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Tempestades de Verão


Jão

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ESTREIA DIA 21 DE ABRIL

 

 

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AS PERSONAGENS DA HISTÓRIA

 

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NÃO PERCA NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA A ESTREIA DA HISTÓRIA DE AMOR DE RENATO E SORAIA. 

 

A PREVISÃO DAS PUBLICAÇÕES É DE UM CAPÍTULO POR SEMANA, MAS NADA ESTÁ DEFINIDO, PELO QUE PODERÁ HAVER ATRASOS OU ADIANTAMENTOS NAS PUBLICAÇÕES DE NOVOS CAPÍTULOS.

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[ESTREIA]

 

Capítulo 1 – Uma Flor no Jardim

 

 

 

Verão de 2013

 

 

Aqui, olhando o extenso mar que se encontra à minha frente, penso nela.

Bonita. Ela é bonita. Os seus longos cabelos loiros que lhe caem até meio das costas são de uma beleza única. Os seus olhos verdes que brilham mesmo quando a escuridão a envolve seduzem o mais incomum dos homens. O seu largo e intenso sorriso conquista o mais duro e inesperado de todos os corações.

A Soraia tem vinte e dois anos. Desde o que a minha memória me permite recordar, ela sempre foi portadora de uma beleza tão invejável, não por mim é claro, mas por todas as raparigas da idade dela, e não só. Poderia dizer que essa beleza a ajudara em muitas conquistas ao longo da sua vida, mas isso seria mentira. A Soraia sempre fora invejada por todas as raparigas desde cedo. Era por ela que todos os meninos, ainda inocentes no que toca ao amor, se diziam, apaixonados. As mesas da sala onde a turma dela estudava estavam todas riscadas a lápis, desenhos de corações e declarações de amor, tudo para ela. A beleza única da Soraia desde cedo que amoleceu os corações de todos os homens que com ela se cruzavam na vida. As meninas, malvadas, da turma da Soraia desde cedo que a tratavam com desprezo e arrogância por ela roubar para si todas as atenções dos meninos. Com o passar dos anos, os meninos passaram a rapazes e as meninas a raparigas. A atração que os rapazes sentiam por ela intensificava-se, e a arrogância e desprezo das raparigas passou a agressões e violência psicológica.

Os rapazes por mais declarações de amor que lhe faziam, por mais cartas que enviassem nunca algum conseguiu fazer com que ela retribuísse esse sentimento. Ela sorria quando eles se lhe dirigiam, cumprimenta-os com um sorriso inocente e deixava que eles falassem. Quando eles reparavam que ela nada falava, apenas ouvia o que eles lhe diziam, desistiam e iam embora. Ela olhava sempre para trás depois de eles lhe virarem costas, e era aí que eu notava nos olhos dela que ela sentia uma mágoa por os ver tristes, mas ela sabia que mais tristes poderiam eles ficar se ela aceitasse as suas propostas de namoro e fingisse retribuir o mesmo sentimento, quando na realidade isso não acontecia.

A Soraia desde sempre fora muito tímida e humilde, humilde até demais. Nunca se queixara a ninguém das agressões que sofria por parte das colegas. Quando às vezes alguém lhe via uma nódoa negra ou um arranhão ela dizia sempre que fora numa queda. E todos acreditavam na história contada pela doce Soraia. Eu acompanhava a Soraia por perto, mas mesmo assim nunca soubera de nada. Só mais tarde, é que vim a saber de tudo isso pela boca da própria Soraia.

O meu nome é Renato. Tenho vinte e oito anos. Desde os meus catorze anos de idade que sou apaixonado pela Soraia. Desde sempre que admirei a beleza única da qual ela era portadora, e que fazia dela uma pessoa tão única e tão especial. A sua beleza é de uma imensidão que me enche o peito de orgulho e os olhos de lágrimas cada vez que ela vem à minha memória. Nunca conheci na minha vida uma pessoa portadora de uma beleza interior tão perfeita como a Soraia. Quando eu tinha vinte e dois anos e a Soraia os seus dezoito, acabara de entrar na maioridade, descobri que ela nutria do mesmo sentimento por mim. Foi num dia quente de verão depois de uma tarde de piscina e banhos de sol na companhia dela que descobri, e foi nesse mesmo dia que nos entregamos um ao outro pela primeira vez.

