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122: Um Bongo


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Malta, sei que estou a ir longe demais, mas eu lembrei-me de uma situação que infelizmente (ou felizmente) a geração do politicamente correcto quer acabar (e acabou).

Eu, a escassas semanas de fazer 23 anos, nunca provei Um Bongo na vida, nem antes nem depois da mudança da fórmula.

Tal como foi no caso do Banif, esta crónica serve como uma história publicitária do produto em Portugal. Comercializado no Reino Unido e, como não podia deixar de ser, em Portugal também, onde ganhou mais popularidade, renome, prestígio, primazia, qualidade de vida, índice de desenvolvimento humano, etc., falo da gama de sumos Um Bongo.

Apesar do produto ter chegado às nossas mãos em 1988, veio ao mundo em 1983 no Reino Unido e era da Libby's - pelo menos nos dois mercados - até 2003 - pelo menos em Portugal.

Não há português que se preze que se lembre pelo menos de uma versão deste jingle. Se deparares com alguém a recitar a letra inteira, do primeiro anúncio de todos, provavelmente o anúncio não-natalício (dizem que o das Fantasias de Natal quebrou o recorde) mais longo (em termos de uso) da história da televisão nacional, estás perante um vencedor! Eu tenho vaga ideia de apanhar este anúncio ali por volta de 2002/2003 (antes da mudança do proprietário), só não sei onde, se era na SIC ou se era no Canal Panda. Mas como estou com as mãos largas, vou deixar a letra do poema que, certamente, irá servir daqui a décadas como tratamento para pessoas idosas que sofrem de Alzheimer para recuperar um som e uma combinação de cores que lembra a infância.

Um Bongo, Um Bongo, o bom sabor da selva
Em cada pacotinho, uma festa de oito frutos
Ananás, alperce e manga, laranja, maçã, goiaba
Banana, maracujá, imagina o que isto dá!

O leopardo perdeu e até as pintas perdeu!
Este aqui ficou assim, pois bebeu e não parou!
O crocodilo pôs-se a rir e nunca mais parou!
Vem daí, entra na festa que ainda agora começou!

Um Bongo da Libby's, com oito sumos de fruta! Um Bongo da Libby's, o bom sabor da selva.

Na verdade o anúncio foi reciclado do Reino Unido, onde o produto chegou. Porém apesar de ser um mercado cerca de dez vezes mais poderoso do que o nosso, o produto não foi tão omnipotente como foi em Portugal, mas ao menos chegou a atingir status de culto.

Consta que nós, se usássemos "Um Bongo, Um Bongo, eles bebem no Congo", hoje em dia seria demasiado ofensivo, malz aê. Uma vez foi desmistificada a teoria de que bebem no Congo, ao acharem Um Bongo importado (talvez de Portugal, sei lá) em Lubumbashi, República Democrática do Congo (ou "Congo demo cratico" segundo o mestre filosófico angolano Emanuel Gonçalves Freitas). Em 2013, quando um político qualquer falou sobre uma tal de "Bongo Bongo Land", o tráfego do site do Um Bongo britânico subiu consideravelmente a um ponto que se tornava incómodo para o próprio site, o que forçou à entrada de um aviso a dizer que a bebida não tem ligações políticas.

Ao que consta, em 2003 o sumo em Portugal foi vendido à Sumol+Compal, já que a Libby's foi comprada pela Nestlé. A Compal tinha o Zuki desde 2000 e acho que quando foi feita a venda deixou de ser vendido. Uma vez feito o desmame, o Um Bongo português passa a ser mais apelativo, o tema base foi mantido mas foi acelerado um pouco, de maneiras que fosse criado a lore oficial das personagens do Um Bongo - bem mais elaborada do que a lore das personagens do Canal Panda que foi criada em 2006.

Do que me lembro, as personagens eram:

Bongo, o elefante que fazia tudo (eu acho);
Leo (posso estar enganado), um leão radical (sim, do sentido 2003 de radical, hoje "radical" já não é o que era, sinto muito) que andava de skates e tal;
Croc, o crocodilo tecnológico ke eskrevia em SMSês;
Ursum, o urso músico;
Hipô, o hipopótamo cozinheiro (na volta deram ideias para criar o Panças da "concorrência", mas o Panças era comilão);
Rinô, um rinoceronte que pretendia conquistar amantes e que falava em falso francês;
Goronel, o gorila militar que comandava toda a - ou a quase totalidade da - lore do Um Bongo;
Zi, uma zebra que representava as mulheres clichê;
Giffy, uma girafa despistada que até se cruzava com treze cobras e uma garrafa de cachaça de gin tónico espalhada por aí algures.

Neste aspecto, até a Pintas parecia mais civilizada, o Juba tomava drogas, o Crocas tinha comprado o iPhone mais avançado e o Riscas tinha feito uma operação de mudança de sexo. No fundo, só faltava a canguru (que veio em 2014), o rato (tomara, há ratos em quase todo o mundo) e a tartaruga (acho que chegou a haver, mas era uma personagem secundária). Mais informações aqui.

2003 trouxe-nos o primeiro (salvo erro dos primeiros) já nas novas mãos, uma espécie de anúncio na primeira pessoa:

De reparar que as personagens do Um Bongo já se assemelhavam às formas usadas até 2018. Os nomes vieram passado uns anos.

