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40.5: Canal Q (versão actualizada de luxo)


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Bem-vindos, caros leitores, esta é uma reedição de uma crónica que deixei incompleta em Abril de 2018 a falar sobre o Canal Q das Produções Fictícias, da qual não posso actualizar o post original devido a estar arquivado provavelmente por estar a esboçar um novo post há dias. Como tal decidi fazer uma nova versão, que como diz o título é actualizada e de luxo, com 1000% mais detalhes sobre o percurso daquele que outrora foi um grande canal. Não é a crónica nº. 145, para respeitar a ordem natural, as reedições terão um .5 para assegurar a renovada qualidade das novas versões. Enfim, comecemos.

Em 2022, o panorama da comédia em Portugal mudou-se mais para a internet. E mesmo na internet há laivos de censura pela piada mais ínfima que seja. Ainda não cheguei ao ponto de situação actual, ainda há muito a percorrer na crónica.

Em 2010, tal não era o caso. As Produções Fictícias, a oitava maravilha da comédia, eram os donos da escrita criativa em Portugal. E não havia uma maneira mais eficaz de lançar-se nas lides de um canal linear com um canal que estava sempre em construção, mas sobretudo em desconstrução. Falo é do Canal Q.

2010

Antes das Produções Fictícias obterem uma licença para um canal de televisão, em Maio de 2007, na altura do seu apogeu, criam um portal dentro do recém-criado SAPO Vídeos, a PF TV. A "programação" era toda ela composta por canais individuais de vídeos: alguns deles "emprestados" ao YouTube como excertos dos programas dos Gato Fedorento, do Programa da Maria, das Manobras de Diversão, da Herman Enciclopédia, da Paraíso Filmes (tinha os episódios inteiros) e também da sua veia mais séria, Voz, que era um segmento de poesia que a RTP passava nos seus canais em 2005 (sim, a PF tem uma veia cultural). Gostava de aceder a PF TV quando tinha vontade, numa altura em que era forte e voraz consumidor de dois dos seus grandes produtos: a Contra Informação (Contra na altura) e o Diz Que É Uma Espécie de Magazine (via todos os domingos antes de dormir, recomendadíssimo!). E também de um programa exclusivo para a RTP Mobile, o 15 (mais tarde substituído pelo Hot Spot) que estava no YouTube dado que nem todos tinham acesso ou tinham vontade em ver o canal.

Com o tempo as Produções Fictícias começaram a produzir mais conteúdo para a plataforma, como vlogs do Há Vida em Markl ou Asfalto Morninho (nunca via, mas achava que era Assalto Morfininho). A PF TV continuou até 2012 quando foi deixado ao abandono porque já tinham uma plataforma mais viável.

No fim de Janeiro de 2010, ainda havia a guerra das operadoras, onde as operadoras tinham canais exclusivos, quer sejam nacionais, quer sejam internacionais. A ZON tinha as MTVs temáticas, o Nickelodeon, os outros Discoverys, e tinha perdido o exclusivo dos canais FX e FOX Life para assim entrar noutros operadores, juntamente com o FOX:NEXT que chegou à ZON e aos suspeitos do costume. A MEO tinha canais mais potentes: o exclusivo do primeiro ano dos canais Sony e Animax partilhados com a Clix, assim como o Sci-Fi (mais tarde Syfy) e mais tarde a TVI Direct, antepassada da TVI Reality (antes havia o Canal 43 da TV Cabo, seria esse o anteantepassado?). Apesar de acompanhar de longe (raramente ia a casa de quem tinha MEO, os meus tios só o tiveram em Outubro de 2011) e com a incumbência de me permanecer fiel à ZON desde os tempos da TV Cabo em 2001, achava que mudar de operador era perder, sei lá, o Nickelodeon que nunca tinha forte popularidade audiométrica em Portugal. Eis que do nada, as Produções Fictícias anunciam um canal em exclusivo na MEO.

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Embora o canal iria ser um exclusivo da MEO, eu achava que a ZON, que na minha mente ainda era o principal operador nacional, estava a perder na questão de acolher um canal tido como irreverente e fora da caixa, e ainda por cima das Produções Fictícias. Inicialmente, quando se noticiava do contrato entre as Produções Fictícias e a MEO, o canal vinha mencionado só como Q, embora o nome oficial do canal era e sempre foi Canal Q. E nisto era anunciado também um logotipo todo ele azul, um Q feito por um anel e o seu buraco. Maravilhoso e bem PF. Agora a grande incógnita para mim era a programação. Eu, quase a chegar aos 12 anos, achava que "espera aí, é o canal das Produções Fictícias, certo? Passará tudo o que produziram e escreveram? As séries todas dos Gato Fedorento, da Contra Informação, O Que se Passou Foi Isto, O Programa da Maria, Manobras de Diversão, etc?". Eis que me surgiu um outro grande balde de água fria, a programação era 100% original (na altura não sabia que os direitos de muitos conteúdos das PF estavam presas nos arquivos das respectivas televisões. E isto também inclui ao Homem Que Mordeu o Cão TV que passava na TVI!), e só isso justificava o facto de emitir das 21:45 à meia-noite (20:45 às 23 nos Açores. Porque é que as televisões não dizem a hora açoriana nos seus anúncios?). Falava-se na hipótese de ser um canal de humor, mas a concessão especulava que o canal não iria limitar-se ao género. Infelizmente, passaram-se alguns anos desde que o director de canais temáticos da SIC afirmava que um canal de comédia como a SIC Comédia já deu o que tinha a dar, e infelizmente era um canal que dava voz a muitos membros das PF, incluindo o Nuno Markl, que tinha um fim de emissão bastante ambicioso que foi rejeitado, e desde 2007 que não se fez justiça. Mas também, um canal de comédia em 2022 é o mesmo que, sei lá, AAAAAAAHHH COMETI UM SPOILER!!!!! VEMO-NOS NA SECÇÃO DESTA DÉCADA!!!!!

Na altura do anúncio estavam já na calha nomes sonantes das PF e não só como Nuno Markl, Leonor Pinhão, Nuno Artur da Silva, José de Pina, Aurélio Gomes e Guta Moura Guedes.

Diziam as Produções Fictícias que o canal estava sendo preparado desde 2009, e claramente tinham o auxílio da MEO para ajudar noutra componente basilar do canal: a interactividade. Durante o período em que o canal estava fora do ar, os telespectadores podiam carregar no botão vermelho no canal 15 (onde estava o Q) e aceder à aplicação do canal com os programas inteiros.

