ATVTQsV Postado 18 de abril 2023 Partilhar Postado 18 de abril 2023 AVISO: Em 2022, não houve crónica "especial" (nível Daniel Oliveira de "especial") de Dia das Mentiras. A crónica que se segue pode ser considerada como a crónica do Dia das Mentiras deste ano, dado que partiu de um vídeo fake do canal Máquina do Tempo, e dada a chegada "do nada" da peta, só tive de construir a lore fictícia por trás da experiência depois da data Seja como for, boa leitura e bom feriado (sei que é só para a semana mas precisava de fazer uma crónica menos séria). Em 1974, antes da viabilidade da televisão por satélite, a RTP tentou lançar um projecto de co-operação com a ORTF, de modo a que as frequências do terceiro canal fossem utilizadas para os emigrantes portugueses residentes no país, com especial incidência em Paris. O projecto, denominado de RTP França, foi assinado em Junho de 1974, sendo que o terceiro canal iria dar uma faixa sem uso da tarde para as emissões em português, que esperavam a longo prazo com a emissão de programas gravados já emitidos em Portugal e de um Telejornal França. Infelizmente, o projecto teve uma agravante: a ORTF estava em vias de desaparecer e a estrutura do outrora "inferno" (de tão repressiva que era) colapsou, criando novas empresas. A faixa vaga que era para ser usada pela RTP França passou a ser usada para emitir a programação da tarde da TF1 a cores na rede de emissores da FR3 (a TF1 passou a emitir a cores em 1976). Outra decisão que pesou forte era o formato a ser utilizado. Até ao fim da década, houve a guerra entre o PAL e o SECAM, sendo que, como já sabes, devido a políticas partilhadas com a Alemanha Ocidental, o formato PAL acabou por ser escolhido. Assim sendo, o projecto da RTP França não pode ser avançado devido a potenciais custos de conversão entre os dois sistemas, caso contrário iriam impingir uma emissão PAL a preto e branco em televisores SECAM - algo que a esmagadora maioria dos receptores em França não iriam receber bem. Porém, outra oportunidade veio com a massificação da televisão por satélite. No fim dos anos 80, a televisão dos estrangeiros era "terra de ninguém" para Portugal. As grandes potências europeias que já tinham pelo menos um canal de televisão nesta tecnologia que era o satélite "descobriu" o terreno português que nem Vasco da Gama a chegar a Goa cinco séculos antes. Os portugueses instalaram mais e mais parabólicas. Os dois canais da RTP (e com muita sorte algum canal local que ainda existia) deram lugar a canais como Super Channel, SKY One (no tempo do aviso de cima já não era SKY Channel), TV5, RAI (sobretudo a RAI Uno) e a RTL alemã. Esta invasão estrangeira, que já estava a englobar mais e mais pessoas, pôs muita gente a pensar numa possível "invasão estrangeira" do pequeno ecrã, onde se acreditava que os telespectadores iriam se assimilar com o que se falava nesses canais e, como se não bastasse, era um instrumento fundamental para desenvolver a Europa unida, antes do tratado de Maastricht que enriqueceu a CEE, passando a União Europeia. Embora muita gente tinha trocado - e traído - a RTP pela SKY One, acreditando que "no futuro, iremos falar inglês, conduziremos à direita com carros importados do Reino Unido, tomaremos chá e iremos ler os jornais de Rupert Murdoch", a RTP tinha um plano ambicioso pela frente. Porém, este plano não iria englobar a Europa toda (num início) e sim um grupo restrito de pessoas. No fim de 1989 começa-se a gestar um projecto secreto em simultâneo com a SKY de Rupert Murdoch. Devido à falta de canais no satélite Astra que tinha o pacote, optou-se por um projecto de emissão durante a madrugada, depois do fecho das emissões da SKY One, substituindo as páginas do serviço de teletexto. Instrumental ao início da RTP Europa estavam as boas relações entre Carlos Cruz e Rupert Murdoch. Lição aprendida: graças a esta relação, a RTP conseguiu arranjar poupanças em 1991 para comprar a primeira temporada dos Simpsons para emitir a partir de Outubro daquele ano no Canal 1. Mais tarde, foi graças a ele e a relação com os produtores britânicos do caso Roswell, trouxe a célebre noite da autópsia do ET. Mas regressemos a 1990. Com base na relação amigável (que nem jogo amigável da selecção portuguesa com algum país subdesenvolvido) entre os dois, a RTP assinou um contrato com a SKY para emitir uma emissão ainda em regime experimental da RTP Europa. A RTP enviava cópias de programas já emitidos em Portugal a Londres, onde a RTP tinha um escritório, e para financiar o projecto, optou-se por um sistema igual ao da SKY Movies (e que mais tarde foi replicado pela TV Asia): o canal emitia codificado, e em Fevereiro, deram-se as primeiras assinaturas a emigrantes portugueses e lusodescendentes na área de Londres. Em Março de 1990, começou a RTP Europa, que emitia cerca de quatro horas por madrugada. Na fase de testes costumavam ser emitidos filmes portugueses (só chegaram pelo menos cinco, três com Vasco Santana e dois filmes