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Vício de ti


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6º Episódio – Ultimo episódio

 

Codificava-se um nervoso miudinho. Naquele silencio quebrado pelo barulho dos passos marcados pelo impacto na calçada da Baixa do Chiado. Entre os playboys que olhavam Liliana sem pudor e sem reação ao piscar de olhos desconcertante desta e as mulheres atraentes que olhavam Ricardo mas sem qualquer atenção. Estava demasiado concentrado na sua saída, no seu encontro que era algo que se achava com sentido, com essência e com futuro.

-Essa tensão toda é devido a alguma coisa que deva saber? – Pergunta Liliana sentindo a tensão que Ricardo exercia no seu braço que a conduzia por entres as pessoas divertidas e talvez já um pouco embriagadas cambaleantes pelo sabor dos lábios alcoolizados.

-Nada demais! – Diz Ricardo afastando o assunto do ar virando para a sua esquerda levando consigo Liliana que ficara distraída com um rapaz loiro vestido de forma jovial que a assediada.

- Já percebi que é um assunto muito importante! Quando é o casamento? – Brinca Liliana desconcertada com o puxão.

- Liliana eu já sei de tudo! – Grita Ricardo que se atravessou a frente de Liliana com os olhos penetrados entre a raiva que sentia nos de Liliana que desvia o olhar e que tenta desviar-se mas Ricardo não a deixa, puxando-a de novo para a sua frente. – Sei de todos os planos, tudo o que fizeste numa guerra que não é tua!

-E quem te disse que também não é minha?! – Pergunta Liliana largando Ricardo continuando a caminhar pelas ruas cheias do bairro alto. A lágrima nascera e escorreu pela sua face levando o negro da maquilhagem. Ricardo ficou estático perdido na afirmação de Liliana sem conseguir agora encaixar as peças do puzzle.

Não era fácil de entender aquele instinto que apenas sabia a vingança, o seu amor desfeito que doía forte no vigoroso peito, o desespero que herdava sentido em cada pulsação que se escutava ao ouvido e que fluía pelo corpo inteiro desvanecendo-se em lanças furtivas. Somente só, procurava uma camisa preta, entre a mala que ainda não desfez. Entre as t-shirts de cor escura, as calças de ganga amarrotadas encontrou finalmente o que procurava. Perfumou o ar e o seu corpo com um perfume já a meio uso que encontrou na casa de banho. Um odor forte, com o rótulo quase ilegível num frasco verde. Pertencera ao seu pai e ficara ali parado no tempo dentro do armário que conservava dentro de si os odores de outrora. Fecha o armário e penetra o seu reflexo no espelho um pouco baço. Os traços que herdara dos progenitores, o sorriso malicioso do pai e os olhos falsos da mãe. Aquela cara de anjo enganava aqueles rasgos de maldade onde nada havia a perder, havia tudo a ganhar.

- Ricardo? – Chama Miguel ao lhe ligar mal havendo sinal do outro lado enquanto apertava os atacadores das sapatilhas cinza.

- Então meu amor estou à tua espera! – Diz Ricardo com voz doce quase impercetível pelo ruido que havia.

- Oh amor desculpa! Mas ainda vou demorar, tenho uns assuntos pendentes. Mas não vai demorar muito prometo. – Reconforta Miguel vestindo o casaco de cabedal castanha e apanhando as chaves e a carteira e as chaves do carro para sair.

- Está bem meu amor não demores! – Pede Ricardo com um tom mais cordial.

- Estavas a falar com quem Miguel? – Pergunta Elisa que acabara de chegar à sala.

- Sozinho não era de certeza ainda não estou maluquinho! – Ironiza Miguel colocando a carteira no bolso esquerdo.

-Vais ver a tua querida mãe? – Pergunta Elisa rindo enquanto se servia de um chá de tília ainda a ferver que pousava na mesa de centro.

- Estou cheio de saudades da minha querida mãezinha! Nada melhor que uma visita para matar as saudades. – Refere em tom de ironia dirigindo-se à porta de saída mas parando de repente e perguntando - Já está concluído o nosso plano?

Elisa apenas esboça um sorriso contagiando Miguel que depressa descodifica a resposta e sai de casa da avó com ar vitorioso.

