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Rendição


Ruben

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11 DE NOVEMBRO DE 1918

MUNIQUE, IMPÉRIO ALEMÃO

 

Chuviscos pairavam sobre a cidade de Munique quando, na casa de Karl, se ouve uma notícia trágica pela rádio.

 

“Hoje, às onze da manhã, entrou em efeito o armistício assinado em Compiègne pela delegação do Reich, representado por Matthias Erzberger, Detlof von Winterfeldt, Alfred von Oberndorff e Ernst Vanselow, e pelas forças aliadas da França e da Grã-Bretanha.

As forças do Reich deverão parar imediatamente de combater, bem como serão retiradas todas as tropas presentes na Bélgica, França, Luxemburgo e nas regiões de Alsácia-Lorena...”

 

Otto, pai de Karl, desliga o rádio. A sua raiva era notória, a revolução comunista que pairava nas ruas do país tinha dados os seus efeitos. Com a abdicação do Kaiser, o já em colapso Império Alemão caíra nas mãos dos vitoriosos.

O ódio por comunistas rapidamente se propagou pela família e décadas mais tarde por quase toda a Alemanha. Cerca de vinte e um anos após o armistício, Karl e cerca de dezoito milhões de soldados, tinham agora a oportunidade de se vingar dos vitoriosos numa grande vitória, ou caminhar para um colapso monumental.

 

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“COLAPSO”

EPISÓDIO 3

 

9 DE JULHO DE 1944

AUSCHWITZ, GRANDE REICH ALEMÃO

 

Mais comboios vindos da Hungria chegavam a Auschwitz. Quatrocentas mil pessoas já tinham sido enviadas para o campo desde que os tanques alemães rumaram a Budapeste, depois de Hitler ter ordenado que a população judia daquele país, que até agora tinha sido poupada aos horrores do Holocausto, deveria ser exterminada.

Esta decisão surpreendeu todos no campo. Hansen, sem mãos a medir para tantos prisioneiros, ordenou de imediato que todos aqueles que estivessem impossibilitados de trabalhar fossem enviados para câmaras de gás. Já Karl foi mais longe, e aplicou tortura em alguns deles antes de os mandar para as câmaras. O número de pessoas que chegavam animava-o…

 

- Herr Hansen, que bom vê-lo! – sorriu cinicamente o médico. O comandante desprezava-o após de Karl o ter ameaçado com Anastasia. – Anda a verificar quem está apto para trabalhar?

- Sim, estou. – disse Hansen, desinteressado com a conversa.

- Não o estou a ver muito interessado… Relembro-lhe que o nosso antigo comandante saiu deste campo por ser brando, e os judeus aqui não são para serem tratados com brandeza. – disse Karl, provocando-o, algo normal nos últimos meses.

- Doze mil pessoas têm chegado aqui todos os dias, mais que em qualquer outra altura, Herr Wagner. No meio de tanta gente, você acha que eu tenho tempo para as suas falinhas mansas? Passe bem… – disse o comandante, abandonando o local onde se fazia a seleção de prisioneiros.

- Parece que o humor não abunda por aqui. – disse Karl para si mesmo.

 

O médico começou a procurar por gémeos na seleção. Era, de longe, o tipo de pessoas onde preferia fazer as suas experiências. Enquanto caminhava pela rampa de seleção, encontra uma jovem mãe, com dois filhos gémeos bastante perto dela. A mãe agarrava-as e dizia-lhes em húngaro, uma língua que Karl não percebia, para se manterem bem perto dela, não fossem elas separadas por um oficial das SS. Os olhos do médico nazi jubilaram de tamanha alegria.

 

- Fala alemão? – disse Karl, agachando-se para ela e para os filhos.

 

A jovem mãe acena positivamente com a cabeça, assustada.

 

- Eu sei que isto pode parecer estranho, mas não se importa que eu leve os seus filhos para verificar se têm algumas doenças ou piolhos?

- Eu não posso acompanhá-las? Não queria separar-me deles.

- Não se preocupe, em breve, eles estarão ao pé de si, tal como estão agora. Nós nazis, não somos tão maus como parece. Então, posso levá-los comigo? – perguntou Karl, estendendo a mão. O médico raramente dava explicações para levar as crianças, mas desta vez, o seu bom humor permitiu-o perder tempo com a jovem mãe.

- Será melhor para mim se eu fizer isso?

 

A prisioneira continuava relutante em oferecer as duas crianças. O seu instinto de mãe dizia-lhe para não entregar os filhos, mas, o medo daquilo que se ouvia falar a respeito dos nazis e dos famosos “campos de trabalho” prevalecia.

 

- Claro que sim. – sorriu para ela. – Tratarei deles como se fossem meus filhos.

 

A jovem mãe larga os filhos e diz-lhes em húngaro para irem com Karl. Este, entusiasmado, leva-os agora para o banho, para seguirem ao seu laboratório. Mas antes, grita para um guarda que se encontrava a vigiar a seleção.

 

- Está a ver aquela mulher ali? – perguntou Karl.

- Ja. – respondeu o guarda.

- Espanca-a até à morte, da forma mais dolorosa possível! – riu o médico.

 

O guarda chama dois outros guardas, e a jovem é espancada a pontapé. Ambas as crianças, que Karl segurava fortemente para não escaparem, olhavam para trás, a chorarem, e assistiam ao espancamento da mãe. Eles sabiam que era a última vez que a iriam ver.

Os rapazes, com cerca de sete anos de idade, tomam um breve duche e são enviados para uma sala onde são tatuados com um número no braço e um formulário lhes é preenchido. De seguida, são levadas para o laboratório.

 

- Herr Kolmer, dispa e amarre as crianças à mesa. – disse Karl calmamente.

 

O assistente do médico começa a despir as crianças e amarra-as. Estas, com medo, não oferecem resistência.