portugueses dos anos 80), episódios da telenovela Passerelle, comédias (Eu Show Nico e O Cacilheiro do Amor) e programas diversos. Foi também emitida cobertura diferida dos actos de Sexta-Feira Santa de Braga, com a missa da tarde no Bom Jesus e a procissão do Ecce Homo (procissão tristemente apagada por causa dos centralismos que ditam a não emissão daquilo em canais nacionais, nem menos na Canção Nova). Excertos da emissão de 28 de Maio de 1990 para ter uma ideia de como funcionava o canal: Porém, os fãs do satélite no Reino Unido (e quiçá da Irlanda) começaram a notar que "o canal da SKY One é codificado depois da emissão encerrar, só não sei porquê". Isto porque a RTP e a SKY secretamente deram as três mil assinaturas, todas elas restringidas à área metropolitana de Londres, onde havia uma forte concentração de portugueses, e não anunciou o canal em público, dado que o canal estava em fase de testes. Em Abril de 1990, chegou uma correspondência às revistas de satélite do Reino Unido, dizendo que a RTP tinha arrendado as horas da madrugada e queria lançar o canal "a longo prazo". Muita gente achava que o canal RTP Europa era um canal pornográfico, algo que era visto com um ar mais céptico por parte da legislação britânica. Terminado o período de provas em Junho de 1990, avançaram-se as negociações para que o canal ganhasse transponder próprio, aumentando também o número de horas de emissão, e passando a emitir em horário nobre afim de ter uma programação mais diversificada, permitindo também a criação de programas de produção própria, e um noticiário para a diáspora. Contudo, havia uma série de divergências que condicionavam o futuro do projecto: A RTP acreditava que iria emitir o canal para a Europa inteira, visando também uma comunidade mais ampla residente na zona francófona da Europa, o que justificava uma audiência que seria mais do que o triplo, também estava a decisão de estar nos pacotes de base do cabo; A SKY queria limitar o projecto ao Reino Unido, que estava nos planos (culminados em 1993) de restringir os seus canais ao seu território e ao da República da Irlanda. Esperava-se uma nova programação em Setembro, quando os dois canais da RTP anunciariam a sua grande mudança. Mas ainda no verão, as duas empresas visadas não chegaram a concordata e a RTP teve que acabar com o projecto, reposicionando o mesmo para um canal verdadeiramente internacional (com recurso a seis satélites em regime FTA). Também, outro dos factores que condenou o projecto foi a TV Asia (vendido em 1995 à Zee Entertainment Enterprises). Como a diáspora indopaquistanesa era muito grande, os donos do canal acreditavam que a emissão regular do canal iria resultar nas frequências da RTP Europa. Ao contrário do projecto experimental, a TV Asia tinha mais recursos, apresentadores, e outro transponder para emitir a emissão da manhã. Também, a emissão começava com alguns minutos descodificados (para dar aquele cheirinho aos assinantes) e só depois é que codificava a emissão. A totalidade da grelha da RTP Europa, por sua vez, era codificada. Estes planos culminaram no dia 10 de Junho de 1992 quando, às 15 horas (hora de Lisboa), o verdadeiro quinto canal da RTP entrou no ar, a RTP Internacional, aproveitando algumas ideias rejeitadas. Entre as ideias, estavam a de um programa geral para a diáspora, que acabou sendo lançado como Rosa dos Ventos, o primeiro programa de produção própria do canal. Quanto à RTP Europa, o canal foi um surto colectivo. Raras eram as vezes em que a RTP quis falar sobre o projecto, como se fosse uma televisão local clandestina dos anos 80 da qual o governo estragou todas as provas da sua existência e queimou as cassetes dos jogos de futebol. Nem sequer constava do livro dos 50 anos da RTP, dado que o canal era um assunto externo. Uma cassete foi digitalizada por volta de Fevereiro de 2023 pelo Afonso Gageiro. A memória colectiva acabou substituíndo o canal pela RTP Internacional, canal que resultou e resultou bem. PS: Uma crónica de Dia das Mentiras no dia 18 de Abril, como disse no início? Achei a lore da RTP Europa interessantíssima e decidi inventar a fundo a história do canal. Infelizmente ninguém sabe se para o ano irei sacar algo do mesmo naipe, que seria planeado a 31 de Março, para depois entrar no bendito dia 1 de Abril em cheio e em grande. Aqui não tenho piadas internas suficientes, o mais próximo que meti foi a publicação do debate da autópsia do ET, por estar no mesmo canal e talz Quiçá em breve falarei sobre uma dimensão paralela em que o primeiro canal privado português era a Portusat. Emitia da Holanda para fugir ao estrito monopólio da RTP🙃 1 Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
Leonardo Rodrigues Postado 21 de abril 2023 Partilhar Postado 21 de abril 2023 Ainda lembras dos canais do retransmissor por satélite ilegal do Picoto? Citar Link to comment Partilhar nas redes sociais Mais opções de partilha...
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