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121: Xabarín Club


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Por esta altura do ano passado eu estava a terminar um pequeno trabalho sobre a influência cultural - sim, ouviu bem, cultural - do Xabarín Club para uma cadeira que tinha. Como usei outro computador (porque o Surface que tinha na altura estava a dar o berro) tenho o trabalho lá mas dado a lentidão que aquilo virou eu não posso "clonar" o trabalho para cá, sob pena de plágio (também quem é que plagia o próprio trabalho?).

Eu recentemente passei a dar mais valor à Galiza. Mais até do que à Catalunha, a única outra região autónoma onde pisei pé (6 a 10 de Julho de 2015) em toda a minha vida. Isto amplificou-se depois da crise política espanhola no infame atentado à democracia que era a independência temporária da Catalunha a 1 de Outubro de 2017, às minhas visitas a Pontevedra depois daquela data (ida e volta no mesmo dia), etc. e tal.

Muitos dirão que o programa infantil que gerou as influências no resto do país é o Club Super 3. Daí nasceram as fórmulas a ser usadas por outros programas, muitos já terminados, como o SuperBat (ETB), Babalà (Canal 9), Cyberclub (Telemadrid), La Banda (Canal Sur), Kosmi Club (Castilla-la-Mancha Televisión e a visada desta crónica, o Xabarín.

Todas as autonómicas da primeira geração (primeiro três, depois seis) já tinham programação infantil, o caso mais notável é o da TV3 ter emitido a serie animada do Pac-Man depois de começar as suas emissões regulares. A principal vantagem é que os primeiros canais a surgirem não eram os castelhanos - tínhamos de esperar por Fevereiro de 1989 para ver a primeira autonómica castelhana - o Canal Sur - e tínhamos outros mitos e lendas dos primórdios destas televisões, sendo a principal: quem foi a primeira a estrear o Dragon Ball?

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Em 1987, quando a TVG começava a emitir, havia um desenho animado por dia, aos fins-de-semana. Isto iria mudar com a fundação da FORTA.

Em 1989, vendo o nascimento de mais três autonómicas, a TVG, ETB, TVC, RTVV, Telemadrid e RTVA fundaram a FORTA, porque a uniâo faz a FORTA :D

A FORTA nos primeiros anos tinha dificuldades em obter conteúdo estrangeiro para os seus membros (o número iria aumentar na viragem do milénio), porque as grandes distribuidoras preferiam vender as suas séries às televisões generalistas de alcance nacional, a TVE e as recém-nascidas privadas. Assim tiveram de ir encontrar outros mercados.

E num MIPCOM, em França, a cúpula da FORTA descobriu que havia um mercado com séries com dezenas de episódios que asseguravam uma longa duração. O que mais lhes chamou a atenção foi o Dragon Ball, cuja compra inicial foi a de um lote de 26 episódios, terminando num enorme cliffhanger. Podem ver a história da chegada do DB a Espanha e à  Galega aqui:

 

O fio cita um outro fio que acaba por desvendar a verdade sobre a estreia do Dragon Ball em Espanha, preenchendo lacunas ainda por preencher. Segundo a lenda, o Dragon Ball foi emitido pela primeira vez em Espanha a 2 de Março de 1989, poucos dias depois do início do Canal Sur, sendo que o canal só emitiu 18 episódios devido a críticas por parte dos telespectadores que acreditavam que tinha demasiado conteúdo sexual e violento. O cliffhanger da Galega foi a meio do torneio de artes marciais sem saber quem era o vencedor. Assim a Galega apressadamente comprou o lote completo de 153, com cópias feitas com cortes à tesoura pela mão da empresa francesa AB. Fora isto, com o sucesso do Dragon Ball na Galiza, a dobragem castelhana ficou com a "onda vital". Os 127 capítulos que restaram começaram a ser emitidos em Outubro de 1990.

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Na primeira metade dos anos 90, surgiu o mito da Luk Internacional nas televisões autónomas espanholas. Depois do primeiro sucesso que foi vender A Guerra das Estrelas para a ETB, a empresa mudou de paradigmas: da venda de filmes para a venda de animes e alguns desenhos animados ocidentais (muitos numa fase posterior da Nelvana). Pela altura desta revista, em Outubro de 1993, seis meses antes do início do Xabarín, a faixa infantil sem nome já durava hora e meia e acabava com o Dragón Z - ainda antes de chegar a Portugal! É de salientar que o Dragon Ball sem Z era As bolas máxicas, no alto das mentes criativas galegas cujas dobragens aparentam ser o supra-sumo da batata frita.

