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Tempestades de Verão


Jão

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Capítulo 5 - Aos Olhos de Deus e aos Olhos dos Homens

[Antepenúltimo Capítulo]

 

 

 

 

No dia seguinte acordei numa cama de hospital. Mal consegui abrir os olhos, mas logo reparei na presença da Soraia ali ao meu lado.

- Renato, consegues ouvir-me?

- Consigo.

- Ainda bem. Ontem quando desmaiaste trouxemos-te para o hospital. Tens alguns ferimentos ligeiros, nada de grave. Os médicos só estão à espera que recuperes a total consciência para te darem a alta médica.

- A mãe?

- Está lá fora. Ela não me consegue encarar. Prefere estar lá fora no corredor enquanto aqui estou. Quando eu saía ela vinha ver como estavas.

- E o pai?

- Não sei. Desde ontem que não temos notícias dele. Provavelmente já deve ter voltado em casa, como passamos a noite toda no hospital não se sabe nada dele. Mas está tudo bem… dentro do possível. Tenta descansar. Em breve já vamos em casa. – ela passou-me a mão pelo rosto. Foi bom voltar a sentir o doce perfume da pele dela.

Voltei a cair no sono, acordei algumas horas depois. A minha mãe era quem estava ao meu lado. A expressão da cara dela era de desgosto e tristeza.

- Mãe?

- Descansa. Sentes algumas dores?

- Um pouco.

- Tens fome?

- Não.

- Tens sede?

- Não.

- Tens frio?

- Não.

- Tens…

- Estou bem, mãe! – interrompi. – Estou bem!

Ela não conseguia olhar-me nos olhos. Ela saiu e momentos depois entrou a Soraia.

- Soraia não quero voltar para aquela casa. Não vou querer este mau estar entre nós, a mãe e o pai. Assim que sair do hospital farei as minhas malas e irei ficar num quarto lá no hotel onde trabalho até arranjar um apartamento para mim.

- Compreendo. E eu?

- Queres vir morar comigo?

Ela sorriu.

- É uma oferta?

- Pode ser. – sorri. – Quero-te comigo.

Peguei na mão dela e beijei-a.

– Amo-te.

- Também te amo Renato.

A porta abriu-se e a minha mãe entrou. Certamente ela ouvira aquelas últimas palavras, pois lágrimas começaram a cair de novo dos olhos dela, por mais que ela tivesse disfarçado eu consigo reparar.

- Renato o médico disse que te vai passar agora a alta. Podes preparar-te para irmos embora.

- Mãe, precisamos conversar. Os três.

- Não vejo necessidade disso. Está tudo esclarecido.

- Não mãe, não está nada esclarecido! Eu compreendo a tua reação, mas porra! – lágrimas correram pelo meu rosto. – Estamos a falar de amor! Amor, mãe! Será que não entendes? É apenas, amor.

- Amor? Que amor? Isso é incesto! É monstruoso! Abominável!

- Treta! Qual o mal, diz-me, de dois irmãos se amarem? Que tem de mal uma manifestação de amor? É honesto, verdadeiro, sincero e incondicional.

- Mas não é correto. Nem aos olhos dos Homens, nem aos olhos de Deus!

- Mãe, como não será o amor uma coisa correta? Porque temos apenas um elo físico que é o sangue que corre nas nossas veias já somos impedidos de amar? Por sermos ambos teus filhos, não podemos nos sentir atraídos e apaixonados?

- Mãe, eu amo o Renato. E ele também me ama.

- Vocês não entendem… e o que os outros pensariam?

- Aparências. É isso que te preocupa? A opinião alheia?

- Claro que não Renato!

- Então o que há de mal?

- É que… não é correto. E por favor, fala mais baixo. Estamos num hospital, tudo o que menos quero é que isto se torne público.

- Mãe, nós amamo-nos. E nada vai mudar isso. Somos adultos e donos do nosso próprio nariz. Estamos a lixar-nos para o que os outros podem pensar ou deixar de pensar. Já tu tens duas opções. Aceitas ou não aceitas.