Karl prepara tudo o que precisava para começar mais uma das suas experimentações. Com a ajuda de Raffael, começa por examinar a anatomia de cada um deles, um processo que podia demorar horas. Quando verifica que tudo está realmente bem, manda sair o seu assistente e, sozinho, dá início à experiência.

Começa por transferir sangue de um gémeo para o outro. Estas transfusões demoravam pouco mais de meia hora. O médico apontava tudo no seu bloco de notas meticulosamente. Findada a transfusão, Karl segue para o próximo passo.

 

- Vão sentir uma picada nos olhos, mas não tenham medo, não vai doer nada.

 

Karl injeta corante azul nos olhos das crianças, algo que fazia várias vezes, mas ainda assim, sem sucesso. Cada vez que a mudança de cor falhava, ele aperfeiçoava os seus métodos e testava em novas pessoas, para chegar finalmente ao resultado pretendido.

Depois de injetar o corante, Karl desamarra as crianças, e manda-as sair do laboratório.

Quando Anastasia as vê sair, recorda as primeiras impressões que teve quando foi com Karl para Auschwitz.

 

8 DE ABRIL DE 1942

AUSCHWITZ, GRANDE REICH ALEMÃO

 

Anastasia continuava a percorrer o campo… O que via horrorizava-a, mas era a maior informação que iria dar a Merkulov e à União Soviética. Até então, os famosos “campos de trabalho” não passavam de rumores nas bocas dos soviéticos.

Quando se dirigia ao laboratório de Karl, que se instalara no campo há cerca de um mês atrás, encontra cinco crianças, esqueléticas, a olharem pasmadamente para a cabeça de uma outra criança, separada do resto do corpo. A espiã fica boquiaberta.

 

- Karl, não sei se sou capaz de estar aqui durante muito tempo. – disse-lhe, já no laboratório.

- Não sejas parva, sabes bem que eu preciso de ti aqui.

- Eu acabei de ver um grupo de crianças a olharem para a cabeça de uma outra criança, separada do corpo! Foi horrível, não sei se consigo ser suficientemente útil aqui.

- Ah, essa criança… Fruto de uma experiência que correu mal, uma pena, via potencial nela.

- Foste tu?

- Claro que fui eu. Estava morta, cortei-lhe o pescoço e atirei a cabeça às outras crianças, para saberem o que lhes pode vir a acontecer caso desobedeçam às minhas ordens. O resto do corpo foi incinerado. Não te preocupes, estas crianças já cá estão há tanto tempo que nem chocados ficam, principalmente quando vêm do gueto em Varsóvia. Lá há esqueletos aos montes!

- Como é que és capaz de cometer tais atrocidades? – disse a espiã.

- Anja, julgava-te mais fria. Eu sei como vocês, mulheres, são frágeis mas assim que te habituares, vais ver que situações como aquela passarão a ser indiferentes para ti.

 

O conselho que Karl lhe dera fora crucial. Horas mais tarde, Anastasia, sorrateiramente, vai ao laboratório de Karl, para saber onde se encontravam os gémeos. Sem que fosse vista, foi ter ao “quarto” onde se encontravam os dois. Escuridão irrompia nos quartos deles, apenas se ouvia o choro dos dois, de tantas dores que tinham em ambos os olhos. Quando a espiã chegou ao quarto, ficam assustados.

 

- Quem é você? – perguntou um dos gémeos.

- Sou a vossa salvadora. – disse Anastasia, em lágrimas.

 

Vendo o estado lastimável dos dois, Anastasia encosta a porta para não ser apanhada e coloca a mão direita em cima da cabeça da criança e o braço esquerdo no pescoço do mesmo. Com força, torce-o, matando-o de imediato. De seguida, fez o mesmo com a outra criança. Eram demasiado inocentes para sofrerem com as experiências de Karl…

 

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Ja - sim em alemão

Herr – termo alemão para senhor

 

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- Trate de lhe dizer que em breve, assim que o campo de Auschwitz for libertado, espere por mim e por um individuo nazi chamado Karl Wagner, médico aqui no campo e responsável pela morte de vários inocentes.


- Karl Wagner? Esse não é o seu aliadozinho aí?
- É, ou melhor, era. O panorama por aqui mudou…

 

O PENÚLTIMO EPISÓDIO DE "RENDIÇÃO" SERÁ PUBLICADO NO PRÓXIMO SÁBADO, DIA 22, ÀS 21:30H.

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8 DE SETEMBRO DE 1942
ESTALINEGRADO, UNIÃO SOVIÉTICA
 
- Ora, o que temos nós aqui? – disse Fritz, ao invadir uma casa, não muito destruída, durante a batalha. – Hermann, sabes falar russo?
- Sei.
- Então pergunta o nome a estes filhos da puta. Pela casa que têm, parecem-me ser mais que simples cidadãos comuns.
 
Hermann pergunta o nome a Ivan e Vera Petrov, pais de Anastasia. Estes respondem, para não sofrerem represálias dos alemães.
 
- Nunca ouvi falar deles, devem ser apenas uma família abastada qualquer daqui. – disse Petrov. – Mandem-nos para onde eles devem estar. Quanto mais ricos são, mais tempo duram…

 

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“FIM PRESSENTIDO”

EPISÓDIO 4

 

26 DE NOVEMBRO DE 1944
AUSCHWITZ, GRANDE REICH ALEMÃO
 
Rudolf Hansen acabara de receber uma carta do próprio Adolf Hitler. Não tardou muito até reunir as pessoas com as funções mais importantes daquele campo, incluindo Karl Wagner, para uma reunião de emergência.
Rudolf estava pálido, e as pessoas que estavam naquela reunião rapidamente perceberam que o assunto era grave.
 
- Recebi há poucos minutos uma ordem do nosso Führer, que diz expressamente que o campo de Auschwitz vai começar a ser desmantelado, e o seu ritmo de extermínio, abrandado. Segundo ele, Himmler diz que a questão judaica está resolvida e, como tal, em breve, o campo deverá cessar as suas funções.
 
