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18: o "enchimento do chouriço" e as falhas técnicas


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Inicialmente era dedicado às falhas técnicas da RTP, ora se não fosse publicado no tópico "Memórias RTP 1", mas aparentemente vou ter de falar sobre mais falhas como os casos da SPORT.TV ali pelos idos de 2013.

Houve uma altura (uma altura bastante comprida) em que haviam menos anunciantes na televisão. Os anúncios passavam menos vezes (era lógico já que só havia poucas horas de emissão) e haviam espaços por preencher na grelha da RTP. Ora, o que é que a RTP fazia para passar o tempo quando:
a) haviam minutos de sobra entre o intervalo e o programa;
b) o programa falhava?

Viajemos então pelos vários métodos usados pela RTP 1 para preencher os espaços livres da grelha.

Quando havia falhas técnicas mas não tinham vídeos para passar
16656400_bzomn.jpegPedimos_desculpa_por_esta_interrupcao.jpg
Na primeira foto, na parte da direita, vemos dois exemplos de diapositivos do tipo que passavam nos primórdios da RTP que poucos viam porque os televisores eram caríssimos. Na parte de baixo vemos uma que aparenta ser do regime experimental (1956-57) e em cima parece ser dos primeiros anos de emissão regular, onde aparentamos ver uma câmara desligada da tomada. Na segunda foto, uma imagem que calculo que seja dos anos 70 (é claro, o tipo de letra Benguiat aparentava estar em voga em Portugal mais ou menos por aquela altura), sempre acompanhado pela mesma música em todos os programas em que foi recordado. A frase da segunda imagem que pus aqui é a mais recordada delas todas.

Quando a televisão surgiu nas regiões autónomas, as interrupções também eram frequentes, de tal maneira que estes cartazes passaram a ser o slogan dos primórdios da RTP Açores. Nestes casos, a RTP usava diapositivos que só continham texto.

O interlúdio
Uma característica que definia a televisão europeia nos seus primórdios era o interlúdio. Para a RTP, não era a excepção. Só sobreviveu um interlúdio nos arquivos da RTP e pode ser visto no segundo episódio de Conta-me Como Foi (logo a seguir aos pais contarem ao filho de que estava a dar o Carrossel Mágico e eram horas de deitar).

Haviam vários tipos de interlúdio: os interlúdios com paisagens e um interlúdio em que um gato brincava com um novelo de lã. O interlúdio que ainda sobrevive é um daqueles com paisagens, porém muitos anciãos ainda recordam os outros tipos de interlúdios que a RTP passava na altura. Normalmente, a meio, iria aparecer o símbolo da RTP e a palavra "INTERLÚDIO" num tipo de letra típico da pré-era croma. Nos anos 80 os interlúdios passaram a ser ainda mais raros, sendo substituídos por um mero ecrã branco a dizer "INTERVALO".

Os slides

Com a chegada da televisão a cores (novamente caríssima, mas o exemplo em cima já vem de um tempo em que já boa parte tinha televisões a cores) as imagens do "pedimos desculpa pela interrupção" já eram antiquadas. A chegada à 5 de Outubro e a utilização de um computador para inserir textos tornaram as imagens maçadoras mais aprazíveis - ou será que não? No exemplo em cima podemos observar um slide de 1984 com o símbolo da RTP 1 da altura, em que dizia o programa que vinha aí a seguir ou era também emitido para passar uma mensagem de que havia problemas técnicos na emissão. Quando haviam problemas, normalmente colocavam um ecrã azul. Com a mudança para Canal 1, já era usada uma imagem estática tirada do separador.

Os telediscos e outros que tais

O Nuno Markl já disse na Caderneta de Cromos que este teledisco era o ideal para passar o tempo quando haviam falhas técnicas. Também haviam derivações do mesmo: por volta de 1987 havia o "Uma canção para si", um vídeo que consistia em pessoas a andarem em caiaques em rápidos ao som da Cavalgata das Valquírias e uns tipos a fazer windsurf. Normalmente, se a RTP preferisse, iria colocar o relógio da mira.