A minha mãe apenas chorava e não respondeu. Saiu a correr pela porta fora.

- Como sempre, ficamos só nós os dois. – disse Soraia.

- Parece que a partir de agora, seremos apenas nós os dois…

- Nós os dois, contra o mundo. – rematou Soraia.

 

 

 

 

No próximo capítulo:

O nosso caso tornara-se público e apercebi-me disso quando o rececionista olhou-nos com desprezo. Ele reconhecera-me. Porém não desistimos, e ficamos ali naquele mesmo hotel.

 

 

 

O final está próximo.

 

Grandes revelações, mágoas, surpresas, tristezas, esperança e acima de tudo amor é que se se espera dos capítulos finais de Tempestades de Verão. 

 

Uma história que sempre foi sobre e apenas AMOR. 

 

Não perca os últimos capítulos.

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Que interessa para além do Amor quando ele é Verdadeiro?! Nada! Esta história é o espelho disso :D Mas estou com receio do final... estou para ver o que vais fazer João  :rolleyes:

 

Por acaso também fiquei com um bocado com receio quando o escrevi, mas acho que aquilo que escrevi é a opção que faz mais sentido.  :)  :P

 

Tens uma história mesmo emocionante João, gosto muito :P Amor verdadeiro e incondicional :cray:

 

Obrigado. :)  :D

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Capítulo 6 – O Caminho para a Felicidade

[Penúltimo Capítulo]

 

 

 

 

- Está tudo vazio. O pai não esteve em casa, e parece que a mãe também não veio para casa.

- Vamos fazer as nossas malas, e depois vamos para o hotel. Vamos ser discretos por lá, pois não quero correr o risco de perder o emprego enquanto ainda estamos vulneráveis e sem sabermos o que fazer. Vamos, e ficamos num quarto com duas camas, assim evitámos especulações.

- Não te preocupes Renato. Vai tudo correr bem.

Depois de termos as malas prontas, fomos para o hotel onde nos instalámos por cerca de um mês. Nesse tempo a Soraia não conseguiu encontrar nenhum emprego na área dela, e andava um bocado desanimada, mas foi então que surgiu uma grande oportunidade para as nossas vidas. A rede de hotéis na qual eu trabalhava abrira um novo hotel no Rio de Janeiro e eu recebi um convite para trabalhar na administração daquele hotel. A Soraia concordou em vir comigo para o Brasil, pelo menos lá podíamos viver o nosso amor mais descansados e sem medos. Seriamos dois desconhecidos por terras cariocas.

Naquele dia em que fomos buscar as nossas coisas a casa dos nossos pais, a Soraia deixou um bilhete para a nossa mãe a informa-la onde estávamos. Nem uma visita, nem um telefonema, nenhum sinal de interesse em nós houve por parte dela. Nem do nosso pai.

Quando partimos para o Brasil, partimos sem sabermos nada mais dos nossos pais. Eles não mostravam interesse em saber de nós, por isso não via razão para ir à procura de quem não quer ser procurado.

 

*

 

 

As estrelas reluziam no céu quando chegamos ao Rio de Janeiro. Finalmente sentia-me feliz e realizado. Estar ali com o amor da minha vida era o melhor que podia desejar para a minha vida. Estávamos num táxi em direção ao hotel quando a Soraia mandou o taxista parar o carro.

- Senhor, aguarde vinte minutos aqui que nós já vimos. E não se preocupe, não vamos fugir. – só de ver aquele sorriso maroto e inocente ficava logo com o meu peito cheio de felicidade.

- Onde vamos? – perguntei.

- Á praia. – ela puxou-me pelo braço e levou-me para a praia.

As estrelas reluziam no céu, a lua, muito discreta no seu quarto minguante, iluminava lá no alto, o Cristo Redentor.

Ela parou em frente a mim e olhou-me nos olhos.

- Finalmente Renato. – disse ela.

- Finalmente. – sorrimos os dois, e beijámo-nos.

- Eu te amo, Renato. – disse a Soraia num sotaque brasileiro.

- Eu também amo você. – respondi-lhe e depois demos umas boas gargalhadas.