Em Março a grelha já estava composta e o canal arrancou, supostamente, as suas emissões experimentais. Digo supostamente porque não pude ver o Canal Q em pessoa por ser ZON. A 29 de Março, uma segunda-feira, o canal começou para os assinantes da MEO. O primeiro programa a ser emitido foi As Cidades Visíveis, sendo que vamos fazer um ponto de situação da primeira grelha:

  • As Cidades Visíveis: programa de arquitectura apresentado por Guta Moura Guedes;
  • Agora a Sério: primeiro programa de política do canal apresentado por Fernanda Câncio e Henrique Pinto-Coelho;
  • Ping Pong Top: programa de listas dos melhores em cada categoria apresentado por Hugo Gonçalves e Patrícia Muller, estando cada programa subordinado a um tema (os melhores discos, os melhores filmes, etc.);
  • Sacanas Sem Lei: programa de futebol, como é de praxe vinham comentadores representando os três grandes (Benfica (Leonor Pinhão), Sporting (José de Pina) e Porto (João Bonifácio));
  • Mapa: programa cultural liderado pelo chefe das PF, Nuno Artur Silva;
  • Histórias Devidas: dedicado ao passado de certas pessoas (havia uma rubrica com nome semelhante na Antena 1 ao fim da tarde) apresentado por Aurélio Gomes;
  • Especial: talk-show de comédia apresentado por Salvador Martinha.

Todos estes programas davam de segunda a domingo, um de cada vez, e podiam ser vistos também no site do Canal Q, também hospedado no SAPO Vídeos.

O programa principal do Canal Q era

Mira técnica
Janelas a abrir
Uma delas tem sexo
Olha, mãozinhas a surgir
Agora aqui há silhuetas
Filme do Quentin Tarantino
Tiros e tiros em Space Invaders
E uma moça com ar franzido
Mais mãozinhas e bonecos
É aquilo que antecede
O título do programa...
QUE É A REDE!

A Rede era o magazine diário semi-cultural que o canal passava às 22:00. A primeira temporada com mais de 200 episódios tinha o tema cantado por Vasco Palmeirim. A Rede era inicialmente apresentado por Nuno Markl (segundas e quartas) e Ana Markl (terças e quintas), sendo que às sextas os dois apresentavam o programa juntos. Reuniam-se algumas figuras da cultura nacional para divulgar as suas novas peças, enquanto que os apresentadores davam as cartadas com as novidades em termos de séries, filmes, livros, músicas e situações insólitas, mas também uma data de rúbricas. A saber:

  • Vendo a Minha Mãe: o dono do blog do mesmo nome falava sobre anormalidades nos classificados.
  • Jorge Daniel PC: nos primeiros meses, entrámos dentro do computador de um tal Jorge Daniel, de idade aparentemente adolescente.
  • Irmão Lúcia: "A 1 de Abril no Canal Q, o Irmão Lúcia apareceu na TV", rezava o genérico que parodiava a canção que acaba os terços de Fátima. Estas crónicas da actualidae eram desenhadas no tablet de Pedro Vieira, que locutava enquanto desenhava. Depois saiu da Rede e passou a ser programa próprio.
  • A Vida era Tão Macia como Flanela: saudosismo dos anos 90 com João Pedro Santos.
  • O Senhor do Adeus: críticas de filmes recentes dadas por João Manuel Serra.
  • Ponto Q: Uma das rubricas mais inusitadas para um canal de televisão: Susana Romana apresentava alguns filmes porno recentes (sobretudo do catálogo da HOTgold), boa parte deles internacionais. As cenas eram mostradas com censura (nos seios e afins, uma vez aproveitaram para publicitar os Alunos de Apolo nas censuras pretas, e também as legendas eram censuradas). Foi o único canal português a falar abertamente de filmes pornográficos.
  • Há Modems Que Não Vi Assim (?): rubrica das primeiras semanas da Rede apresentada por Vasco Palmeirim sobre vídeos virais (pelo que vi em repetições este ano), sobretudo nacionais.
  • Bomboca Relógio: só no tempo em que o Nuno Markl apresentou o programa. Nele o Markl comia algumas guloseimas. O nome era uma homenagem às finadas Bom-Bokas, que desde o sucesso nos anos 80 não regressaram.

A primeira temporada do programa tinha uma espécie de temática inspirada nos computadores com efeitos sonoros e talz.

A estes programas juntava-se um programa de converseta, o Q Café, onde duas pessoas faziam conversas improváveis num café.

Um mês depois do canal ter arrancado as suas emissões, Nuno Artur Silva fez um balanço positivo e anunciou uma nova fornada de programas. O canal era definido como "um canal de cultura pop contemporânea e de entretenimento". Nesta altura o Q tinha três significados: Q de quinze, número do canal na MEO, Q de quriosidade, de saber o que se passava em Portugal noutra lente, e Q de quando quiser, referindo-se à disponibilidade dos conteúdos em várias plataformas, dentro e fora da MEO.

Os novos programas vieram para aumentar uma grelha limitada. A saber:

  • Inimigo Público: depois de uma tentativa fracassada na SIC em meados dos anos 2000 e que era pragada por anúncios e fracas audiências, as Produções Fictícias decidiram pegar nas pratas da casa e fazer justiça àquilo que na altura era um suplemento do Público (agora no Expresso, só não sei como é que mudaram o nome para O Inimigo Expresso) e criar um programa de informação satírica. Teve três temporadas e era apresentado pela Joana Cruz.
  • Caça ao Cómico: num programa apresentado por Rui Unas, ele e um júri davam a encontrar os novos cómicos de Portugal. Teve ainda uma segunda temporada em 2011-2012 com o nome TMN Caça ao Cómico. Daniel Leitão ganhou a primeira edição e na segunda teve uma rubrica própria perto da hora do veredicto, A Vida de um Cómico. O formato já existiu na Antena 3 sob o nome Cómicos de Garagem.
  • Melancómico: o trocadilho do nome do programa de Nuno Costa Santos associava a comédia à melancolia.
  • As Orelhas de Spock: uma versão semanal e extremamente reduzida da Rede apresentada por Nuno Homem Fonseca, segmentado quase exclusivamente ao sci-fi, fantástico, BD e afins.
  • Clube da Palavra: mais um programa criado para enriquecer o vértice cultural do canal, fomentado pelo vértice cultural das Produções Fictícias, onde apresentava-se sobretudo poesia e derivados, falado ou cantado em português. Basicamente um Clube da Lusofonia.