 

 

Verão de 2007

 

Aquele era o último verão antes de a Soraia entrar na faculdade. Ela estava junto à piscina, com as costas voltadas para o sol. Usava um biquíni preto. Eu estava apenas de calções de banho e ouvia música, deitado na relva do jardim à sombra de uma árvore. Não conseguia tirar os olhos da Soraia. Ela de vez em quando, também olhava discretamente para mim, porém quanto mais discreta ela tentava ser, mais indiscreta era.

- Renato anda, vamos mergulhar. – chamou ela.

Eu fui. Saltamos os dois para a piscina e nadamos, fizemos pequenas brincadeiras na água e depois deitamo-nos os dois lado a lado na relva. Ela olhava para mim com aqueles lindos olhos verdes, e eu retribuía esse olhar. Ela sorriu e eu sorri. Ela tocou o meu braço, fez-me um carinho e eu depois retribuí esse mesmo carinho no braço dela. Momentos depois ela levantou-se e puxou-me com ela. Guiou-me até ao quarto dela e trancou a porta. Por uns momentos ficamos ali os dois a olhar-nos, até que ela levou a mão às costas e desapertou o seu biquíni. A peça caiu ao chão e ela ficou ali, imóvel com o mesmo sorriso inocente de sempre a olhar-me, como se pretendesse que eu fizesse alguma coisa. Eu não sabia o que haveria de fazer naquele momento. Eu amava-a e desejava-a mas aquilo era tão errado. Não podia deixar aquela loucura continuar. Nesse momento ela volta a pegar nas minhas mãos e envolve-as nos seus seios. Eu envolvo-a em mim num abraço e beijo-a. Beijo-lhe o pescoço, os seus braços, o seu peito. As minhas mãos percorreram todo o seu corpo. Ela passava as mãos nos meus cabelos, envolvia-me nos seus braços, puxando o meu corpo contra o dela. Ofereci-lhe ali todo o meu amor. Fizemos amor pela primeira vez na cama dela, onde ainda vestígios da criança que ela fora se acomodavam nas prateleiras, desde bonecos de peluche a brinquedos. Naquele momento eu descobri que ela sentia por mim o mesmo sentimento que eu tinha por ela. Aquilo era apenas, amor no seu mais belo e puro estado. Mas tudo aquilo era tão errado. Tão incomum. Não fosse ela, minha irmã.

 

 

 

No próximo capítulo:

 

"No dia seguinte os nossos pais chegavam da viagem que foram fazer ao Brasil. Dentro de algumas semanas a Soraia iria para a faculdade. Eu estava de férias, mas também em breve iria ter que voltar ao meu emprego. Porém enquanto esse dia não chegava iria ter que encarar a Soraia todos os dias, sem saber o que fazer."

 

 

 

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Capítulo 2 - A Longa Noite

 

 

 

 

Aquela tarde continuava a persistir na minha memória. Por mais cansado que me sentisse a minha cabeça não parava de recordar aquilo que acontecera e não me deixava dormir. Naquela tarde, depois de ter caído em mim, corri desesperadamente para o meu quarto. Só na manhã seguinte é que, logo cedo pela manhã, saí do quarto para comer alguma coisa. A Soraia devia estar no quarto dela a dormir. A casa estava em silêncio. Foi então que decidi ir até ao quarto dela espreitar pela porta entreaberta se realmente estava a dormir, ou tal como eu passara a noite em claro. Ela dormia. O corpo dela estava descoberto, não pode deixar de reparar. Abri a porta, entrei e cobria com um lençol. No rosto dela via sempre uma imagem de uma menina inocente. Por momentos fui levado pelas minhas memórias até aos dias após o nascimento da Soraia. Na altura tinha eu seis anos de idade, estava prestes a entrar no meu primeiro ano de escola. As minhas memórias são escassas, mas ainda lembro aquele dia em que a minha mãe chegou a casa com ela nos braços. Eu ficara com a minha avó Dolores, a mãe da minha mãe porque o pai passava grande parte do tempo com a minha mãe no hospital enquanto ela lá esteve. Naquele dia quando vi a Soraia pela primeira vez, lembro que ela sorriu para mim. Ninguém consegue perceber quando um recém-nascido sorri ou apenas abre a boca, mas eu naquele momento senti que aquele bebé tinha algo de especial. No meu primeiro dia de escola, a minha professora pedira que fizéssemos um desenho para oferecer aos pais. Eu por entre rabiscos desenhei aquilo que para mim era a minha família. O meu pai, a minha mãe, eu e a Soraia. Quem olhava o desenho dizia que eram apenas rabiscos incompreensíveis, mas o que importa é que eu sabia o que realmente aquilo significava. Ainda hoje guardo aquele desenho junto de todos os meus objetos de maior valor afetivo. Aquele momento fora mágico. O meu primeiro contacto com a minha irmãzinha, Soraia.