Todos estavam chocados com a notícia, menos Karl. Há muito que o médico sabia que a Alemanha perdera a guerra. Desde da derrota do 6º exército em Estalinegrado que a Wehrmacht deixara de ser poderosa como era nos tempos da invasão da Polónia, da França ou até mesmo nos primórdios da Operação Barbarossa. Já nada podia salvar a Alemanha, e quem não percebesse isso, estava cego. Aliás, já nem em Auschwitz, a situação esteve sempre controlada.
 
7 DE OUTUBRO DE 1944
AUSCHWITZ, GRANDE REICH ALEMÃO
 
Mais sangue escorria por de Auschwitz. Era a quinta ronda de prisioneiros que era fuzilado. Mais de 100 sonderkommando já tinham sido mortos ao longo da noite, após uma revolta fracassada dos mesmos.
 
- Quero todos os envolvidos mortos ainda esta noite! E serão outros judeus que se encarregarão de enterrar e levar os corpos para uma vala comum! – gritava Rudolf.
- Herr Hansen, eu acho que os prisioneiros já entenderam que não irá permitir complacências. Mas, para deixar isso claro, sugiro-lhe que mande as mulheres e filhos de alguns dos prisioneiros para as câmaras de gás, e só depois, fuzilar os revoltosos. – disse Karl.
- Por vezes até tem boas ideias, herr Wagner. Assim o farei.
 
A memória desse dia nunca iria dissipar-se das mentes de Karl, Rudolf e até mesmo de Anastasia, que adorou ver de perto uma revolta contra os nazis.
 
Entretanto, a espiã soviética observa mais um comboio de prisioneiros a chegar… Feita a seleção de prisioneiros, Anastasia encontra duas caras conhecidas, dois esqueletos, moribundos e famintos, que não iam durar muito. Eram os seus pais…
Desde a invasão de Estalinegrado que nunca mais recebera notícias deles. Após a batalha ter terminado, em Fevereiro de 1943, ainda tentou contactar pessoas na União Soviética para que procurassem o paradeiro deles, mas, mais de cinco meses de batalha impossibilitaram que todos os mortos ou prisioneiros fossem contados. Agora, ali estavam eles, com as marcas dos maus-tratos que os alemães lhes encarregaram de fazer ao longo destes dois anos…
Karl, que entretanto chegara, pediu aos guardas que levassem o casal Petrov, assim como outros tantos, para uma sala. Anastasia tentou acompanhar os prisioneiros, sem que Karl ou um dos guardas a visse, ou que o seus pais se apercebessem que a sua filha também se encontrava no campo.
 
- Vocês deveriam considerar-se sortudos por sobreviverem tanto tempo num campo de concentração. – disse Karl. – Mas antes de poderem voltar a trabalhar, quero que façam um raio X.
 
Sem que os prisioneiros se apercebessem, os assistentes de Karl começaram a expô-los a radiação... Experimentações como essas estavam a ser feitas em Auschwitz há já algum tempo, e eram agora aplicadas em toda a Alemanha, para esterilizar e até mesmo eliminar de forma rápida e barata todos aqueles que pertenciam à raça inferior ou que não serviriam para ajudar o Reich durante muito mais tempo. Não tardou muito até aquelas quarenta pessoas estarem com graves queimaduras devido à radiação. Na noite de 30 de Novembro, Anastasia encontraria a sua mãe, morta, numa das valas comuns do campo.
 
- Mama?! – disse a espiã, lavada em lágrimas.
- A tua mãe está morta, filha… – disse Ivan, que aparecera entretanto.
 
Assim que Anastasia reconhece a voz do pai, larga a mão da sua mãe e abraça-o.
 
- …e eu não viverei muito mais tempo. – continuou ele.
- Não pai, você vai sobreviver a isto. O exército soviético está a caminho, não vai tardar muito até o libertarem a si e a todos aqueles que sofreram na mão destes cabrões nazis durante estes anos.
- O exército, os nossos lutadores, não virão a tempo para me salvar. Mas a minha morte, bem como a de tantos outros, será vingada. Agora promete-me que tu também farás com que a minha morte não será em vão. Promete-me!
- Eu prometo pai, eu prometo… - disse ela, enquanto continuava a chorar desalmadamente.
- Já posso morrer em paz, minha filha. – disse ele, soltando um sorriso não muito forte. As forças que tinha eram poucas...
 
Depois deste encontro, Anastasia nunca mais iria reencontrar o pai.
Entretanto, em Berlim, Heinrich Himmler discutia com Hitler o futuro de Auschwitz. Apenas uns dias após Hitler ter dado a ordem para que o ritmo do campo começasse a decair, Himmler quer agora que os crematórios e as câmaras de gás sejam desmanteladas. Era mais que evidente que os soviéticos estavam cada vez mais perto…
 
- Mein Führer, acabei de enviar uma ordem ao Sturmbannführer Hansen para que os crematórios e as câmaras de gás sejam desmanteladas e destruídas.
- Himmler, você ainda pensa que vamos ganhar esta guerra? – disse Hitler, enquanto observava um dos seus vários mapas na sua secretária. A sua mão esquerda tremia bastante. Parkinson era o motivo, diziam alguns…
- A situação é difícil, mas nem tudo está perdido. – disse Himmler. O comandante-supremo das SS não quis contrariar o Führer. Outros o fizeram anteriormente e nem sempre a situação correu bem para eles.
- É por isso que todos aqueles que estiverem aptos para servirem o Reich irão combater contra os bolcheviques e os aliados, apoiados pelos cobardes dos judeus. Se é guerra total que eles querem, nós dar-lhos-emos guerra total! Crianças, idosos, adultos, eles prestaram um juramento, eles vão cumprir o juramento.
- E o campo de Auschwitz, Mein Führer?
- Ordene que transfiram aos poucos todos os judeus para outros campos, aqueles que não puderem, matem-nos. A Wehrmacht pode não estar no seu melhor, mas se todos os judeus forem eliminados da face da Terra, a minha missão no mundo não foi, de todo, em vão.
 
