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Os Três da Mesa do Canto


Bloody

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Os Três da Mesa do Canto

 Não havia nenhum dia em que não se sentassem na mesma mesa. A mesa do canto do último café da única rua que ligava a pequena vila à enorme floresta.  Ninguém mais falava com eles, mas as pessoas questionavam-se. Quem seriam eles? Misteriosos aparentavam ser, respostas de longe pareciam dar. Pareciam conversar sempre do mesmo, pois as reações eram similares a cada vez que lá estavam. Estranho, pensava a comunidade local. O único que parecia saber alguma coisa era o dono do café, mas nunca se dignava a responder às mil e uma questões dos seus clientes. Tinha uma resposta, mas a mesma era sempre para os deixarem em paz, para o vosso bem. Isto deixava os clientes calados, mas por pouco tempo. A curiosidade nunca morria.

 A descrição é fácil, os três da mesa do canto vestiam-se sempre da mesma forma. E usavam, os três, o que parecia ser uma espécie de máscara. Dois tinham uma máscara que aparentava ser um idoso na fase mais decadente da sua vida. O outro parecia-se com um lobo faminto. Um lobo-quase-humano faminto. Usavam roupas velhas, e tinham um cabelo mal penteado.

 Para surpresa de todos, num dia que se revelava cinzento, os três da mesa do canto estavam na mesa central do café, a conversar normalmente com vários habitantes. Os habitantes estavam contentes, todas as suas dúvidas estavam a ser esclarecidas. Então os três levantaram-se, e cada um começou a contar a sua história.

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O HOMEM LOBO

“Fui casado, em tempos. Casado com a mulher mais bonita da aldeia. Sentia a inveja a pairar quando passava por cada homem da mesma aldeia, pois todos eles queriam ser eu, até aqueles que já se tinham casado. Eu não me importava. O poder era eu que o tinha, não eles.

Mas chegou um dia em que a inveja sobrepôs o pequeno poder que eu tinha. Um outro homem, não muito mais velho do que eu era filho da feiticeira mais aperfeiçoada da aldeia. Era tão invejoso que convenceu a mãe a amaldiçoar-me para o resto da minha vida, transformando-me num lobo. E a transformação foi eficaz… e eu rapidamente perdi a minha amada para esse homem. Mas vinguei-me bem.”

A VELHA DO CAMPO

           “Eu também vivia numa aldeia, onde era bastante bem sucedida. Tinha uma grande quinta, que satisfazia quase todos os habitantes dessa aldeia. Eles gostavam imenso dos meus produtos, tanto que não importavam por pagar mais do que era estipulado por mim. Era bastante querida por eles.

            Porém, tudo mudou quando, acordada eu para um novo dia de trabalho na minha quinta, a encontro completamente destruída. Não restava praticamente nada dela. Nada. Vim a descobrir, pouco tempo depois, que a gula dos habitantes era tão elevada que eles comeram tudo. Todos os meus vegetais, frutas e outros produtos da minha preciosa quinta. Fiquei enfurecida por dias… mas vinguei-me bem.”

O VELHO DO CASTELO

            “No alto do monte de uma aldeia, vivia eu, viúvo, feliz com a minha filha, viúva, num forte castelo, em que só nós os dois sabíamos como entrar e como sair. O castelo era a moradia mais cara da aldeia, e todos gostavam de lá viver, se pudessem. Eu não gostava de mostrar a vaidade por ter o castelo… mas a minha filha sim.

            Então chegou o dia em que a aldeia se fartou do orgulho da minha filha, e a raptaram. Por horas constantes de terror, perguntaram como se entrava no castelo, para ficarem com ele. Com medo de a matarem, ela disse. Morreu na mesma. Eu ainda tive tempo de fugir do meu castelo, assistindo ao mesmo a ser tomado pela aldeia furiosa… mas vinguei-me bem.”

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            Os clientes do café olhavam atentamente para os três da mesa do canto, que tinham terminado de contar as suas histórias. Finalmente sabiam quem eram, as suas histórias, as razões de se encontrarem assim. Os três olharam então para o gerente do café, que estava também maravilhado. Recompondo-se, disse em alta voz:

Mas que aldeia era essa?

            Os clientes não tiraram os olhos dos três da mesa do canto, à espera da resposta. Então os três disseram, também em alta voz.

A aldeia era esta.

            Ninguém percebeu no início, mas entenderam no fim. A aldeia, em poucos minutos, é dada como inabitada. Todos os seus habitantes morreram, tanto pelas mãos do Homem Lobo, da Velha do Quintal ou do Velho do Castelo. É uma história de vingança que se repete ao longo dos anos, pois uma vingança nunca morre, nem nunca se esquece. Até um próximo ano, querido empregado, disseram eles no final. Os três da mesa do canto.

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