 

 

 

Quando caí em mim, saí do quarto da Soraia e voltei para o meu. Deitei-me na cama na esperança de finalmente conseguir dormir, mas isso não aconteceu. Trinta minutos se passaram, mas no meu entender é como se horas se tivessem passado. Momentos depois ouvi a porta do meu quarto abrir. A Soraia entrou, olhou para mim e deitou-se a meu lado. Ela nem sequer falou, eu também não sabia o que dizer. Ou o que pensar daquilo. Ela repousou a mão dela no meu braço e ali ficamos até que em algum momento eu adormeci.

Tudo já estava a ficar de novo escuro quando acordei. A noite começava a notar-se. Dormira durante todo o dia. A Soraia já não estava na minha cama quando acordei. Levantei-me para ir comer alguma coisa, e reparei que a casa permanecia em silêncio. A casa estava vazia. Depois de ter comigo umas torradas e bebido um copo de leite, deixei-me ficar deitado no sofá da sala a fitar o teto. Pouco tempo depois ouvi a porta de casa abrir, e de novo a fechar. A Soraia chegara.

Precisávamos falar. O silêncio naquela casa já se prolongara à vinte e quatro horas, e não podia continuar assim.

- Soraia, precisamos falar. Sobre aquilo….

Ela não respondeu. Ficou a olhar para mim à espera que eu disse-se alguma mais coisa.

 - Eu não sei o que nos passou pela cabeça ontem. Tens consciência daquilo que aconteceu?

Ela abrira a boca para responder, mas as palavras faltaram-lhe.

- Soraia, precisamos esquecer tudo o que aconteceu. Eu estive a pensar e vou hoje mesmo sair daqui de casa.

- Não. Não vás. – respondeu ela, depois de tanto tempo em silêncio.

- Mas eu preciso ir. Não podemos continuar os dois a viver sobre o mesmo teto.

- Renato… fica.

Eu estava a ficar impaciente. Aquela calma vinda da Soraia ainda me deixava mais nervoso.

- Mas porque haveria de ficar?

- Porque nos amámos. E isso é tudo o que importa. Não me deixes sozinha.

Eu não lhe respondi. Ela veio até mim e beijou-me. Não consegui sequer virar a cara. Por mais errado que aquilo fosse, e eu tinha consciência disso, ela no fundo tinha razão. Eu amava-a. E não era apenas um amor de irmão. Era algo mais. Como aquele primeiro olhar que tivemos pouco tempo depois que ela nasceu. Era algo mais do que aquilo que aparentava ser.

No dia seguinte os nossos pais chegavam da viagem que foram fazer ao Brasil. Dentro de algumas semanas a Soraia iria para a faculdade. Eu estava de férias, mas também em breve iria ter que voltar ao meu emprego. Porém enquanto esse dia não chegava iria ter que encarar a Soraia todos os dias, sem saber o que fazer.

 

- E os pais?

- Que tem os pais, Renato?

- O que vai acontecer agora?

- Não sei. Vamos deixar as coisas acontecer. O que tiver que ser será.

- Soraia, isto não é nenhuma brincadeira.

- Eu sei. – ela sorriu, aquele sorriso inocente. – A partir de agora somos nós dois…

- Nós dois, contra o mundo. - completei.

 

 

 

No próximo capítulo:

 

"Finalmente chegara o dia em que eu e a Soraia iriamos revelar aos nossos pais aquilo que nos unia. Iriamos mostrar que por vezes há laços de afeto que são mais fortes e inexplicáveis do que os laços de sangue que nos unem."

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Capítulo 3 –   Tic Tac

 

 

 

 

Aquele era o dia em que os nossos pais chegavam da viagem que tinham ido fazer ao Brasil. Eu podia estar feliz por finalmente rever os meus pais, depois de semanas sem os ver, mas a ocasião era precisamente o contrário. A cada minuto que passava e se aproximava a hora de eles chegarem a casa, mais nervoso e assustado eu ficava. Não tinha motivos para tal, visto que tudo o que acontecera era agora um segredo só meu e da Soraia, mas enquanto a memória o permitisse, tudo aquilo iria continuar a persistir na minha cabeça.

