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93: Telhados de Vidro


ATVTQsV

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20 de Fevereiro de 1993. Às 20 horas, a TVI entra no ar com Os Programas da Quatro, um exercício de futurologia ambientado precisamente a 20 de Fevereiro de 2003, numa dimensão paralela em que aquilo o que a TVI - aka "Quatro" - se tornou num canal de televisão bem sucedido, a um ponto que a Clara de Sousa continuava no canal, ainda estava ligado ao grupo da Renascença e ainda tinha os seus valores de fundação. Com isto o Big Brother foi para a SIC e os accionistas da Quatro criaram investimentos como bancos, canais de televisão, charcutarias, restaurantes, etc. Isto porque a TVI era a Angelus TV da sua altura - um canal "familiar", que recebia doações (sem sucesso) dos accionistas (na Angelus TV eram das paróquias). A única coisa que não tinha era o terço, que na Rádio Renascença era uma instituição de sucesso, e que na televisão ficou pelos extintos e fracotes canais de Fátima e a Canção Nova, por ser uma dependência de uma entidade católica brasileira ricaça.

Porém, a TVI tinha uma série de obstáculos que impediram a criação de uma televisão familiar de jeito - logo no seu primeiro ano, o canal tinha a forte concorrência dos dois canais da RTP e da SIC e até a Quatro tinha a sua rede de emissores, mais a disponibilidade na Cabo TV Madeirense, dois anos antes da SIC. Outra coisa que a Quatro tinha - e que passou pelas diversas fases do canal até 2000 - era a aposta numa grelha mais alternativa, numa espécie de fusão dos dois canais da RTP com a SIC e ainda canais fracassados do My Zapp Channel e do atvBoard (como a minha UNI). O investimento em programas feitos cá - se falarmos de ficção - era escasso, só no primeiro ano havia a sitcom Cos(z)ido (ou será que era Coz(s)ido?) à Portuguesa e a primeira novela portuguesa de um canal privado - Telhados de Vidro. Sim, é verdade, o "canal da igreja", na altura o canal mais alternativo da televisão (que até tinha locutoras de continuidade no primeiro ano) decidiu apostar forte e feio na ficção nacional com uma novela. E ao contrário do que muitos pensam, não foi a primeira novela a ser emitida na TVI. O mérito é da novela venezuelana Lágrimas (La Revancha), e acho que as novelas latinas com dobragem brasileira, apesar da qualidade duvidosa, (dos textos e da dobragem) chegaram a ter mais sorte do que Telhados de Vidro.

"Bem portuguesa, Telhados de Vidro é a novela da Quatro. Passa de segunda a sexta-feira, no horário que merece: 20 horas. Escrita por Rosa Lobato Faria, com direcção de actores de Tozé Martinho e um excelente grupo de actores. A acção começa na empresa Vaz Hotel, onde António Cortesão é dono e senhor. Maria Clara, a secretária, sujeita-se a humilhações, sabendo que será recompensada pelo testamento de patrão. O caso ameaça mudar de figura, por isso, Maria Clara e o irmão, Viriato, dão um jeito na vida de António Cortesão, matando-o. Com o patrão morto, a secretária toma ar de patroa, até ao dia da leitura do testamento. A sorte ditou que ficaria com uma casa de férias e não com a empresa. Tão desejada. A partir daqui, é o que se vai ver: vingança, amor, amizade, aventura. Telhados de Vidro, de segunda a sexta, às 20 horas, na Quatro."

O vídeo em cima é um excerto do tal exercício de futurologia que abria as emissões do primeiro dia da TVI (ao contrário de notícias ou a missa, segundo actores que trabalharam já na fase de ouro do canal) e é basicamente o resumo da novela. Notaram algumas semelhanças com Alguém Perdeu? As 20:00 como "o horário que merece": 26 anos mais tarde, a CM TV tentou colocar Alguém Perdeu às 20:30. Morte de uma das personagens principais do primeiro episódio: se em Alguém Perdeu morria uma criança de quatro anos, à qual a mãe quer vingança, em Telhados de Vidro, quem morre é o dono da empresa. Temas chave para que o telespectador veja? Alguém Perdeu foi muito mais longe, a um ponto que lhe deram o achincalhante título de "melhor novela de sempre".

Telhados de Vidro pode ter sido um flop, supostamente porque a TVI estava com deficiência na sua cobertura - nem no interior mais católico havia sinal do "canal da igreja". Mas compensava com um genérico que visualmente era muito bom (apesar de ter um pouco de aesthetics e vaporwave. ora se não fosse pelo esquema de cores e o saxofone), mas que terminava cedo demais e dava a ilusão que, nos últimos dez segundos, a novela era pura e simplesmente chamada de "Telhados". Tentar encontrar o significado do nome é bem mais complicado do que Alguém Perdeu (ao menos combinava com o primeiro episódio) mas há quem diga que o nome veio de um provérbio popular. O tema da canção, ao contrário de futuras novelas da TVI, não tinha um genérico baseado numa música portuguesa já existente. Não, eles iam mais à frente. Sim, o tema de Vila Faia foi feito para a novela, mas isto não era uma novela da Edipim, que já tinha um músico como proprietário. A novela tinha um tema original, cantado pela Dina, e que tinha o título da novela em constante repetição. Este tipo de genérico já era comum no estrangeiro - sobretudo na Austrália, onde as duas novelas que estão há mais tempo em emissão (e as únicas também) que são Neighbours (Vizinhos) e Home and Away (cujo futuro está em jogo) usam temas 100% originais criados para as ditas, e que, com o passar dos anos, ganharam novas roupagens para atender às necessidades de novelas com telespectadores cada vez mais jovens, ao contrário de Portugal.