Manuela arrumava as suas lembranças palpáveis em caixas de cartão.

- Tantos anos nesta espelunca para sair de mãos a abanar. Será possível? – Pergunta a si mesmo Manuela arrumando os vestidos já engomados.

- Já levas muita coisa não achas? – Pergunta Miguel ao entrar pelo apartamento sem que Manuela desse conta – Levaste tantos anos para dares o golpe do baú! Como é possível?

- Ingrato! Nasceste num berço onde havia tudo. Não precisaste de fazer nada! Já eu lutei pela vida! - Responde cerrando os dentes Manuela quase partindo um castiçal com a força que exercia no objeto. - Como é que achas que conheci o teu pai?! Num daqueles clichés de filmes? Nada mais romântico que uma boleia à beira da estrada pela prestação de serviços sexuais! – Conta Manuela aproximando-se do filho elevando o tom.

- Fazias muito bem o teu serviço para conseguires sugar uma aliança a um homem que te cheirou logo a dinheiro. E depois habituaste-te à sua presença ou estes anos todos foram um acúmulo de fretes? – Pergunta desafiador Miguel, sentando-se em cima de uma caixa de grandes dimensões solitária da cozinha.

- Não tenho de te dar explicações! Mudei-te tantas fraldas para ter um filho que é uma desilusão! Que vergonha! Um horror! – Grita enojada Manuela gesticulando.

- Só não percebo uma coisa: a Liliana é colega de trabalho ou trabalhavam as duas para o mesmo fim? – Pergunta Miguel entreabrindo os olhos com a curiosidade.

- A Liliana fez-me um grande favor. Como tudo na vida houve uma retribuição de favores! – Conta Manuela fechando mais uma caixa cheia de roupa.

- Não sabia que havia favores nesse meio sem serem os sexuais! Conseguiste quantos cêntimos com o teu golpe? - Pergunta Miguel num tom minucioso, armadilhado pelas certezas das suas descobertas.

- O suficiente para conseguir viver por uns tempos. - Deixa no ar a pouca explicação dada ao filho.

- Eu recomendava ver o saldo dos teus favores! – Recomenda Miguel que se levanta e se encosta à parede e diz:

- Devias ter feito um estudo de mercado, penso que as prostitutas quarentonas não estão muito em voga mas boa sorte!

Manuela fica alertada com as palavras do filho. Imediatamente liga a Liliana.

- O meu dinheiro já está na conta? – Pergunta Manuela mal sustendo a normal respiração.

- Qual dinheiro? Não sei do que me está a falar! – Diz desentendida Liliana que pegava um copo no bar, uma oferta de um jovem que a olhava intensamente.

- Não se faça de parva que ninguém nos está a ouvir! – Diz Manuela fora de si.

- Tal como enganei o seu marido foi tão fácil enganá-la. Nunca se deve confiar numa prostituta! - Não aprendeu nada na escola onde andamos? – Pergunta Liliana divertida provando a bebida e retomando o tom – Casou-se com o Mateus sabendo perfeitamente que quando ele ia para aquelas ruas procurava pela minha mãe. Mas você não perdeu a oportunidade e deixou que a minha mãe continuasse naquela vida. Quando a minha mãe morreu há dois anos alguém me ajudou a encontrá-la e assim pude vingá-la pela vida que lhe roubou.

Manuela desliga a chamada. Estava estática consumida pela raiva que lhe descia a espinha e se espalhava por cada milímetro de pele. Não podia acreditar que se tinha deixado acreditar, engolida no seu próprio plano e por um outro mais astuto e melhor montado.

- Elisa como está? Está tudo pronto tal como me pediu. A sua querida nora neste momento deve estar desfeita. Nada que ela não merecesse! - Refere Liliana que rápido telefonou a Elisa para lhe contar os últimos pormenores.

- Ótimo Liliana, afinal tudo acabou como queríamos. O meu filho levado pelos anjinhos e a minha nora fora do baralho. A vingança começou com a sua mãe a tratar da saúde do meu marido que me traia. Adoro o seu negócio de família. Ah! Não se preocupe que vou pensar num ótimo valor para os seus serviços extra. – Menciona Elisa sorvendo as últimas gotas que restavam na chávena do seu chá de camomila.