O relógio da sala, que tocava sempre uma melodia a anunciar as horas, estava a assinalar as três horas da tarde quando ouvi um carro aproximar-se e abrandar lá fora. O táxi que trazia os meus pais chegara. Eu esperava-os na sala, a Soraia estava no quarto dela. O momento em que a porta da casa abriu foi quando senti o meu coração bater com mais intensidade. As minhas mãos suavam com os nervos.

- Renato! Meu filho! – exclamou o meu pai, vindo ao meu encontro cumprimentar-me num abraço, ao qual eu retribui.

- Oh meu filho, que saudades! – disse a minha mãe, vindo abraçar-me de seguida. Eu tentei um sorriso forçado, foi o suficiente, os meus pais estavam tão entusiasmados que nem notaram que algo estranho acontecia comigo.

- Ai meu filho, que viagem cansativa. Boa, muito boa, mas cansativa.

- Mãe, vocês vão três semanas ao Brasil, e ainda te queixas?

- A tua mãe veio a dormir toda a viagem de avião, por isso é que está cansada. – ironizou o meu pai.

- E a Soraia? Onde anda a minha filhota?

- Soraia? – fiquei quase sem palavras. – Que tem a Soraia?

- Onde está a Soraia, quero ver a minha filha! Ora o que haveria mais de ser… - a minha mãe deixara-me novamente nervoso quando eu estava já a começar a acalmar-me.

- Estou aqui mãe. – Soraia estava já a chegar à sala com um largo sorriso no rosto. – É impossível não notar a tua chegada, a tua voz ouve-se a milhas daqui.

A minha mãe abraçou a Soraia, o meu pai de seguida. Eu sentia uma tensão no ar. Tinha medo de qualquer coisa que a Soraia pudesse falar. Ela era tão inocente que podia falar mais do que aquilo que devia.

 

À noite o jantar foi preparado por mim. A caminho de casa, a minha mãe comprou peixe fresco, dizia ela ter saudades de um bom peixe grelhado, eu grelhei o peixe e cozi umas batatas enquanto a Soraia colocava a mesa para o jantar, enquanto isso os meus pais arrumavam as malas da viagem.

Quando o jantar ficou pronto sentámo-nos todos à mesa. A minha mão foi contando tudo o que acontecera no Brasil, as idas à praia, as comidas, a vida noturna no Rio, os famosos que vira no famoso calçadão do Rio onde conseguira um autógrafo da atriz Susana Vieira que ela encontrou a correr numa manhã de sábado, a subida ao Cristo Redentor, entre muitas outras aventuras. Passou-se uma hora e a minha mãe ainda não tinha contado nem metade das coisas que fizera durante as férias no Brasil. O meu pai corrigia sempre que ela trocava alguma coisa e acrescentava curiosidades àquilo que ela ia contando. A Soraia foi buscar ao congelador gelado de morango e baunilha, distribuiu por quatro taças e comemos gelados enquanto a minha mãe continuava a contar as novidades.

Quanto terminou, virou-se para mim.

- E por aqui, como foram as coisas?

- Como assim? – fiquei novamente nervoso.

- Tomaste conta da tua irmã?

- Eu… sim… tomei, claro que tomei conta da minha irmã.

- Acho muito bem. – disse a minha mãe em tom de brincadeira.

- E tu filha, o teu irmão tem andado na linha?

- Sempre mãe. – Soraia sorriu ao responder. Ela estava tranquila como se nada tivesse acontecido. Como conseguiria ela conseguir estar assim tão tranquila, tão indiferente, depois de tudo o que acontecera? Não conseguia compreender.

 

 

O verão ainda não tinha chegado ao fim, mas as minhas férias sim, e no dia seguinte ia voltar de novo ao meu posto de trabalho. Desde que concluíra o meu curso em gestão de empresas, consegui um emprego num hotel da região. O hotel onde trabalhava pertencia a uma conceituada empresa hoteleira. A minha função era gerir aquele hotel, um dos dez de toda a linha da empresa. Tinha um emprego bom, confortável e um bom salário. Quanto a isso não me podia queixar. Trabalhava de segunda-feira a sexta-feira, entrava sempre por volta das nove horas da manhã e saía às seis da tarde, tirando os dias de reuniões prolongadas, em que ficava até mais tarde na empresa.

Semanas depois a Soraia entrou na faculdade. A faculdade de Soraia ficava numa cidade a cerca de 200 quilómetros de casa. Ela adorava fotografia, e iria ingressar num curso de fotografia. O sonho dela era ser uma fotógrafa profissional, montar exposições e ser reconhecida pelo seu trabalho em fotografia.