Beijámo-nos mais uma vez, e outra, outra, até que perdi a conta aos beijos que trocámos.

 

 

 

*

 

 

 

Verão de 2013

 

 

O dia de hoje está chuvoso. Enquanto olho este extenso mar e invejo-o pela sua força e coragem, a Soraia prepara as nossas malas para voltarmos a Portugal. Por uns tempos perdi-me aqui nas memórias, daqueles dias em que descobri a felicidade, mas dias esses que eu vivi aterrorizado como se fossem um preço pela minha felicidade. Depois de três anos no Rio de Janeiro, onde trabalhei na administração de um hotel e a Soraia deu os primeiros passos na sua carreira, regressámos a Portugal. Por mais felizes que nos sentíssemos um com o outro, dentro dos nossos corações residia sempre uma mancha nublada, e nunca iriamos conseguir ser completamente felizes sem que essa mancha fosse removida. Essa mancha é o vazio deixado pelos nossos pais na nossa vida. Durante três anos, nem uma única carta, nem um único telefonema. A minha promoção ao hotel aqui no Brasil, certamente chegara aos ouvidos da minha mãe, vivíamos num meio pequeno onde todos se conheciam, e ela saberia onde nos encontrar, se não o fez foi porque não quis. Porém ela é sangue do meu sangue, e só conseguirei ser feliz quando pelo menos a rever e saber que ela está bem. A Soraia sente este mesmo peso sob os seus ombros.

Quando chegamos a Portugal e era já madrugada. Decidimos hospedarmo-nos no hotel onde trabalhei, e no dia seguinte íamos à procura dos nossos pais.

Quando chegamos à receção sabíamos que aquela decisão de ali ficar era errada. O nosso caso tornara-se público e apercebi-me disso quando o rececionista olhou-nos com desprezo. Ele reconhecera-me. Porém não desistimos, e ficamos ali naquele mesmo hotel.

 

 

*

 

 

A casa continuava igual. Os muros cobertos de heras, os portões já com algum ferrugem, só a piscina estava vazia e suja, como se estivesse à muito tempo sem uso.

- Vamos tocar a campainha?

- Sim, faz isso Renato.

Toquei uma vez. Duas. Só depois da terceira é que desistimos. Viramos costas à casa e descemos pela rua abaixo, quando uma mulher aparece no nosso caminho. Ela parou, nós paramos em frente a ela e um silêncio constrangedor reinou ali por momentos.

A mulher estava velha, como se o tempo a tivesse desgastado. Os seus belos cabelos loiros de outrora estavam brancos e despenteados. O perfume de antes, dera lugar a um odor, a mulher à muito que não deveria tomar um banho. Várias peças de roupa cobriam o corpo dela, quando estávamos em pleno agosto, com temperaturas acima dos trinta graus celsius. No entanto, apesar de tudo ela ainda era a nossa mãe.

- Abominação! Essa criança será uma abominação, filha do incesto e do diabo! – foram as únicas palavras que saíram da boca dela quando a Soraia passou a mão pela sua barriga onde carregava o nosso filho.

 

 

 

 

Próximo Capítulo:

O final.  :cool:

 

"- Amor?! Até quando vocês vão defender que isso é amor? Vocês estão cegos pelo desejo, e pensam que isso é amor… vocês não sabem o que é o amor. Vocês entenderam errado  o conceito de amor."

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Capítulo 7 – Aquele Mesmo Sorriso Inocente

[Capítulo Final]

 

 

 

 

A mulher estava velha, como se o tempo a tivesse desgastado. Os seus belos cabelos loiros de outrora estavam brancos e despenteados. O perfume de antes, dera lugar a um odor, a mulher à muito que não deveria tomar um banho. Várias peças de roupa cobriam o corpo dela, quando estávamos em pleno agosto, com temperaturas acima dos trinta graus celsius. No entanto, apesar de tudo ela ainda era a nossa mãe.

- Abominação! Essa criança será uma abominação, filha do incesto e do diabo! – foram as únicas palavras que saíram da boca dela quando a Soraia passou a mão pela sua barriga onde carregava o nosso filho.