Em Setembro de 2010, o canal aumentou a sua emissão de 2 horas e 15 minutos para 15 horas (entre as 12:00 e as 03:00 aproximadamente). A vertente do on demand continuava, mas o canal precisava era de mais programas, mais ideias fora da caixa, mais irreverência e assim por diante. O número de programas em emissão, contando com os programas já terminados, foi duplicado de 15 para 30. Para já A Rede foi alvo de alterações. Retiraram-se muitas das rubricas que o programa tinha, passando a contar só com o Vendo a Minha Mãe e o Ponto Q, que viria a sobreviver noutro programa (alerta spoiler). Quanto aos apresentadores, Nuno Markl teve que sair por causa da segunda nova fornada de programas, e foi substituído por Vasco Palmeirim, autor do genérico.

Estes programas surgiram no âmbito da rentrée:

  • Romancine: uma "novela" inspirada nas fotonovelas antigas, onde as fotos antigas reflectiam temas da actualidade. O slogan era "a telenovela em quadradinhos". Foi o único dos programas a surgir a ser produzido por uma produtora externa.
  • Isto é o Q: série tipo The Office ambientada na sede do Canal Q. O actor principal era Rui Unas.
  • Mudança de Voz: uma nova cara entra ao Canal Q com Luís Franco-Bastos a dar "a voz" em "imitação crónica".
  • Vem ao Q: crónicas diárias nos dias laborais assinadas por Clara Ferreira Alves (segundas) José António Pinto Ribeiro (terças) Rui Tavares (quartas), Rui Ramos (quintas) e Guta Moura Guedes (sextas).
  • Ah, a Literatura!: programa em jeito de clube de literatura onde se falava sobre livros, recorrendo, como de costume, à "desconstrução" que é a marca das Produções Fictícias. O programa contava com muitos escritores convidados e uma data de rubricas relacionadas ao tema.
  • Toca e Foge: Músicos nacionais tocavam em lugares inusitados.
  • Previsão do Estado da Programação: provavelmente o programa mais insólito da gama. A programação de horário nobre da semana que vinha era apresentada em modo boletim meteorológico por Rita Guedes.
  • Consultório Existencial: Luís Monteiro e Jorge Vaz Gomes recebiam em estúdio pacientes com problemas existenciais do foro cultural.
  • Kinok: Luís Miguel Viterbo fazia a transposição da actualidade a uma linguagem antiquada, cujos programas eram visados pela "Real e Phicticia Mesa Censoria" da "Estação Q". Com fundo de mira técnica da RTP de 1964, misturava temas principais em vídeo, narrados pelo próprio, com mais duas caixas de texto, uma que às vezes era relacionada ao que estava a ser falado, e outra com outras notícias. De salientar que muitos dos nomes de locais e pessoas estrangeiros foram aportuguesados. Num dos programas, Osama bin Laden foi aportuguesado como "Uçamah de Ladens". O programa foi inteiramente escrito com o acordo em vigor há cem anos.
  • A Vida é Qurta: programa de curtas-metragens tipo o saudoso Onda Curta. Ao contrário daquele mítico programa da RTP 2, continha também entrevistas com os realizadores das curta-metragens emitidas. Este programa era uma das raras parcerias com terceiros.
  • De Perto, Ninguém é Normal: em cinco minutos, Guilherme Fonseca e Pedro Silva retratavam problemas correntes de jovens adultos.
  • Baseado numa História Verídica: quiçá um dos programas mais duradouros do Canal Q, e o primeiro a ser nomeado para um prémio (no caso, o Troféu TV 7 Dias de Televisão). Aurélio Gomes dava entrevistas a pessoas célebres num ponto de vista biográfico.
  • Voicemail: o que é que se passa no voicemail das figuras da actualidade? A equipa das PF fazia uma espécie de voicemail ligando uma figura a outra, tendo em conta os temas que estavam em alta.
  • O Cómico Que se Segue: entre as duas temporadas do Caça ao Cómico, o vencedor da sua primeira temporada, Daniel Leitão, juntamente com Fábio Carvalho, David Marçal e Joana Santos, fazia sketches de cinco minutos valendo as suas capacidades cómicas até o talo.
  • O Que Fica do que Passa: um programa de debade de temas da actualidade mais elaborado.
  • Showmarkl: depois de sair da Rede, Nuno Markl apresenta um talk show bizarro, misturando talk-shows com programas de comédia em geral. Um talk-show "em construção" que nunca teve o cenário pronto, teve um genérico improvisado e apesar disso tinha convidados portugueses do filé.

O primeiro ano do canal não foi inteiramente visto pela positiva. No início das emissões, o blog 31 da Sarrafada criticava o canal e o facto de estar "em construção":

Spoiler

O chefe de redacção diz que vão “criar públicos” e... “construir gramáticas próprias”. Ena! Pipi!

Por seu lado, o patrão Nuno Artur Silva refere o facto de que o canal “ainda não é um produto acabado” e avisa que "a lógica é de formatação em processo. Vamos fazê-lo aos olhos de todos." Ou seja, ainda não sabemos muito bem onde nos estamos a meter, mas se fizermos porcaria toda a gente vai ficar a saber, na hora. Parece-me honesto e fofo da parte dele.

Já o Tio Bava joga à defesa, salvaguardando a hipótese de aquilo dar par o torto ao afirmar que ai e tal "quando apostamos em conteúdos destes não pensamos em audiências, nem tão pouco sabemos como as iremos medir ainda, tendo em conta as características particulares do canal”. Fica-te bem Zeinal, assim defendes o couro e já podes usar a desculpa de que és um tipo que está bué com o experimentalismo e a inovação e o caneco.

Outras declarações pipocas: Guta Moura Guedes eleva a fasquia ao achar que "a lógica do VOD combate o efémero" seja lá isso o que for... e que o formato do canal "é uma aproximação do conceito de Internet". Também não fazemos ideia do que ela quer dizer com isso, mas lá que é bonito... é.