Ricardo puxa Liliana que agarra o copo de Martini consigo debaixo de olho de um homem charmoso que lhe piscava o olho.

- Liliana apresento-te o meu namorado: Miguel! – Apresenta Ricardo sob o olhar perplexo de Liliana.

- O teu quem?! – Pergunta uma voz masculina que se dirigia a Ricardo.

- Rodrigo que saudades tuas meu amor! – Diz Miguel irónico com a situação. – Ainda bem que pudeste vir!

Ricardo fica estático agarrado a Liliana que sorria com aquela situação toda.

- Passo a explicar – Começa a narrar Miguel sob a admiração de todos - Eu fui traído pelo Rodrigo. Foi tao fácil saber que foi com o Ricardo!

-Eu descobri tudo Rodrigo!- Revela Sara aos vê-los entre a multidão. Descobrira a verdade toda da traição. Reconhecera Ricardo, moravam no mesmo prédio a dois andares de distância. Ainda Rodrigo andava com o seu melhor amigo quando identifica o carro de Rodrigo. Escondeu-se atrás de um arbusto e minutos depois Ricardo entrara para o lado de pendura depois de um beijo rápido. Contara tudo ao amigo e resolveram manter em segredo e revelar todo o plano: Miguel reaproximou-se de Rodrigo e manipulou-o na sua teia. Já Ricardo deixou-se levar pelos encantos maquiavélicos de Miguel, fundiu-se no feitiço artilhado de sede de vingança.

Ricardo identifica a cara de Sara do prédio e interliga esse facto a descoberta do seu amante.

- Mas foi só uma noite! – Repetem em conjunto depois de se olharem perplexos os amantes Ricardo e Rodrigo.

- Por mim podem passar de uma noite para meses, anos, enfim… Sejam felizes que eu o vou ser também! – Diz Miguel afastando-se deles por entre a multidão puxando o telemóvel. Assim que se apercebeu de um momento em que o barulho era menos intenso fez uma chamada!

- Hoje é o teu dia de folga? – Pergunta Miguel sorridente.

- Mais do que isso é o meu dia de sorte! Estou à tua espera no cais. – Diz Pedro do outro lado do telemóvel também fazendo transparecer o tom apaixonado e sorridente.

- Eu não tenho paciência nem humor para triângulos amorosos! Tenho uma pessoa há minha espera há muito tempo e agora é a hora de a minha pessoa trabalhar para a vida. – Refere Liliana indo de forma muito sensual para próximo do homem que lhe tinha oferecido a bebida e lhe faz sinal para se juntar a ele.

Liliana faz sinal a Sara, que se junta ao trio que adquire mais um elemento, um belo jovem moreno de olhos verdes que começa a cortejar Sara de forma sedenta.

- Precisa de uma ajudinha? – Refere um senhor de idade vendo Manuela carregando os caixotes de grandes dimensões.

Manuela ficou parada e desviou o caixote para vislumbrar quem lhe fazia a questão. Reparou num senhor já de idade até bem conservado, muito bem vestido com um relógio que aparentava ser caro e quase a saltar da algibeira um porta-chaves com o símbolo da mercedes. Arregala os olhos e responde:

- Se não se importar não quero incomodar um senhor tão prestável!

- Por acaso até incomoda – Refere uma voz feminina madura que vinha ao seu encontro.

- Peço imensa desculpa mas a minha noiva está com pressa! – Refere o senhor.

Elisa aparece e Manuela deixa cair o caixote. Elisa agarra-se ao braço do senhor e diz:

-Vamos amor? Estou desejosa pelo nosso casamento e lua-de-mel no Brasil! E reencontrar o meu neto que está lá com o seu grande amor! – Conta Elisa sorridente entre o seu chapéu vermelho e o seu vestido floral de alta-costura. Ambas olham-se: a vitória e a resignação frente a frente. A vitória de quem lutou com as melhores armas e a melhor artilharia. Tudo para ter a felicidade, a vida que se acha quase perfeita onde o vício do amor e o vício do dinheiro vivem lado a lado em perfeita simbiose.

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