 

 

(Final capítulo anterior)

 

 

 

 

- Mãe, esta criança que vai nascer é teu neto. – disse a Soraia.

- Não, essa aberração nunca será meu neto! Nunca! – depois de uma longa pausa, acrescentou. – Já perdi o vosso pai à custa dessa vossa relação incestuosa. Há um ano que ele se foi, perdido na vida pelo desgosto.

- O pai… morreu? – perguntei. Fiquei chocado.  – O pai morreu e tu não nos disseste nada?

Não queria acreditar que a minha mãe fora capaz de esconder de nós a morte do nosso pai.

- Nós merecíamos uma última despedida, ele era nosso pai! Porque não nos enviaste sequer uma carta? Tenho a certeza que sabias onde nos encontrar. – ditas as palavras, a Soraia soltou uma lágrima.

- Claro que sabia, eu e todas as pessoas daqui da terra. Ele há muito tempo que já tinha perdido os seus dois filhos. Ele não queria saber de vocês. Morreu no dia do teu aniversário, Renato. Deixou-se levar pelo desgosto de ter perdido os dois filhos, mas principalmente a ti Renato que sempre foste o orgulho dele. Um jovem bonito e bem-sucedido, qual pai e qual mãe não se sentiria orgulhoso? Tu Soraia, a filha que qualquer pai gostaria de ter. Simpática, inteligente e muito bonita também, mas por trás de uma grande beleza, veio uma grande escuridão. – fez um longa pausa. - Já eu continuo aqui perdida neste mundo sem sentido, vivo sem vontade de viver… qualquer dia chega a minha vez. A solidão que passo naquela casa onde antes havia luz e alegria em abundância, é tal, que até aquelas paredes parecem sinistras. Uma casa que deixou de ser um lar, agora é apenas o abrigo de uma velha que espera o seu dia para partir.

- Mãe, tens consciência que vocês estragaram a vossa vida, por recusarem o nosso amor?

- Amor?! Até quando vocês vão defender que isso é amor? Vocês estão cegos pelo desejo, e pensam que isso é amor… vocês não sabem o que é o amor. Vocês entenderam errado o conceito de amor.

- Certamente sabemos melhor do que tu, mãe. Por isso é que durante estes anos nem um único sinal de preocupação com os teus filhos tu deste. Que estranha forma de amor tu tens pelos teus filhos. Ou o amor de mãe também tem as suas exceções? Também será ele um amor limitado?

- Não me chamem de mãe, se há coisa que não suporto ouvir é essa palavra vinda das vossas bocas. Rezo a Deus todos os dias para que ele me devolva aqueles dois filhos que perdi, que me faça acordar deste pesadelo, mas tudo o que eu vejo são vocês, dois estranhos. Deus não respondeu às minhas preces.

- Deus enviou-te os teus filhos! Por algum motivo aqui estamos.

- Não, Deus nunca iria permitir tal abominação, está escrito na…

- Por favor, chega dessa conversa! Chega! Eu estou cansado…

A Soraia interrompeu-me e começou ela a falar.

- Mãe, queres debater religião? Vamos então debater religião. Eu sou católica e crente em Deus, ensinaste-me a amar a Deus e eu fi-lo. Hoje acredito e sou devota a Deus por opção própria e independentemente daquilo que foi escrito nos livros pelos Homens, acredito que Deus defenda o amor. Deus é amor, foi tudo o que me ensinaram ao longo da vida, principalmente, tu. Por isso Deus certamente não condenará o nosso amor. Isto é apenas amor, amor puro. Porque não podemos amar-nos? Por sermos ambos teus filhos, por termos o mesmo sangue? Mãe, não entendo, juro que não entendo o que vai na tua cabeça…

- Soraia, acalma-te. Perdemos o nosso tempo aqui. Esta viagem foi em vão. O mais engraçado, é que nós sentíamos que precisávamos vir aqui, como se uma força maior o estivesse a impor sobre nós, e tu rezas todos os dias a Deus que te devolva os teus filhos. Curioso. – fiz uma pausa. – Mas vamos, Soraia, vamos embora.