Zeinal Bava vai mais longe e armado dos seus super-poderes prevê que o "Q" “preconiza tudo o que pode ser a TV do futuro". Achamos excelente. Sempre que um canal preconiza, normalmente dá bom resultado. Há qualquer coisa no preconizar que lhes dá aquele toque de Midas, não sei. Se o "Q" não preconizasse seria muito mais difícil... o sucesso e assim.

Aqui, na casinha esconsa e húmida que é a redacção do 31 da Sarrafada, estamos intrigados com uma coisa. Então e o Penteadinho? Não tem um programa? Ó Nuno, então pá?

Enquanto que, para Nuno Artur Silva, os resultados do primeiro ano eram muito bem vistos. Os programas vistos na aplicação on demand na MEO eram vistos umas 100 mil vezes, sendo que 5 mil eram de pessoas que viam o canal linear. Segundo Gonçalo Félix da Costa, os números eram da cúpula das Produções Fictícias, dado que o canal estava bem abaixo do patamar mínimo da Marktest.

Em Novembro, o Canal Q emite pela primeira vez em directo, no caso, pela primeira vez, um concurso internacional de beleza desde sensivelmente início dos anos 2000.

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Sob o curioso e igualmente criativo nome Miss Mundo 2010 em Crise, o Canal Q deu-se ao trabalho de fazer a sua primeira "operação especial", emitindo o certame Miss Mundo 2010, em directo de Sanya, na China. Pela primeira vez desde a viragem do milénio que um canal português passava um campeonato internacional de beleza, algo que desapareceu quando as televisões privadas (SIC e TVI) começaram a dar mais importância ao conteúdo nacional. Comentado por Ana Markl da Rede e por Luís Gouveia Monteiro, enquanto decorria o certame, os apresentadores e um grupo de outros elementos do canal comentavam sobre a crise e as hipóteses de saída dela. Foi emitido a 30 de Outubro, sendo que houve uma repetição quatro semanas depois (a 23 de Novembro) no âmbito da segunda emissão em directo, Use a Cabeça Contra a Crise. Salvo erro foi a repetição deste certame que foi o primeiro programa que vi no Canal Q numa televisão a sério, num stand da MEO que havia no Guimarães Shopping (na altura, a minha escola tinha equipa de voleibol e jogava perto de Guimarães, às vezes saía para poder ir ver os jogos, e depois costumava ir ao Guimarães Shopping (uma vez fui ao Espaço Guimarães) para jantar antes de voltar a casa).

No fundo, o canal foi feito para dizer que, tal como o Natal, o horário nobre é quando o homem quiser. E como dizia a primeira campanha do Canal Q (com o Markl à frente), tudo tem o seu Q.

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2011

Ainda exclusivo da MEO, o Canal Q à beira de cumprir um ano no ar, já tinha sido consolidado, como incubadora de novas ideias das Produções Fictícias que dificilmente se veriam nos grupos de canais generalistas, nem mesmo na outrora irreverente SIC Radical.

Para o primeiro aniversário do canal, surge uma terceira fornada de novos formatos, que nem pães frescos, saídos do forninho. A nova grelha estava assentada em três vectores: programas classe WTF, como Portugal Alcatifado, programas de humor e "programas de palavra", termo altamente cultural que davam aos talk-shows do sítio.

Alguns programas sobreviveram o primeiro ano: Baseado Numa História Verídica, Isto é o Q?, Melancómico e A Rede. A Rede passou por uma grande alteração, tendo reduzido a sua duração para cerca de 35 minutos e com um formato com mesa de noticiário. Cada dia tinha um apresentador, o Vasco Palmeirim era um deles, e o Ponto Q continuava na Rede. Outra das mudanças foi o desaparecimento do primeiro grafismo, descaracterizado com a saída de rubricas que tinham desaparecido no ano passado, antes das férias de verão que, como é de praxe, cada programa merece ter. Também nesta temporada, A Rede acabava com um boletim meteorológico improvisado.

Para a nova grelha primavera-verão 2011, o Canal Q tinha a intenção de ser um canal de referência do entretenimento no cabo, igual a SIC Notícias para a informação. Quanto às novidades:

  • Isto é o Q? regressava para uma segunda temporada.
  • Portugal Alcatifado, uma série de 18 episódios, introduzia a fundo à mente idiossincrática de Manuel João Vieira, candidato falhado a quatro eleições presidenciais (nunca teve a intenção de ser um candidato a sério). Dos programas do canal era o menos censurado (o genérico tinha seios à mostra) e muitas das asneiras não eram censuradas também (teria sido opção do produtor?). Manuel João Vieira apresentava várias personagens interpretadas por ele mesmo, desde Élvis Ramalho a uma caricatura do próprio a uma espécie de Donaltim, o Conald, um pato roxo ou rosa que perto do fim da série acabaria por morrer por sobredosagem de drogas num acto sexual no penúltimo episódio da série. Para além do Domaltim desbocado, havia também espaço dedicado à música e ao cinema, mostrando as obras do cineasta Orgasmo Carlos, entre os quais o filme de 48 horas Potência. O programa tinha também anunciantes, entre os quais o Oxigénio Lopes, Torneiras de Portugal, Bagaço de Portugal, Leite em Pó Cavaco e o boneco Lelito. Recomendo a série toda, para mim é tipo o melhor programa que este canal pariu. Também, por ser uma alternativa à comédia mais mainstream que continua a abundar.
  • Não, Não e Não reunia uma equipa de três liderada por Daniel Leitão, ao qual se juntavam Pedro Diogo e Guilherme Fonseca, para um novo programa de sketches.
  • Pessoas Bonitas: aparecia na grelha de Março de 2011 mas não há registo. Dava nos intervalos?
  • O Outro Lado dos Antípodas: Eduardo Madeira, recém-saído do Notícias em 2ª Mão, abre mão a viagens por países fictícios, quase sempre localizados na fronteira entre dois países já existentes.
  • Posto de Comando: este programa chamou-me a atenção, pena foi ter descoberto depois de ter sido acabado. Era apresentado por Ana Markl e dizia que era inspirado no Charlie Brooker's Screenwipe, no sentido em que Portugal precisava de um programa a falar sobre os aspectos da televisão e as suas mazelas. No fundo, ela dizia que iria falar sobre a televisão que temos e a televisão que gostaríamos de ter. Quando acabou passou a ser uma rubrica do Inferno sobre televisão, falando sobre temas insólitos como a Cristoteca, uma festa católica, seguida por uma chamada do Chupa-mos aos programas portugueses da IURD, ou uma análise à RTV (canal que nunca esteve na MEO).
  • Uma Macacada Qualquer: numa dimensão paralela, Nuno Markl em fim de carreira foi enviado a uma rádio local periférica, a Rádio Calipso, onde apresentava o programa Uma Macacada Qualquer. Formato sucessor do Showmarkl que iria gerar outro formato, da qual falarei mais adiante na grelha de outono.