Ainda nessa noite, Anastasia, sem que ninguém desse conta, volta a telefonar para Merkulov… Obter um telefone no campo não era muito difícil para Anastasia, apenas precisava de o fazer com cuidado. Com a permissão de Karl e, mais tarde, de Rudolf, grande parte dos que estavam naquele edifício destinado para aqueles que trabalhavam todos os dias em Auschwitz já sabiam que ela era uma prisioneira com “direitos especiais”. Outros já a conheciam, ou melhor, já tinham tido relações sexuais com ela. Confrontados por Karl com a hipotética violação das leis de Nuremberga, muitos não se atreviam a fazer-lhe frente, como que um Führer de Auschwitz, assim como não se atreviam a proferir uma palavra sobre o tratamento de Anastasia no campo.
 
- Merkulov, é você? – sussurrou ela.
- Sim, Anastasia. O que se passa?
- Quem está no comando da libertação da Polónia?
- É o marechal Zhukov. Para que quer saber o nome dele?
- Trate de lhe dizer que em breve, assim que o campo de Auschwitz for libertado, espere por mim e por um individuo nazi chamado Karl Wagner, médico aqui no campo e responsável pela morte de vários inocentes.
- Karl Wagner? Esse não é o seu aliadozinho aí?
- É, ou melhor, era. O panorama por aqui mudou…
 
Anastasia desliga o telefone… Em Moscovo, Merkulov entra em contacto com Zhukov, que lhe assegura que esperará por Anastasia e Karl, onde quer que um dos seus soldados os encontrar.
Entretanto, a espiã soviética volta ao quarto de Rudolf Hansen pela segunda vez desde que ele se tornou comandante do campo, e com outros motivos.
 
- O que está aqui a fazer? – disse Rudolf.
- Não quero a sua pila, descanse. Vim aqui propor-lhe algo muito diferente daquilo que lhe propus há uns meses atrás.
- E que proposta é essa?
- Uma aliança… Contra a pessoa que você deve detestar mais neste campo, Karl Wagner.
- E diga-me, Fräulein Landau, uma razão para eu me aliar a si contra o Hauptsturmführer Wagner, quando você foi e é a razão para eu me encontrar nesta situação?
- Parece que a situação mudou um pouco por aqui. Não se esqueça também que o seu povo, o povo alemão, vai perder esta guerra e que os aliados querem apanhar o máximo de nazis que puderem, e condená-los pelos crimes que cometeram.
- E é você que me vai salvar?
 
Anastasia aproximou-se do comandante…
 
- Tudo o que precisa de fazer é seguir as minhas ordens. – sussurrou-lhe ao ouvido, beijando-o depois.
 
A resposta de Rudolf foi clara… Este novamente não conseguiu controlar os seus impulsos e tal como há uns meses atrás, os dois acabaram juntos, na cama. Karl poderia não estar a ver desta vez, mas tinha agora dois inimigos poderosos, prontos para o apunhalar nas costas.

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Sonderkommando – Grupo de prisioneiros que tinham como função enterrar os corpos dos prisioneiros mortos, limpezas de câmaras de gás, etc…
Herr – termo alemão para senhor
Sturmbannführer – Comandante da Unidade de Choque, cargo equivalente ao de Major na Wehrmacht

Hauptsturmführer – Capitão Máximo de Choque, cargo equivalente ao de Capitão na Wehrmacht
Fräulein – termo alemão para senhora não casada
Mama – termo russo para mãe
 


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- Ficar a lamentar a nossa situação não nos vai levar longe, Karl. – disse a espiã, que entrou sem Wagner se aperceber.



Karl permaneceu calado por alguns instantes, de cabisbaixo, a olhar para uma metade de um cérebro humano que retirou a um judeu anos antes.

- Vou aproveitar a boleia de uma carrinha militar que levará alguns médicos que trabalham aqui e abandonar o campo. É apenas uma questão de dias até que os soviéticos alcancem este campo, ficar aqui seria suicídio. Queres ir comigo?

 

O ÚLTIMO EPISÓDIO DE "RENDIÇÃO" SERÁ PUBLICADO NO PRÓXIMO SÁBADO, ÀS 21:30H

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30 DE SETEMBRO DE 1941

KIEV, UNIÃO SOVIÉTICA

 

- Ah, sinto o cheiro a judeus mortos! – disse Karl, contente por ver o massacre que via com os seus olhos.

- Bom, não é? São mais de trinta e três mil judeus a serem mortos à nossa frente. Hoje, Kiev ficará livre desta praga, em breve, será a Europa inteira! – disse Friedrich, SS-Obergruppenführer e responsável pela morte de vários judeus na ocupada União Soviética.

- Um futuro brilhante para a raça ariana, e o melhor é que isto ainda só é o começo!

- Sem dúvida, o começo de um Reich que durará mil anos! Desta vez, Hauptsturmführer Karl, seremos vitoriosos.

 

Karl acena com a cabeça e sorri. À sua frente, constava a ravina de Babi Yar e um dos maiores massacres do Holocausto. Entre cem e cento e cinquenta mil pessoas iriam morrer ali…

 

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“MIL ANOS DE DECADÊNCIA”

EPISÓDIO 5

 

17 DE JANEIRO DE 1945

AUSCHWITZ, GRANDE REICH ALEMÃO

 

- Deus criou o mundo, Herr Hansen, mas foi o Diabo quem o fez girar. – disse Karl, um pouco melancólico com a situação ao seu redor. Era apenas uma questão de dias até os soviéticos chegarem ao campo e isso deixava-o enraivecido.

- Não vamos queimar mais ninguém. Todos os cinquenta e oito mil prisioneiros estão neste momento a percorrer cinquenta quilómetros de estrada. Estes pouco mais de 7000 prisioneiros, estão todos eles sem capacidades de viajar para outros campos. A natureza acabará por tratar deles.