Tentei pegar na mão da Soraia, mas ele recusou.

- Estou cansada! – a Soraia chorava – Cansada de tudo isto, deste drama sem fim. Maldito o dia em que descobri o amor. Se soubesse que teria que pagar este preço para poder amar alguém, certamente não o teria pago. Destruí a minha vida e a vida de todos à minha volta, perdi o meu pai e tenho uma mãe que não quer saber de mim. Porquê? Porquê?

Virei-me para a Soraia, peguei-lhe em ambas as mãos e segurei-as com força entre as minhas.

- Soraia não lamentes o nosso amor. Somos fortes o suficiente para lutar contra este maldito mundo. Nunca mais voltes a dizer isso. Nós amámo-nos e isso é tudo o que importa. Não chores, meu amor. – virei-me para a minha mãe. – Mãe, esta será a última vez que nos verás. Tens a certeza que é isto que queres?

 Ela não disse nada. Momentos depois a Soraia começa a agarrar-me com muita força, num ato de desespero.

- Renato, a bolsa rompeu. O bebé vai nascer.

Os minutos que se seguiram foram minutos de pânico. As horas seguintes foram horas de horrores.

 

Como não tinha carro, liguei para os bombeiros que logo de imediato vieram com uma ambulância para levar a Soraia para o hospital. Eu acompanhei-a até lá.

A minha mãe virara-nos as costas e entrara em casa, mal eu ligara para os bombeiros. Ficamos ali sozinhos por um tempo até ao momento em que a ambulância chegou.

- Renato, o nosso filho vai nascer. – ela chorava e sorria. – Finalmente vamos ser uma família completa. E acho que vai ser uma menina.

Tentei manter uma conversa com ela, para que assim ela estivesse mais calma.

- Menina? Não… vai ser um rapaz. Lindo como o pai. – sorrimos os dois.

- Menino ou menina, eis a questão. Vamos descobrir dentro de algum tempo.

- Seja o que for, irá ser uma criança muito amada, fruto de um grande amor. Amo-te tanto Soraia.

- Também te amo muito meu amor. – e beijámo-nos.

Quando chegamos ao hospital a Soraia foi levada para a sala de partos e eu aguardei cá fora na sala de espera.

Naquele tempo que lá estive, tudo me passava pela cabeça. Questionei-me se tudo aquilo pelo que passamos valera de alguma coisa. Sabia que era errado questionar isso, pois tinha há pouco tempo repreendido a Soraia quando ela fez o mesmo. Independentemente de todas essas questões, o amor que nutria pela Soraia, nunca questionei nem pus em causa.

 

 

 

*

 

 

 

Algumas das cadeiras que tinham na sala de espera perto de mim estavam todas destruídas. Todos os presentes no local olhavam-me de lado. Eu estava num estado de fúria total. Como aquilo fora acontecer? Quando o médico me deu a notícia, a minha vontade era de matá-lo ali mesmo. As palavras dele ainda ecoavam na minha cabeça “A sua filha está bem, é uma criança saudável, mas a mãe… perdemos a mãe da bebé”.

Como foram eles deixar a Soraia partir? Como? A Soraia porque não lutou com todas as suas forças para viver? Certamente eu adormecera e estava a viver dentro de um longo pesadelo.

Durante vários minutos fiquei ali deitado no chão daquela sala. Os seguranças do hospital foram chamados a intervir e levaram-me lá para fora. Uma hora, foi o tempo que fiquei deitado no jardim do hospital. Sem forças e sem vontade de viver, sentia-me sozinho neste mundo.

Quando uma enfermeira veio me chamar, eu fui com ela. Tentei contar as lágrimas mas elas continuavam sempre a cair.

- Renato, aqui está a sua filha. – disse a enfermeira apontando para a bebé que estava a dormir. Sentimos muito pela perda da mãe, mas a bebé é uma criança saudável.