Em Abril de 2011 foi feita esta campanha para MUPIs e para a imprensa escrita.

Versão MUPI 1:

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MUPI 2 (soltar a franga):

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Versão Inimigo Público:

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Cartazes à solta em Lisboa:

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Esta grelha surtiu um efeito postivo nas audiências. Quase cem mil telespectadores puderam contactar um minuto com o canal, com o seu pico mais alto de 167 mil. A aplicação do canal nas boxes IPTV da MEO foi modificada, de modo a que os telespectadores pudessem encontrar os seus programas favoritos mais rapidamente.

Para a nova temporada 2011-2012, o Canal Q anunciou algumas mudanças. A principal era o fim do antigo magazine A Rede, e que por sua vez foi substituído pelo Daily Show à portuguesa Inferno. Depois dos Gato Fedorento terem experimentado o formato com notícias, comentários e um genérico com coisas a andar à roda, mas só para as eleições, o Canal Q lança um programa mais abrangente, onde, no fundo, o Inferno somos nós. Inicialmente ia ao ar às 22:00. Como dito anteriormente, a rubrica Posto de Comando integrou o programa, depois de uma etapa como programa independente. Substituiu A Rede na condição de programa diário.

Outras novidades para Outubro incluíam A Costeleta de Adão, programa mais versado na sexualidade, que ainda incluía as análises a filmes porno da Susana Romana, e ainda a Ana Markl a apresentar. Nuno Markl por sua vez apresentava Rádio Calipso, a continuação da sua saga de dimensão paralela, que ia analisar a fundo a bizarra rádio local e as suas mazelas. Foi deste programa que saiu a personagem do Renato Aliança que afirmava ver tudo, mas que não passava de mentiras, a personagem foi reciclada mais tarde quando o Markl apresentava o 5 Para a Meia-Noite às quartas. O especial dava lugar a um novo programa, Nada de Especial, também ele apresentado por Salvador Martinha, e que teve duas temporadas.

2012

Para o segundo aniversário do canal, a primavera trouxe a estreia da terceira e última temporada do mockumentary do Unas Isto é o Q?, um mockumentary com Nuno Markl e Ana Galvão sobre relações maritais, a comédia Ferro Activo da qual não gostava muito (e teve uma sobrevida no 5 Para a Meia Noite), Felizes Para Sempre (que era dos meus favoritos), um novo formato do Madeira, O Paradoxo da Tangência, que mostrava a sua veia mais cultural com outra identidade (Eduardo Jaime), e o regresso de Ah, a Literatura! como rubrica do Inferno. E como disse Pedro Vieira, o Inferno somos nós. Aos domingos a partir de Fevereiro, começava uma antítese aos resumos do Inferno, o Paraíso.

Em Fevereiro, o Inferno passa às 22:30, dando uma hora mais "central" no horário nobre do Q. Pelo que sei, nesta altura já metiam o relógio no Inferno, quer em directo quer nas repetições, como se fosse um noticiário a sério. A intenção era para chegar a um público "mais urbano, com novos hábitos", e que encontrava laivos satíricos depois de ver os noticiários às 22. Temporariamente e a partir de Maio era antecedido por uma paródia "crise e recibos verdes" do primeiro Vitinho, o mais recordado pela cultura pop nacional, ainda vestindo as roupas da sua idade de ouro na RTP, mas a sofrer as consequências das políticas de Vítor Gaspar. No fim da paródia, os pais perguntavam algo como "Quando é que sais de casa, Vitó?". Nuno Artur Silva afirma que a personagem que teve o seu auge nos seus primeiros anos na RTP está a passar pelas crises de 2011.

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Em Julho, o Canal Q passa a contar com uma nova imagem. No grafismo antigo, os separadores eram todos azuis, tinham muitos Qs colados. Aqui optou-se por um estilo de magma, tipo Optimus, e o canal deixa o azul e adopta um amarelo e vermelho que mais parecia pudim. Como podemos ver no separador que abria e encerrava as emissões do canal (já abria mais cedo tipo às 11), as novas cores representavam a ideia de que o Canal Q quis estar mais próximo do telespectador, trazendo cores mais emotivas, mais emotivas.

Eu era uma das cerca de 32 em 36 pessoas que gostava da nova logo, toda ela avermelhada, já disse que parecia pudim xb, mas quanto a novos programas, bastava esperar pelo outono.

Eu nesta altura no cúmulo das minhas idiossincrasias, achava que o Canal Q era um canal perfeito para a TDT, tal era a minha obsessão com as PF :P

Pegando a boleia de um novo exclusivo MEO, A Bola TV, os dois canais criaram um programa em conjunto, Vamos à Bola ou Quê, que reunia Maria Rueff e Herman José pela primeira vez em anos. A Maria trazia de volta a personagem do Zé Manel Taxista e o Herman o José Estebes, que apareceu pela primeira vez 29 anos antes como apresentador do programa portuense do Tal Canal, O Esférico Rolando Sobre a Erva. Programas como Nada de Especial passaram a viver só de repetições.

Nuno Markl tinha novo formato, Telebaladas, onde pediam baladas com base em temas pedidos pelos telespectadores, num cenário a replicar um restaurante. O Inferno foi totalmente renovado, com novo genérico e novo estúdio.

No auge dos programas de vídeos, com o Gosto Disto na SIC (agora semanal) e o Vídeo Pop na TVI, o canal estreia o seu programa do género, o Altos e Baixos, apresentado pelo alto Daniel Leitão e pela baixa Joana Marques. Se inicialmente o programa era a gozar com os programas de vídeos, a principal valência passou a ser mais à base de personalidades do recôndito da internet nacional e internacional. Com este programa descobri nomes como o apresentador do late night show da RTV, o Charlesbois Poaty, o Nagrelha, o Sandu Ciorba, entre tantos outros que apareceram nas primeiras temporadas do programa. Era um fiel telespectador até 2015.