A série era uma produção da Atlàntida Estúdios (cujo símbolo tinha a gaivota, o mar e o sol) e que já fazia séries e novelas para a RTP - basta ver Palavras Cruzadas, em 1987. As audiências da novela eram fraquíssimas - apesar do horário merecido, estava em luta contra o duelo Canal 1-SIC, onde o horário do Jornal da Noite foi reajustado para as 19:30 em certa altura, para que a SIC tivesse a novela primeiro. Eventualmente os dois canais teriam os seus noticiários às 20:00, mas a TVI continuava alternativa, mas à falta de alternativas de jeito, decidiram confinar Telhados de Vidro para outro horário, próximo das 18:30 (antes da Amiga Olga), ao fim de algumas semanas de emissão. A novela estreou a 22 de Fevereiro de 1993 e terminou a 12 de Agosto de 1993.

Telhados de Vidro é tido como o santo graal da indústria portuguesa das telenovelas, dado o escasso material disponível ao público. O máximo que pude encontrar é um excerto de cerca de 45 segundos com uma cena cómica e excertos da Sofia Grilo na novela, a dizer que tinha cenas de sexo. Tal como em Alguém Perdeu, onde os poucos telespectadores (uns 36) estava à espera de sexo louco entre o casal gay da novela e ficaram decepcionados com uma breve cena na casa de banho. Mas uma novela, num canal supostamente "familiar", a ter cenas de sexo em horário nobre era ir longe demais.

A novela foi repetida pela primeira e única vez na segunda metade de 1995. Era provavelmente um sinal de esperança, para ver se iriam produzir a breve prazo uma segunda novela portuguesa. Infelizmente, nem a repetição ajudou e as novelas latinas continuaram a dominar o canal. Infelizmente, Telhados de Vidro nunca mais ficou reposta e a TVI só voltaria às telenovelas nacionais em 1999, com a igualmente renegada Todo o Tempo do Mundo, que até teve mais um par de repetições.

Não sei como exactamente é que a TVI quer esconder Telhados de Vidro a sete pés, provavelmente de tão mal que era. Ou isto ou o facto da novela trazer recordações de uma má altura da TVI - a fundação. A TVI ainda chegou a apostar em novelas às 20 - caso da Xica da Silva - numa altura em que a TVI na fase SBS ainda era alternativa e começava ou seu noticiário ou às 19:30 ou às 21:00.

Em 2013, houve uma cover do tema de Telhados de Vidro - curiosamente no Somos Portugal - a semanas do aniversário do canal.

A TVI ainda tem a novela nos seus arquivos (e não nos da Atlântida Estúdios, pois faliu), mas por alguma estranha razão, provavelmente nas razões que referi em cima, a novela nunca vai ser reposta, nem na TVI Ficção. E parece que a TVI nunca vai ganhar vergonha na cara ao repetir a novela num futuro bem próximo.

Entretanto, no proto-Contra Informação da SIC que era o Cara Chapada, foi feita uma sátira à dita, que dava pelo nome de Folhados de Vidro, que era basicamente o que os autores comeram (talvez não). Aqui as personagens tinham de falar com sotaque brasileiro (porque nós, mesmo com novelas latinas dobradas em tal dialecto, tínhamos a ideia de que todas as novelas, menos as feitas cá, eram todas brasileiras) e que até chega a ser mais ou menos deprimente que Telhados de Vidro.

ACTUALIZAÇÃO: Nas primeiras semanas de 2021, o movimento pela reposição pela primeira vez em mais de 25 anos de Telhados de Vidro - ou Glass Roofs como é carinhosamente apelidada - parece ter ganho algum fôlego, apesar de, nos últimos meses, terem havido discussões sobre o paradeiro das cassetes da novela. Dizem que só um par de episódios foi digitalizado, para fins demonstrativos, o que mostra que a TVI infelizmente virou uma acumuladora que não sabe fazer exercícios básicos com as suas fitas antigas.

Editado por ATVTQsV
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  • 2 anos depois...

Episódio 11: Maria Clara fica furiosa a ver Isabel a trabalhar no seu escritório.

Episódio 12: Reynaldo diz que Mercedes é a única mulher da sua vida. 

Episódio 13: Henrique sugere a Maria Clara que se demita

Episódio 14: Madalena vai a um bairro de lata e é abordada por dois rapazes com navalhas.

Episódio 15: Chinita confessa a Rosa que se apaixonou por Renato.

Editado por Dimitri
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  • 10 meses depois...
On 01/08/2019 at 00:24, ATVTQsV disse:

A TVI ainda tem a novela nos seus arquivos (e não nos da Atlântida Estúdios, pois faliu), mas por alguma estranha razão, provavelmente nas razões que referi em cima, a novela nunca vai ser reposta, nem na TVI Ficção. E parece que a TVI nunca vai ganhar vergonha na cara ao repetir a novela num futuro bem próximo.

 

On 01/08/2019 at 00:24, ATVTQsV disse:

ACTUALIZAÇÃO: Nas primeiras semanas de 2021, o movimento pela reposição pela primeira vez em mais de 25 anos de Telhados de Vidro - ou Glass Roofs como é carinhosamente apelidada - parece ter ganho algum fôlego, apesar de, nos últimos meses, terem havido discussões sobre o paradeiro das cassetes da novela. Dizem que só um par de episódios foi digitalizado, para fins demonstrativos, o que mostra que a TVI infelizmente virou uma acumuladora que não sabe fazer exercícios básicos com as suas fitas antigas.

...e isso vê-se em algumas reposições na TVI Ficção... Imagens com pixeis... séries sem som...

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