Na fase Compal surgiram novos produtos, como a criação de um ice tea cola-limão,

sabor a morango,

uma nova embalagem

e uma breve fase em que as personagems ficaram renderizadas em 3D.

Vendo o sucesso da nova configuração, a Um Bongo dá um salto para o ramo dos brinquedos ao lançar, simultaneamente em 2011, figuras em PVC das personagens da lore e "edifícios" da atmosfera do Um Bongo. A esta série de produtos deu-se o nome de Um Bongo e o Coração da Selva.

Novas personagens foram criadas para complementar as já existentes. Eram personagens mais secundárias, sendo que a única adição "primária" era a do canguru Tamburu, criado para promover o Um Bongo de manga.

Nesta altura (2014) os anúncios voltaram a ser em 2D, porque, claro, oficialmente as personagens eram em 2D! Também lançaram um Um Bongo com o dobro da fruta (o dobro da diversão):

Anúncio para cinemas:

Provavelmente o último anúncio do Um Bongo clássico:

Durante os anos 2010, a lore do Um Bongo era ambientada em oito regiões, quase todas elas reunidas em círculo.

Infelizmente, em 2018, com a mudança nas legislações, take a look:

Os anúncios voltaram a ser em 3D (as personagens digo eu). Primeiro, o que eles fizeram foi dar uma de Canal Panda - a nova logo ficou bem mais artificial e perdeu o espanto da antiga. Segundo, estava prevista para 2019 a entrada em vigor da proibição de anúncios a "guloseimas" - produtos alimentares com um elevado teor de açúcar - somado à proibição da venda destes produtos nas escolas. Terceiro, a lore foi completamente substituída, os únicos inimigos são os açúcares e tudo o que era artificial. Quarto, mesmo sem açúcar, o governo quis proibir que toda e qualquer guloseima deixasse de ter uma mascote a ocupar metade da embalagem do produto, o que aconteceu com o Um Bongo é que as personagens praticamente desapareceram. Lembro-me que quando este anúncio surgiu - e antes do YouTube nos enfiar com a maldita lei COPPA - os comentários dos anúncios do "novo" Um Bongo estavam cheias de mensagens tipo "Adeus Um Bongo", porque ninguém queria a nova fórmula. Vale recordar que o Um Bongo britânico mudou de fórmula já no fim dos anos 90, porém nós os portugueses, ao tirar ilações sobre a história do comportamento, somos e continuamos a ser o país dos atrasos. Atrasámo-nos na questão de uma vida democrática depois do 25 de Abril (nos anos 90, tudo mudou), no consumismo e na questão de acabar com tudo o que era "imoral para as nossas crianças".

As personagens também mudaram de personalidade. O Bongo continuava a ser o Bongo. O Tamburu mudou de nome para Miki e continua a ser masculino. Meteram uma chita, a Malí. O Leo passou a ser um adolescente na lore. Outras personagens ficaram descaracterizadas. A Zi e o Croc foram eliminadas. A Giffy mudou de nome (não sei para qual). O Hipo e o Rinô devem ter mudado de nome e as suas características trocadas do dia para a noite.

Recentemente (pouco antes da pandemia) mudaram o slogan para Alimenta a Brincadeira.

Infelizmente, não há traço NENHUM do clássico jingle, que depois de mais de trinta anos no ar, com versões aqui e ali, foi exterminado devido às novas leis. Com isto, o jingle do Um Bongo mudou-se para o panteão da publicidade nacional, onde, para além de estarem jingles que à data de hoje não estão em lado nenhum na internet, poderemos ouvir a tentativa de sucesso da Olá montar uma boysband do nada recorrendo às mascotes dos seus gelados nacionais, o anúncio do Danoninho com a Luciana Abreu (hoje o produto já não tem H no nome, maldita contenção de despesas) e uma dezena de anúncios da Concentra que dificilmente veríamos na nossa televisão hoje em dia, refém da mudança do aspect ratio (saudades, Mauzão). Também, hoje em dia, já não podes levar coisas com demasiado açúcar para as escolas. Nas escolas em que andei - antes da mudança da legislação - tudo era permitido, até as gomas em dias de festa. Hoje, gomas e chocolates são proibidas como se fossem as drogas, pelas notícias que vi, será por causa do aumento do uso das máquinas associado ao aumento da obesidade infantil?

Portanto: resta-me dizer uma frase: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHH VOLTA GERAÇÃO GULOSA, ESTÁS PERDOADA!!!!!!11!!!!!

PS: sei que estou a ir longe demais com esta questão da "geração gulosa". Inventei o termo acho que em Fevereiro de 2018 para representar uma série de eras onde chocolates, gomas, caramelos, bifes com ovo a cavalo, etc. eram aceites na nossa sociedade. Acho que o princípio do fim deu-se em 2006, quando a nova Roda dos Alimentos foi criada, aumentando o número de grupos de 5 para 7. Este período transitório foi demasiado lento. Nas escolas onde andei até entrar na universidade em 2016 ainda era permitido trazer coisas com elevado teor de açúcar, hoje há 400 tipos de dieta em tudo o que é lado. Em Fevereiro de 2016 vi uma reportagem na SIC que falava sobre o plano de acabar com as guloseimas como um todo nas escolas, depois em 2019 a legislação foi aprovada. Talvez um dia fale sobre o Chocapic e acabe com um epílogo destes.

Tenham juízo. Caso contrário acabam por ser como o Mac. O vídeo de cima data de um episódio de 2005 (mais ano menos ano)

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