Aqui fala-se mais sobre o sucesso. Como é que Espanha conseguia ter material da série?

Fotocópias

E diz ter tido 40% de audiência lá, pois "cada dois telespectadores são a metade"

Aquele ano de 1993 era monumental para a Galiza. Depois de outras comunidades autónomas terem o luxo de serem a sede de eventos internacionais com o quinto centenário da descoberta das Américas, a Galiza tinha vivido o apogeu graças ao Xacobeu daquele ano. Naquela altura vendo a galera pagando pau pra imitar a fórmula de sucesso do Club Super 3, deixando de ser um mero contentor infantil para passar a ser um programa de luxo, com cartão de clube e tudo, Suso Iglesias e Gonzalo Pintos começavam a traçar os planos para o novo programa infantil da Galega. Queriam fazer algo com porcos, mas não bravos. Como tal Miguelanxo Prado decidiu criar algo com javalis, e a ideia funcionou. No princípio queriam um javali novo, mas acharam que não iria resultar por questões linguísticas, assim deixaram o Xabarín, com a vantagem que o nome já definia a raça e deixa mais compacto o conceito

Já com a ideia, Julián Hernandez e Manolo Romón foram chamados para fazer os temas de início e fim. Briefing da cúpula da TVG:

  1. tinha que ser o Xabarín a cantar;
  2. tinha de ser acompanhado por outra personagem.

E começaram a pensar :nostalgia:

Julián tinha como ideia emular o segundo genérico (mais recordado) dos Flintstones, passando a música a Ramón, que fixou a letra. Já a despedida era para ser uma homenagem ao fim dos desenhos animados dos Looney Tunes. Só faltava o Manolo para melhorar o conceito. E daí foi feita uma primeira versão: "somos os porcos da Galega". Dizem que aquilo soava mal, como tal mudaram para "somos do clube da Galega", dando uma sensação de união e equipa. E daqui veio um filão de músicas e coisa e tal

Este genérico, segundo o postador, foi usado entre 1995 e 2007 (embora continue a dizer que tinha sido usado desde o dia um). E marcou um antes e um depois na Galega, não só na programação infantil mas também na questão linguística, já que dizem que as autonómicas de língua própria usaram a programação infantil de modo a aumentar o número de falantes de determinada língua.

Fora as influências "próprias", o Xabarín tomou influências do Club Super 3 - pelo menos a base do programa ser também um clube infantil, com sócios e tudo - coisa que nem o Buéréré nem o Batatoon fizeram - e também promovia a própria língua. Mais até pelas séries, as música do Xabarín ajudaram a revitalizar o galego num canal que estava em emissão há quase uma década.

Porém as músicas do Xabarín estavam num outro nível, e parecia ter um ar mais juvenil comparado com outros programas equiparáveis. Isto tem a ver com a eclosão da música e cultura bravú que tinha surgido em 1993.

Para ter uma vaga ideia de como era o Xabarín sem recorrer a músicas:

Algumas produções locais do Xabarín:

Já aqui mencionei as músicas que deram no auge do programa, mas existiram outras rúbricas entre as que foram mencionadas no vídeo de cima e outras que não.

Dizem que a mais recordada é o de ilusionismo, o Manda Truco (na época o Buéréré da SIC tinha o Damião e a Helena e muitos anos mais tarde o Zig Zag tinha o Hocus Pocus). 80% dos truques incluíam cartas.

Os Vixilantes do Camiño. Mistura o Caminho de Santiago com crítica às multinacionais que querem apoderar a Galiza. Embora não seja uma rúbrica - vá, era uma série cujas personagens eram as mesmas do clube, Xabarín incluído. Era uma série de treze episódios lançada em 2000, partindo de um filme para televisão lançado no ano anterior. Nela o Xabarín - e uma série de outras personagens cujo nome não sei - tentam derrotar uma empresa que anda a acabar com monumentos históricos. A série posterior é uma espécie de versão alargada, sendo assim é o oposto do filme, que é um resumo.

Xabarín News. Misturava cenas animadas com cenas em imagem real, que eram reportagens de exterior sobre temas de interesse às crianças.

Reportagem em Salvaterra e Monção! A sério! Era sobre viagens ao litoral minhoto.

Havia também um tal de Doutor TNT, que era um geek que sabia tudo das séries, mas não consegui encontrar nenhum vídeo no YouTube.

Cousiñas. Série para o pré-escolar, cujo genérico foi retirado em emissões posteriores com a chegada do PP ao poder na Galiza, que acabou com as galescolas.