Na última sexta-feira antes de ela partir, ela apareceu lá no hotel. O meu escritório era numa sala que ficava no décimo sexto andar. Quando a minha secretária avisara que a minha irmã queria falar comigo eu hesitei em recebê-la, mas logo de seguida dei ordem para que ela entrasse.

- Soraia, que surpresa. Que vieste aqui fazer?

- Desde aquele dia, nunca mais estivemos juntos. Desde que disseste que iriamos ser nós dois contra o mundo, esse nós nunca mais existiu.

- Soraia, aqueles dias foram um erro. Vamos tentar superar isso.

- Um erro? – ela ficou triste, vi logo uma lágrima cair pelo seu rosto lindo. – Amar é um erro?

- Soraia, nós somos irmãos! Raios! – exaltei-me. Eu desejava-a, mas ela era minha irmã. Sabia o que desejava verdadeiramente, mas sabia também aquilo que deveria ser o certo a fazer.

- Renato, isto não precisa ser assim. Vamos ser felizes. Somos os dois adultos, donos de nós. Eu já te disse que estou disposta a enfrentar o mundo, se for o preço a pagar para te ter comigo.

- Tu vais embora daqui. As nossas vidas estão a tomar rumos que não permitem aquilo que desejámos.

- A vida toma o rumo, que nós lhe dermos. Eu amo-te Renato. – ela veio até mim e beijou-me. Eu não conseguia recusar os beijos dela.

- Eu também te amo Soraia. – beijei-a de novo.

Não podíamos simplesmente assumir uma relação. Por mais forte que fosse o nosso amor havia muita coisa em jogo. A Soraia ainda era estudante, dependia dos nossos pais. Eu ainda morava na mesma casa que eles. Eu podia cuidar da Soraia e das despesas escolares dela, mas o mais certo era que se assumíssemos publicamente o nosso amor, eu fosse despedido. Seria muito escandaloso associar o hotel onde trabalho a um dito caso de incesto. Tanto eu como a Soraia, tínhamos a certeza daquilo que desejávamos.

Durante três anos mantivemos uma relação às escondidas. Vivíamos o nosso amor escondidos. Sempre que podia ia ter com ela à cidade onde ele estudava e estávamos juntos. Quando ela vinha de férias para casa dos nossos pais, tentávamos agir normalmente. Os primeiros tempos foram constrangedores, mas com o tempo fomo-nos habituando à situação. Nos verões que se seguiram, fizemos várias viagens juntos. Aos olhos do mundo, eramos apenas dois irmãos que iam aproveitar as férias ao máximo na companhia um do outro, mas nós sabíamos que éramos mais que isso. Os momentos que tínhamos para nós eram poucos, mas as expetativas de um futuro melhor eram a nossa força para continuar em frente a trabalhar o caminho para esse futuro que tanto desejávamos.

 

 

Verão de 2010

 

Aquele dia chegara. Não dava para continuar mais com as mentiras. Finalmente chegara o dia em que eu e a Soraia iriamos revelar aos nossos pais aquilo que nos unia. Iriamos mostrar que por vezes há laços de afeto que são mais fortes e inexplicáveis do que os laços de sangue que nos unem.

 

 

 

No próximo capítulo:

"Lembro-me de sentir o frio do chão na minha cara, de sentir o sangue a escorrer pela minha boca e pelo meu nariz, e lembro também de sentir alguns cortes que (..) me fizera com a força com que me batera." 

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Capítulo 4 – Eu Sei Que Isto é Amor

 

 

 

 

Não pensei que aquele dia fosse terminar assim. Nunca me passou pela cabeça que um desfecho assim pudesse acontecer numa história de amor.

*

A Soraia recebera o diploma. O seu curso de fotografia estava concluído. Agora ela era uma mulher à espera de entrar no mercado de trabalho. Quando chegamos a casa, vindos da cerimónia de entrega do diploma, eu voltei a certificar-me com a Soraia se deveríamos ou não continuar com o plano de revelar aos nossos pais a nossa relação. Conscientes e preparados para as reações mais pavorosas da parte deles, nós concordamos que aquele era o dia em que iriamos tirar um peso de cima de nós. Sabíamos que o mais certo era termos que pagar um preço por esta nossa relação, e esse preço passaria por os nossos pais deixarem de nos reconhecer como filhos. Que pais suportariam um caso de incesto debaixo do próprio teto?