Os desenhos animados

Os desenhos animados (sobretudo os da Hanna-Barbera) eram também uma arma para passar o tempo nos buracos entre os programas. No vídeo em cima vemos um exemplo de mais ou menos 1985 onde o primeiro minuto consiste na locutora a dar o que iria dar no resto do dia, à qual seguia-se uma curta da série Crazy Claws. A Hanna-Barbera produzia séries com várias séries, e o Crazy Claws era da série do Kwicky Koala. Deixem-me fazer um exemplo: um programa meu baseado no que faço no fórum. O programa seria hipoteticamente dividido em três segmentos: o A seria a tua história de subestação, o B seria o clone da Caderneta de Cromos "Cromos Falsos" e o C seria algo tipo o Há Vida em Markl. Vamos supor que o segmento A fosse usado como o enchimento do chouriço do canal cá do fórum.

Também davam Os Malucos das Máquinas Voadoras (Dastardly and Muttley in their Flying Machines. Stop that pigeon, NOW!), segundo o Markl, que afirma que a gravidade das falhas técnicas era definida pela hipotética quantia de desenhos animados que iriam encaixar no buraco da grelha.

As nébulas do Monte da Virgem

Muito comuns no fim dos anos 80. Estas nébulas eram também utilizadas para falar sobre os programas da manha quando a emissão arrancava e o primeiro período era feito no Porto. Esta preciosidade foi dissecada pela Caderneta de Cromos que comparou este interlúdio alucinante com uma rádio pirata ("E do meio-dia passam 58 minutos"). Neste exemplo aqui, o locutor anuncia também o que iria dar no capítulo da noite da novela Palavras Cruzadas em que iria também dizer que "os negócios de jóias serão cambalacho". Quando faltava pouco para o Jornal da Tarde o relógio crescia e no exemplo em cima tocava... sei lá, o que é isto? A música do São João em acordeão? Seria mais ou menos como, à noite, antes do Telejornal, o tempo à espera do banco anunciante do relógio preenchido com Lisboa, Menina e Moça ou Cheira bem, cheira a Lisboa. O Markl também disse que as músicas do Rão Kyao também preencheram intervalos mais compridos com os relógios da RTP.

A anedota "do" chouriço

Nunca deram isto nos problemas técnicos, mas aparentemente foi uma "deleted scene" do post que fiz em Novembro e que nem sequer tive tempo de a incluir.

Bónus: coisas parecidas mas que tinham pouco a ver com falhas técnicas mas davam só porque sim

As animações de Loeki, o leão

No fim dos anos 80, a RTP 1 comprou um lote de animações da mascote da STER (tipo uma RTC holandesa ainda no activo), o Loeki, para emitir no meio dos anúncios (exemplos aos 0:13 e 4:55). Criada por Joop Geesink e emitida pela primeira vez em 1972, o Studio Geesink que detém os royalties da personagem, aponta para mais de 7 mil micro-metragens produzidas para a dita, feitas entre 1972 e 2004. Depois de uma mudança na estrutura dos intervalos em 2000 (o que fez com que a STER passasse a ter separadores mais "modernos") a personagem na Holanda ficou reduzida às aparições no meio dos anúncios até ser retirado de vez em 2004, alegando o custo de produção e que os tempos usados para emitir estes microfilmes davam para ser usados para outros anunciantes. Em baixo podem ver um vídeo sobre o processo de criação de um separador com temática futebolística, com props usados por separadores anteriores. A personagem ficou célebre em França e é a mascote de uma "réplica da Holanda" em Sasebo, Nagasaki.

Clap

Affiche: Clapman

Do cineasta belga Marc-Henri Wajnberg, uma série de 1200 filmes com oito segundos cada, sendo que a cada "clap" algo de especial acontecia. Foi emitida em 50 canais de televisão à volta do mundo por mais de 15 anos.

O Sr. Almaníaco (Mr. Almaniak)

Do mesmo homem que fez o Clap. 365+1 episódios (depende se o ano era bissexto ou não) e com emissão em cerca de 25 países. A RTP 2 chegou a emitir isto em 1991/1992, depois do Jornal das 9 e antes do tempo, numa versão dobrada.

É difícil imaginar que o Wajnberg foi do Sr. Almaníaco para produções de altíssimo gabarito sobre Oscar Niemeyer e crianças em Kinshasa, as voltas que a vida dá :D

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