Claro, mais gente preferia as séries estrangeiras, quase todas elas já emitidas noutras autonómicas e que ganhavam um novo nível em galego. Existe um mito que diz que as dobragens galegas chegam a ser superiores às castelhanas, e é facto, esta indústria criou frases do mesmo nível das pérolas do Dragon Ball aqui em Portugal.

Eu até dava algum tempo para enunciar as séries que tiveram mais sucesso, mas deixa-me resumir um pouco: tinhas algumas séries da Hanna-Barbera que acho que nunca deram noutras autonómicas (tipo Os Flintstones), o Dragon Ball, tudo o que o catálogo da Luk Internacional tinha (Hattori, Doraemon, Garfield, séries da Nelvana, etc.) e até algumas séries da Nickelodeon como CatDog ou A Vida Moderna de Rocko.

O catálogo hoje limita-se a séries da DreamWorks Animation, produções galegas, séries da Procidis e repetições do Doraemon e, se o dinheiro assim o permitir, repetições do Shin-Chan. O Shin-Chan foi fortemente criticado pelos galegos a um ponto que reclassificaram a série como sendo para maiores de 13 anos e emitida depois do Xabarín acabar.

Pelos idos de 2004 foi ao ar pela versão internacional, a Galicia TV, uma versão extremamente reduzida do Xabarín, contendo Doraemon, Garfield e rubricas do programa.

Foi também nos anos 2000 que o Xabarín ganhou um novo genérico, interpretado por um dos 1357 grupos que foram popularizados pelo programa, as Yellow Pixoliñas. Aqui o Xabarín passou a ser um mero apresentador, o que distanciava um pouco da sua imagem rebelde nos primórdios.

Outro ponto alto do Xabarín era o clube. Naquela altura, TODAS as autonómicas registadas na FORTA tinham obrigatoriamente de ter um clube, coisa que na Galiza ainda continua. (Não sei se a Catalunha ainda tem o seu, mesmo com o Super3 tipo Canal Panda, a prestar mais atenção à faixa pré-escolar) O Xabarín sendo Xabarín teve a sua música para encontrar sócios. E foi um sucesso, ultrapassou os limites da decência, não só teve fãs em outras comunidades autónomas como também em Portugal e, pasmem-se, na Argentina!

"Olá, colega. Queres ser um Xabarín? Ai sim?

Claro que sim. Sendo sócio do nosso club terás a tua caderneta. Sairás na televisão, participarás nos nossos concursos, poderás votas nas tuas séries favoritas e receberás na tua casa camisolas, insígnias, prendas e muitas surpresas! Tudo isto em troca de um cartão, duas fotos e um bocado de atenção ao nosso programa."

À custa disto também houve uma rúbrica de aniversários, tipo Canal Panda. Segundo a descrição, em 2012, esta rúbrica estava condenada a desaparecer devido à restrições e tal da imagem da criança (e daí vemos imagens censuradas dos filhos das celebridades e crianças em programas cujos rostos foram censurados devido ao suposto anonimato).

Dados dos sócios do Xabarín em 1996.

Ainda temos as Xabaxiras, uma série de espectáculos ao vivo com músicas tocadas no programa:

O Xabarín recebeu uma série de renovações a partir de 2007. Anos mais tarde passou a ser usado a logo actual, que vem em duas versões, uma dizendo XG e outra dizendo XC (com o G da TVG cortado para formar um C). Em 2009, depois de anos de discussões, é aberta a TVG 2 e passado algum tempo, com a meta do fim das emissões analógicas em Espanha, o Xabarín foi transferido completamente para o canal, postura semelhante ao Babalà quando mudou-se para o Punt Dos em 2000.

Muita gente dirá que o Xabarín já ultrapassou o auge. Porém há pessoas que dizem o contrário. Em Setembro nasceu uma petição para que a TVG passe a ter um terceiro canal terrestre, um canal infantil, no mesmo naipe do canal Super3 da Catalunha ou da ETB 3 do País Vasco. Pedem ainda um aumento da produção de conteúdos infantis na Galiza, partindo do princípio que o Xabarín está a estagnar e a app foi terminada. Quem sabe qual será o futuro do clube.

Podem ver mais ilustrações do Xabarín da mão do criador Miguelanxo Prado aqui:

https://www.miguelanxoprado.com/en/work/xabarin

Intro do Xabarín em Fevereiro de 2018 e genérico galego do Doraemon:

E chegámos ao fim da crónica, que tal como o próprio Xabarín, deve acabar da seguinte maneira:

 

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