Quando o jantar terminou, eu segui a Soraia até ao quarto dela. Lá demos as mãos, unimos as nossas forças e selámos o nosso amor com um intenso beijo. Saímos do quarto e fomos até à sala onde os nossos pais estavam, sentados no sofá, a ver televisão.

- Mãe, pai, precisamos de falar. – eu estava em pé em frente a eles. Ao meu lado estava a Soraia. A sala naquela noite parecia-me mais escura. A luz de um candeeiro num canto da sala e a luz da televisão eram as únicas que faziam clareza para a sala, fazendo com que a escuridão predominasse em alguns lugares mais afastados. Reparei a minha mãe a carregar no mute do comando da televisão enquanto o meu pai pousava o jornal.

Antes de proferir mais uma palavra que seja, eu já via uma lágrima prestes a cair pelo rosto da minha mãe.

- Há coisas que não têm explicação. Simplesmente elas acontecem. –  peguei na mão da Soraia e ficamos de mãos dadas. Foi nesse momento que a lágrima da minha mãe caiu. Ela olhava para nós, com uma expressão de quem pensava “No fundo, eu sei o que queres dizer”.

- Renato o que queres dizer com isso? – perguntou-me o meu pai.

- Eu amo a Soraia. E ela também me ama.

- Meu filho, eu também vos amo muito aos dois. Fico feliz em saber que vocês se dão muito bem. –  o meu pai não percebera. A minha mãe não proferira uma palavra, mas eu sabia que ela sabia o que eu queria realmente dizer.

- Pai, eu amo a Soraia.

- Sim, eu sei… quer dizer… - ele remexeu-se no sofá. – como assim?

- Nós estamos apaixonados. – a Soraia falou.

- Não, isso é impossível. Vocês são irmãos. Não faz sentido.

 Pai, eu sei que isto é amor. Apenas amor. – a Soraia mantinha a sua voz calma.

O silêncio predominou naquele momento. O meu pai ficara pálido a olhar para nós. Finalmente ele compreendera. A minha mãe continuava a chorar. Ela não falara nada. Momentos depois o meu pai levantou-se.

- Vocês já…

- O quê pai? – perguntei.

- Vocês alguma vez tiverem algum tipo de ato sexual? Alguma vez fizeram alguma coisa que não deviam? – a voz do meu pai fazia ouvir por toda a casa.

Ninguém respondeu. Os meus olhos cruzaram-se com os do meu pai. Ele percebeu a resposta. Foi nesse momento que ele partiu para cima de mim, esbofeteou-me, atirou-me ao chão e pontapeou-me, mas eu não retribuí. Ele era o meu pai, nunca levantaria a mão ao meu pai. A minha mãe gritava “Por favor, não faças isso, ele é nosso filho! Deixa-o!” mas o meu pai continuava. A Soraia estava assustada, também ela chorava e gritava. Quando ele parou, olhou-nos com desprezo e saiu de casa. Lembro-me de sentir o frio do chão na minha cara, de sentir o sangue a escorrer pela minha boca, pelo meu nariz e lembro de sentir alguns cortes que o meu pai me fizera com a força com que me batera. Lembro-me da mão da Soraia no meu rosto a acariciar-me a pele. Depois tudo apagou-se e fiquei perdido numa dimensão de um branco infinito.

 

 

 

No próximo capítulo:

 

- Não mãe, não está nada esclarecido! Eu compreendo a tua reação, mas porra! – lágrimas correram pelo meu rosto. – Estamos a falar de amor! Amor, mãe! Será que não entendes? É apenas, amor.

- Amor? Que amor? Isso é incesto! É monstruoso! Abominável!

- Tretas! Qual o mal de dois irmãos se amarem? Que tem de mal uma manifestação de amor? É honesto, verdadeiro, sincero e incondicional.

- Mas não é correto. Nem aos olhos dos Homens, nem aos olhos de Deus!

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Meu Deus, li tudo hoje de seguida e estou sem palavras... :( Adoro a intensidade, o sentido do Amor que colocas na escrita, pra mim faz totalmente sentido! E já esperava essa reacção dos pais  :unsure:  Quer dizer, não é fácil... ainda por cima quando o pai perguntou sobre sexo...  :(

Editado por Tiago Madeira
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OMG. Credo a reação do pai foi do mais brusco que pode haver e desata logo a pontapear e a esbofetear? :O .mas parabéns, está excelente, quase que me ponho a chorar, parece mesmo real. A maneira como expressas as emoções, os sentimentos faz com que tudo pareça real. Adorei <3

Editado por Hugo3
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