- É uma pena ela não tratar dos outros todos também. Poderíamos nós mesmos ter feito o papel da natureza, mas infelizmente, o nosso Führer gosta de dar um passo maior que aquele que consegue. O resultado é a merda que vemos atualmente. – Karl deita o cigarro para a vala comum em chamas. O campo estava praticamente vazio, praticamente todos os nazis e prisioneiros em capacidade de viajar foram transferidos para outros campos de concentração. Caso não o fizessem, os prisioneiros enfrentariam a morte, durante ou após as que viriam ser conhecidas com marchas da morte e os nazis uma estadia numa prisão qualquer na Sibéria, onde as chances de sobrevivência também eram mínimas.

Por outro lado, Anastasia não temia a chegada dos soviéticos. Ficava cada vez mais contente com a chegada do exército que representava a luta contra os opressores que tanto odiava e que maltrataram e mataram os seus pais a sangue-frio.

Assim que viu Karl a entrar no seu laboratório, outrora cheio de papelada, membros e órgãos das pessoas que por ali passaram e das experiências que com eles realizava, decidiu apreciar mais uma vez o estado cada vez mais desalentado do médico das SS.

 

- Ficar a lamentar a nossa situação não nos vai levar longe, Karl. – disse a espiã, que entrou sem Wagner se aperceber.

 

Karl permaneceu calado por alguns instantes, de cabisbaixo, a olhar para uma metade de um cérebro humano que retirou a um judeu anos antes.

 

- Vou aproveitar a boleia de uma carrinha militar que levará alguns médicos que trabalham aqui e abandonar o campo. É apenas uma questão de dias até que os soviéticos alcancem este campo, ficar aqui seria suicídio. Queres ir comigo?

 

Anastasia lembrou-se do acordo que fez com Hansen há cerca de dois meses. Depois daquela noite, começaram a convencer cada vez mais pessoas que o odiavam dentro do campo, a espiá-lo e a aliarem-se contra ele, até ao dia em que fosse travado. Mas, à medida que os soviéticos avançavam cada vez mais fundo em território alemão, a ideia de derrubar Wagner acabou por dissipar-se. Agora tratava-se, para Anastasia, de tentar levar Hansen para um sítio seguro, controlado pelos soviéticos.

Os dois amavam-se, um sentimento estranho para a bela jovem soviética, visto que ele era um nazi e que certamente teria cometido ao longo da guerra vários crimes contra pessoas inocentes. No entanto, quer ela, quer ele, não podiam estar separados.

Apesar disso, ela ainda não lhe tinha revelado as suas verdadeiras origens, sendo que ele continuava a acreditar que Anastasia era uma judia, provavelmente importante para Karl, visto ser tão bem tratada. Quando lhe perguntava algo acerca da relação que tinha com o médico, e o porquê da mesma, ela fechava-se em copas deixando o comandante de Auschwitz cada vez mais intrigado.

 

- Sim, claro… – disse, soltando um sorriso ténue. – Melhores tempos virão, temos de ter fé e acreditar no nosso Führer.

- Antes acreditar na palavra de uma puta em Berlim, que acreditar nas palavras do maluco que nos levou à derrota. Tínhamos tudo, mas mesmo tudo, para conquistar a Europa e o mundo! Se tivéssemos varrido com os cobardes dos ingleses antes de invadirmos os soviéticos, neste momento a cabeça do Estaline estava num museu, assim como todos aqueles cabrões comunistas!

 

Anastasia ria-se por dentro. Adorava ver a frustração de Wagner quando lhe falavam de Hitler. Mesmo sendo um nazi aguerrido, Karl era das poucas pessoas que, desde Estalinegrado, estava convencido que os alemães perderiam a guerra, um sentimento que se ia tornando mais comum por toda a Alemanha. No entanto, continuavam a combater e a caminhar para um abismo mortífero do qual muito poucos sairiam com vida. Rendição era uma palavra proibida no círculo próximo de Hitler.

Ao anoitecer, em Berlim, o Führer recebe mais más notícias.

 

- Mein Führer, Varsóvia foi libertada. Os soviéticos instalaram lá um regime comunista, leal a Moscovo. – disse Keitel.

- E a situação nas Ardenas?

- Podemos dizer que a batalha das Ardenas está perdida… Os nossos homens estão a recuar para evitar que algo catastrófico aconteça.

 

Hitler fica furioso… A ofensiva nas Ardenas era a sua última chance. Se ganhasse, pensava Hitler, os alemães reconquistariam a França e talvez aí restasse alguma esperança na vitória final. Mas se não fosse bem-sucedida, a guerra estava inevitavelmente perdida...

 

- Model, aquele incompetente! Eu dei-lhe duzentos mil homens e ainda assim ele perde a ofensiva! Como é que é possível?! Você fala que uma situação catastrófica possa acontecer, quando na verdade ela já aconteceu, Herr Keitel! Agora, os americanos e os ingleses têm o caminho livre para a Alemanha! E porquê? Por causa de um bando de ignorantes que nem uma faca e um garfo sabem usar!

 

Keitel mantinha-se calado, enquanto Hitler continuava a vociferar para ele. Passado alguns minutos, Hitler acalmou-se e sentou-se na sua cadeira.

 

- É por causa de incompetentes como Model que só uma arma milagrosa nos pode salvar… Mas nem que escoe todo o sangue que a Alemanha tem para dar, eu me irei render e assinar um tratado com aqueles judeus comunistas e com aqueles índios dos americanos.

 

De noite, Anastasia prepara-se para abandonar Karl, que se encontrava de saída do campo. Pouco faltava para que a carrinha que iria levar alguns dos médicos que trabalhavam em Auschwitz chegasse ao campo. Vários ficheiros, provas dos horrores do campo, estavam a ser queimados aos poucos. O mesmo se passava com armazéns de roupa e com os crematórios, tudo para encobrir o que se havia passado durante todos aqueles anos.

