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116: Ferrero Rocher


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Consideremos esta crónica uma continuação da crónica nº. 113 sobre os principais clássicos natalícios portugueses. Deixei de lado dois anúncios propositadamente, a Leopoldina e o Ferrero Rocher, que é a visada de hoje.

O que torna isto natalício é o facto da Ferrero, proprietária do bombom, dar mais primazia à qualidade de produção. O Ferrero Rocher e alguns outros produtos da marca não são comercializados na época alta porque acham que "o calor altera as propriedades do chocolate e tal". Logo, em Outubro, chegam os tais produtos para conquistar terreno nos supermercados portugueses, mais meio ano menos meio ano. No entanto o auge do Ferrero Rocher é precisamente por alturas do Natal, Novembro/Dezembro, último bimestre do ano, apesar de antigamente os anúncios do produto serem prolongados até Fevereiro pelo menos.

Hoje o Ferrero Rocher está estritamente ligado ao Natal e não ao meio ano em que é produzido, pelo menos no hemisfério norte. Nos últimos vinte anos o bombardeamento de anúncios natalícios começa mais cedo (mais concretamente no fim de Outubro) e a Black Friday dura o mês de Novembro inteiro. Ainda se lembram da última vez em que os anúncios de Natal só chegavam em Dezembro?

Antes de falar sobre a história dos anúncios em Portugal, a história do produto.

O Ferrero Rocher é um bombom de chocolate e avelâ da Ferrero, em baixo podem ver como é composto:

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O produto foi lançado na Itália no ano de 1982, tornando-se em mais um trunfo da Ferrero, depois da marca Kinder e do Nutella. Pouco depois do seu lançamento, a produção foi interrompida devido a problemas com o rótulo. Já sabemos de onde veio a primeira metade do nome, é da Ferrero. O Rocher vem de uma gruta francesa, Rocher de Massabielle. Segundo o que se sabe, em 2015, a produção do bombom está no segredo dos deuses, onde até à data poucos jornalistas podiam entrar, e o uso dos smartphones era proibido. Ferrero Rocher que é Ferrero Rocher merece uma produção assim!

Há uns anos, estimava-se que 60% das vendas do produto eram no último trimestre do ano. O produto também é vendido em poucos países quase inteiramente a sul do equador, como o Brasil.

Em Portugal o produto chega em 1989. Segundo a Enciclopédia de Cromos:

"Assim que chegou a Portugal, o Ferrero Rocher venceu pela sua combinação magistral de simplicidade, elegância e gulodice. A saborosa bola composta por uma rugosa carapaça de chocolate e avelã e uma fina camada de wafer que esconde uma pasta de chocolate e praliné e uma avelã inteira. Tudo isto envolvido num chamativo papel prata de cor dourada com um pequeno autocolante com o logótipo e uma forma em papel castanho. (Gostava de saber se mais alguém além de mim também gosta volta e meia de comer a carapaça de modo a manter a camada seguinte de wafer mais ou menos intacta e só então comer o resto, ou de arrancar à dentada aquele restinho de cola que fica na forma castanha depois de descolarmos o papel dourado. Não devo ser o único, certo?)"

Assim que o produto entrou por cá, também teve direito aos seus anúncios.

"Chega Ferrero Rocher, sabor brilhante para descobrir juntos. Ferrero Rocher: leve, crocante, brilhante, especialidade com recheio surpreendente. Ferrero Rocher."

No tempo do monopólio, não havia nada de Ambrósios nas nossas campanhas, este anúncio introduziu o banal português ao produto.

Versão italiana, algures nos primeiros anos:

Para quem quer saber como se chama o nome do tema, afinal não tem nome, gosto de acreditar que é "Ferrero Rocher's Theme", composto de propósito para a Ferrero para dar um toque de finesse ao produto.

E esta era a versão emitida no Canadá. Infelizmente a mentalidade da América do Norte acredita que aquele tema sintetizado é difícil de engolir, tal como a narração.

Em 1990 foi substituído pela campanha do ambaixador, da qual não consegui encontrar a versão portuguesa (ando meio perdido), mas que teve mais sorte do que uma outra campanha posterior (esta já sabem).

A Itália também criou a campanha da recepção do embaixador, que por dois anos foi emitido nos ecrãs portugueses. Na sua Itália natal, foi vista com orgulho nacional, teria sido uma referência ao sucesso da sua exportação?

