a gritar com agonia, que logo foi juntado com os gritos da mãe. A mesma agarrou-se à parede que os separava. A parede estava bastante quente, queimando as mãos de Helena. Teve que se afastar.

Deverás estar a pedir pela morte. Não te preocupes, ela está quase a chegar. Só quero mesmo que aproveites este último momento, pois resume toda a porcaria que fizeste na tua vida. Podias agora estar comigo, numa casa qualquer, numa cidade qualquer, a desfrutar uma boa relação com a tua filha.

Rafael, já quase totalmente queimado, caiu do teto. Não se debateu contra as chamas, já não tinha força. Helena já não chorava, nem olhava para o filho. Queria só mesmo morrer.

Mas, bem, este é o teu fim. Não podemos fazer mais nada. Cada um tem o fim que merece, e não devemos intrometer, não é verdade? Pois bem, não há mais nada que possas fazer.

Desta vez, foi a sala de Helena a ganhar chamas subitamente. A mesma começou a recuar, assustada, mas as chamas engoliram a sala toda.

Adeus Helena.

 

DO LADO DE FORA

 

Paula, ou Eduardo, ouvia tudo através de um pequeno walkie-talkie. Sorria. Finalmente estava tudo feito. Faltava pouco tempo para o grande final. Entretanto, caminhou para o seu carro. Era necessário sair dali para fora.

Estava o carro a sair do terreno, quando o armazém explodiu.

 

DEZ ANOS DEPOIS

 

- Parabéns, minha querida filha. Estás quase uma mulher, minha princesa. – Dizia Paula. Estava sentada numa grande mesa, intensamente recheada de comida. – Desejo-te tudo de bom para o teu futuro, já que o teu passado foi tão conturbado. Mas tudo irá correr bem.  

Do outro lado da mesa não estava ninguém. Apenas um grande peluche, já velho e bastante desgastado. O mesmo peluche que a criança levava no acidente e que Helena ignorou no hospital.

- Celebremos à nossa felicidade. – Concluiu Paula. E começou a jantar.

 

- FIM -

 

Espero que tenham gostado, tanto como eu, de seguir a história. Assim acaba A Valsa dos Loucos. Até um próximo projecto! :bye:

  • Gosto 4
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Gostei muito, Joel. :D Achei o final bastante inesperado, mas gostei de ver a [Helena a morrer]. :yes: Era demasiado flopada para continuar a desperdiçar oxigénio. :smoke: Também fiquei parvo quando vi que a [Paula era o Eduardo]. :ohmy: Mas também teve um final digno, na minha opinião. 

Concluindo, gostei muito da história e quero ver outra em breve. Parabéns! :D

  • Gosto 2
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Estou simplesmente parvo! Que final!

Nunca esperava nada disto. :|

A Paula?

:O Mas teve um final triste igualmente.

Já a Helena coitadita :(

Parabéns Joel, excelente história. :giveheart:

 

 

Gostei muito, Joel. :D Achei o final bastante inesperado, mas gostei de ver a [Helena a morrer]. :yes: Era demasiado flopada para continuar a desperdiçar oxigénio. :smoke: Também fiquei parvo quando vi que a [Paula era o Eduardo]. :ohmy: Mas também teve um final digno, na minha opinião. 

Concluindo, gostei muito da história e quero ver outra em breve. Parabéns! :D

 

Muito obrigado! :D Sabem como é, sem plot twists finais, a história não tem graça. :cool: Eu próprio fiquei chocado quando tive este ideia. :mosking:

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