A espiã foi ter ao seu quarto, – uma pequena divisão dentro de campo, arranjada por Karl na altura em que chegou ao campo e que não tinha a qualidade das habitações reservadas para os nazis, mas que ainda assim era muito melhor que as divisões onde dormiam os prisioneiros de Auschwitz – para levar alguns documentos que comprovavam a sua identidade verdadeira mas também, informações variadas de planos da Wehrmacht e de algumas pessoas responsáveis por vários atos criminosos ao longo da guerra. No entanto, as pastas onde tudo isso se encontrava desapareceram, Karl ou Rudolf tê-los-iam encontrado.

A espiã soviética começou a correr até ao quarto de Rudolf, que se encontrava vazio. Sabia agora que tinha sido Karl a encontrar os documentos, o que a deixava ainda mais preocupada. Anastasia deixou de imediato o quarto do comandante do campo e dirigiu-se para o sítio mais provável que Karl estaria: o seu laboratório.

Assim que entrou, o médico sorriu cinicamente para ela… As pastas estavam todas em cima da mesa de mármore onde Karl fazia as suas experiências, sempre à custa de vidas humanas.

 

- Devo tratar-te com que nome? Anastasia, Anja ou Eliana?

 

Anastasia não respondeu. Manteve-se calada e imóvel, apenas respirava. Estava com medo, por isso permaneceu perto da porta do laboratório. Já Karl ria-se…

 

- Pensavas que eu não sabia? – perguntou Karl, continuando a rir. – Pensavas que eu não sabia que eras uma espiã soviética, com a missão de te infiltrares na sociedade nazi para obteres informações?

- Como assim? Já sabias este tempo todo e não me confrontavas?

- Pensava que me conhecias melhor… Tu até podias ser a filha do Estaline, que eu não me ia importar, desde que continuasses a ajudar-me. Quando descobri, só um burro não sabia que Reich ia colapsar mais cedo ou mais tarde, e por isso não me importei, continuei com o meu plano, desde que tu continuasses a cumprir o teu.

- Há quanto tempo sabias?

- Pouco tempo após teres chegado ao campo, em 1942. Inicialmente senti raiva, a mulher que eu amava, uma espiã, soviética ainda por cima. Mas depois pensei que se quereria ser mais que um simples médico neste campo, precisava de ti. E, após quase três anos, não podia ter tomado decisão mais correta. Mas agora, já não és mais precisa, o Reich colapsou, e tu, tu apenas vais ter aquilo que tu mereces. Tu e o filho do Rudolf que carregas.

- Como sabes que eu estou…

- Grávida? – interrompeu-a, rindo de seguida. – Não era muito difícil. Os enjoos que tens tido há uns meses, falta de apetite, até mesmo a relação que tens com aquele comandatezinho, demasiado próxima para tão poucas noites de sexo. Pensavas que me subestimavas, Anastasia, mas eu sou demasiado inteligente para ser subestimado.

 

Karl pega Anastasia pelos cabelos e arrasta-a até à mesa de mármore, amarrando-a.

 

- Sabes, quando era pequeno, o meu pai dizia-me que um império é como uma pessoa. Enquanto é jovem, as suas artérias mantêm-se irrigadas com sangue e o mundo está na palma das nossas mãos, mas há medida que envelhece, as artérias secam, o sangue deixa de ser bombeado e o mundo colapsa diante de nós. Vocês, soviéticos, podem ter ganho esta guerra mas um dia, também o vosso mundo irá colapsar diante de vós e disso, tenho eu toda a certeza.

- Karl, nós podemos colapsar, mas nunca ficaremos na história como um povo que após esta guerra, toda a gente terá vergonha de falar.

 

O médico dá um murro na cara da jovem, deixando-a semi-inconsciente. Com um pano, tapa-lhe a boca, para que não pudesse falar e de seguida, pega num bisturi para a cortar. Anastasia tentava gritar, embora sem sucesso.

 

- Altura para uma última experiência, não achas? Vamos ver como está o teu filho.

 

Antes que pudesse cortar-lhe a barriga, Hansen entra de rompante com uma arma na mão, mas Karl deteta-o e vai a tempo de retirar a sua antes que o comandante pudesse disparar.

 

- Eu sugeria que não cometesse nenhuma estupidez, Herr Hansen. Entregue-me a arma, ou a sua amante mais o seu querido filho morrem.

 

Rudolf não tem outra alternativa senão entregar a arma ao médico, que se senta numa cadeira que tinha no laboratório.

 

- Vocês julgam-me assim tão estúpido ao ponto de nem sequer pensarem que eu descubro tudo neste campo?! Eu sei de tudo o que se passa aqui, nem que o tentem encobrir mil vezes! – disse Karl. – Durante esta guerra, eu matei judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, toda essa escumalha que nem humanos são. Centenas de crianças, mulheres e homens morreram às minhas mãos, algo nunca me arrependi, nem nunca me arrependerei de ter feito. Eu dei a minha vida inteira para a criação de uma raça que acredito fielmente e que podia ter existido, se Berlim não fosse governado por um maluco! Mas agora que tudo está perdido, também não vou ser obrigado a assistir a queda da Alemanha, a minha doce e querida pátria, muito menos estar numa prisão controlada por comunistas! Mas se o mundo pensa que o nazismo após esta guerra vai deixar de existir, então a raça humana não passa de um monte de ignorantes.

 

Karl ri-se por breves segundos, mas rapidamente volta à postura séria que tanto o caracterizava para dizer aquilo que seriam as suas últimas palavras.

 

- Heil Hitler.

 

Com a sua Luger, aquela que serviu para matar dezenas de pessoas anteriormente, o médico dá um tiro na garganta e morre de imediato. Anastasia nem podia acreditar no que acontecera diante dela. Já Rudolf, também chocado, tira o pano da boca da jovem e desamarra-a. Esta abraça-o, emocionada…

 

- Obrigado, salvaste-me a vida, Rudolf. – disse, enquanto o beijava.

- Eliana, ou melhor, Anastasia, eu não quero saber de onde vens, o que tu és, ou o que fazes. Apenas toma conta de ti, do nosso filho, e volta para a tua casa, seja ela qual for.