2013

Rei Ghob estava errado, não houve apocalipse. Mas havia uma novidade das boas: em Janeiro, escrevi aos donos do canal a pedir se o canal iria finalmente chegar à ZON, depois de anos de espera. E num mail, cujos detalhes partilhei no blog Grelha TV, disseram que iriam lançar app para iOS (eu era Android e sentia-me discriminado) e finalmente, Canal Q na ZON! Já não podia ligar o computador e entrar no site deles para ver os seus conteúdos ou cheirar o canal na única box da MEO que tinham. Agora o Canal Q era meu! MEU! HAHAHAHAHAHAHA

As emissões "experimentais" do canal na ZON começaram já em Fevereiro de 2013, onde este separador intercalava com excertos de programas do canal, incluindo a canção Sou Dono de um Grande Hotel (Isto é o Q) e "A minha guitarra é espanhola, mas que foi feita na China, a garantia alemã garante que é genuína" (Telebaladas) e um rodapé a anunciar a chegada do canal, que, como na MEO, era o 15.

As emissões regulares do canal arrancaram às 22:30 do dia 4 de Março, onde uma tropa de logotipos do Canal Q "invadia" as televisões dos assinantes, seguindo-se pelo primeiro Inferno a ser emitido em mais do que uma operadora.

Aproveitando o crescimento do canal, mais uma fornada de novos programas:

  • Submersos: Maria Rueff interpreta o papel de Margarida, uma bióloga marinha de renome internacional que, devido à actual situação do país, se vê obrigada a dividir casa com o seu ex-marido Francisco (Cláudio Silva).
  • Felizes para Sempre: nova temporada do mockumentary de Nuno Markl e Ana Galvão.
  • Altos e Baixos: nova temporada com novo grafismo e grandes pérolas da televisão e da internet lusófona (e não só). Foi aqui que descobri um clássico da TPA 2, o SEXO OCASIONAL, ou a hiper-estrela turca Ajdar (que eles e alguns da net achavam que era da Arménia).
  • Fábrica dos Pentes: o que acontece quando o director-geral do Canal Q, no momento em que se estreia uma nova grelha recheada de novos programas de humor, se cansa de gerir um canal de televisão e está farto de engraçadinhos? Sequência lógica de Isto é o Q?, vincada também mais nas Produções Fictícias, e recorrendo até aos estúdios dos programas.
  • Dá-Las: o trocadilho de Dallas (que também teve uma cover do seu tema como genérico) era a telenovela tarada inserida na Costeleta de Adão, porém também foi posta separadamente na emissão do canal.
  • Camada de Nervos: série de sketches.

O canal começa também a emitir para o estrangeiro, em Angola e Moçambique nas redes da TV Cabo da Visabeira, no pacote português da THEMA em operadores como a Orange e a Free, e até no Luxemburgo. Pena é nunca ter chegado nem à Suíça nem aos Estados Unidos, países com forte diáspora portuguesa.

No verão de 2013, o Canal Q dá uma cartada inédita e estreia conteúdo estrangeiro, incapaz de postar a versão legendada no site devido a problemas com os detentores. A série foi a série flamenga E Se? (Wat Als?), onde em pequenos sketches sucedia magia: e se toques de telemóvel fossem sucessos?; e se fosse sempre uma festa de aldeia; e se os filmes fossem peças teatrais (como a Guerra das Estrelas a passar a Carnaval nas Estrelas, produção da companhia de teatro Echt Antwaarps). Passaram as duas temporadas de uma assentada. Infelizmente as legendas foram "aportuguesadas": num episódio, referências à revista Dag Allemaal foram "traduzidas" para Nova Gente e ao canal VTM (a série deu no seu segundo canal, 2BE na altura em que foi produzida) como "Canal Q". Nunca entendi como, se ao menos nas legendas fossem dizer TVI ou SIC e não o canal a que foi destinada a legendagem, uma chapada mas é (?).

Ainda em 2013, estreia um novo programa de debate, Sem Moderação, o Inimigo Público passa a rubrica e fornecedora de títulos ao rodapé do Inferno e em Outubro, um novo Mapa, no sentido em que é apresentado por Nuno Artur Silva: Nas Nuvens. No Natal deram a título excepcional um filme (esqueci o nome) produzido pela produtora O Pato Profissional, empresa pertencente ao escritor Filipe Melo. No fim de 2013 (Novembro mais ou menos), o canal deixa de postar os programas inteiros no seu site, alegando as gravações automáticas da MEO e da ZON.

Quando o canal estava fora do ar, emitia os melhores (e piores) momentos dos seus programas em jeito de slot machine. No verão, passa a incluir uma promo a um programa fictício feito para troslar a gente: A Vida de Mário, uma série com fantoches que iria dar de madrugada. Eu gravei na altura e algumas pessoas que viam o canal naquele horário pré-fecho queriam ver a série e não dava. Pela primeira vez, o canal estava a trollar connosco.

2014

Ano novo implica também programas novos. As crianças mereciam ter o seu programa, começando em Fevereiro com Q de Quá Quá, o programa infantil que acabava sempre em transtorno. Em Março estreia a segunda e até à data última série estrangeira emitida pelo canal, a série britânica Derek de Ricky Gervais.

O grafismo de Julho de 2012 acabaria por ser o grafismo mais efémero do canal: face ao quarto aniversário, o canal mudou radicalmente o seu grafismo para um que, apesar de algumas modificações, ainda está em vigor.

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A 29 de Março de 2014, precisamente à meia-noite, é efectuada a mudança de grafismo. O velho simbolozinho desapareceu de uma vez por todas e entra no ar um grafismo concebido por Sílvio Teixeira e Moullinex.

A nova imagem trouxe também o fim da Costeleta de Adão e o início de um programa que eu achava ser bem mais amador (?), Esquadrão do Amor. Desapareceu o Ponto Q, mas herdaram a apresentadora da Costeleta, Ana Markl.

Em 2014, emite os Troféus TV 7 Dias de Televisão, que no ano passado deram na RecordTV (TV Record na altura). Vá, ao menos não deu num canal do Macedão e que não tinha nomeações.

No outono trouxeram Super Adeptos (branded content com a Super Bock), outro programa de conteúdo de marca, algo que tentavam e bem desde o início do canal. O programa seria uma espécie de substituto natural do Sacanas Sem Lei, sendo que ao contrário deste programa, havia mais contraponto com a discussão futebolística e o sentido de humor dos intervenientes (que são sempre dos três grandes). O Canal Q trouxe também o É a Vida, Alvim, que era um dos programas emblemáticos do primeiro ano daquele canal caótico que dava pelo nome de +TVI, e que precisava de estar na MEO também.