No entanto as referências à Itália (na locução em off) são ocultadas em versões internacionais do anúncio. No Reino Unido, a campanha da recepção do embaixador entrou na cultura popular como a campanha do Ambrósio foi para nós.

Esta campanha também conquistou audiências na América Latina: a primeira é uma gravação mexicana de 2000 e a segunda é uma versão brasileira Herbert Richers mas completamente refilmada para o território local. No segundo anúncio vemos também outro tema que não o clássico tema europeu do Ferrero Rocher, uma pena. Descobri isto num episódio (acho que de Natal) do Altos e Baixos (ai que saudades).

Na Alemanha, onde o produto é denominado exclusivamente de Rocher, até à criação do Ambrósio, também tinham anúncios próprios.

Porém, a campanha que definiu o produto em certos países europeus (como o nosso) era a do Ambrósio.

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A da esquerda é a modelo italiana Giulia Alberti, que pôs a mão ao actor do Ambrósio. Chama-se Paul Williamson e tem 91 anos de idade (não sabemos se já faleceu ou não). Ele teve uma carreira de 60 anos (entre 1947 e 2007), participando em inúmeros filmes e séries de televisão britânicos, entre os quais O Santo, inúmeras peças adaptadas para a televisão (normalmente na ITV) e ainda aparecia ocasionalmente em séries muito ou pouco recordadas como uma personagem que aparecia em um ou dois episódios. No fim de carreira participou em episódios avulsos de séries da BBC, tendo desenrolado aqui um papel na série Broken News, representando um piloto a meio da Segunda Guerra Mundial, e o que o "dia do meio" lhe significava.

A senhora de amarelo era a Lee Skelton:

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Hoje com 62 anos (tinha mais do que metade quando começou a fama publicitária na Europa), é americana mas mudou-se para a Itália em 1987 quando casou com Lorenzo Borghese (divorciou em 2000). Hoje é proprietária de uma vinha na Toscânia, onde vive agora.

Esta é a versão original do anúncio do Ambrósio (Ambrogio) emitido na Itália, foi desenrolada uma série de anúncios até 1998.

A versão espanhola. Nota-se que a dobragem era mais "tarada", olhe a entonação. Lá o anúncio também é um clássico, do mesmo nível do "vuelve a casa por Navidad" do Almendro.

E na Alemanha, com a sua própria versão do instrumental, mas com um Ambrósio sem nome.

Tudo isto para chegarmos à versão portuguesa do anúncio:

Versão dobrada por Canto e Castro (Ambrósio) e Fernanda Figueiredo (senhora):

- Ambrósio, apetecia-me algo.
- Paramos para a senhora comer alguma coisa?
- Não. É que eu queria algo...bom.
- Compreendo, senhora.
- Apetecia-me Ferrero Rocher.
- Tomei a liberdade de pensar nisso, senhora.
(instrumental do Ferrero Rocher)
- Oh, bravo, Ambrósio!

Ferrero Rocher. Satisfaz o desejo de requinte.

Este é o clássico dos clássicos, mas na minha geração não, só descobri na net (na televisão lembro-me das vezes em que foi reposta). Tanto que até nos países em que este anúncio esteve em circulação, foi até parodiado até à exaustão na internet:

Paródia inserida num programa da RAI Tre (o separador de início e fim de publicidade da RAI da altura são verídicos):

Bolas laxantes:

E para fechar, uma redobragem made in Portugal:

Boa parte da saga do Ambrogio. Três dos anúncios (todos menos o terceiro e o quarto) foram emitidos em Portugal:

E no Natal, era emitida uma versão alternativa, para salientar o facto de ser uma prenda para "quem não tiver ideias sobre o que dar a um amigo próximo":

Se o anúncio do táxi era o nosso anúncio nos anos 90, com o tempo a cúpula da Ferrero achava que o anúncio era "antiquado demais" para passar nos ecrãs portugueses. Assim optaram por trocar por outros anúncios do Ambrósio e da senhora nos anos 2000 e 2010.

Para quem nasceu no fim dos anos 90 (como eu), certamente se recordará dos anúncios gravados em mansões de luxo. Este aqui era desenrolado quando um pintor estava a pintar o retrato da senhora de amarelo (será que está escondido algures na sede da Ferrero?).