- Desculpa não te ter contado antes! – disse em lágrimas, beijando-o várias vezes. – Tinha medo da tua reação quando descobrisses que não era quem tu pensavas.

- Isso agora não importa. O mais importante é que ambos estão sãs, e que tu vais voltar para o teu país, para a tua casa.

- Eu não tenho casa, Rudolf… Os meus pais morreram e a minha casa está como a cidade onde cresci e vivi, destruída. Mas, podemos começar uma vida nova, em Estalinegrado, em Moscovo, onde tu queiras…

- Eu nasci na Alemanha, Anastasia, e é na Alemanha onde eu vou morrer, seja este ano, no próximo, ou em breve. Vou apanhar a carrinha que não tardará muito em vir e vou para Alemanha, para onde o Führer me quiser levar.

- Vais morrer se ficares na Alemanha, sabes disso. Os soviéticos vêm aí, será uma questão de meses até eles chegarem a Berlim.

- Prefiro morrer a combater na Alemanha, que viver num país cujo regime odeio do fundo do meu coração. Não fomos feitos para ficar juntos, Anastasia.

 

A carrinha militar chega entretanto ao campo. Hansen e Anastasia saem do laboratório e o comandante do campo vai buscar a sua mala para partir. Mas antes de o fazer, Anastasia despede-se dele. A espiã sabia que era praticamente certo não voltar a vê-lo.

 

- Hansen, faz isto por mim e pelo nosso filho… Sobrevive, apenas sobrevive.

 

O comandante solta da sua cara um ligeiro sorriso.

 

- Assim o farei… Cuida de ti e dele, quem sabe um dia não voltarás a espiar-me.

 

A carrinha militar arranca e Hansen, acompanhado com alguns médicos do campo, desaparece lentamente do olhar de Anastasia. Dez dias depois, o campo de Auschwitz é libertado.

Em Março, Hansen é obrigado a participar num massacre contra prisioneiros russos em Mittelbau-Dora, em Nordhausen. Em Maio do mesmo ano, o regime nazi rendeu-se, acabando com a guerra na Europa. O ex-comandante, de modo a não ser julgado pelos Aliados em tribunal, arranjou outra identidade e foi para Augsburg, a sua cidade-natal, ficando a viver lá desde então. Ele nunca iria voltar a ver Anastasia, nem conhecer o seu filho, Hess, um nome alemão, em memória do pai.

A espiã, assim que entregou o corpo de Karl Wagner a Zhukov, após a libertação do campo, foi viver para a Moscovo, onde após uns anos, foi obrigada a procurar novas alianças para sobreviver ao regime de Estaline.

 

5 DE MARÇO DE 1953

MOSCOVO, UNIÃO SOVIÉTICA

 

- Oito anos a viver nesta cidade foram o suficiente para perceber que nem tudo é o que parece. – disse Anastasia ao telefone, enquanto olhava para o seu filho. – Se ele não me subestimasse eu estaria num gulag na Sibéria e o meu filho estaria morto ou num orfanato qualquer daqui.

- Envolveste-te com um nazi, tiveste um filho de um nazi. Tu sabias demasiado para ele. – disse Laventriy.

- Eu servi-o durante quinze anos! Eu aturei e espiei nazis, soviéticos e americanos durante quinze anos! Eu servi-o até num campo de concentração, a aturar as insanidades do Wagner! E ele manda a polícia assassinar-me como se eu fosse uma traidora do povo? – gritou.

- Relaxa, esta noite vais poder vingar-te de tudo isso. O veneno que tu me deste foi-lhe administrado tal como tínhamos combinado, Estaline não passa desta noite.

 

Cerca de uma hora mais tarde, Laventriy vai ter à dacha de Estaline. O ex-líder da NKVD, que queria alcançar cargos mais importantes na União Soviética, entra no seu gabinete pessoal e encontra Estaline estendido no chão, sem conseguir falar. Laventriy coloca-se de joelhos começa a chorar na mão de Estaline, beijando-a ao mesmo tempo, uma pequena atuação antes de o ver morrer. Assim que o líder da União Soviética ficou inconsciente, Laventriy levantou-se e cuspiu-lhe.

Horas mais tarde, Anastasia telefona-lhe para a residência do seu aliado.

 

- Ele está morto? – perguntou Anastasia.

- Está. – respondeu Laventriy.

 

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 

Hauptsturmführer – Capitão Máximo de Choque, cargo equivalente ao de Capitão na Wehrmacht

Obergruppenführer – Comandante Sénior de Grupo, cargo equivalente ao de General na Wehrmacht

Herr – termo alemão para senhor

Dacha – espécie de mansão ou casa de campo, bastante comuns na União Soviética

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O Karl deve ter certamente gostado de ver que, em 2014. ainda gostam das experiências dele em Auschwitz. :haha:

 

A história está inspirada em vários acontecimentos que aconteceram não só em Auschwitz mas por toda a WW2. O mesmo se pode dizer das personagens, Karl Wagner está claramente inspirado num dos mais famosos médicos nazis, Josef Mengele. Rudolf Hansen seria o equivalente a Richard Baer, o último comandante de Auschwitz e que também viveu sob identidade falsa não em Aubsburg mas sim em Hamburgo. Já Anastasia, bem, essa está inspirada nas centenas de espiões, sejam soviéticos, ingleses ou americanos, que se infiltraram em território nazi.

 

A nível de personagens secundárias, há quem diga que Estaline foi mesmo envenenado por Laventriy, aliás o próprio Laventriy foi, anos mais tarde após a morte de Estaline, sentenciado à morte por traição, terrorismo e ações contra-revolucionários na Guerra Civil Russa. Não tão menos insignificante está Hess, o filho de Anastasia. Para quem leu Hess não é um nome estranho e vai ser ele quem vai desempenhar um papel fundamental no decorrer da história. Em "Rendição", está aqui toda a história da mãe (e também do pai) dele, ou seja, isto é uma espécie de spin-off de uma história muito maior. 