Não conseguia olhar para a bebé. Sentia-me fraco e com raiva pelo que acontecera. Quando ganhei forças, olhei para a minha filha. Peguei nela e segurei-a nos meus braços.

No meio de tanta escuridão, eu sorri. Aquele rosto da minha filha era o mesmo rosto da Soraia quando a vi pela primeira vez ainda bebé. Senti que ainda havia alguma luz na minha vida, apesar da infinita escuridão.

Quando lhe fiz uma festinha no rosto, ela abriu os olhos e sorriu. Chorei de novo, pela alegria ou tristeza não sei, mas a minha filha tinha aquele mesmo sorriso inocente da mãe. Aquele sorriso único cheio de beleza e inocência.

Fiquei durante uns dias com a minha filha no hospital. Ela ainda precisava de cuidados médicos.

 

 

 

Alguns Dias Depois

 

 

A minha filha tivera alta e íamos para casa. Só faltava assinar uns papéis para que depois pudesse levá-la comigo. No dia anterior tinha sido o enterro da Soraia. Quase ninguém comparecera para se despedir dela, mas no entanto sou capaz de jurar que vi uma mulher ao longe que me fez lembrar a minha mãe. A minha filha ficou aos cuidados da enfermeira no hospital para que eu me pudesse dizer o último adeus à Soraia. Não encarei aquilo como um adeus, pois no fundo somos almas gémeas e ela estará sempre aqui comigo, mesmo não a vendo. Vejo a Soraia viver através da nossa filha, o fruto de um amor verdadeiro.

 

No hospital vi a enfermeira vir até mim e trazia consigo alguns papéis para assinar.

- Já decidiu o nome da bebé? – perguntou a enfermeira.

Por momentos não sabia o que responder. Não tínhamos nada planeado, seria uma coisa que iriamos descobrir os dois em conjunto depois de a nossa filha nascer. Fez-se silêncio por uns momentos até que alguém falou.

- Já sim. – reconheci a voz vinda de trás de mim. – A menina chamar-se-á Soraia, tal como a mãe. 

Quando me virei, vi a minha mãe. Parecia uma mulher mais nova que aquela que vira da última vez quando nos cruzamos na rua. Ela olhou-me nos olhos e não disse mais nada. Nem precisava, pois eu li nos olhos dela um “perdoa-me” e um “desculpa-me”. Apesar de tudo, aquela mulher era a minha mãe. Ela veio até mim e fez um carinho no rosto da pequena Soraia.

Vi lágrimas no seu rosto, senti outras no meu. Não compreendi o que fez a minha mãe mudar assim, mas também não era o momento para todas essas questões.

- Certamente. Soraia será o nome da minha filha. – a minha mãe sorriu para mim e eu retribuí.

- Anda Renato, vamos para casa. – a minha mãe envolveu-me num abraço.

 

Com a Soraia nos braços, segurei a mão à minha mãe e saímos juntos em direção ao nosso lar.

 

 

 

 

FIM

 

 

 

 

http://youtu.be/Oe-hvvJCM3A

 

 

 

Pequena Nota sobre Tempestades de Verão

 

A ideia de escrever esta história surgiu depois de ter visto um filme brasileiro, Do Começo ao Fim [2009]. Um outro caso que inspirou esta escrita foi o casal de irmãos, Jaime e Cersei Lannister da série Game of Thrones. No fundo foram duas histórias onde o amor fala mais alto que qualquer laço de sangue. Duas histórias que me tocaram e que me fizeram criar este romance.

Espero que todos tenham gostado, tentei dar o meu melhor para fazer desta uma boa história.

 

 

 

 

Até breve. :)

  • Gosto 5
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Ai nem acredito :cray: Não acredito que a Soraia morreu :cray:  Só depois da desgraça é que a mãe deles perdoou...

 

Fogo João, conseguiste surpreender-me, nada à espera, até me vieram as lágrimas aos olhos :( Adorei esta "aventura". Esperamos uma próxima tua :D

 

Obrigado Tiago.  :happy:  :P

 

p.s: ela não tinha nada a perdoar, apenas ser perdoada.  :rolleyes:  :)

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