2015

É impressão minha ou, tal como as Produções Fictícias, o canal tem começado a perder qualidade e relevância?

Em termos de stand-up, algo que o +TVI tinha, estreiam Graças a Deus, e eu na altura achava aquilo demasiado forçado. Era como a Caça ao Cómico mas com 2% mais de censura (eu acho). O Posto de Comando, a minha rubrica favorita do Inferno, acabou, era a principal razão pela qual via o programa. Também, o canal tinha uma tremenda falta de anunciantes, chegando até (em 2013) a anunciar, sabe-se lá porquê, The Prem Rawat Foundation (fiquei embasbacado em ver um anúncio comprido deles antes de um novo Altos e Baixos em Setembro de 2013, e fizeram o mesmo antes de idas de Prem Rawat a Lisboa, será que o Nuno Artur Silva era um amigo íntimo do Prem?), o que tornava o canal pouco atraente para anunciantes. Apesar da falta de guito, emitiram a sétima gala dos Monstros do Ano, uma nova série com Rui Maria Pêgo chamado Filho da Mãe, o Inferno passou a ter menos qualidade, em Novembro o Raminhos estreava a Arena da Mentira, o vencedor do formato onde mentir era o melhor remédio ganhava um programa no Canal Q.

2016

No início do ano, o canal entra na grelha da Vodafone. A emissão arrancou em Fevereiro, sempre no canal 15 como nas outras operadoras. Filho da Mãe ganha uma segunda temporada e o Altos e Baixos foi pausado.

Eis que as operadoras começam a mudar tudo o que for abaixo de 20 e com o início da SPORT.TV+ no canal 9 das operadoras, o canal foi atirado para posições mais altas, reduzindo a sua relevância. Na NOS foi atirado para o 70 (onde estava o Cartoon Network com o TCM em duplicado até Dezembro de 2013). Programas novos, nem vê-los, era o princípio do fim. O canal continuava a mostrar a sua exclusividade na emissão de galas: os Prémios Meios e Publicidade e a Gala Miss Universo Portugal. O Esquadrão do Amor chegou ao seu fim.

Uma repetição do Showmarkl no fim de Maio de 2016 causou um escândalo enorme em Trás-os-Montes depois de declarações polémicas de José Cid sobre os transmontanos. Muita gente não entendeu que aquilo foi debitado num programa com cinco anos de antiquidade.

2017

Apesar do Altos e Baixos ter estado em pausa, foi mais tarde descoberto que essa pausa era permanente, dado que tinham problemas com os detentores dos direitos de certos vídeos e até chegaram a entrar em processo com certas figuras. Depois de um ano de sabática, o Altos e Baixos regressa aos ecrãs do Canal Q próximo ao verão, mas como uma espécie de rubrica do Super Swing, dado que o Daniel e a Joana eram os apresentadores de Junho.

Em vez de estrearem novos programas como duas vezes por ano (Setembro e Março), quase todas as estreias passaram a ser quase inteiramente no Outono. Em Abril (antes disso) houve o sucessor natural do Esquadrão do Amor, Super Swing, com Rui Maria Pêgo. No outono chegam os prémios Meios e Publicidade 2017, o programa de entrevistas Lendas Vivas cujos convidados eram nomes sonantes da cultura pop nacional e que ainda estavam vivos, como o Herman José, o Quim Barreiros ou o José Cid, e no Natal, uma chocante revelação tornada pública: o canal tinha uma audiência média de 770 telespectadores, de Janeiro a Dezembro de 2017, o que era uma população inferior à do Vaticano. É de reparar que o NAS já entrou nas lides da RTP em 2015 com algumas ideias parecidas às do Canal Q.

2018

Aos oito anos, o canal feito num oito estreia Spam do Q?, que seria tipo A Vida de Mário (série em fantoches) cujas personagens aqui eram uma idosa ligada às novas tecnologias, um realizador desempregado e uma jovem aspirante a actriz. O stand-up regressa com Infinitos Mil e o cenário do Super Swing foi reutilizado para mais um programa de converseta, Pela Fechadura. Na imprensa, o canal tinha como slogan "o canal para quem não gosta de televisão". Quem escreveu o slogan era um génio, pois representava o estado do canal que continua vigente: programas de qualidade duvidosa e com uma audiência comparável à "cidade" argentina de Villa Saboya.

2019

Mais converseta sob a forma de Querido Diário às segundas. O canal passa a ter estreias só a partir das 23. Assim o Inferno já era semanal e já não dava gozo em ver.

O nono aniversário trouxe à calha muitas novidades. O Inferno era às quintas e o Sob Moderação continuava nas quartas. Às sextas o Aurélio lança uma nova temporada do Baseado Numa História Verídica e às terças Freuda-se com Manuel Moreira.

O aniversário foi marcado pelo início da plataforma de streaming Q Play, que como é de praxe, é paga. E o Q Play trouxe alguns conteúdos inéditos e exclusivos da plataforma:

Spoiler

"Um Alienígena Perto de Si"

O Q segue as pisadas dos documentários e conclui que... é tudo obra de extraterrestres. Das pirâmides a Loch Ness, de Elvis Prestley a estranhas manchas em casas de banho, o melhor é aceitar a verdade e abraçar "Um Alienígena Perto de Si". Apresentado por Bola. 10 episódios, 1 por semana.

"Receitas do Chef Bernas"

Uma sátira aos programas de culinária e também ao product placement. Mas isso é apenas a camada exterior. Depois há um segundo plano que imprime mais relevância à história e que é dado pelas personagens individualmente e na interação entre si. Com Miguel Lambertini.10 episódios, 1 episódio por semana.

"Desanimado"

A vida e obra de um desanimado. Um homem que só quer que não o chateiem. 10 episódios, 1 por semana.

"ShortCutz"

Este programa é uma autêntica revolução urbana de ideias, projetos e pessoas na área das curtas-metragens. Filipe Homem Fonseca, apresenta as curtas premiadas nacional e internacionalmente do famoso Festival. 2 episódios disponíveis por semana. Total 17 episódios, 2 por semana.

Infelizmente nem todos os arquivos do canal estavam na plataforma.