 

Obrigado a todos aqueles que comentaram esta história ao longo destas 5 semanas. :P

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O Karl deve ter certamente gostado de ver que, em 2014. ainda gostam das experiências dele em Auschwitz. :haha:

 

A história está inspirada em vários acontecimentos que aconteceram não só em Auschwitz mas por toda a WW2. O mesmo se pode dizer das personagens, Karl Wagner está claramente inspirado num dos mais famosos médicos nazis, Josef Mengele. Rudolf Hansen seria o equivalente a Richard Baer, o último comandante de Auschwitz e que também viveu sob identidade falsa não em Aubsburg mas sim em Hamburgo. Já Anastasia, bem, essa está inspirada nas centenas de espiões, sejam soviéticos, ingleses ou americanos, que se infiltraram em território nazi.

 

A nível de personagens secundárias, há quem diga que Estaline foi mesmo envenenado por Laventriy, aliás o próprio Laventriy foi, anos mais tarde após a morte de Estaline, sentenciado à morte por traição, terrorismo e ações contra-revolucionários na Guerra Civil Russa. Não tão menos insignificante está Hess, o filho de Anastasia. Para quem leu Hess não é um nome estranho e vai ser ele quem vai desempenhar um papel fundamental no decorrer da história. Em "Rendição", está aqui toda a história da mãe (e também do pai) dele, ou seja, isto é uma espécie de spin-off de uma história muito maior. 

 

Obrigado a todos aqueles que comentaram esta história ao longo destas 5 semanas. :P

E segunda temporada? Não? :unsure:

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  • 6 meses depois...

Acabei de ler o primeiro episódio e gostei :) Vou continuar!

 

Obrigado pela dica, mctimes ^^


Acabei de ler o 2º episódio e achei um pouco sem sentido a forma como os documentos foram descobertos. Para um espião o Karl flopou imenso... ou terá sido de propósito? Não ficou bem esclarecido.

 

Nota-se alguns erros no português, mas nada de grave. Em relação às palavras estrangeiras, a ideia é bonita mas nada prática, porque sou obrigado a interromper a minha leitura para saber a tradução.


Terminei o 3º capítulo e pergunto-me como é que só agora a Anastasia se apercebeu das experiências do Karl.
 
Nota-se que fizeste um bom trabalho de pesquisa e é de louvar, contudo deves melhorar o português para tornar as frases mais coerentes e a narrativa mais bela.

Gostei da reviravolta do 4º capítulo, mas continuo a achar incoerente o facto da Anastasia só ter descoberto recentemente as experiências de Karl. Espero que haja uma explicação mais aprofundada sobre o porquê do Karl fazer as tais experiências a judeus... sendo ele inimigo dos alemães.


Finalmente li tudo! Penso que tinhas uma boa história, mas perdeste-te na forma como a contaste. Se tivesses escrito mais episódios poderíamos ter visto o amor de Anastasia com o Rudolf florescer e, consequentemente, a gravidez dela. Foi tudo repentino.

 

Volto a frisar que fizeste um bom trabalho de casa, mas infelizmente focaste-te nisso em demasia.

 

Adoro as imagens com as frases. São excelentes! :)

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Acabei de ler o primeiro episódio e gostei :) Vou continuar!

Obrigado pela dica, mctimes ^^

Acabei de ler o 2º episódio e achei um pouco sem sentido a forma como os documentos foram descobertos. Para um espião o Karl flopou imenso... ou terá sido de propósito? Não ficou bem esclarecido.

Nota-se alguns erros no português, mas nada de grave. Em relação às palavras estrangeiras, a ideia é bonita mas nada prática, porque sou obrigado a interromper a minha leitura para saber a tradução.

Terminei o 3º capítulo e pergunto-me como é que só agora a Anastasia se apercebeu das experiências do Karl.

Nota-se que fizeste um bom trabalho de pesquisa e é de louvar, contudo deves melhorar o português para tornar as frases mais coerentes e a narrativa mais bela.

Gostei da reviravolta do 4º capítulo, mas continuo a achar incoerente o facto da Anastasia só ter descoberto recentemente as experiências de Karl. Espero que haja uma explicação mais aprofundada sobre o porquê do Karl fazer as tais experiências a judeus... sendo ele inimigo dos alemães.

Finalmente li tudo! Penso que tinhas uma boa história, mas perdeste-te na forma como a contaste. Se tivesses escrito mais episódios poderíamos ter visto o amor de Anastasia com o Rudolf florescer e, consequentemente, a gravidez dela. Foi tudo repentino.

Volto a frisar que fizeste um bom trabalho de casa, mas infelizmente focaste-te nisso em demasia.

Adoro as imagens com as frases. São excelentes! :)

Karl não era um espião, nem inimigo dos alemães. Ele era um nazi fervoroso, que queria ser mais e mais influente na sociedade nazista, tal como aconteceu com vários comandantes/generais/etc nazis ao longo da guerra. Daí ele utilizar Anastasia para os seus planos. Karl inventou uma "terceira" personagem para Anastasia, judia. Assim que ela conseguisse levar alguém superior de Karl para a cama, ele podia chantagear os seus superiores que tinham violado uma das regras base das Leis de Nuremberga, e assim tinha a liberdade de realizar qualquer coisa que tinha em mente, desde ter mais poderes dentro do campo a não obedecer ordens dos seus superiores.

O facto do Rudolf lhe ter descoberto todas aquelas informações não lhe fazia a mínima diferença, até lhe acabou por ser benéfico, devido às coisas que disse em cima.

E a Anastasia descobriu as experiências de Karl em 1942, quando chegou a Auschwitz pela primeira vez e viu com os seus olhos o que se passava nos campos, e não em 1945. Para quase todos durante a guerra, os campos eram suposições e só quando a Europa foi gradualmente libertada se descobria o que se passava lá verdadeiramente. :P

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