Entre 2005 e 2012 foi emitido este anúncio, ambientado num leilão, e que me lembro de memorizar, palavra a palavra, aos meus 13 anos, de tantas vezes que passava na sua altura.

Na verdade era um anúncio italiano dos anos 90, que chegou a Portugal com uma dúzia de anos de atraso, e com o diálogo reduzido.

Um dos comentários: "parece uma cena porno anos 80" :haha:

No entanto, à medida que os anos iam passando, outros países tinham mudado as suas campanhas do Ferrero Rocher, sendo que nós continuávamos com o Ambrósio. Como dizia o velho ditado, "Ferrero Rocher não é Ferrero Rocher sem Ambrósio". Em 2007, era assim que o Ferrero Rocher era publicitado:

O seu tema clássico recebeu um acompanhamento mais tenso, que parece vindo de uma novela de luxo da Televisa (tinha que ser o México, que mais podia acontecer?).

Em países europeus mais ricos que nós, a Ferrero criava novos anúncios e aumentava a fasquia, deixando completamente de fora o icónico tema musical.

Em Espanha eram emitidos anúncios sem Ambrósio, mas com o tema, sendo o primeiro derivado das recepções do embaixador, mas era mais à base de uma tal Isabel.

Enquanto Espanha e Itália tinham os seus próprios anúncios, nós os portugueses ficámos um ou dois anos primeiro com o anúncio do táxi, depois veio este:

Com os 25 anos do Ferrero Rocher, este anúncio foi ao ar. Aqui também é publicitado o Ferrero Collection, que tem outros bombons, um dos dois sendo o Rafaello, que é vendido todo o ano (o exterior é todo à base de côco).

Depois continuámos com uma versão do anúncio do táxi em pan e scan miserável, até que em 2019 apareceu um anúncio inédito no mercado português (que alguns utilizadores cá do sítio se lembram): o do comboio. Acredito que a versão portuguesa (que antes estava na net) desapareceu por completo, mas as vozes eram as mesmas "de sempre" (desde o anúncio do leilão e da mala do Ferrero Rocher).

No Secret Santa de 2018, uma das prendas foi dada ao SIM e era um intervalo de uma TV Maresol do sultão do Brunei.

Infelizmente o vídeo foi bloqueado pela Globo (por causa de ter um excerto de Chocolate com Pimenta), mas com sorte, assim que o vídeo saiu (antes de ser bloqueado) descarreguei. O anúncio aparece aos 57 segundos e é a sua versão espanhola. Alguns utilizadores cá do fórum (como eu) já viram o anúncio (não tinha ideia de que a campanha do Ambrósio foi tão longe, é Ferrero Rocher em tudo o que é lugar, onde está o Ferrero Rocher numa ilha da costa croata?), sendo que em Portugal foi emitido no mesmo regime, mas com 20 anos de atraso.

Este ano, para tentar contrariar o recurso a anúncios antiquados do Ferrero Rocher na televisão portuguesa, a TVI organizou um casting para uma versão portuguesa do anúncio do táxi.

A campanha foi promocionada pelo Goucha - quando os anúncios do Ambrósio apareceram o Goucha ainda tinha bigode avultado e era cozinheiro - e segundo o anúncio em cima é para anúncios outdoor, e não na televisão, pois o anúncio que vemos é o de baixo:

Na sexta passada, soubemos dos resultados. Uma Filipa interpretará o papel da senhora e um Fábio interpretará o Ambrósio. O que quer dizer que nós, portugueses, ficámos obcecados pela imagem do Ambrósio, mais até do que em outros países. Na altura em que estive a escrever isto ainda não saiu o anúncio. Talvez não tenhamos para já ou fica para o ano, sendo que este ano vamos ter a versão outdoor e para o ano a versão televisiva. Quem sabe.

E para fechar com chave de ouro, mais umas paródias:

Senhora lambona (italiano):

Mais uma paródia portuguesa (versão portuguesa das bolas laxantes?):

Ferre-o Você (também deu no 5 Para a Meia-Noite):

Ferrero Fê-Cê-Pê do Contra Informação (2006), penso eu de que:

Paródia do anúncio da pintura, numa televisão local italiana:

 

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