E o Altos e Baixos?
As Cidades Visíveis, primeiro programa do canal?
E o Nada de Especial?
E a Previsão do Estado da Programação?

Ah e mais uma emissão dos prémios Meios e Publicidade no canal linear só porque sim e só porque foram os únicos a emitir os tais.

Em Outubro, Nuno Artur Silva, que tinha acabado de entrar no governo, vende a produtora a André Machado Caldeira, que à data era director-geral do Canal Q e das Produções Fictícias. Supunha que o canal tinha uma audiência média de 400 pessoas, um novo recorde mínimo para um canal que só emitia um programa inédito por dia e satisfazia pouco às necessidades do canal.

2020 EM DIANTE

Contra muitas expectativas, face a uma pandemia de duas cabeças (a pandemia generalizada e a pandemia da falta de humor), o canal celebra os seus dez anos no ar. E que bem, por deuses, e que bem.

Com cada vez menos produção inédita, o canal recorre quase exclusivamente à produção de talk-shows que podem ser ouvidos em formato podcast nas plataformas do género. Em Novembro de 2020, acolhe os direitos televisivos dos Prémios Podes, a premiação dos melhores podcasts nacionais. Os Prémios Arco-Íris da ILGA Portugal, correspondentes a 2020 (o ano de outro arco-íris que tanto me chateou), pousou no canal em Março de 2021. Na altura o Sem Moderação era o que salvava o canal. Em Abril deram os Prémios de Marketing Meios e Publicidade.

Alguns conteúdos do Q Play passaram para o canal linear, vendo que ninguém assinava aquilo. Entre os programas estava As Receitas do Chef Bernas, patrocinado pela fictícia agência de viagens Amazing Trips. Um programa sobre Angola tinha o segmento Doce ou Amargo a falar sobre quando Angola era próspera quando estavam os colonos, gerando uma onda de indignação para com os angolanos. Eu analisei outros episódios: como é que no episódio do Japão não criticaram o Bernardo vestido à chinês clichê apesar da apresentadora acompanhante dizer que aquilo era chinês mesmo e dizia que viria a "brigada do politicamente correcto"? Ou na reportagem da de Espanha quando diziam que os portugueses endinheirados preferiam abastecer-se em Espanha?

O Sem Moderação saiu na rentrée e passou para a SIC Notícias para ter melhor visionamento e audiência. No seu lugar foi criado Dia de Reflexão, adaptado de um podcast já existente. Estreia um novo programa sobre sexo, Sexo Com Sentido. O canal corriqueiramente repete programas dos primórdios em menos quantidade como A Rede, que para mim é uma janela a um mundo em que as ideias irreverentes e fora da caixa ainda resultavam. Agora de programas novos só Car Online TV (que também passa na BTV), Bitalk e um programa musical (No Palco). Tudo por audiências cada vez mais baixas.

Achas que precisamos de um canal de comédia em Portugal?

Não.

Sucedeu que desde a pandemia (já havia antes) houve um agravamento no ataque massivo às imagens e piadas estereotipadas. Imagens, estátuas e nomes de ruas que aludiam a passados coloniais, foram aos poucos sendo apagadas devido a estas acções que se multiplicaram não só nos EUA, como também no resto do mundo. Em Portugal fez-se muito pouco com isso, mas já nas redes sociais fazem BASTANTE, e é lógico já que toda esta "cultura do cancelamento" é quase exclusivamente feita na internet. Basta ver o que se passou com a RTP 2 com a série francesa Destemidas, onde a extrema-direita afirmava que a RTP estava a promover agendas LGBT e relacionadas ao aborto na sua programação infantil. E isto também se espalha em escala reduzida a produtoras como as Produções Fictícias, da qual se não me engano é criticada pelos partidos da direita.

Vivemos em plena era do politicamente correcto, onde pessoas vão às redes sociais para cancelar séries ou filmes por causa de piadas antiquadas, tudo em prol da "justiça social", quando na verdade só estragam o entretenimento que se consumia no passado. Tal movimento nota-se mais em países como os Estados Unidos, o Canadá, o Reino Unido e a Austrália, e em menor escala alguns países da América Latina. A pandemia acelerou a chamada mentalidade da geração de cristal, da geração que diz "somos boas pessoas" na teoria e não na prática, da geração mais hipócrita. Infelizmente não há volta a dar. Diria apenas que se antes se censuravam só cenas de sexo e asneiras fortes, hoje há mais censura na televisão por causa da geração reactiva que temos. Também é o que dá figuras como o Nuno Markl que, no início dos anos 2000, eram irreverentes até o talo, até que chegam aos dias que correm, apoiam "as causas" e dizem ser do bem.

E esta onda de hipocrisia faz com que o Canal Q esteja condenado ao fracasso.

Um canal sem novos programas, os anunciantes limitam-se a festivais apoiados pelas PF, não anunciam programas, as audiências estão a ficar cada vez mais baixas e tem um serviço de streaming praticamente sem assinantes, e é difícil perguntar quem é que tem.

As Produções Fictícias farão 30 anos em Abril de 2023. Quer a produtora quer o Canal Q surgiram em períodos de relativa liberdade. Hoje, graças às redes sociais e a movimentos, diria que o humor em Portugal está numa situação delicada. Estamos mais sensíveis como sociedade? Fica no ar a questão.

E se o canal sair do ar, por favor, alguém que poste os arquivos todos nalgum espólio, incluindo os mais de 300 programas da Rede, e que passem os clássicos do canal se o canal chegar mesmo aos últimos dias de emissão. E se tal for o caso, que façam uma espécie de reunion com algumas das figuras antigas do canal, acabando com uma despedida digna.

O canal marcará saudades, sobretudo dos seus tempos de ouro.

PS: devo ter esquecido de alguns programas, apesar da pesquisa intensiva que fiz para recolher dados sobre os períodos "férteis" do canal. Se alguém der uma ajudinha, todo o apoio basta!

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  • 8 meses depois...
On 20/11/2022 at 01:24, ATVTQsV disse:

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A 29 de Março de 2014, precisamente à meia-noite, é efectuada a mudança de grafismo. O velho simbolozinho desapareceu de uma vez por todas e entra no ar um grafismo concebido por Sílvio Teixeira e Moullinex.

O mesmo grafismo perdura até aos dias de hoje... no próximo ano faz 10 anos. Aliás o próprio canal passa programas com vários anos.... bem longe do auge que foi no início. 

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